sábado, 31 de janeiro de 2009

O próximo passo

por Gideon Levy*
publicado no Jornal israelense "Haaretz", dia 23/1 e extraído da página do ICArabe

A vasta maioria festejou aos gritos, uma minoria muito pequena gritou em silêncio, como um assovio na escuridão. A imensamente dominante maioria só queria mais e mais, a minoria muito pequena só queria que aquilo parasse. A absoluta maioria gargalhou, encomendou pizzas e filmes com cenas dos bombardeios, e muitos subiram aos telhados próximos à fronteira de Gaza, com os filhos, para assistir ao massacre com seus próprios olhos. Uma mínima maioria tentou protestar, encolhida de vergonha e de culpa, a cada novaimagem que chegava de Gaza.Nunca antes, desde o verão de 1967, viu-se tão eficaz lavagem cerebral, e tal coro tão uniformemente manipulado – e voltou então o coro nacionalista bestial, insensível, cego. Mas agora, a poeira baixou nas ruínas, e não há bandagem suficiente para cobrir todas as chagas; os cemitérios cheios, os hospitais lotados; os feridos, os quebrados, os incapacitados, os amputados, os aleijados, os traumatizados, os enlutados, os milhares de feridos e as dezenas de milhares de novos desabrigados e sem-teto tentam reabilitar o quepossam. Agora, é tempo de elaborar sobre alguma alternativa à guerra mais brutal e mais cruel de toda a história de Israel, e a mais completamente desnecessária.Primeiro, há caminho que Israel jamais quis trilhar. Nem Oslo nem a retirada de 2005 foram suficientes. Sendo a guerra sempre o meio preferido e a violência sem freio, Israel praticamente sempre falou pela força, só a violência, como única linguagem. Pela força e por golpes, Israel fez a guerra, mais uma guerra. A força veio do exército; os golpes, da imprensa. Qualquer via alternativa foi sempre condenada.Segundo, nunca é possível reconstruir, seja o que for, a partir só do que se ouve num determinado instante. Temos de lembrar o contexto, e o contexto sempre foi distorcido, a ponto de ter-se tornado irreconhecível.O cessar-fogo com o Hamas foi firmado dia 19/6/2008. Foi recebido com frieza em Israel e com o azedume com que se recebem movimentos políticos. Ehud Olmert disse que seria "frágil e de curto-prazo", como profecia feita para se autocumprir. Nos meses seguintes, Israel foi intoxicada pelos mais aterrorizantes relatórios e análises dos serviços de segurança, sobre o quanto o Hamas se estaria armando, sobre os danos causados pelo cessar-fogo, pelos perigos que ameaçavam os israelenses por causa do cessar-fogo e sobreo quanto o Hamas, só o Hamas, beneficiava-se com o cessar-fogo. Apagou-se do mundo o fato de que os moradores do sul de Israel viveram tempos de sossego, praticamente sem nenhum Qassam. As centenas de túneis em Rafah, a maiorias dos quais traziam oxigênio para Gaza sitiada – a qual, mesmo quando se abriam os postos de fronteira, Israel sempre proibiu a chegada dos bens indispensáveis à vida, cadernos para as crianças, cimento para construir – foram descritos em Israel como se existissem exclusivamente para o contrabando de armas: túneis demoníacos, pelos quais teria passado tudo que, de algum modo, se assemelhasse a armas nucleares.A nua verdade sobre o que estava sendo contrabandeado pelos túneis só foi conhecida na guerra: pouca, parca, fraca munição.O acordo de cessar-fogo, é preciso lembrar, incluía que Israel abriria os postos de fronteira. Depois de assinado o acordo, Israel decidiu que os postos de fronteira permaneceriam fechados, porque a passagem de Karni seria "inadequada".Depois, começou o método "zipper": fechavam-se os postos de passagem depois de cada rojão Qassam, o velho método do chicote-e-cenoura. Sim, claro que houve Qassams e morteiros – poucos, desnecessários, improdutivos, errados, estéreis – que deveriam ter sido relevados com sabedoria. A cada evento, uma nova e maior violação do acordo de cessar-fogo, por Israel, que incluiu invasão por terra, dia 4/11/2008, para explodir uma casa e um túnel e para assassinar seis homens do Hamas – e que foi completamente ato de guerra deIsrael à Gaza.Depois disso, tudo se deteriorou muito rapidamente, como Israel previa, como Israel aparentemente quis que acontecesse.Ainda que não se incluísse na discussão uma única palavra sobre o contexto amplo, histórico – os refugiados que vivem em Gaza desde 1948, o que os torna refugiados de guerra e os 40 anos de ocupação em Gaza, desde 1967 – o contexto a ser considerado hoje tem de incluir, necessariamente, o sítio e o boicote que Israel e a comunidade internacional impuseram (i) ao Hamas, partido que chegou ao poder mediante eleições perfeitamente democráticas, em janeiro de 2006; e (ii) também contra o governo palestino de unidadenacional estabelecido em março de 2007.Tudo isso aconteceu antes de o Hamas assumir o controle de Gaza, pela força, por golpe, depois de não conseguir instituir-se como poder democrático, nascido de eleições democráticas, pelo tipo de oposição que lhe fez o partido Fatah. Todo esse curso de eventos teria de ter sido conduzido de outro modo, mas, então, o leite e o sangue já estavam derramados.Nem o Hamas deveria ter sido boicotado, nem Gaza deveria ter sido sitiada. Israel nada ganhou nem com o boicote nem com o bloqueio. O resultado está aí, a vista de todos: estamos olhando para ele.Desde a questão com a OLP (Organização de Libertação da Palestina), há anos, o rejeicionismo israelense nada trouxe de bom; só trouxe mais e mais violência, novos ciclos de violência e de radicalização, tanto dos palestinos quanto dos israelenses.Hoje, o Hamas é mais forte do que era antes da guerra; a guerra sempre fortalece os extremismos, de todos os lados, o deles e o nosso. Depois a OLP converteu-se em Hamas e hoje é Jihad Mundial. Gaza não se tornou "moderada", como interessaria a Israel; está sangrando, devastada, e Israel nada lhe ofereceu, até hoje.O sítio de Gaza fracassou, o bloqueio só trouxe danos, mesmo que se ignorem todos os seus aspectos ilegais e imorais. Agora, em vez de bloqueio – que a legislação internacional define como "castigo coletivo" e considera crime –, Israel está obrigada a abrir todas as passagens de fronteira. Abri-las, não fechá-las. Abri-las para a passagem de artigos de primeira necessidade, é claro, sim, e abri-las para a passagem de pessoas. Hoje. Aberturacontrolada, como em todas as fronteiras do mundo, mas abri-las.Gaza precisa de uma passagem para o mundo, e essa passagem tem de passar por Israel. Israel não pode continuar a fingir que não ocupa Gaza há 40 anos, como se a ocupação não tivesse jamais existido e, agora, 'entregar' Gaza aos egípcios. O destino de Gaza é responsabilidade de Israel.Passagens de fronteira desimpedidas e uma via livre de acesso aos territórios ocupados da Cisjordânia e com o mundo é um dos direitos básicos dos habitantes de Gaza.Hoje, o primeiro-ministro de Israel, qualquer primeiro-ministro, todos os primeiros-ministros, tem de abrir diálogo com a Palestina, com toda a nação palestina. Não apenas mais um diálogo, diálogo por diálogo, como o escritor David Grossman sugeriu essa semana no Haaretz – Israel já consumiu sua quota de falsos diálogos – mas negociações práticas, com objetivo, determinadas, com o claro e declarado objetivo de pôr fim à ocupação. Assim se demonstraria o "poder de contenção", a mais importante de todas aspromessas e de todas as soluções.As negociações, agora, têm de visar ao estabelecimento de um Estado Palestino, nas fronteiras de 1967, que são as máximas fronteiras legais de Israel e as fronteiras mínimas, legais, da Palestina. Deve parar hoje a construção de qualquer colônia. Devem-se tomar as medidas necessárias para evacuar todas as colônias da face da terra.Basta de conversas rasas e ocas sobre se Israel estaria "preparada" para a Solução dos Dois Estados. Basta de exibir pesquisas que mostram que isto ou aquilo seria "o que a maioria dos israelenses" deseja ou não deseja. Basta de repetir o que tantos políticos e diplomatas teriam algum dia dito, contra ou a favor do Estado da Palestina. É hora de fazer acontecer o Estado da Palestina.De nada adianta falar com o presidente Máhmude Abbas (Abu Mazen) e, ao mesmo tempo, prosseguir a construção de mais uma colônia em Modi'in Ilit. É impossível continuar a falar só com Máhmude Abbas, porque ele é ontem, é o homem de ontem para os palestinos e só representa uma pequena parte dos palestinos.Hoje, Israel tem de falar com o Hamas. Imediatamente. Pelo menos, tem de tentar falar com o Hamas.Também no Hamas há homens prontos a por de lado sonhos de ontem e visões do futuro, em nome de construir um presente melhor.É hora de libertar os prisioneiros, as centenas de prisioneiros, uns prisioneiros políticos, outros prisioneiros de guerra. Eles também têm de poder manifestar suas esperanças nacionais, hoje.E também, imediatamente, Israel tem de dizer "Sim" à Síria, imediatamente, antes de que também esse momento propício seja desperdiçado: a paz, em troca das colinas de Golan. Hoje. É possível fazer a paz com a Síria, mediante negociações.Ao mundo árabe, Israel tem de dizer: queremos discutir a iniciativa saudita.À comunidade internacional e aos próprios israelenses, Israel deve declarar: erramos; cometemos o pecado de matar, por arrogância, nessa guerra; e pedimos perdão, do fundo do coração. Mas nem isso adiantará, se Israel não mudar, radicalmente, a direção do seu modo de pensar e de operar no mundo.Precisamente a partir dessa guerra horrenda, Israel pode começar a mudar. A partir do luto, das ruínas, dos feridos. Basta.Israel já provou seu prodigioso – talvez prodigioso demais – poder militar, inúmeras vezes, prodígio sobre prodígio, e o quanto Israel não tem nenhum poder de autocontenção.Israel já provou que "o meu é maior", mais violento, mais mortífero. É possível mudar de direção agora, depois dessa guerra terrível, horrenda, tanto quanto, depois da Guerra do Yom Kippur foi possível fazer a paz com o Egito (paz que também poderia ter sido alcançada sem guerra).Mas Israel sempre se repete: concessões, se alguma, só depois de banhos de sangue.Levantar o sítio de Gaza, por fim ao bloqueio, dialogar com o Hamas, paz com a Síria, aceitar a iniciativa árabe – esses são passos práticos.Mas, antes disso, tem de acontecer uma mudança de fundo, em Israel. Depois de décadas de demonização e desumanização dos árabes, é tempo, hoje, de reconhecer que são como nós, exatamente como nós, iguais a nós. Têm sentimentos, sonhos e direitos. Essa consciência humana basal é que foi apagada em Israel. Sem ela, Israel fracassará; com ela, tudo voltará a ser muito mais alcançável.Por anos, a direita israelense banqueteou-se de palavras ocas e nada respondeu à mais simples das perguntas: Então, o que fazer?Como estarão as coisas daqui a 20, 30 ou 50 anos? Então, os palestinos já serão maioria "entre o rio e o mar".E a direita de Israel nada tem a dizer ou fazer. Nada, nenhuma resposta que não seja a guerra.A esquerda tem resposta – que aqui escrevi. E os israelenses da "opinião pública" voltarão a condenar a esquerda ao ostracismo, ridícula esquerda, vão ignorá-la, vão acusá-la de ser "ingênua" ou acusarão a esquerda de "traição".Que pelo menos ninguém diga que a esquerda de Israel não sabe o que propor, que não vê caminho e que não tenha posto o pé na rua, no caminho que vê – o caminho da paz, não da guerra – completa e sinceramente.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Não responsabilização por crimes da ditadura pode condenar Brasil na OEA

Copyleft : AGÊNCIA CARTA MAIOR

Fotos: Eduardo Seidl

FÓRUM MUNDIAL DE JUÍZES

Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, os crimes das ditaduras da América do Sul são crimes contra a humanidade e não estão sujeitos à prescrição e leis de anistia. O Chile já foi condenado por não punir responsáveis por tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados. O Procurador da República Marlon Weichert (foto) diz que o Brasil pode sofrer a mesma punição. O país não possui nenhum processo de responsabilização criminal pelos crimes da ditadura.
_________________________




_________________________
Ao contrário de nossos vizinhos na América Latina, o Brasil não possui hoje nenhum processo de responsabilização criminal pelos crimes da ditadura militar em andamento. Após décadas do término de um dos períodos mais sombrios de nossa história, ninguém foi condenado ou sequer está sendo processado criminalmente pelas barbaridades cometidas nos porões do Exército. Em debate realizado durante o Fórum Mundial de Juízes, em Belém (PA), neste domingo (25), o procurador regional da República em São Paulo, Marlon Weichert, afirmou que esta condição pode levar à condenação do Estado Brasileiro pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos. À luz de um caso chileno, que levou o país a ser condenado pela Corte por não processar agentes que tinham praticado atos de tortura e homicídio na ditadura de Pinochet, a Corte tomou uma decisão paradigmática no que diz respeito à responsabilização por crimes desta ordem. Afirmou que desaparecimentos forçados são crimes sobre os quais não incide a prescrição da pena, já que pode ser considerado um crime ainda em andamento. Da mesma forma, afirmou que crimes contra a humanidade não podem ser deixados impunes em função da edição de leis nacionais de anistia. ”Se os países vizinhos encontraram um caminho jurídico para ir contra esta impunidade e trazer alguma solução à ferida aberta, precisamos conhecê-lo. Estamos convencidos de que este caminho existe e é perfeitamente compatível com a Constituição Federal brasileira”, disse a também procuradora da República em São Paulo Eugênia Fávero.No Brasil, pelo menos dois casos de responsabilização criminal – pela morte de José Luiz da Cunha e do jornalista Vladimir Herzog – foram arquivados sob o argumento de o Brasil não ratificou a convenção da ONU sobre a imprescritibilidade de crimes contra a humanidade. “Mas o Chile também não ratificou e foi condenado. Neste cenário, tenho convicção de que, se os familiares das vítimas acionarem a Comissão Interamericana contra a omissão do Estado brasileiro, estes casos chegarão à Corte e o Brasil será condenado”, afirmou Marlon Weichert. Em 2005, as Nações Unidas recomendaram que o Brasil deveria considerar todos os meios possíveis de responsabilização penal, civil e administrativa pelos delitos cometidos durante a ditadura militar. Ou seja, que o país deveria ir além das indenizações financeiras já pagas pelo Estado. Para a ONU, países que passaram por regimes de exceção, para evitar que a quebra do Estado Democrático de Direito se repita no futuro, devem implementar medidas do que se chama, no campo jurídico, de justiça transicional. Tal justiça inclui: - a revelação da verdade, mediante a abertura de arquivos do período e a criação de comissões da verdade imparciais; - a responsabilização pessoal dos perpetradores de graves violações de direitos humanos, entendendo que a situação de impunidade é fator de inspiração e dá confiança a quem adota práticas violadoras de direitos; - a reparação patrimonial dos danos às vítimas, através de indenizações financeiras; - reformar institucionalmente os serviços de segurança, expurgando de seus quadros quem propagava a teoria do período; - instituir espaços de memória, para que as gerações futuras saibam que, no país, se praticou o terror em nome do Estado. “Países que não fizeram justiça transicional têm hoje um nível de promoção dos direitos humanos muito inferior daqueles que a promoveram. O Brasil, por exemplo, tem os piores índices de direitos humanos quando comparado com Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia”, disse Weichert. “Sem falar que há uma ambiguidade na postura do país: perante a comunidade internacional, o Estado Brasileiro defende a obrigação dos países de punir os crimes contra a humanidade. Foi assim no caso dos tribunais de Ruanda, da Iugoslávia e nas decisões da Corte Interamericana. Mas, ao aplicarmos o direito interno, dizemos que temos que considerar a anistia e a prescrição. Isso significa dizer: o Brasil vai ser condenado na corte Interamericana e tudo bem”, critica o procurador da República. “A situação é tão dramática que, assim como Pinochet foi processado pela justiça espanhola pelos crimes que cometeu no Chile, a justiça argentina ou de qualquer país pode vir a processar os crimes se o Brasil não o fizer. Um crime contra a humanidade desperta a jurisdição universal e qualquer país pode assumir essa responsabilidade”, conclui. Abertura dos arquivosPara chegar à condenação de responsáveis pelos crimes da ditadura o Brasil ainda tem um desafio grande a ser enfrentado, um primeiro passo a ser dado: abrir os arquivos do período militar, colocando em prática o primeiro ponto de qualquer processo de reparação por violações de direitos humanos: a revelação da verdade. Recentemente, o governo brasileiro declarou à imprensa que os documentos do SNI haviam sido levados para o Arquivo Nacional e estavam disponíveis para consulta. Foram. No entanto, o decreto que autoriza o transporte dos documentos também diz que o sigilo de tais documentos segue respondendo à lei que regulamenta o acesso à informação. “Esses arquivos trocaram de lugar mas o sigilo seguiu mantido. Vários documentos foram abertos e trazem informações importantes do período. Mas muita coisa não está lá, como diversos anexos citados. Certamente foram destruídos”, acredita Eugênia Fávero. “Agora, mesmo com a lei que admite o sigilo eterno, o Presidente da República pode, a qualquer momento, levantar o sigilo desses documentos. Então por que ele não faz? E lá fora diz que faz? Por que é um tabu tão forte? A quem se deve isso? Não haveria ninguém com mais autoridade do que o presidente Lula para virar esta página como ela tem que ser virada, em vez de colocar uma pedra em cima disse”, avalia.Um exemplo de uma informação estratégica, que poderia contribuir na identificação de corpos de diversos militantes contra a ditadura, seria o acesso à planta básica de uma base aérea que funcionou na região do Araguaia. O Ministério Público Federal participou de uma investigação na região e identificou pessoas que estariam enterradas nesta base. O Exército até hoje se recusa a fornecer a planta original do local, para identificar este cemitério clandestino. “Temos convicção de que existem muitos documentos que, se forem conciliados com outras fontes históricas, permitiriam a reconstituição de muitas informações. Mas o Estado Brasileiro segue negando o acesso a essas informações e, assim, proibindo as famílias de enterrarem em definitivo seus entes. Tudo isso para preservar a biografia de meia dúzia de torturadores”, acusa Marlon Weichert. “Mas 2009 será um ano importante nesta luta. O STF (Supremo Tribunal Federal) vai se posicionar sobre a lei de anistia, a Comissão Interamericana deve se pronunciar sobre o Araguaia e a sociedade começou a debater este tema. Deixou de ser uma questão interditada. Acho que estamos ainda no primeiro minuto do primeiro tempo deste jogo”, concluiu.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

EUA - POR TELEFONE, REPUBLICANOS FAZEM TERRORISMO

O jornalista brasileiro Luiz Carlos Azenha denuncia em sua página http://www.viomundo.com/ que nos Estados Unidos o Partido Republicano, através de chamada telefônica, "alerta" que os democratas vão implantar no país "sua agenda extremista de esquerda" e tenta associar Barack Obama a Bill Ayers, um homem que pertenceu a um grupo radical que promoveu luta armada nos anos 60.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Temos de ser capazes de ver a verdade por trás das mentiras

Norman Finkelstein, Counterpunch, 13/1/2009
_____________________________________
_____________________________________
_____________________________________
Os registros existem e são muito claros. Qualquer pessoa encontra na internet, na página do governo de Israel e, também, na página do ministério de Negócios Exteriores de Israel. Israel desrespeitou o cessar-fogo, invadiu Gaza e matou seis ou sete (há controvérsia quanto ao número de assassinados, não quanto ao crime de assassinato) militantes palestinenses, dia 4/11. Depois, o Hamás respondeu ou, como se lê nas páginas do governo de Israel "o Hamás retaliou contra Israel e lançou mísseis."Quanto aos motivos, os documentos oficiais também são claros. O jornal Haaretz já informou que Barak, ministro da Defesa de Israel, começou a planejar o massacre de Gaza muito antes, até, de haver acordo de cessar-fogo. De fato, conforme o Haaretz de ontem, a chacina de Gaza começou a ser planejada em março.Quanto às principais razões do massacre, acho, há duas. Número um: restaurar o que Israel chama de "capacidade de contenção do exército" e que, em linguagem de leigo, significa a capacidade de Israel para semear pânico e morte em toda a região e submetê-la mediante a pressão das armas, da chantagem, do medo. Depois de ter sido derrotado no Líbano em julho de 2006, o exército de Israel entendeu que seria importante comunicar ao mundo que Israel ainda é capaz de assassinar, matar, mutilar e aterrorizar quem se atreva a desafiar seu poder pressuposto absoluto, acima de qualquer lei.A segunda razão pela qual Israel atacou Gaza é culpa do Hamás: o Hamás começou a dar sinais muito claros de que deseja construir um novo acordo diplomático a respeito das fronteiras demarcadas desde junho de 1967 e jamais respeitadas por Israel.Em outras palavras, o Hamás sinalizou que está interessado em fazer respeitar exatamente os mesmos termos e conceitos que toda a comunidade internacional respeita e que, em vez de resolver os problemas a canhão e com campanhas de mentiras por jornais e televisão, estaria interessado em construir um acordo diplomático.Aconteceu aí o que Israel poderia designar como "uma ameaçadora ofensiva de paz chefiada pelos palestinenses". Imediatamente, para destroçar a ofensiva de paz, o governo e o exército de Israel desencadearam campanha furiosa para destroçar o Hamás.A revista Vanity Fair publicou, em abril de 2008, em artigo assinado por David Rose, baseado, por sua vez em documentos internos dos EUA, que os EUA estavam em contato estreito com a Autoridade Palestinense e o governo de Israel, organizando um golpe para derrubar o governo eleito do Hamás, e que o Hamás conseguira abortar o golpe. Isso não é objeto de discussão: esse fato é estabelecido, documentado e há provas.A questão passou a ser, então, impedir o Hamás de governar, e ninguém governa sob bloqueio absoluto, bloqueio que desmantelou toda a atividade econômica em Gaza. Ah! Vale lembrar: o bloqueio começou antes de o Hamás chegar ao poder (eleito!). O bloqueio nada tem ou jamais teve a ver com o Hamás. Quanto ao bloqueio, os EUA despacharam gente para lá, James Wolfensohn especificamente, para tentar pôr fim ao bloqueio, depois de Israel ter invadido Gaza.O xis da questão é que Israel não quer que Gaza progrida, sequer quer que viva, e Israel não quer ver nenhum conflito encaminhado por vias diplomáticas, que tanto os líderes do Hamás em Damasco, quanto os líderes do Hamás em Gaza têm repetidas vezes declarado que buscam, sempre com vistas a resolver o conflito relacionado às fronteiras demarcadas em 1967, fronteiras que Israel jamais respeitou. Tudo, até aí, são fatos registrados e comprovados. Não há qualquer ambigüidade: tudo é bem claro.Todos os anos, a Assembleia da ONU vota uma resolução intitulada "Solução pacífica para a questão da Palestina". E todos os anos o resultado é o mesmo: o mundo inteiro de um lado; Israel, EUA, alguns atóis dos mares do sul e a Austrália, no lado oposto. Ano passado, o resultado da votação foi 164 a 7. Todos os anos, desde 1989 (em 1989, o resultado foi 151 a 3), é sempre a mesma coisa: o mundo a favor de uma solução pacífica para a questão da Palestina; e EUA, Israel e a ilha-Estado de Dominica, contra.A Liga Árabe, todos os 22 Estados-membros da Liga Árabe, são favoráveis a uma chamada "Solução dos Dois Estados", com as fronteiras determinadas em junho de 1967. A Autoridade Palestinense é favorável à mesma "Solução dos Dois Estados" e às mesmas fronteiras determinadas em junho de 1967. E o Hamás também é favorável à mesma "Solução dos Dois Estados" e às mesmas fronteiras demarcadas em junho de 1967. O problema é Israel, patrocinado pelos EUA. Esse é o problema.Bem... Há provas de que o Hamás desejava manter o cessar-fogo; exigiu, como única condição, que Israel levantasse o bloqueio de Gaza. Muito antes de começarem os rojões do Hamás, os palestinenses já enfrentavam terrível crise humanitária, por causa do bloqueio. A ex-Alta Comissária para Direitos Humanos da ONU, Mary Robinson, descreveu o cenário que testemunhou em Gaza como "destruição de uma civilização". Isso, durante o cessar-fogo.O que se vê nos fatos? Os fatos mostram que nos últimos mais de vinte e tantos anos, toda a comunidade internacional procura um modo de resolver o conflito das fronteiras de 1967, com solução justa para a questão dos refugiados. Será que 164 Estados-membros da ONU estão sempre errados, e certos e pacificistas seriam só EUA, Israel, Nauru, Palau, Micronésia, as ilhas Marshall e a Austrália? Quem é pacifista? Quem trabalha contra a paz?Há registros e documentos que comprovam que, em todas as questões cruciais discutidas em Camp David; depois, nos parâmetros de Clinton; depois, em Taba, em cada ponto discutido, os palestinenses sempre fizeram concessões. Israel jamais concedeu qualquer coisa. Nada. Os palestinenses repetidas vezes manifestaram decisão de superar a questão das fronteiras de 1967 em estrito respeito à lei internacional.A lei também é claríssima. Em julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça, órgão máximo da ONU para questões de direito internacional, declarou que Israel não tem direito de ocupar nem um metro quadrado da Cisjordânia nem um metro quadrado de Gaza. Israel tampouco tem qualquer direito sobre Jerusalém. O setor Leste de Jerusalém, os bairros árabes, nos termos da decisão da mais alta corte de justiça do planeta, são território da Palestina ocupado ilegalmente por Israel. Também nos termos de decisão da mais alta corte de justiça do planeta, nos termos da lei internacional, todas as colônias de judeus que há na Cisjordânia são ilegais.O ponto mais importante de tudo isso é que, em todas as ocasiões em que se discutiram essas questões, os palestinenses sempre aceitaram fazer concessões. Fizeram todas as concessões. Israel jamais fez qualquer concessão.O que tem de acontecer é bem claro. Número um, EUA e Israel têm de se aproximar do consenso da comunidade internacional e têm de respeitar a lei internacional. Não me parece que trivializar a lei internacional seja pequeno crime ou pequeno problema. Se Israel contraria o que dispõe a lei internacional, Israel tem de ser acusada, processada e julgada em tribunais competentes, como qualquer outro Estado, no mundo.O presidente Obama tem de considerar o que pensa o povo dos EUA. Tem de ser capaz de dizer, com todas as letras, onde está o principal obstáculo para que se chegue a uma solução para a questão da Palestina. O obstáculo não são os palestinenses. O obstáculo é Israel, sempre apoiada pelo governo dos EUA, que, ambos, desrespeitam a lei internacional e contrariam o voto de toda a comunidade internacional.Hoje, o principal desafio que todos os norte-americanos temos de superar é conseguir ver a verdade, por trás das mentiras.
_____________________________________
Norman Finkelstein é autor de cinco livros, entre os quais Image and Reality of the Israel-Palestine Conflict, Beyond Chutzpah and The Holocaust Industry, traduzidos para mais de 40 idiomas. Esse artigo está publicado também em sua página internet, em www.NormanFinkelstein.com

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?

Extraído da página VIOMUNDO e publicado no dia 19 de janeiro de 2009

Dica e colaboração de RODRIGO E. FIERRO

_____________________________________


Eduardo Galeano, intelectual uruguaio, jornalista e um dos maiores escritores em língua espanhola(*)

Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latinoamericanas que Israel assessorou.
Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de "danos colaterais", segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez "danos colaterais", três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.A chamada "comunidade internacional", existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinas, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antisemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

_______________________________________


(*) Texto publicado originalmente no jornal Brecha e posteriormente na página RS Urgente (Tradução: Katarina Peixoto)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Demissões na GM e subsídios estatais

por Altamiro Borges
_____________________________________
Na semana passada, a General Motors comunicou à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) a demissão de 744 operários contratados por tempo determinado. Poucos dias antes, ela já havia dispensado 58 temporários. O facão na GM criou forte temor nas bases sindicais e no governo Lula. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acusou a multinacional estadunidense de se aproveitar da crise mundial para demitir brasileiros e anunciou que qualquer novo subsídio à empresa será condicionado a cláusulas rigorosas de manutenção dos empregos.A bronca do ministro é plenamente justificada – por isso gerou raivosa gritaria dos empresários e de sua mídia. Afinal, as montadoras de automóveis auferiram lucros recordes nos últimos anos e ainda mamaram nas tetas do governo, com empréstimos e redução de tributos. Agora, diante da grave crise capitalista mundial, elas jogam o seu ônus nas costas do trabalhador e chantageiam o governo para obter mais vantagens. Apesar do discurso falacioso da “responsabilidade social”, as multinacionais não têm qualquer compromisso com a sociedade nem com o Brasil.Lucro recorde e socorro à matrizEm novembro último, o jornal empresarial DCI publicou uma nota que revela toda a ganância e a desfaçatez desta multinacional. “O alto desempenho do setor automobilístico até setembro deve garantir a General Motors do Brasil o melhor ano de sua história, mesmo com a revisão negativa do faturamento, que deve ficar em US$ 9,5 bilhões ante a previsão de US$ 11 bilhões, com 575 mil unidades vendidas, um crescimento de 15% sobre 2007. Com isso, ela aumentará seus lucros e, conseqüentemente, o socorro à matriz que passa por dificuldades nos EUA”, relatou o artigo, que já dava uma pista sobre a atual sacanagem da empresa estadunidense – a remessa de lucros.“Se o nosso lucro aumenta, o valor repassado à matriz naturalmente aumenta”, justificou Jaime Ardilla, presidente da GM brasileira. Animado, ele ainda se jactou dos novos investimentos da empresa no país, apesar da crise já ter estourado nos EUA. Seria mantida “a construção de uma nova fábrica de motores em Joinville (SC), a ampliação da capacidade de produção [maior intensidade do trabalho] nas unidades de São Caetano e São José dos Campos e a conclusão de um centro de engenharia e design, que juntos somam US$ 1,5 bilhão de investimentos”. Ardilla também elogiou os governos federal e paulista, que liberaram R$ 8 bilhões em linhas de crédito.A estratégia perversa das montadorasA notinha do DCI ajuda a desmascarar a estratégia da poderosa multinacional: elevar a remessa de lucros para matriz falida nos EUA, transferir parte da produção para regiões onde o valor da força de trabalho é menor, intensificar a produção nas unidades já existentes e, ainda, chantagear governos para assaltar os cofres públicos. Na fase da bonança, as multinacionais pressionam pela desregulamentação, numa orgia de lucros e transferência de riquezas. Na fase da crise, elas usam a ameaça de falências e demissões para exigir mais subsídios e isenções. Elas nunca perdem.Após transferir os lucros obtidos na produção para a especulação financeira, atolando-se na crise, as dez maiores montadoras de automóveis do mundo já demitiram 35 mil operários. Para se safar do colapso, elas agora chantageiam os governos. Nos EUA, o governo já desembolsou US$ 17,4 bilhões para salvar a GM e a Chrysler. O Canadá seguiu o exemplo e doou mais US$ 3,3 bilhões. Já na Europa, a alemã Opel, braço da GM, foi a primeira montadora a pedir socorro, seguida pela Volkswagen. O “estado mínimo”, tão decantado pelos neoliberais, agora é a salvação do capital.Redução de impostos e créditosNo caso brasileiro, a mamata se repete. Após superarem todas as estimativas de lucro até outubro passado, as montadoras começaram a dar sinais de retração nas vendas. De imediato, avançaram sobre as tetas do Estado. Como chantagem, elas anunciaram férias coletivas e programas de demissões voluntárias. Depois, começaram a aplicar o facão, sem dó nem piedade. O terrorismo, como sempre, teve sucesso. Além de liberarem R$ 8 bilhões ao setor, os governos Lula e Serra estudam ampliar os incentivos fiscais já existentes, reduzindo o ICMS estadual e o IPI federal.Já em agosto passado, temendo os efeitos da crise mundial, o presidente Lula baixou o decreto nº 6.556 ampliando o uso do crédito do Imposto sobre a Produção Industrial (IPI) para compensar outros tributos num período posterior. Por sua vez, o governador José Serra elevou os benefícios fiscais às montadoras, concedendo R$ 6,8 bilhões em subsídios – mais da metade dos R$ 11,8 bilhões de investimentos programados pelas multinacionais no Estado. Através do chamado Pró-Veículo, elas poderão usar os créditos fiscais para pagar fornecedoras e reduzir impostos.Unidade e luta contra as demissõesEstá certo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao afirmar que porá fim a esta mamata e exigirá compensação das montadoras para qualquer outro tipo de socorro. Estão certos os metalúrgicos de São José dos Campos, que realizaram uma paralisação de protesto na GM, exigem a redução da jornada de trabalho sem perda salarial e pressionam o governo por medidas mais duras contra as multinacionais. “Não dá para aceitar que o governo Lula dê bilhões de reais às montadoras e deixe os trabalhadores pagarem pela crise com demissões. Mais do que palavras, precisamos de ações do governo federal”, explicou Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral do sindicato.Na luta contra as demissões, será necessária muita unidade e luta. Qualquer sectarismo cobrará o preço do isolamento; qualquer omissão terá efeito reverso – hoje a GM de São José dos Campos, amanhã a Volkswagen de São Bernardo do Campo ou a GM de São Caetano do Sul. No combate à ganância e à chantagem das multinacionais, a disputa entre as centrais deve ficar à margem. Respeitando as leituras distintas sobre o caráter do atual governo, é preciso pressioná-lo para que ele endureça com as montadoras, no rumo proposto pelo ministro Lupi – não por acaso alvo de raivosa campanha do capital e da mídia para derrubá-lo. Nada de socorro aos abutres capitalistas.
_____________________________________

domingo, 25 de janeiro de 2009

BREVE REMINISCÊNCIA DO CENTRO DE SÃO PAULO

Mais uma vez cito um artigo publicado no ICArabe.
Dessa vez, o tema é nada mais, nada menos, que o professor Aziz Ab' Sáber, um dos últimos grandes intelectuais vivos brasileiros. Esse professor, que entende tudo de geografia e de humanismo, traz algumas passagens pela cidade de S. Paulo que hoje completa aniversário.
Uma boa leitura!
Deleite-se com o texto maravilhoso da Soraya Smaili.
_____________________________
Breve reminiscência do centro de São Paulo
_____________________________
Por Soraya Smaili*
_____________________________
O professor Aziz Ab’Sáber tem sempre muitas histórias para contar e foi a partir de uma delas que seus colegas do Instituto da Cultura Árabe, do qual o geógrafo é Presidente de Honra, decidiram realizar a exposição fotográfica “Imagens e Paisagens do Mundo Árabe”. A ideia era organizar algumas fotos do professor, produto de seu hábito de tirá-las em suas muitas viagens, mesmo quando ainda usava uma câmera muito rudimentar. Por décadas, o professor as colecionou, mas um conjunto de fotos foi guardado com muito carinho: o da viagem que fez à terra de seu pai, Nacibinho, que ele sonhava em conhecer. E não só conheceu o Líbano, mas também a Síria e o Egito e buscou conexões e interações com a sua identidade cultural e com a lembrança carinhosa que sempre teve do pai.Que boas lembranças estas fotos trouxeram e quantas histórias o professor contou sobre elas!, aliás como reza a boa tradição árabe. No ensejo de relembrar os seus inúmeros álbuns de fotos, vieram também as reminiscências da cidade, as lembranças do Prédio da Caixa, um banco importante da Praça da Sé e do centro antigo. Esta é uma imagem que ele não esquece, uma das primeiras visões que teve logo que aqui chegou, em 1939, para fazer o vestibular da Universidade de São Paulo. Nesta época, ele costumava andar da Praça da República, para o viaduto do Chá, Rua Direita, até a Praça da Sé. A enorme Praça que ele aprendeu a conhecer, observando que as pessoas de posses e as mais humildes caminhavam em lados opostos e se posicionavam em pontos diferentes. Já nesta época começou a se interessar por relevos, que mais tarde veio a estudar como geográfo. Chamava-lhe a atenção o Rio Tamanduateí, por exemplo, que foi fundamental para a história de São Paulo, pois, quando os jesuítas vieram, tinham o intuito de fazer uma Igreja para catequizar estrategicamente os filhos dos índios. Foi nesta região que chegaram os primeiros árabes de São Paulo. Por lá caminharam, subiram a ladeira e foi onde se estabeleceram inicialmente como comerciantes, na sua maior parte. Em um determinado momento no tempo, de um lado, foi feita a canalização do Tamanduateí, e desenvolveram algumas ruas como a 25 de Março e a Rua Cantareira, onde está o Mercado Municipal. Mais antigamente, havia o Porto Geral e hoje uma de suas lembranças é o nome da Ladeira Porto Geral, onde paravam as embarcações que vinham de Santo André, região que tinha mais culturas, produzia legumes e de onde os pescadores traziam peixes. Quando Aziz já era Assistente na Universidade de São Paulo, seu Professor pediu que acompanhasse um grande pesquisador vindo de Portugal. Em um dos passeios, perguntou-lhe se aqui se usava a denominação “rossio” para caracterizar uma formação específica da geografia urbana. Em Portugal, essa formação era conhecida como um caminho de ligação entre a cidade e o povo. Foi curioso então para o geógrafo perceber que a Rua Direita, em São Paulo, ligava aquele trecho do centro histórico, que tinha um certo casario de pessoas bem aquinhoadas, até a descida, onde desembarcavam no Porto Geral. A Rua Direita fazia chegar até rossio que era a Praça da Sé. Essa viagem no tempo, feita com a ajuda do professor Aziz, trouxe uma doce interligação geográfica e temporal entre o que foi a Praça da Sé, o Porto Geral e a região do Rio Tamanduateí, onde chegaram os primeiros árabes de São Paulo. Diante das reminiscências do geógrafo, foi no edifício histórico da Caixa, que hoje é um importante centro cultural, que foi possível mostrar os registros geográficos do Brasil em paralelo à tocante visita que fez à terra de seu pai, que representa tantos imigrantes que aqui chegaram. Quando jovem, olhando aquele belo prédio, não poderia imaginar que estaria contando estas reminiscências geográficas. Hoje, em meio à exposição de fotos do Professor Aziz Ab’Sáber e das histórias colecionadas e contadas, podemos fazer esta viagem junto com ele.
________________________________
* diretora Cultural e Científica do Instituto da Cultura Árabe
publicado originalmente no ICArabe

sábado, 24 de janeiro de 2009

OBAMA: MAIS INTELIGÊNCIA NO AR

por Cyro Saadeh












foto: página oficial do governo estadunidense


Sem querer discutir se Obama é mais ou menos inteligente que Bush, pois a resposta parece ser óbvia, pergunto-me como será utilizada a inteligência no governo do novo presidente estadunidense.
Será que o atual presidente Obama seguirá o exemplo de Jimmy Carter na promoção de valores humanitários e de direitos humanos? Será que provocará mais guerras? Será que os Estados Unidos tentarão manter-se influentes a qualquer custo?


Carter, evidentemente, não foi um presidente samaritano ou santo, mas foi um dos melhores líderes dos Estados Unidos para quem defende a questão dos direitos humanos e direitos das minorias.
Carter enfrentou uma época difícil, de ditaduras atrozes na América do Sul e do surgimento da Operação Condor. Não fomentou, ao contrário do que faziam governos anteriores, a tortura e os assassinatos por motivos políticos. Teve que suportar a revolução iraniana em 1979, onde cidadãos estadunidenses foram feitos reféns. Enfrentou radicalismos e selou a paz entre egípcios e israelenses, com a devolução do Sinai ao Egito, tomado por Israel. Internamente enfrentou um colapso econômico, motivo de sua rejeição pelos estadunidenses.


Obama assume com uma grande crise já instalada e com a tortura tolerada admitida oficialmente em Guantánamo, na ilha de Cuba. A mídia internacional vê em Obama um presidente revolucionário. Os americanos vêem nele um novo Kennedy. Enquanto os israelenses desconfiam, os árabes desacreditam. Já os quenianos, festejam o fato de um descendente daquela terra tornar-se presidente da nação mais forte econômica e militarmente de todos os tempos. Os brasileiros? Alguns sorriem e outros nem notam. Obama tem várias facetas, mas não por culpa dele, mas da mídia e do desconhecimento público das limitações de um presidente.

Bem, Obama, simpático e com um dom ímpar da palavra, começou bem. Determinou que a enorme cadeia a céu aberto, chamada Guantánamo, na base estadunidense na ilha de Cuba, fosse fechada. Deu o prazo de um ano para isso.


De certo Obama não fará milagres. Encontrou o mundo numa situação diferente de Carter, onde os Estados Unicos opunham-se à antiga União Soviética na guerra fria. Os Estados Unidos, hoje, estão em guerra em território longínquo, contra a vontade da população de seu país e também da dos territórios ocupados. Morrem muitos soldados (e civis dos países ocupados) em benefício de grandes grupos petrolíferos e das indústrias bélicas.

A indústria da guerra provavelmente sentirá saudades de Bush, mas Obama não é um pacifista, diga-se de passagem. Ele apenas não vê motivos para os Estados Unidos gastarem tanto dinheiro em guerra quando vive uma decarrota econômica que implicou na perda de milhares e milhares de postos de emprego. É alguém mais racional e comedido, sim, e isso é benéfico ao mundo inteiro.

Mas nenhum presidente americano vive sem controlar o mundo de certa forma. Na época de Carter, que era um presidente preocupado com questões humanitárias, a CIA fazia atrocidades no mundo afora. Agora, quando a China torna-se a terceira maior economia do globo; a esquerda cresce na América Latina, o velho quintal dos Estados Unidos; a população árabe está cansada de alguns de seus ditadores de Estados vassalos (Egito); a Rússia e a China ganham muito dinheiro vendendo armas aos ditos "inimigos" dos Estados Unidos; Israel não serve mais para contrapor-se a regimes inimigos dos Estados Unidos, mas para para criar embaraços às pretensões diplomáticas americanas; o Irã aquieta-se e adquire relevância geoestratégica; e tantas outras realidades que surgiram, parece crível que os serviços de inteligência (espionagem) ficarão mais aguçados e ativos, já que exigem menos dinheiro que as ostentosas guerras (forma mais antiga e direta de impor a vontade do império). Enquanto isso, tudo indica que a diplomacia - tão propalada por Obama - caminhará homeopaticamente rumo a progressos, mas sem grandes viradas e sem causar sensação de fraqueza aos estadunidenses que se sentem eternos super-heróis.
Mudanças ocorrerão, é certo, mas imagina-se que não atingirão a essência.
Só o tempo dirá a que esse afrodescendente, neto de muçulmano e portador de nome árabe fará com o planeta que tem em suas mãos. Ele é mais que presidente dos Estados Unidos, é o grande comandante do maior império de todos os tempos.

Teremos menos guerra, parece. Mas vê-se mais inteligência no ar, tanto para o bem como para o mal, e o responsável não é o Obama, mas o sistema de poder que parece imodificável.
Boa sorte ao presidente Obama, à população estadunidense e a todos os habitantes do planeta terra.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Gaza: Mais um capítulo no holocausto palestino

por Mohamed Habib


publicado originalmente no dia 12/01/09 no ICArabe


Tudo é calculado. Tudo é estrategicamente planejado. Tudo é eficientemente articulado, para que, hoje, possamos assistir a mais um massacre do povo palestino. Agora é na Faixa de Gaza. Quando Theodor Herzl, o pai intelectual do sionismo, publicou o seu famoso livro “O estado judeu”, em 1896, que levou à formação da OSM (Organização Sionista Mundial), criada no Primeiro Congresso Sionista, realizado em 1897, todo o plano começou a ser criado. Nesse congresso decidiu-se pela criação de um estado judeu na Palestina no prazo de 50 anos. Que precisão! Mas que precisão? A Resolução 181 da ONU, do dia 29/11/1947, concedeu 53% da Palestina à comunidade judaica para a criação do Estado de Israel, enquanto o restante (47%) seria suficiente para os palestinos. Embora todos os países árabes, incluindo o estado palestino, estivessem ocupados militarmente pela Inglaterra, França, Espanha e Itália, foram contra a resolução da ONU. Para saber o que de fato aconteceu naquele período de 50 anos, que terminou com a criação do Estado de Israel, algumas datas nunca devem ser esquecidas. Os massacres que o povo palestino sofreu dos grupos armados da comunidade judaica na Palestina nos anos 30 e 40. Os grupos armados “Irgun” e “Stern Gangs”, tanto quanto a AJI (Agência Judaica por Israel), foram considerados pelo governo britânico, no dia 24 de julho de 1946, como organizações terroristas devido aos massacres e à expulsão de palestinos de seus lares, cidades e lavouras.Outra data é 1917, na qual o Ministro do Exterior da Inglaterra, Artur Balfour, conseguiu aprovar no Congresso britânico a sua proposta de apoiar o projeto sionista de criação de um estado judeu na Palestina. A manifestação ganhou, desde então, o rótulo de “Declaração Balfour”. Uma outra data é 1922, na qual a Liga das Nações aprovou o “mandato britânico na Palestina”, nome pomposo e um eufemismo para uma ocupação militar daquele país. E os britânicos anunciaram que sairiam da Palestina no prazo de duas décadas; até lá os palestinos estariam em boas condições para, autonomamente, governar o seu país. Os britânicos anunciaram, no dia 13 de maio de 1948, a sua retirada da Palestina. No dia seguinte, 14 de maio, foi proclamado o estado de Israel pelos líderes da comunidade judaica na Palestina. E, começou a novela dos massacres, desde então, realizados pelo exército israelense.É um fantástico plano de expansão territorial, que dá de dez a zero no plano norte-americano de expansão territorial nas direções Oeste e Sul, no início e meados do século XIX, que aniquilou os povos indígenas e os mexicanos. Desde 1967 até hoje, a área sobre a qual o estado israelense está instalado equivale a 78% da original Palestina. E, ainda, desde a mesma data, o restante (22%), onde, hoje, vivem os palestinos é ocupado militarmente pelo exército israelense, e os massacres nunca pararam. Esses territórios palestinos são chamados pela ONU de “territórios palestinos ocupados”. O pior é que essa porcentagem de 22%, onde os palestinos “vivem”, é dividida em duas áreas totalmente isoladas uma da outra sem nenhum contato. O palestino não tem o direito de se deslocar de uma área para outra, para visitar os seus familiares. Ainda mais: cada uma dessas duas áreas recebeu dezenas de assentamentos e colônias, que pela “lei” israelense se tornam territórios israelenses, com estradas que se interligam e que são, também, considerados territórios israelenses, onde o palestino não pode pisar e muito menos atravessar. Resultado: o povo palestino está totalmente fragmentado, sem infra-estrutura mínima, sem exército e sem autonomia; enfim, uma nação em que a vida de seus habitantes não vale mais nada. Mas, como a dignidade ainda não foi atingida, essa vida, que não vale mais nada, começa a ser usada nos momentos de desespero até mesmo como veículo explosivo contra alvos israelenses.Ao longo das décadas, a tática é a mesma: efetuar, periodicamente, uma grande ofensiva; o mundo se assusta, mas esquece de discutir o conflito desde o seu início e tenta resolver apenas essa nova situação. Israel abre mão de uma parte do território conquistado na ofensiva e, injustamente, conquista outro. O mais interessante refere-se aos acordos bilaterais firmados entre Israel e governantes árabes, alguns dos quais corruptos. A cláusula principal determina o não envolvimento destes em qualquer conflito entre Israel e qualquer outro país árabe, principalmente o conflito com os palestinos. É isso que deixa o Egito, além de vários outros países, com as mãos amarradas, sem poder fazer absolutamente nada diante de cada operação de massacre que os palestinos sofram.Com a esperada posse de Barack Obama, marcada para o dia 20 de janeiro de 2009, e com a aproximação da data das eleições para o Legislativo israelense, marcada para o dia 10 de fevereiro, é fundamental aproveitar as duas oportunidades para a consolidação de conquistas e assegurar uma governabilidade mais segura dentro de Israel. É uma tática a mais, presente no massacre de Gaza.As eleições em Israel, que seriam realizadas em 2010, foram antecipadas, devido ao fracasso da líder do partido governista, o Kadima, Tzipi Livni, em formar uma coalizão de governo. "É importante que novas eleições sejam realizadas o mais rapidamente possível para reduzir incertezas, devido aos sérios desafios políticos, econômicos e de segurança que Israel tem", disse o porta-voz do Kadima, Smulik Dahan. De um lado, Obama chegando ao poder com Gaza invadida, daria a ele a condição de convencer Israel a sair, mediante condições muito mais desfavoráveis contra os palestinos. A saída, após Gaza arrasada e massacrada, favoreceria a formação de uma coalizão de governo israelense mais viável para os próximos anos. Assim é que foi planejada a atual “operação massacre” de Gaza. O comando israelense resolveu dar início ao seu projeto de limpeza étnica nesse território palestino, no qual, através do terror, mata uma boa parte dos palestinos em poucas semanas e expulsa o restante para o Egito. Em todos os dias do massacre, de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, milhares de panfletos foram jogados por helicópteros israelenses nas diferentes cidades da Faixa de Gaza pedindo a saída da população e a evacuação de todo o território palestino. É mais um crime de guerra que o estado sionista vem cometendo para manchar, cada vez mais, a sua história e levar qualquer cidadão comum a perguntar: é possível que um povo que sofreu com o Holocausto nazista da Alemanha permita que os seus governantes cometam crimes semelhantes contra crianças e civis indefesos de um outro povo?Após 13 dias de massacre, 763 palestinos já morreram e mais de 3.200 foram severamente feridos. Um terço das vítimas são crianças abaixo de 12 anos. O lado israelense, no mesmo período, perdeu dez vidas, oito das quais são soldados. Estamos falando de dois povos, um invadido e ocupado militarmente pelo outro. Um tem o quarto exército mais forte e mais equipado do planeta. O outro nem exército tem. Um tem armas nucleares, aviões F-16 tanques e helicópteros militares de última geração. O outro sequer granada manual pode ter. Os grupos populares palestinos de resistência à ocupação estão sendo chamados pelo governo sionista, lamentavelmente, de terroristas. Parece-me que o estado israelense quer convencer o mundo de que os palestinos não podem ter o direito de se defender da violência e da barbárie, e sim a obrigação de morrer em silêncio. Aliás, sob o som dos bombardeios e dos mísseis israelenses, porém, sem reclamar.Mais uma página da história da humanidade está sendo escrita, hoje com o sangue palestino. Certamente chegará o dia em que futuras gerações judias sentirão vergonha de ter tido em seu estado judaico governantes que não respeitaram um dos mais importantes mandamentos que Moisés trouxe para a humanidade: não matarás.
____________________________________
____________________________________
Mohamed Habib é professor titular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pró-reitor de Extensão dessa instituição e vice-presidente do ICArabe

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

HOJE BRIZOLA COMPLETARIA 87 ANOS

foto: O Globo

SÓ PARA NÃO ESQUECER:
Os 87 anos de nascimento de Leonel Brizola, dia 22 de janeiro, serão lembrados no Rio de Janeiro com uma palestra sobre sua trajetória política, a partir das 18 horas, na sede nacional da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini a cargo de Ney Ortiz Borges - deputado federal e líder do Governo João Goulart na Câmara Federal até ser cassado pelo ato institucional número 1 em abril de 1964.

O auditório da Fundação Brizola – Pasqualini fica na rua do Teatro, 39 – Praça Tiradentes e a entrada é franca. Na mesma quinta-feira (22/01) será rezada missa pelo aniversário de Brizola, às 11 horas da manhã, na Igreja de São José, na rua Primeiro de Março – ao lado da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

Ney Ortiz Borges foi vereador e exerceu a liderança do PTB quando Brizola foi Prefeito de Porto Alegre. Depois se elegeu deputado estadual e, mais tarde, deputado federal pelo Rio Grande do Sul quando foi escolhido Líder do Governo Jango na Câmara Federal.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

U2 LANÇA NOVO ÁLBUM



"No line in the horizon" é o nome do novo álbum do U2. Quer ouvir um trecho? Vá para a página http://goyb.u2.com/

Judeus contra assassinato

publicada no jornal The Guardian, em 10/01/2009

(extraído da página http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/judeus-contra-assassinato/)


"Nós, os abaixo-assinados, somos todos de origem judaica. Quando vemos os corpos mortos e ensaguentados de pequenas crianças, o corte de água, eletricidade e comida, nos lembramos do cerco ao Gueto de Varsóvia. Quando Dov Wisglass, um assessor do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, falou em colocar os moradores de Gaza "numa dieta" e o vice-ministro de Defesa, Matan Vilnai, falou sobre os palestinos experimentarem um "shoah maior" (holocausto), nos lembramos do governador-geral Hans Frank, da Polônia ocupada pelos nazistas, quando ele falou de "morte pela fome".
A verdadeira razão para o ataque em Gaza é que Israel só quer lidar com palestinos fracos. O maior crime do Hamas não é o terrorismo, mas sua negativa de se tornar um peão na mão do regime de ocupação de Israel na Palestina. A decisão no mês passado da União Européia de dar um upgrade nas relações com Israel sem qualquer exigência quanto aos direitos humanos encorajou a agressão israelense. O tempo de não confrontar Israel acabou. Como primeiro passo, a Grã Bretanha deveria retirar seu embaixador de Israel e, como fez no caso do apartheid na África do Sul, iniciar um programa de boicote, desinvestimento e sanções
".
Ben Birnberg, Prof Haim Bresheeth, Deborah Fink, Bella Freud, Tony Greenstein, Abe Hayeem, Prof Adah Kay, Yehudit Keshet, Dr Les Levidow, Prof Yosefa Loshitzky, Prof Moshe Machover, Miriam Margolyes, Prof Jonathan Rosenhead, Seymour Alexander, Ben Birnberg, Martin Birnstingl, Prof. Haim Bresheeth, Ruth Clark, Judith Cravitz, Mike Cushman, Angela Dale, Merav Devere, Greg Dropkin, Angela Eden, Sarah Ferner, Alf Filer, Mark Findlay, Sylvia Finzi, Bella Freud, Tessa van Gelderen, Claire Glasman, Ruth Hall, Adrian Hart, Alain Hertzmann, Abe Hayeem, Rosamene Hayeem, Anna Hellmann, Selma James, Riva Joffe, Yael Kahn, Michael Kalmanovitz, Ros Kane, Prof. Adah Kay, Yehudit Keshet, Mark Krantz, Bernice Laschinger, Pam Laurance, Dr Les Levidow, Prof. Yosefa Loshitzky, Prof. Moshe Machover, Beryl Maizels, Miriam Margolyes, Helen Marks, Martine Miel, Diana Neslen, O Neumann, Susan Pashkoff, Hon. Juliet Peston, Renate Prince, Roland Rance, Sheila Robin, Ossi Ron, Manfred Ropschitz, John Rose, Prof. Jonathan Rosenhead, Leon Rosselson, Michael Sackin, Ian Saville, Amanda Sebestyen, Sam Semoff, Prof. Ludi Simpson, Viv Stein, Inbar Tamari, Ruth Tenne, Norman Traub, Eve Turner, Tirza Waisel, Karl Walinets, Renee Walinets, Stanley Walinets, Philip Ward, Naomi Wimborne-Idrissi, Ruth Williams, Jay Woolrich, Ben Young, Myk Zeitlin, Androulla Zucker, John Zucker

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"Da Batalha das Termópilas ao 11 de Setembro"

"Da Batalha das Termópilas ao 11 de Setembro" é um texto magnífico e imperdível do jornalista francês Alain Gresh e está disponível na edição de janeiro do Le Monde Diplomatique Brasil. Não perca! O texto em inglês segue logo abaixo.
Histórias e verdades não ditas escondem-se nessa obra que enche de orgulho qualquer ser que se entenda humano e aja como tal. Compreenda um pouco mais o Oriente e o Ocidente e veja porque este considera-se mais iluminado.
Boa leitura...
From Thermopylae to the Twin towersThe West’s selective reading of history

By Alain Gresh
Shortly after the first world war, the French literary critic and historian Henri Massis (1886-1970) preached a crusade against the dangers threatening European values and thought – largely identified with those of France, in his mind. He wasn’t entirely misguided: across the world, colonised nations were in revolt. He wrote: “The future of western civilisation, of humanity itself, is now under threat... Every traveller, every foreigner who has spent any time in the Far East agrees that the way in which the population thinks has changed more in the last 10 years than it did over 10 centuries. The old, easy-going submissiveness has given way to blind hostility – sometimes genuine hatred, just waiting for the right moment to act. From Calcutta to Shanghai, from the steppes of Mongolia to the plains of Anatolia, the whole of Asia trembles with a blind desire for freedom. These people no longer recognise the supremacy that the West has taken for granted since John Sobieski conclusively stemmed the Turkish and Tartar invasions beneath the walls of Vienna. Instead they aspire to rebuild their unity against the white man, whose overthrow they proclaim” (1).
These fears are resurfacing today in a very different context, also marked by a series of cataclysmic events: the end of the cold war, 9/11, the wars in Iraq and Afghanistan and above all the restructuring of the global order in favour of new powers, such as China and India. Various authors, many of them highly regarded, have picked up on the Manichean view of history as an eternal confrontation between civilisation and barbarism as they excavate the roots of what Anthony Pagden calls the “2,500-year struggle” now bathing the world in blood.
Pagden has taught in some of the world’s most prestigious universities, including Oxford, Cambridge and Harvard. The picture he paints of world history is a crude one: “A flame had been lit in Troy which would burn steadily down the centuries, as the Trojans were succeeded by the Persians, the Persians by the Phoenicians, the Phoenicians by Parthians, the Parthians by the Sassanids, the Sassanids by the Arabs, and the Arabs by the Ottoman Turks... The battle lines have shifted over time, and the identities of the antagonists have changed. But both sides’ broader understanding of what it is that separates them has remained, drawing, as do all such perceptions, on accumulated historical memories, some reasonably accurate, some entirely false” (
2).
Despite this minor reservation about “entirely false” memories, Pagden’s vision is a binary one whose founding event was the confrontation between the Greeks and Persians as described by the Greek historian Herodotus.
According to Pagden: “What [Herodotus] is concerned to show is that what divided the Persians from the Greeks or the Asians from the Europeans was something more profound than petty political differences. It was a view of the world, an understanding of what it was to be, and to live, like a human being.
“And while the cities of Greece, and of ‘Europe’ more widely, were possessed of very different personalities and had created sometimes very different kinds of societies, and were all too happy to betray each other if it suited them, they nevertheless all shared the common elements of that view. They could all distinguish freedom from slavery, and they were all committed broadly to what we today would identify as an individualistic view of humanity.”
Paul Cartledge, professor of Greek history at Cambridge University, takes a similar view of “the battle that changed the world”: Thermopylae (480BC). “This clash between the Spartans and other Greeks, on one side, and the Persian horde (including Greeks), on the other, was a clash between freedom and slavery, and was perceived as such by the Greeks both at the time and subsequently... The battle of Thermopylae, in short, was a turning-point not only in the history of Classical Greece, but in the world’s history, eastern as well as western” (
3). In the mid-19th century, the economist John Stuart Mill described the battle of Marathon, fought some 10 years earlier, as “more important than the battle of Hastings, even as an event in English history”.
In his preface, Cartledge makes no secret of his ideological perspective: “The events of ‘9/11’ in New York City and now ‘7/7’ in London have given this project [understanding the significance of Thermopylae] a renewed urgency and importance within the wider framework of East-West cultural encounter.” Not so much an encounter as a clash between despotism and freedom.
‘No prisoners!’
A popularised version of this academic view is presented in 300, a film depicting the battle, directed by Zack Snyder and based upon the graphic novel of the same name by Frank Miller and Lynn Varley. The two-hour film, which was a hit at the US box office, resembles a video game in which chiselled musclemen, high on amphetamines, square off against effeminate barbarians (black or Middle Eastern in appearance) whose deaths nobody would regret. “No prisoners!” (
4) shouts the hero, King Leonidas of Sparta, who has already killed the Persian ambassador at the beginning of the film: savages are excluded from humanity’s most sacred laws.
So basically civilisation means exterminating barbarians. As early as 1898, the German political scientist Heinrich von Treischke stated what many of his contemporaries would have regarded as the obvious: “International law becomes meaningless when any attempt is made to apply its principles equally to barbarian nations. The only way to punish a black tribe is to burn their villages; it is the only sort of example they understand. For the German empire to apply international law in cases like this would not be either humanity or justice; it would be shameful weakness.”
The Germans showed no “weakness” between 1904 and 1907 when they exterminated the Herero in Namibia. This first genocide of the 20th century was one of a series of colonial policies that served as model and precursor to the Nazi genocide against the Jews.
According to Cartledge, there is no Persian source – no native Herodotus – for the Greco-Persian wars. But we now know enough about the Persian empire to modify traditional views. Touraj Daryaee, professor of ancient history at California State University, Fullerton, points out that slavery, widely practised in Greece, was rare among the Persians, whose women enjoyed higher status that their Greek counterparts (
5). He also reminds us of the Cyrus cylinder, a document that the UN decided to translate into all its official languages in 1971; this first known charter of human rights was granted by Cyrus the Great in the 6th century BC and called for religious toleration, the abolition of slavery, the freedom to decide one’s profession...
It is unsurprising that the Greeks – particularly Herodotus, who, to be fair, was less of a caricature than his literary heirs – should have presented their victory as a triumph over barbarism. As long as wars have been fought, the protagonists have draped themselves in idealistic principles. US leaders have similarly depicted their campaigns in Iraq and Afghanistan as wars of Good against Evil. But it may be worth asking why, 4,500 years later, we remain so obsessed by the Greeks.
According to Marcel Detienne of John Hopkins University in Baltimore: “In his Instructions, Lavisse (
6) declared that what secondary-school pupils need to be taught, without their realising it, is that ‘our history begins with the Greeks’. Our [French] history begins with the Greeks, who invented liberty and democracy and who introduced us to ‘the beautiful’ and a taste for ‘the universal’. We are heirs to the only civilisation that has offered the world ‘a perfect and as it were ideal expression of justice and liberty’. That is why our history begins – has to begin – with the Greeks. This belief was then compounded by another every bit as powerful: ‘The Greeks are not like others’. After all, how could they be, given that they were right at the beginning of our history? Those were two propositions that were essential for the creation of a national mythology that was the sole concern of traditional humanists and historians, all obsessed with nationhood” (7).
Detienne continues: “It is commonly believed not only that both the abstract notion of politics and concrete politics one fine day fell from the heavens, landing on ‘classical’ Athens in the miraculous and authenticated form of Democracy (with a capital D), but also that a divinely linear history has led us by the hand from the American Revolution, passing by way of the ‘French Revolution’, all the way to our own western societies that are so blithely convinced that their mission is to convert all peoples to the true religion of democracy.”
A number of Anglo-Saxon writers, unpersuaded of Europe’s “uniqueness”, have questioned the idea of a direct line of descent from classical antiquity via the Renaissance – a term invented by the historian Jules Michelet during the 19th century – to contemporary Europe. Their message has rarely reached French shores (
8).
John M Hobson of Sheffield University has shown that it is impossible to understand world history without recognising the crucial importance of the East: “This marginalisation of the East constitutes a highly significant silence because it conceals three major points. First, the East actively pioneered its owns substantial economic development after about 500. Second, the East actively created and maintained the global economy after 500. Third, and above all, the East has significantly and actively contributed to the rise of the West by pioneering and delivering many advanced ‘resources portfolios’ (eg technologies, institutions and ideas) to Europe” (
9).
China, the leading player
How many of us are aware that the first industrial revolution began in the 11th century, in Song dynasty China? This dynasty produced 125,000 tonnes of iron in 1078, seven centuries before Britain managed to produce 76,000. The Chinese mastered advanced technologies like iron casting and substituted coke for charcoal to prevent deforestation. During the same period they revolutionised transport, energy (the water mill), taxation, trade and urban development. Their green revolution attained levels of agricultural production that Europe did not match until the 20th century.
Until 1800, China remained the leading player in a global economy that some described as Sinocentric; India, too, was of enormous importance. Many Chinese technologies, ideas and institutions spread to Europe and helped bring about the rise of modern capitalism. The British industrial revolution would have been impossible without China’s contribution. And the same is true of the great Muslim empires (see box).
According to John M Hobson: “Eurocentrism errs by asking wrong questions at the outset. All Eurocentric scholars (either explicitly or implicitly) begin by asking two interrelated questions: ‘What was it about the West that enabled its breakthrough to capitalist modernity?’ and ‘What was it about the East that prevented it from making the breakthrough?’” But these questions assume that western dominance was inevitable, and lead historians to scour the past for the factors that explain it. “The rise of the West is understood through a logic of immanence: that it can only be accounted for by factors that are strictly endogenous to Europe.” East and West come to be regarded as distinct entities separated by a cultural Great Wall of China, which protects us from barbarian invasion.
Fear of barbarians
But who are these barbarians? Tzvetan Todorov questions Claude Levi-Strauss’ definition of the barbarian as “the man who believes in barbarism” and suggests: “It is someone who believes that a population or an individual is not fully human and therefore merits treatment that he would resolutely refuse to apply to himself.” In his recent The Fear of Barbarians (
10), Todorov develops an argument he presented in earlier works such as On Human Diversity (a thought-provoking book that deserves to be far more widely read). “The fear of barbarians,” he writes now, “is what is in danger of turning us into barbarians. And the evil that we do will far exceed what we initially fear.”
Only the individual who fully recognises the humanity of others can be called civilised. “For a long time,” Todorov continues, “the ideas of the Enlightenment served as a source of inspiration for a liberal, reformist tendency that fought conservatism in the name of universalism and equal respect for all. Things have changed now, and the conservative defenders of the superiority of western thought claim to be the heirs of the Enlightenment, battling against the ‘relativism’ that they associate with the Romantic reaction of the early 19th century. But they can only achieve this by renouncing the true Enlightenment tradition with its articulation of universal values and cultural pluralism. We must go beyond the clichés: Enlightenment thought should not be confused either with dogmatism (my culture must be imposed upon all) or nihilism (all cultures are equally valid). To use it to denigrate others, as an excuse to subject or destroy them, is simply to hijack the Enlightenment.”
But was the Enlightenment really hijacked, or did it go along willingly? Hobson argues that the construction of 18th- and 19th-century European identity allowed the affirmation of an “exceptionalism” that no other civilisation has ever asserted. “Ultimately, the Europeans did not seek to remake the world simply because ‘they could’ (as in materialist explanations). They sought to remake the world because they believed they should. That is, their actions were significantly guided by their identity that deemed imperialism to be a morally appropriate policy.” Many European supporters of the anti-colonialist struggle and the Third World rejected this vision, often in the name of the Enlightenment. The debate will no doubt continue.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

ORIGENS DO TERRORISMO NO MÉDIO ORIENTE

Seriam os Deuses astronautas? Viveriam no mundo da lua? Como deixaram ocorrer tantas barbaridades neste planeta? Cruzadas, duas guerras mundiais, holocausto e, agora, massacre de crianças, idosos, mulheres e jovens, em escolas da ONU, em campos de refugiados e, desde há muito, privados de comida e bebida.
São tantos os tipos de violência humana...
No site http://resistir.info/ há uma relação daqueles que seriam os primeiros tipos de atentados implantados na Palestina pelos sionistas. Veja abaixo:
______________________________________________________
"Quem começou o terrorismo no conflito árabe-israelense?
Bombas em cafés: utilizadas pelos sionistas pela primeira vez na Palestina em 17/Março/1937, em Jaffa.
Bombas em autocarros: utilizadas primeiro pelos sionistas em 20/Agosto e 26/Setembro/1937.
Bombas em mercados: utilizadas primeiro pelos sionistas em 06/Julho/1938, em Haifa.
Bombas em hotéis: utilizadas primeiro pelos sionistas em 22/Julho/1946, em Jerusalém.
Bombas em embaixadas estrangeiras: utilizadas primeiro pelos sionistas em 01/Outubro/1946, em Roma (contra britânicos).
Minagem de ambulâncias: utilizadas primeiro pelos sionistas em 31/Outubro/1946, em Petah Tikvah.
Cartas bomba: utilizadas primeiro pelos sionistas em Junho/1947 contra alvos britânicos no Reino Unido.
Para documentação, consulte-se The Arab Women's Information Committee e The Institute for Palestine Studies, Who Are the Terrorists? Aspects of Zionist and Israeli Terrorism, (Beirut: Institute for Palestine Studies, 1972). "
___________________________________________________________

domingo, 18 de janeiro de 2009

FREUD, GANDHI E 60 ANOS DE ISRAEL


Saiu nesse sábado, na revista Carta Capital dessa semana, uma matéria interessantíssima intitulada "Freud e Gandhi explicam", de autoria de Maurício Dias, responsável pela Coluna Rosa-dos-Ventos, onde é relembrado que Freud, judeu, se opôs à criação de um Estado Judáico na Palestina. O intelectual alertou, inclusive, que tal idéia retratava um fanatismo irrealista. Na verdade, o pai da psicanálise atacava frontalmente os sionistas que tanto desvirtuaram os pensamentos judáicos ao longo do tempo.
Gandhi, que dispensa apresentações, afirmava que "é errado e desumano impor os judeus aos árabes. O que está acontecendo na Palestina não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética".
Antecipo que não sou contra a criação do Estado de Israel. Acho que os judeus têm direito, sim, a um lar, como todos os outros povos. Apenas discuto a rapidez com a qual o mesmo foi criado, sem uma longa e exaustiva discussão (a fim de evitar tantos desentendimentos e futuros abusos), e o momento, já que em 1948 os Estados árabes estavam começando a se livrar do colonialismo francês e britânico. Alguns inclusive, como a Argélia, apenas se veriam livres décadas depois.
Passados 60 anos da criação de Israel, reconheço que os questionamentos do parágrafo anterior não são óbices (e nem poderiam ser) à criação ou existência do Estado judáico. Acho apenas que:
a) devem ser respeitadas as fronteiras dispostas na criação de Israel pela ONU, em 1948;
b) deve haver respeito recíproco entre israelenses e palestinos e todos os demais vizinhos;
c) devem ser criadas escolas que promovam a interação entre israelenses de origem não-árabe e israelenses de origem árabe (ou palestinos) em Israel e na Palestina;
d) deve ser criado um mercado comum que una todos os países do Oriente Médio, incluindo necessariamente Israel.
Ocorrendo isso, penso que o tempo se incumbirá de promover a paz, a harmonia e o reencontro cultural entre esses povos semitas. A saúde mental da humanidade, de certo, agradecerá.
_______________________________________
Cyro Saadeh é jornalista e membro do ICArabe

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um mundo sem guerras é possível


Emir Sader*



O governo dos EUA respondeu aos atentados de 2001 com a adoção de uma doutrina que tenta condenar a humanidade a viver em guerra eternamente. Reivindica-se o direito de atacar preventivamente a quem julga que pode representar risco para ele, fala de “guerra infinita”, se reivindica a defesa “do bem contra o mal” e coloca rigorosamente em prática sua doutrina, como se vê pela ocupação e destruição do Iraque e do Afeganistão. Israel, como discípulo predileto do centro imperial do mundo, faz exatamente o mesmo contra os palestinos. Militarizar os conflitos, tentar impor soluções baseadas na força e na violência, na superioridade militar, não importando o que seria justo, não importando quem sejam as vítimas da sua política genocida – é o resultado dessa doutrina. A lista de entidades supostamente “terroristas” – que inclui o Hamas, porém não o Exército israelense, para nos atermos a um exemplo aberrante imediato – serve para tentar desqualificar os inimigos do império e abençoar seus aliados. Um direito de consagrar quais seriam as forças do bem e as do mal – conforme os critérios do império genocida.No entanto, um mundo sem guerras é possível. É possível ouvir as partes em confronto, buscar o respeito dos direitos de ambas, tentar todas as formas de solução política, em que todas as partes envolvidas sejam ouvidas e contempladas nas suas reivindicações, contanto que não impeçam que o mesmo aconteça com as outras partes.Com esse objetivo foi organizada uma mesa de debates no Forum Social Mundial de Belém, no próximo dia 29, pela manhã, com o nome “Um mundo sem guerras é possível”, com a participação de Mustafa Barghouthi – dirigente palestino, que vive em Ramalah -, Alejo Vargas – professor universitário colombiano, especialista nos temas de negociação política de conflitos – e Ignacio Ramonet – renomado jornalista internacional, que abordará os temas do Iraque e do Afeganistão. A mesa é organizada por Clacso – Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais -, pelo Forum de São Paulo, por Memórias de Lutas e pela CUT.Além dessa atividade, está programa um grande ato de solidariedade com a Palestina durante o Forum, que será aberto no dia 27 de janeiro e irá até primeiro de fevereiro.

___________________________________________________

* professor de sociologia e filósofo

Texto copyleft extraído do Blog do Emir

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A mídia em Israel toca as trombetas da guerra

Historiador do futuro que algum dia examine os arquivos dos jornais de Israel verá com clareza absoluta: para Israel, 200, 300 e, depois, 400 palestinos assassinados 'não é' manchete. A mídia em Israel é "poupada" de ter de exibir imagens "fortes". Israel abraça e sempre abraçará qualquer guerra, qualquer barbárie. Israel crê-se tão poderosa que se brutalizou, que já não sente. Em Israel a barbárie é regente. A análise é do jornalista israelense Gideon Levy.

Gideon Levy*





Eis como estão as coisas em Israel: opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e atitude que deve ser combatida. Essa semana, falando do seu programa "London & Kirschenbaum", Yaron London, apresentador, deu sinais de que a coisa está ficando difícil: "Tivemos problemas com o programa. Sabemos do amplo consenso a favor da guerra – acabar com eles, bater até que se calem. Mas também há outras vozes, não só dos israelenses-árabes, também de muitos judeus. Encontramos alguns poucos judeus que defendem o fim dos ataques, ou que jamais deveriam ter começado, e que é preciso iniciar negociações. Não é minha opinião. Minha linha é outra, e já a expus em muitos artigos. Mas é preciso ouvir as outras vozes. Falar sozinho leva sempre ao desastre. O problema é que todos têm medo. As vozes da paz estão em silêncio, porque estão aterrorizadas." Depois, London disse ao seu entrevistado, Amir Peretz, que planejara entrevistar também moradores de Gaza, para ouvir "o outro lado", mas que, desgraçadamente, aquelas poucas vozes foram silenciados "pelo terror". Com terror ou sem terror, sei de muitos judeus, não de 'alguns poucos', que defenderiam "o outro" lado e que não vacilariam, nem por um segundo, para declará-lo na televisão. Por exemplo, as centenas que tomaram a Praça da Cinemateca, em Telavive, no sábado à noite, para protestar contra a operação de guerra do exército israelense. Mas a equipe da produção do programa "London & Kirschenbaum" não os procurou. Problemas de produção, claro. Seja como for, ninguém quis saber da opinião deles, no mais ouvido programa de entrevistas da televisão – porque há expressa proibição de que sejam ouvidos. Pouco antes de sermão de autojustificativa de London, alguém que defende a posição "do outro lado", Ahmed Tibi, foi convidado para uma entrevista nos estúdios do programa "Erev Hadash" ['outra noite']. O que dali se ouviu está fadado a tornar-se um clássico do telecine de terror: horror e horror, berros, gritaria e insultos. Veias a ponto de explodir e gargantas roucas de tanto berrar. Margalit [apresentador do programa]: "Você está inventando bobagens... Você não respondeu minha pergunta." Tibi: "Respondo o que eu queira responder." Margalit: "Baixe a voz. Fale como ser humano civilizado!" Tibi: "Estou falando como ser humano civilizado." Margalit: "Me respeite!" Até que Margalit deu-se por satisfeito e ordenou ao co-entrevistador, Ronen Bergman: "OK. Deixe-o falar." Tibi, então, tentou dizer que a única diferença entre o Hamas e o governo de Israel é a questão dos pontos de controle, "que têm de ser liberados". Margalit, então, gargalhou em cena. Pense: quando, algum dia, você ouviu Margalit ou qualquer outro entrevistador de televisão, dizer ao entrevistado "Você está inventando bobagens"? Será que falam assim a Benjamin Netanyahu? Ehud Barak? Tzipi Livni? E esses? Não "inventam bobagens" vez ou outra? E quando, algum dia, alguém assistiu a um entrevistador dizer, na televisão "Baixe a voz. Fale como ser humano civilizado!" Gargalhar em cena?! Os nervos estão mesmo em frangalhos e os árabes (além de vários judeus heréticos) andam criando dificuldades. Porque é assim que estão as coisas em Israel. Opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e deve ser combatida. Podem debater o custo da paz eternamente; ninguém ouvirá uma palavra sobre o custo da guerra. Movimentos pacifistas são censurados. Movimentos pró-violência são ensinados. Pelo menos, até certo ponto.A crítica da guerra, mais uma vez, terá de esperar. [...] Esse é o teste de coragem e credibilidade da mídia, sempre igual, guerra após guerra. E sempre, guerra após guerra, a mídia fracassa. Nos estúdios de televisão, só entram generais e analistas militares, as mesmas caras, nos mesmos estúdios, já desde a guerra passada, na de antes, na de antes daquela, porque só neles concentra-se a sabedoria e o talento que há na sociedade de Israel, na opinião da mídia de Israel. Porque é assim que estão as coisas em Israel: os primeiros dias de guerra, de qualquer guerra, são sempre os mais sombrios. Mas nada de "Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!" Ah, não! Silêncio nenhum. O que se ouve é sempre o mesmo coro estridente de entrevistas e noticiários de televisão, gritaria, vinhetas espalhafatosas, clamores urgentes de "mais ataques, mais ataques", "matem mais", que Israel mate muito, que não pare de matar, entusiasmo crescente a cada nova chacina, guerra sem parar, cada vez mais. Só depois, quando baixa a poeira, quando já todos sabem que mais uma vez a vitória converteu-se em derrota, e as conquistas foram ilusão (quando não apenas mentiras), então, sim, começam a falar outras vozes. Até que, algumas vezes, algum senso, depois, aos poucos, implanta-se também na opinião pública. Sempre tarde demais. Sempre desgraçadamente tarde demais. "Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!"? Dia 6 de junho de 1982, há 25 anos, quando Israel embarcou na primeira Guerra do Líbano, talvez a mais ensandecida das guerras em que Israel embarcou, meu falecido colega Amiram Nir publicou, naquele seu artigo que fez história: "Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!": "Hoje não há oposição, nem Likud nem Ma'arakh, nem religiosos nem seculares, nem ricos nem pobres. Somos um só povo em armas. Estamos matando gente. Portanto, façam silêncio." Nir de fato não queria qualquer silêncio. Israel não quer silêncio. Quer sempre muito barulho, mas que só falem as vozes da beligerância, da violência, do nacionalismo fanático, da propaganda, da opinião 'geral'. Exceto essas vozes, sim, o silêncio. Silêncio total. Silêncio de morte. No primeiro dia dessa nova guerra, a televisão mostrou imagens horripilantes. Praticamente nada se escondeu. Telas divididas mostravam de um lado o medo em Ashkelon, de outro, o sofrimento em Gaza. (...) Todos os canais de televisão em Israel exibiram pedaços de cadáveres de palestinos carregados, com escavadeiras, para caminhões de carga. O pior de tudo: nem aquelas imagens despertaram qualquer protesto. Dessa vez, já não pareceu necessária qualquer tipo de consideração. Israel tornou-se tão indiferente à morte, o coração dos israelenses endureceu, petrificou-se de tal modo, que Israel vê o que viu essa semana... e nada! Apatia? Não, não é só isso.A verdade é que, vez ou outra, muitos tiveram uma mesma idéia: Será que a "campanha de Relações Públicas do governo de Livni" não nos fere mais do fere 'o outro lado'? (...) A mídia foi cuidadosamente preparada para essa guerra. Nenhuma comissão de inquérito, nem Winograd nem Doner, poderá jamais dizer que a mídia não tenha sido preparada para essa guerra. Durante meses, todos recebemos apavorantes 'informes' sobre o crescente poderio do Hamás, sobre como o Hamás se armava. Túneis, bunkers, casamatas, mísseis de longo alcance, exército cada dia maior. Nenhum jornalista investigou. Ninguém sequer suspeitou.Assim a mídia em Israel inventou o Hamas. Apagou a realidade de uma organização em frangalhos, em luta desesperada para não se deixar assassinar e que lança rojões de salão contra o mais poderoso exército do mundo. Assim, também, a mídia de Israel encobriu o fato de que Israel, não o Hamas, foi quem quebrou o pacto de cessar-fogo, imediatamente, no mesmo dia em que firmou o pacto: um dos túneis foi bombardeado no mesmo dia em que o cessar-fogo foi assinado. A mídia israelense também ocultou os efeitos do boicote. Durante dois anos e meio nenhum veículo da mídia de Israel pôde entrar em Gaza. A opinião pública em Israel não soube de nada. Tampouco se ouviu qualquer protesto dos jornalistas em Israel. O sofrimento pelo qual passa a população sitiada em Gaza não apareceu na agenda jornalística em Israel. Alguns ainda tentaram acalmar a própria consciência (nunca, de fato, muito torturada), com notícias de que não havia bloqueio; alguns "pressentiram"; alguns inventaram cenas piores do que a realidade. Mas os efeitos do sítio e do bloqueio de Gaza não foram noticiados em Israel. Depois da fase de preparação, a fase de avaliação: isso não pode continuar, disseram todos os analistas, introduzindo a idéia de que a resposta teria de ser militar, exclusivamente militar. Os assustados moradores de Sderot passaram a ser as únicas vítimas conhecidas. Não as crianças de Gaza, que não têm nem caderno para escrever, não os adultos que não tem nem cimento para vedar os túmulos de seus mortos, não os motoristas que dirigiam carros movidos com óleo de cozinha que aprenderam a reciclar, não os médicos que operavam sem eletricidade, não os feridos operados sem anestésicos, não as famílias mortas de frio. Essas não são personagens da cena do "isso não pode continuar". E então começou a fase mais ativa da campanha pela mídia: à guerra, à guerra! Acabem com eles! Operação militar! Ação, reação, o que for, desde que 'eles' sejam detidos. O último a aderir foi Nahum Barnea, colunista nacional, que entrou numa barbearia para cortar o cabelo, semana passada, em Sderot, e, é claro, não perdeu a oportunidade de partilhar a experiência com seus leitores e imediatamente, já de cabelo cortado, desafiou o ministro da Defesa, Ehud Barak, exatamente na véspera de Barak despachar seus aviões, para suas missões de morte. "Onde está o ministro da Defesa? Quem defenderá Israel?" bradava aquela manchete inesquecível. Mas essa ainda não foi a manchete da semana do jornalismo nacional em Israel. Esfuziante, imediatamente depois do início de mais uma guerra, um dia depois do Sábado Negro, quando mais de 200 palestinos foram mortos e havia mais de 1.000 feridos em Gaza, um terço dos quais, pelo menos, civis (70 eram guardas de trânsito, reunidos na cerimônia de formatura, jovens em busca desesperado de algum meio para ganhar a vida, que pensaram tê-la ganho na polícia, no instante em que a perderam sob bombardeio israelense), nesse mesmo dia e hora, com a tipagem que se reserva para guerras novinhas em folha, a principal manchete do dia declarava, em letras enormes: "Meio milhão de israelenses sob fogo". Isso. Apenas isso. Coisa simples, modesta, com a muito clara certeza e o profissionalismo típico de jornal e jornalistas que sabem a importância que têm para seus leitores. Quem quisesse saber o que ocorrera em Gaza naquele festim sangrento, e não só em Sderot e Netivot ("Netivot da Morte" dizia outra manchete), teria de andar até a página 13, para lá encontrar um relato muito sucinto do que, àquela hora, todos os telespectadores do mundo já sabiam: que o horror desabara dos céus sobre Gaza. Historiador do futuro que algum dia examine os arquivos dos jornais de Israel verá com clareza absoluta: para Israel, 200, 300 e, depois, 400 palestinos assassinados 'não é' manchete. Que a mídia em Israel é "poupada" de ter de exibir imagens "fortes", que o que Israel e seus militares fizeram contra Gaza é assunto para especialistas em "Relações Públicas", que a Livni tudo é permitido, que os palestinos fizeram por merecer, e que Israel abraça e sempre abraçará qualquer guerra, qualquer barbárie. Que Israel crê-se tão poderosa que se brutalizou, que já não sente, que em Israel a barbárie é regente.
(*) Gideon Levy é jornalista, colunista do jornal Haaretz.
Tradução: Caia Fitipaldi
Texto copyleft, extraído da agência Carta Maior

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



Postagens populares

__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
NOTÍCIAS, OPINIÕES, ARTIGOS E MEROS ESCRITOS, POR CYRO SAADEH
um blog cheio de prosa e com muitos pingos nos "is"

___________________________________________________________________________________