domingo, 25 de janeiro de 2009

BREVE REMINISCÊNCIA DO CENTRO DE SÃO PAULO

Mais uma vez cito um artigo publicado no ICArabe.
Dessa vez, o tema é nada mais, nada menos, que o professor Aziz Ab' Sáber, um dos últimos grandes intelectuais vivos brasileiros. Esse professor, que entende tudo de geografia e de humanismo, traz algumas passagens pela cidade de S. Paulo que hoje completa aniversário.
Uma boa leitura!
Deleite-se com o texto maravilhoso da Soraya Smaili.
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Breve reminiscência do centro de São Paulo
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Por Soraya Smaili*
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O professor Aziz Ab’Sáber tem sempre muitas histórias para contar e foi a partir de uma delas que seus colegas do Instituto da Cultura Árabe, do qual o geógrafo é Presidente de Honra, decidiram realizar a exposição fotográfica “Imagens e Paisagens do Mundo Árabe”. A ideia era organizar algumas fotos do professor, produto de seu hábito de tirá-las em suas muitas viagens, mesmo quando ainda usava uma câmera muito rudimentar. Por décadas, o professor as colecionou, mas um conjunto de fotos foi guardado com muito carinho: o da viagem que fez à terra de seu pai, Nacibinho, que ele sonhava em conhecer. E não só conheceu o Líbano, mas também a Síria e o Egito e buscou conexões e interações com a sua identidade cultural e com a lembrança carinhosa que sempre teve do pai.Que boas lembranças estas fotos trouxeram e quantas histórias o professor contou sobre elas!, aliás como reza a boa tradição árabe. No ensejo de relembrar os seus inúmeros álbuns de fotos, vieram também as reminiscências da cidade, as lembranças do Prédio da Caixa, um banco importante da Praça da Sé e do centro antigo. Esta é uma imagem que ele não esquece, uma das primeiras visões que teve logo que aqui chegou, em 1939, para fazer o vestibular da Universidade de São Paulo. Nesta época, ele costumava andar da Praça da República, para o viaduto do Chá, Rua Direita, até a Praça da Sé. A enorme Praça que ele aprendeu a conhecer, observando que as pessoas de posses e as mais humildes caminhavam em lados opostos e se posicionavam em pontos diferentes. Já nesta época começou a se interessar por relevos, que mais tarde veio a estudar como geográfo. Chamava-lhe a atenção o Rio Tamanduateí, por exemplo, que foi fundamental para a história de São Paulo, pois, quando os jesuítas vieram, tinham o intuito de fazer uma Igreja para catequizar estrategicamente os filhos dos índios. Foi nesta região que chegaram os primeiros árabes de São Paulo. Por lá caminharam, subiram a ladeira e foi onde se estabeleceram inicialmente como comerciantes, na sua maior parte. Em um determinado momento no tempo, de um lado, foi feita a canalização do Tamanduateí, e desenvolveram algumas ruas como a 25 de Março e a Rua Cantareira, onde está o Mercado Municipal. Mais antigamente, havia o Porto Geral e hoje uma de suas lembranças é o nome da Ladeira Porto Geral, onde paravam as embarcações que vinham de Santo André, região que tinha mais culturas, produzia legumes e de onde os pescadores traziam peixes. Quando Aziz já era Assistente na Universidade de São Paulo, seu Professor pediu que acompanhasse um grande pesquisador vindo de Portugal. Em um dos passeios, perguntou-lhe se aqui se usava a denominação “rossio” para caracterizar uma formação específica da geografia urbana. Em Portugal, essa formação era conhecida como um caminho de ligação entre a cidade e o povo. Foi curioso então para o geógrafo perceber que a Rua Direita, em São Paulo, ligava aquele trecho do centro histórico, que tinha um certo casario de pessoas bem aquinhoadas, até a descida, onde desembarcavam no Porto Geral. A Rua Direita fazia chegar até rossio que era a Praça da Sé. Essa viagem no tempo, feita com a ajuda do professor Aziz, trouxe uma doce interligação geográfica e temporal entre o que foi a Praça da Sé, o Porto Geral e a região do Rio Tamanduateí, onde chegaram os primeiros árabes de São Paulo. Diante das reminiscências do geógrafo, foi no edifício histórico da Caixa, que hoje é um importante centro cultural, que foi possível mostrar os registros geográficos do Brasil em paralelo à tocante visita que fez à terra de seu pai, que representa tantos imigrantes que aqui chegaram. Quando jovem, olhando aquele belo prédio, não poderia imaginar que estaria contando estas reminiscências geográficas. Hoje, em meio à exposição de fotos do Professor Aziz Ab’Sáber e das histórias colecionadas e contadas, podemos fazer esta viagem junto com ele.
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* diretora Cultural e Científica do Instituto da Cultura Árabe
publicado originalmente no ICArabe

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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