domingo, 31 de maio de 2009

EGITO: 132 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS INEXPLORADOS

DA PÁGINA ARABESQ

Uma arqueóloga americana confirmou que imagens de satélites revelaram haver 132 sítios arqueológicos não explorados no Egito. Sarah Barcak, da Universidade do Alabama nos Estados Unidos, garante que as imagens mostram sinais de artefatos arqueológicos enterrados e que podem ser investigados em breve. As imagens foram obtidas em alta definição através de uma parceria entre a Autoridade Nacional de Sensoriamento Remoto e de Ciências do Espaço e a Cidade Mubarak de Investigação Científica da fotografia aérea e terrestre com laser, para desenvolver mapas e modelos tridimensionais. O projeto fotografou quatro áreas arqueológicas: Luxor, o Vale dos Reis e das Rainhas, o vale das pirâmides e as pirâmides de Saqqara, com custo aproximado de 170 mil dólares. O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, Zahi Hawass, informou que o Conselho já finalizou as fotografias das ruínas da cidade de Habu, região que inclui o templo Habu construído pelo rei Ramsés III e remonta à idade da 18ª família real egípcia.
Com agências internacionais

sábado, 30 de maio de 2009

O poder do AIPAC e os espiões de Israel


A espionagem de Israel nos Estados Unidos é insólita se for levada em conta a dependência israelense da ajuda norte-americana e o fato de ser a amizade entre os dois países proclamada com tanta frequência pelos respectivos governos. Na foto, Jane Harman, a deputada que foi grampeada pela NSA (Agência de Segurança Nacional), com a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que foi contra a escolha dela para presidir a comissão de Inteligência. A análise é de Argemiro Ferreira.


Argemiro Ferreira

Apesar dos indícios de que ocorreria, o abandono pelos promotores federais dos EUA - na sexta-feira, dia 1° - do caso de espionagem contra o AIPAC (American Israel Public Affairs Committee), o mais poderoso lobby em Washington a favor de interesses de outro país (no caso, Israel) não deixou de ser insólito. Israel é o país mais beneficiado pela ajuda externa dos EUA, que se eleva a US$ 3 bilhões por ano.Decisões recentes do tribunal tornando mais difícil a vitória judicial da promotoria - como alegou o Departamento de Justiça - podem estar entre as razões. Mas é revelador a desistência ocorrer alguns dias depois da notícia sobre uma gravação da secretíssima NSA (Agência de Segurança Nacional) devassando conversa comprometedora da deputada democrata Jane Harman com um agente de Israel que agia no AIPAC.O grampo, segundo a notícia, tinha pilhado Harman, ativa e influente na comissão de Inteligência até 2007, a reivindicar junto ao AIPAC a presidência da comissão - do que Nancy Pelosi, hoje presidente da Câmara, discordava. O diálogo envolveu mais dois personagens do lobby. Eram eles Steven J. Rosen e Keith Weissman, os mesmos que oficialmente deixaram o AIPAC ao serem indiciados como suspeitos de espionar para Israel.As relações promíscuas - e perigosasEsse conjunto de dados escancara mais uma vez a promiscuidade nas relações entre o lobby israelense e altas autoridades dos EUA - democratas e republicanos, no Executivo e no Legislativo. Ao ser feita a gravação, meses antes, Weissman e Rosen já estavam formalmente desligados do AIPAC e eram alvos da investigação, sob a acusação de passar segredos dos EUA a agentes israelenses.Outro detalhe: no último sábado, 2 de maio, começou no AIPAC uma conferência (sobre políticas e programas) à qual comparecem, entre outros, a própria Harman, o senador (e ex-candidato presidencial democrata) John Kerry, o ex-deputado republicano (ex-presidente da Câmara) Newt Gingrich (ex-marido de uma lobista do AIPAC) e um ex-diretor da CIA, James Woolsey, notório pregoeiro da invasão do Iraque.Kerry e Gingrich são oradores nas sessões plenárias. Shimon Peres, presidente de Israel, é atração hoje, segunda-feira (talvez pela TV, via satélite). E o banquete de gala à noite promete Dick Durbin (democrata) e Jon Kyl (republicano), senadores em cargos de liderança em suas bancadas; Steny Hoyer (democrata) e Eric Cantor (republicano), deputados também das respectivas lideranças na Câmara.Essa capacidade do AIPAC de exibir figuras chaves, tanto do Congresso como do Executivo, não é surpresa em Washington. Da mesma forma, nas campanhas presidenciais dificilmente um candidato deixa de comparecer ao AIPAC, de olho no apoio do eleitorado simpático a Israel. Em 2008 quem tinha chance de chegar à Casa Branca, inclusive Barack Obama, Hillary Clinton e John McCain, lá esteve.As intrigas e o veto a Charles Freeman Também candidatos dos dois partidos ao Congresso às vezes recebem dinheiro do AIPAC para suas campanhas. Quando o milionário lobby israelense teme posições de um candidato, às vezes paga comerciais para atacá-lo e, ao mesmo tempo, faz doações a seu adversário. Houve dois casos notórios em 2002: os negros Cynthia McKinney (da Georgia) e Earl Hilliard (Alabama) perderam suas cadeiras depois de cinco mandatos.Os dois denunciaram o papel do lobby de Israel. Em relação a McKinney, primeira africana-americana a ser deputada federal pela Georgia, pode ter influído ainda a veemente acusação dela ao presidente George W. Bush de ter sabido com antecedência sobre o terrorismo de 11/9 em Nova York e Washington. (Em 2008 ela se candidatou à Casa Branca pelo Partido Verde: só recebeu 161.603 votos).A revelação mais recente dos detalhes sobre o grampo da deputada Jane Harman serviu para expor mais dados sobre a audácia do AIPAC. Steven Rosen foi citado na mídia como fonte das intrigas subterrâneas veiculadas na Internet contra a nomeação de Charles Freeman (pelo Diretor Nacional de Inteligência do governo Obama, Dennis C. Blair) para presidir o Conselho Nacional de Inteligência (NIC).Após semanas de bombardeio, o próprio Freeman jogou a toalha - pediu para seu nome ser retirado. O NIC, grupo interministerial, reúne em avaliações conhecidas pelas iniciais NIE (National Intelligence Estimates) informações das 16 agências de espionagem. Israel temia Freeman, ex-embaixador na Arábia Saudita, por sua vasta experiência no Oriente Médio. Atacou-o ainda como próximo à China - e usou aquela palavra mágica, “anti-semitismo”.Espião nos EUA, herói em IsraelSe necessário, o lobby israelense joga bruto. Quando está em jogo o sistema de inteligência dos EUA não brinca em serviço. Usa os políticos que apóia com sua força e doações de campanha - de certa forma, um retorno de parte dos bilhões enviados em ajuda externa graças a votos dos mesmos legisladores. Mas na área de inteligência, incomodada pela ousadia dos espiões israelenses, isso sempre gerou ressentimento.A espionagem de Israel nos EUA é insólita se for levado em conta a dependência israelense da ajuda americana e o fato de ser a amizade entre os dois países proclamada com tanta frequência pelos dois governos. Antes da controvérsia mais recente em torno do AIPAC, acompanhada publicamente desde 2005, a mais notória tinha sido sobre a prisão do espião Jonathan Pollard, funcionário civil da Marinha americana.Nascido nos EUA, Pollard tornou-se herói em Israel após ser condenado à prisão perpétua em 1987 por espionar para Israel. Feito cidadão israelense em 1995, só em 1998 admitiu ter sido espião. Desde Yithzak Rabin todos os governos de Israel tentaram libertá-lo. Tentados a atender, Bill Clinton e George W. Bush tiveram de desistir ante a indignação da CIA, Marinha e comunidade de informações. Sete ex-secretários da Defesa, até Dick Cheney, repudiaram a idéia.


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Gaza: recuperação lenta

Proibição de entrada de verbas atrasa projetos financiados pela ONU. Taxa de desemprego aumentou 10% desde o fim do conflito.

Gaza mais empobrecida


Daniela Kresch, de Tel Aviv para a Rádio ONU em Nova York.*


A recuperação econômica da Faixa de Gaza segue a passos lentos depois do conflito entre o grupo islâmico Hamas e o exército israelense, que terminou em janeiro.
"Segundo o Escritório das Nações Unidas para Assistência Humanitária, OCHA, a lentidão se deve à falta de material de construção e peças de reposição em Gaza por causa do bloqueio econômico da região imposto por Israel.

Escassez
A proibição de entrada de verbas em Gaza atrasa os trabalhos em cerca de 200 projetos financiados pela ONU.
O escritório das Nações Unidas informou que a escassez de material impossibilita o reparo das escolas de Gaza atingidas por mísseis durante o conflito, que, segundo os israelenses, teve como objetivo acabar com os lançamentos de foguetes do Hamas contra Israel.
A situação pode aumentar o número de casos de diarréia entre as crianças com menos de três anos de idade que vivem na região.
Prejuízo
Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, 14% das amostras de água testadas há um mês mostraram sinais de contaminação numa região cada vez mais empobrecida.
Dados recentes dão conta de que o desemprego em Gaza aumentou de 56% para 66% desde o fim do conflito entre o Hamas e Israel".
O conflito na Faixa de Gaza matou pelo menos 1,5 mil pessoas e deixou mais de 5,5 mil feridos.
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*Apresentação: Michelle Alves de Lima , da Rádio ONU em Nova York.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

LAR SÍRIO











Ministro conhece iniciativas do Lar Sírio

O ministro dos Emigrantes da Síria, Joseph Sweed, visitou no dia 8 de maio o Lar Sírio, em São Paulo. Ele ficou bem impressionado com o trabalho de assistência a crianças com problemas sociais.

Ministro Sweed parabenizou trabalho social do Lar SírioSão Paulo – O ministro dos Emigrantes da Síria, Joseph Sweed, conheceu nesta sexta-feira (8) o trabalho que a colônia árabe do Brasil desenvolve para dar melhores condições de vida a crianças vítimas de problemas sociais no país. Ele visitou o Lar Sírio Pró-Infância, entidade sem fins lucrativos que atende mais de três mil crianças ao ano, com sede em São Paulo e ficou bem impressionado com o trabalho. “Reflete o espírito nobre que está no coração dos sírios”, disse Sweed à ANBA a respeito da iniciativa da colônia.O Lar Sírio Pró-Infância beneficiou, no ano passado, 3.197 pessoas, trabalhando em várias frentes. Uma das principais é o abrigo a crianças em situação de risco. São crianças e adolescentes que têm na família casos de alcoolismo, consumo de drogas e violência – ou pais presidiários e moradores de rua – e que moram no Lar. Estes somam 60 pessoas divididas em quatro casas. Ali, cada grupo de crianças vive com mães sociais. A idéia é que as casas reproduzam, de fato, um lar. Irmãos sempre moram juntos.

Crianças apresentaram dançaTambém são atendidas crianças em vulnerabilidade, ou perigo de risco social. O trabalho, neste caso, é de prevenção. Essas ficam no Lar Sírio durante o dia, onde são encaminhadas para a escola e têm uma série de atividades, e voltam para casa no final da tarde. O trabalho é feito com um grupo até 11 anos e de 11 a 18 anos. Também há a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Lar Sírio, no qual o Lar Sírio trabalha em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, e a oferta de cursos profissionalizantes para os jovens.O ministro Sweed teve a oportunidade de conhecer toda a estrutura, de conversar com os dirigentes da entidade e as crianças. Ele também assistiu uma apresentação de danças, feita por adolescentes do Lar, que vestiam camisetas com as bandeiras do Brasil e da Síria. O líder sírio parabenizou o trabalho. Ele foi recebido pelo presidente da entidade, Jamil Zaki Namour, pelo presidente do Conselho Consultivo, Salim Taufic Schahin, também presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, pela superintendente, Cleide Robertson Paiva, e o diretor João Farah.De acordo com Schahin, a visita de autoridades árabes a este tipo de iniciativa permite que eles vejam o que os imigrantes e seus descendentes fazem pelo Brasil. “A comunidade síria fez muitas obras em São Paulo. Essa toca mais nosso coração porque atende crianças com problemas sociais”, disse Schahin. Ele pediu ao ministro que convide o presidente do seu país, Bashar al-Assad, e sua esposa, para visitarem o Brasil e conhecer a entidade. O pai de Schahin, Taufic Schahin, foi um dos primeiros colaboradores da entidade.
Ministro e acompanhantes degustaram frutasO ministro esteve no Lar Sírio, acompanhado do arcebispo metropolitano ortodoxo, Dom Damaskinos Mansour, e do cônsul-geral da Síria em São Paulo, Ghazi Deeb. Eles foram recebidos com um coquetel de frutas brasileiras para conhecer a diversidade da produção nacional. Na visita, Dom Damaskinos aproveitou para brincar com as crianças, fazendo-as repetirem qual é a capital do mundo: “Homs”, segundo ele. Homs é a cidade síria originária de muitos descendentes sírios que moram no Brasil, entre eles os fundadores do Lar.O Lar Sírio foi fundado há 85 anos e vive de doações. Uma parte dos recursos é própria, do aluguel de prédios. Ele nasceu como um orfanato e foi acompanhando as transformações vividas pelo país, na área da infância, desde 1923. Como a superintendente do Lar faz questão de ressaltar, a entidade trabalha para atender a criança como um todo, e não apenas nas suas necessidades físicas (ou alimentares). “Temos um projeto psicossocial que enxerga a criança como um todo”, diz Cleide, sobre o trabalho, que tem por norte atender as necessidades físicas, emocionais, intelectuais, sociais e espirituais da criança.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

MEMBRO DA ALQAEDA EM S. PAULO?

(VEJA NO FINAL A CONCLUSÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL A RESPEITO)
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MAIS UM FORA DA FOLHA DE S. PAULO!

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Veja abaixo o que escrevi no dia da publicação da matéria.

Deu na Folha de S. Paulo de ontem, dia 26 de maio, na coluna do Jânio de Freitas, que a Polícia Federal brasileira deteve em São Paulo um alto membro da AlQaeda, aquela organização terrorista que segundo os estadunidenses teria sido responsável pelos ataques às torres gêmeas em Nova Iorque.

Hummmmmmm! Vamos a algumas questões...


1) Como somente o jornalista Jânio de Freitas teve acesso a tal informação?


2) Aliás, essa informação é precisa, séria?


Realmente é estranho. Não vou especular a respeito, mas essa informação para lá de "privilegiada" é alarmante por alguns aspectos. Se não era para vazar a informação de que um terrorista foi detido no Brasil, como esse jornalista teve acesso a tal informação? Não creio que um sujeito que comanda a AlQaeda tenha sido detido no Brasil. Realmente não vejo elementos de credibilidade nessa informação.

3) E quem teria dito que esse sujeito que ocuparia um cargo de alto escalão na AlQaeda é realmente membro dessa organização?


Essa organização considerada terrorista amedronta os interesses estadunidenses na África e na Ásia. Dizem que ela foi responsável pelo ataque conhecido como "11 de setembro". Será? Já ouvi de pessoas sérias, intelectuais, que a citada organização jamais confessou sua participação. Também já li que há fatos mal explicados, como o suposto ataque com avião, que lembra mais um míssil disparado, contra a fortaleza do Pentágono. E se esse preso fosse membro da Alqaeda, o que estaria fazendo em S. Paulo? Utilizando o sistema de comunicação do país para mandar mensagens mundo afora? Ora, o Brasil não é o país democrático que mais interceptações de comunicações faz, segundo dizem? O que o traria para cá, então?

4) E por qual motivo São Paulo?
São Paulo não está na rota da AlQaeda. Não há interesses que os tragam aqui, ao menos aparentemente. São Paulo não é uma cidade de grande influência islâmica sunita, não é uma cidade de lavagem de dinheiro, não é uma cidade que faça fronteira com outros países onde realmente poderia haver células terroristas. Há países e cidades com uma influência estadunidense muito mais visível, como Lima, no Peru. São Paulo é uma cidade cosmopolita, onde se encontram raízes de vários países, inclusive os Estados Unidos, mas não de forma principal. A legislação contra atos terroristas, lavagem de dinheiro existe e é rígida e também há um grande sistema de interceptação de comunicações. O que há, ao que parece, é mera especulação, para avivar interesses da direita estadunidense contra a certa liberalização feita pelo atual presidente Obama. E esse jornalista que já fez muita coisa boa, ao que parece, quis dar apressadamente um furo de reportagem.

Enfim, se realmente foi preso um membro da Alqaeda, é possível até que tenha sido detido no aeroporto, em trânsito. Dificilmente se estabeleceria em S. Paulo.
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Lembro que não fiz pesquisa nem consultei fontes para elaborar esse texto. O fiz com base nas informações que adquirimos com leitura e a vontade de aprender a respeito do que acontece no mundo afora.
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ATUALIZANDO***

O Ministério Público Federal disse que a pessoa presa em S. Paulo era responsável por um fórum em que eram postadas mensagens antiamericanas e que nada há que comprove a sua ligação com a rede Alqaeda... E desde quando manifestar-se sobre algo por palavras faladas ou escritas, ainda que extrapoladas, significa ser terrorista? Mais uma vez o exagero estadunidense e da grande mídia criam estigmas difíceis de serem rompidos. A imprensa deve investigar antes de publicar. É obrigação da mídia séria!
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terça-feira, 26 de maio de 2009

CINEMA IMAGENS DO ORIENTE 2009

Instituto da Cultura Árabe apresenta

III Mostra de Cinema Imagens do Oriente

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Este projeto surgiu há poucos anos, fruto do encontro de jovens cineastas iranianos com estudiosos brasileiros, árabes e descendentes. Desde o princípio ficou claro que não gostaríamos de apenas mostrar como vemos certas sociedades mais a leste do oceano Atlântico, e sim de possibilitar que elas mesmas se representem, trazendo sua produção artística diretamente ao Brasil sem passar pelo filtro dos aclamados festivais europeus e norte-americanos.

Na presente versão, Imagens do Oriente exibe uma série de filmes árabes, iranianos, turco e curdo, ou relacionados a populações muçulmanas como os bósnios da ex-Iugoslávia. Ou, ainda, o numeroso povo Uighur da China, convertido ao islamismo após as incursões árabes em séculos longínquos, que mantém até hoje a religião islâmica e o emprego do alfabeto árabe, além de práticas como a de “andar na corda bamba”, atribuída a esse antigo contato. Do conjunto sobressai uma rica diversidade, de origem étnica, de idioma ou de religião.

A guerra, ou a vida em meio a ela, aparece quase como uma constante na expressão cinematográfica dos países em questão. Vincado pela resistência às vezes heróica das pessoas envolvidas, o tema surge em documentários ou em ficções sobre perguntas íntimas que afloram não obstante as ofensivas militares, sendo por estas reprimidas ou aguçadas. Na medida em que as narrativas se revelam delicadas e complexas, cai por terra o senso comum do momento – de que os habitantes dessas regiões conflagradas naturalmente se inclinam à discórdia. Em última instância, dada a realidade do conflito bélico lá imposta por diferentes motivos, fica-se com a sensação de que as histórias convergem para a hipótese ventilada pelo grande poeta árabe Adonis: “Nada justifica a guerra”. É o que se constata no docu-ficção Caminho e caminham atrás de mim as estrelas, que fecha a seleção com encanto e graça. O filme revolve de maneira algo incômoda a polêmica sobre a busca da identidade, que pode estar no passado, numa trajetória de família não por acaso imigrante, ou no futuro, na projeção de nossos anseios.
Paralelamente às sessões de Imagens do Oriente, preveem-se encontros com cineastas estrangeiros convidados, numa iniciativa que busca ampliar o diálogo dos profissionais da área, expondo ao público o que há de mais recente na filmografia de um grupo de nações heterogêneo e multifacetado. Evidencia-se a pluralidade do assunto já no saguão do CineSESC com a exposição fotográfica Outono em Cabul, sobre o Afeganistão, que captura o olhar e oferece a oportunidade de conhecermos mais de perto alguns lugares dos quais atualmente muito se fala mas pouco se informa.

Agradecemos antes de tudo ao espectador, que se arrisca sempre ao eNtrar na sala escura disposto e aberto a uma nova experiência estética e sensorial. Estendemos o agradecimento a todos os amigos, por dispensarem seu tempo na realização desta Mostra; ao Centro de Cinema Documentário e Experimental do Irã; às fundações particulares apoiadoras. E nosso muito obrigado vai também para as instituições que nos acolhem: o Instituto da Cultura Árabe, que soube encampar Imagens do Oriente desde o início; a Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, o Centro Cultural São Paulo e a Galeria Olido; e o SESC–SP, que teve papel fundamental no processo de elaboração deste evento.

Os organizadores

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cheney x Obama: a ofensiva do medo

Vou abrir um parênteses antes de transcrever o texto publicado na Agência Carta Maior, de autoria do jornalista Argemiro Ferreira.
Está mais que comprovado que o Iraque não tinha armas de destruição de massa quando os Estados Unidos optaram por invadir aquele país pela segunda vez. Também está provado por denúncias de agentes secretos que o governo Bush tinha informações de que o Iraque estava quebrado, não tinha armamentos poderosos e pouco menos armas de destruição em massa. Os agentes da inteligência também disseram que não havia qualquer prova do vínculo da Alqaeda com Saddam Hussein. Mesmo assim, Bush e seus seguidores determinaram a invasão do Iraque, o que culminou na morte de milhares de inocentes, dentre eles muitas crianças, jovens idosos e mulheres. Foi uma guerra injusta e sangrenta
Foi uma guerra não aprovada pela ONU. Foi uma guerra que trouxe danos irreparáveis. Foi uma guerra que atentou a valores humanitários. E mesmo assim os Estados Unidos não repararam os familiares dos iraquianos falecidos e tampouco aquele país.
Uma invasão cruel e bárbara como a ocorrida no Iraque há poucos anos não pode passar em branco. É necessário que haja mais que uma condenação moral, mas uma condenação emitida por tribunais internacionais determinando a indenização dos danos causados no Iraque, seja em relação aos seus sítios arqueológicos, aos museus, às contruções e instalações, ao povo iraquiano como um todo e aos que foram assassinados e sofreram sevícias sexuais e tortura.
Se o presidente Obama é muito diferente de Bush, não é por isso que os Estados Unidos podem ter carta branca para passar incólumes, quando praticaram barbaridades que nem aquelas que vimos. As imagens de crianças mortas e de destroços da capital Bagdá ainda ecoam em nossas mentes, ou não?
Que façamos uma moção de que os Estados Unidos sejam responsabilizados pelos danos materiais e morais causados ao Iraque, ao povo iraquiano, à cultura, à história, aos torturados, aos violentados sexualmente e aos assassinados.
Bem, feito o desabafo, vamos à matéria.
O BLOGUEIRO.
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Extraído da página da AGÊNCIA CARTA MAIOR
Os republicanos parecem temer que só um ataque terrorista devastador nos EUA (ou instalações americanas de outro país) será capaz de reabilitar seu partido, quase reduzido à condição de zumbi - comparável aos bancos-zumbis, outra herança das políticas desastrosas de Bush. Na ausência do ex-presidente Bush, recolhido ao silêncio, o ex-vice Cheney assumiu a ofensiva contra o governo Obama. A análise é de Argemiro Ferreira.

Discursos no mesmo dia do presidente Obama e do ex-vice Dick Cheney deixaram bem claro, de novo, que o Partido Republicano, despedaçado pela vitória democrata de 2008, aposta agora despudoradamente no medo. Os republicanos parecem temer que só um ataque terrorista devastador nos EUA (ou instalações americanas de outro país) será capaz de reabilitar seu partido, quase reduzido à condição de zumbi - comparável aos bancos-zumbis, outra herança das políticas desastrosas de Bush.Na ausência do ex-presidente Bush, recolhido ao silêncio, o ex-vice Cheney assumiu a ofensiva com sucessivos pronunciamentos e num esforço para socorrer tanto o mais destemperado dos que se julgam "cabeça titular" informal do partido à deriva - caso de Rush Limbaugh, rei dos talk shows de rádio - como os que têm responsabilidade institucional, como Michael Steele, presidente do Comitê Nacional Republicano (RNC) e os líderes do partido na Câmara e no Senado.O fato de ter o presidente mantido o secretário da Defesa de Bush, Robert Gates, é na certa a razão de estar a oposição discreta ante o novo espasmo de violência no Iraque, que em dois dias matou 66 pessoas, entre elas três soldados americanos e mais de 20 iraqueanos. Ataques repetem-se desde abril, agravando a tensão sectária a semanas da saída das tropas americanas de Bagdá e outras cidades, onde a responsabilidade passará às próprias forças de segurança do IraqueFalso renascimento e receita duvidosaNa terça-feira Michael Steele tinha feito um discurso otimista, de cheerleader - o que talvez esteja sendo seu papel atual. Proclamou que os republicanos estão de volta, com toda a força, pois as coisas mudaram, a lua de mel de Obama acabou e está começando novo capítulo para os republicanos - o do “renascimento”. Mas a cada pesquisa o resulta mostra exatamente o contrário: o apoio ao partido continua a declinar.Sexta-feira uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que de 2002, quando a popularidade de Bush (favorecida pela histeria patrioteira pos-11/9), empurrou os republicanos para virtual empate (43% a 43%) com os democratas na preferência partidária, a 2009 (com o início apoteótico do governo Obama) o quadro se transformou. Agora as pessoas que se identificam como democratas são 53% do eleitorado e como republicanos, 36%. Diferença de 17 pontos percentuais, a maior em duas décadas.Cheney acha que pode mudar o desequilíbrio se insistir em apregoar que só os republicanos garantem segurança. "Em sete anos e meio o país foi protegido. Não houve ataque terrorista", pontifica a cada nova entrevista ou discurso, inclusive o de ontem no AEI (American Enterprise Institute). Ali defendeu, no mesmo contexto, até o uso da tortura (sob o eufemismo enhanced interrogation) para arrancar informações de presos. O discurso de Cheney traz ainda, implícita, a insinuação de que o atual governo é fraco, por rejeitar a tortura - e deixa o país vulnerável ao terrorismo."Sr. Cheney, seu governo não deu segurança"O democrata Paul Begala, ex-assessor na Casa Branca de Clinton e atuante há anos nas arenas dos talk shows da TV, deu num artigo, a 13 de maio, a resposta demolidora que o Partido Democrata nunca ousou. "Sr. Cheney, o senhor não manteve o país seguro", disse ele. "Se 3.000 americanos foram mortos no seu governo, em ataque que devia ter sido evitado, talvez o senhor devesse hesitar em fazer acusação a qualquer pessoa de estar colocando a América em risco".Também foi explícito sobre tortura: “Se o senhor defendeu a tortura e se a tortura produziu informações erradas, usadas ainda para enganar a população e lançar a América numa guerra equivocada (no Iraque), injusta e não justificada, o senhor devia ter alguma vergonha, ao invés de defender o uso da tortura". Ao se dirigir sexta-feira ao país, Obama ficou longe disso Mas fez seu discurso mais eloquente contra os desatinos de oito anos da dupla Bush-Cheney.Sob pressão dos republicanos e até de democratas, por ordenar o fechamento da prisão de Guantánamo, fez defesa vigorosa dessa decisão do governo. "Não vamos libertar ninguém que coloque em perigo nossa segurança nacional", disse. "Se tomamos a decisão foi tendo em mente o seguinte fato. Ninguém jamais fugiu de nossas prisões federais de segurança máxima, onde estão atuamente centenas de terroristas condenados"A lambança e os valores fundamentaisEnquanto expunha os planos para os 240 detidos ainda em Guantánamo, o presidente acusou o governo anterior de ter embarcado em "experimento mal orientado" que acabou resultando numa "lambança". Agora, garantiu, haverá um padrão de legitimidade jurídica para justificar a detenção de suspeitos perigosos de terrorismo, que antes não seriam julgados e nem libertados - proposta que causava inquietação entre defensores dos direitos humanos.Obama falou num cenário diferente da capital - nos Arquivos Nacionais, onde são mantidas documentos fundamentais - a Declaração da Independência, a Constituição e a Carta de Direitos. Era evidente o simbolismo, conforme assinalou o New York Times. Como comandante em chefe, o presidente tem de preservar os valores americanos legados pelos pais fundadores (o repúdio à tortura entre eles) e ao mesmo tempo proteger a segurança nacional.Ao insinuar que os democratas fraquejam, Cheney diz que o combate ao terror tem de ser implacável, sem contemplação ou meias medidas. Para ele, está certo abrir mão de certos valores sob o pretexto da segurança. Mas Obama tem outro enfoque para o quadro: "Acredito com cada fibra de meu ser que a longo prazo não podemos manter este país seguro a menos que usemos também a força de nossos valores mais fundamentais”.

domingo, 24 de maio de 2009

A América pelo fim da escola de assassinos

Formadora de torturadores das ditaduras que se espalharam há décadas pelo continente, Escola das Américas mudou de nome, mas continua existindo

por Cristiano Navarro

No dia 25 de fevereiro de 1982, o povo chileno recebeu a notícia de um dos mais brutais crimes cometidos pelo Estado. Tucapel Jiménez, dirigente sindical e militante do Partido Radical, foi barbaramente assassinado, com cinco tiros na cabeça e três cortes na garganta, por membros da Central Nacional de Informação (serviço policial de inteligência durante a ditadura do General Augusto Pinochet). O impacto do crime expôs a crueldade do regime e forçou o debate sobre a redemocratização do país.


Em outubro de 2000 – dez anos depois do fim da ditadura –, Carlos Herrera Jiménez, então major do exército, confessou, em júri, ser o comandante da operação que levou ao assassinato do sindicalista. As técnicas aplicadas por ele lhes haviam sido ensinadas no Panamá durante sua formação na Escola das Américas.


O treinamento do militar e o contexto em que ocorreu a trágica morte do militante não era exclusividade do Chile. A ditadura no país fez parte de uma aliança político-militar entre regimes militares de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai que recebeu o nome de Operação Condor e que, segundo historiadores, vitimou cerca de 50 mil pessoas.


Com outro nome. Em outro país. Sob outra conjuntura histórica, mas não tão distante no tempo para que as feridas históricas já estivessem cicatrizadas, a escola que ensinou Herrera e outros torturadores, assassinos e ditadores de toda América Latina segue recebendo e formando militares de diversos países.


Os atuais pupilos de Pinochet


Com o nome de Instituto de Segurança e Cooperação do Hemisfério Ocidental (Whinsec, na sigla em inglês), a escola se encontra hoje em Fort Benning, na Geórgia, Estados Unidos, e recebe do Chile o maior número de militares, 208 no ano passado.


Atualmente, Tucapel Jiminez Hijo, filho do sindicalista assassinado, é deputado membro da comissão de direitos humanos da câmara no Chile. Em sua função, o deputado tem pressionado o governo de Michelle Bachelet para que deixe de enviar militares para a Escola das Américas. “Nunca houve, nem há porque encaminhar nossos militares para esta escola que historicamente trouxe tanta tristeza a todo continente”, contesta Tucapel.


Se a participação de militares chilenos não é compreendida pelo deputado, o próprio governo do país parece não ter justificava. Há pelo menos cinco anos, a advogada de organizações de direitos humanos, Alejandra Arriaza, questiona, por meio de cartas, o Estado chileno e o governo estadunidense, através do Pentágono, sobre quais as formações recebidas pelos alunos da atual Escola das Américas.


Depois da insistência da advogada, no ano passado, o governo do Chile respondeu que seus militares iam aos Estados Unidos para formarem-se em “cursos especiais para sargentos e suboficiais”. Já o Pentágono respondeu que eles recebiam formação em cursos na área de direitos humanos e saúde, e que os mais procurados eram as aulas de liderança.


Viagem cancelada


Com o impasse de informações entre o governo chileno e o Pentágono, uma comitiva formada por seis congressistas (três governistas e três da oposição), quatro representantes da sociedade civil e representantes do governo agendou viagem para abril deste ano à Escola das Américas.


No entanto, uma semana antes, o governo chileno cancelou a viagem sem dar justificativa. “Não houve sequer comunicado para os representantes da sociedade civil, nem para os deputados que eram parte da delegação”, reclama a advogada.


“Não entendemos a posição do governo de Bachelet, que também sofreu com a Escola das Américas. Esse tema, como o da reparação das famílias e o da busca por desaparecidos, é muito importante para nossa democracia”, cobra Tucapel, que participaria da delegação.
A Escola dos Horrores
Fundada em 1946, em Fuente Amador, Panamá, com o nome de Centro de Adestramento Latinoamericano do Exército dos Estados Unidos, a base de formação de militares foi criada pelo governo estadunidense para influir na política militar dos demais países do continente. A partir de 1963, o centro passou a ser chamado de Escola das Américas.


Em 1984, depois de uma acordo entre Estados Unidos e Panamá, a instituição se mudou para Fort Benning, na Geórgia, no país da América do Norte. Depois de mobilizações pelo seu fechamento, em 2001 a Escola das Américas mudou de nome, passando a se chamar Instituto de Segurança e Cooperação do Hemisfério Ocidental (Whinsec). Apesar de o Brasil não enviar mais militares para o local, as Forças Armadas brasileiras seguem recebendo cursos ministrados por seus oficiais.

sábado, 23 de maio de 2009

“A depressão cresce a nível epidêmico”

Entrevista Maria Rita Kehl





Em entrevista exclusiva para Caros Amigos, a psicanalista fala de seu novo livro, analisa as conseqüências do ritmo frenético da vida contemporânea e aponta a depressão como sintoma social de uma sociedade que cria o “sujeito esvaziado” Maria Rita Kehl conta a sua experiência como Jornalista, nos anos 70 e 80 e, mais recentemente, como psicanalista de homens e mulheres que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,na Escola Nacional Florestan Fernandes.Participaram da entrevista: Ana Maria Straube, Camila Martins, Felipe Larsen, Fernando Lavieri, Hamilton Octavio de Souza, Luana Schabib, Renato Pompeu, Tatiana Merlino.
Tatiana Merlino: Qual sua origem, e como você entrou para a psicanálise.Maria Rita: Nasci na cidade de Campinas aqui do lado, apesar de me considerar paulistana. Todos os filhos são de Campinas, mas fomos criados aqui, passei a vida inteira no bairro de Pinheiros. Estudei em uns colégios de freiras. Minha mãe era religiosa, e depois fiz psicologia na USP em 71 a 75, no período mais fechado da Universidade, com muita gente cassada. Então, muito insatisfeita com o curso, lá pelo terceiro ano eu queria trabalhar, sair de casa. E bati na porta do Jornal do Bairro, cujo diretor era o Raduan Nassar, que ainda não era o grande escritor, e falei: “Eu quero escrever”. Eu queria trabalhar em alguma coisa que não fosse psicologia, que me parecia na época uma coisa muito xarope. E aí o editor, José Carlos Abbate, e o Raduan foram muito generosos, do tipo: “Bom, você sabe escrever, mas não sabe o que é jornalismo, escreve trabalho de escola”. E eles falavam: “Vai assistir tal filme”. Aí me ensinaram o que é um abre de uma matéria, enfim, que não pode ter cara de trabalho escolar. E eu virei jornalista free lance, em seguida veio a lei que exigia registro. Foi muito formadora para mim a época dos jornais alternativos, dos tablóides, foi o único lugar em que eu pude ser contratada numa redação, porque eles já estavam totalmente irregulares mesmo, então eles contratavam gente que era de movimentos. Foram três anos, de 75 a 78 no máximo, mas foi muito marcante, muito formador, porque foi o período que eu pude alargar esse horizonte de uma faculdade de psicologia, numa formação um pouco medíocre numa época em que estava todo mundo com medo, mesmo porque eu nunca entrei para a luta armada nem nada. Mas as coisas que me acontecem hoje eu devo muito a esse período.
Hamilton Otávio de Souza: O Jornal do Bairro?Não. Ele foi uma iniciação para eu aprender a escrever, não era jornal de esquerda. Mas era muito legal, porque era um jornal muito engraçado. Ele era a capa, com artigos de política, e a contracapa, com artigos de cultura, e o resto eram anúncios. E todos os artigos eram escritos em 40 linhas. Em 40 linhas você aprende a pegar o fundamental, você não precisa entender do assunto, você junta umas idéias, faz um texto razoável, agradável, põe uma abertura chamativa, um final retumbante e ponto. Quarenta linhas é o meu forte, digamos assim.
Hamilton Otávio de Souza: Você colaborou com aqueles jornais feministas da época?No Mulherio. Recebi a notícia que esse jornal ia começar e eu era levemente atraída pela esquerda. Eu não tinha formação política: no começo, nas reuniões de pauta tinha que disfarçar a minha ignorância. Como eu era disponível, eles precisavam de gente que pudesse ganhar pouco e de gente que eles pudessem fazer a cabeçaim. Porque eles não podiam contar, aí na época era o Movimento era do PCdoB mesmo, eu nem sabia o que era PCdoB. Eu sabia que era um jornal de oposição à ditadura e isso me interessou. Em um ano eu era editora de cultura, mas você tem que ir na raça. Não tem quem faça, você faz. Então, foi muito legal.
Camila Martins: E lá você foi também desenvolvendo essa formação?Maria Rita: É, e nunca não mais parou, porque isso é uma coisa que não pára, não vou dizer que seja uma formação, é uma trajetória. Talvez eu tenha descoberto uma coisa que tinha mais a ver comigo e eu estava fora disso. Engraçado que depois de mim, os meus irmãos, a minha família é razoavelmente de esquerda.. Meu pai não era, mas ele morreu dizendo: “Na próxima eleição, eu vou votar no Lula”. Ele morreu em 2000. Uma família um pouco inconvencional, sempre foi um pouco gauche. Então o esquerdismo caiu bem, para todo mundo quando a gente começou a se abrir, para todo mundo fez sentido. Então, eu fiquei uns sete anos só como jornalista. Teve um momento que eu fiquei um pouco insatisfeita. Fui virando free lancer para poder sobreviver. Folha, Veja, Isto É. Mas eu cobria várias coisas da área de cultura. E senti que eu não sabia nada com muita consistência. Aí fui fazer um mestrado uns quatro anos depois de formada e sobre televisão, pois, por causa da minha prática em jornalismo cultural, falei:”Ninguém está percebendo o que a televisão está fazendo no Brasil”. Na época, a única pessoa que escrevia sobre televisão era a Helena Silveira, que comentava as novelas, falava dos figurinos. E só depois que fiz a tese é que eu fui perceber que podia ser psicanalista.Na verdade, é uma coisa ruim de contar hoje porque não é uma coisa que os psicanalistas respeitam. Mas foi no trambolhão, tinha meu filho pequeno; o pai do meu filho morava em uma comunidade, eu morava em outra. Eu já morava há um bom tempo. Era uma casa que caiu, uma casa genial, daquelas antigas na rua Matheus Grou, que você entra e tem um porão aqui, e sobe uma escada, tem um corredor, a cozinha é lá no fundo, o banheiro é depois da cozinha. Morei em várias comunidades, mas essa foi a mais marcante, tinham uns refugiados que vinham morar com a gente, era uma delícia, meu filho nasceu aí. Eu saia e deixava o pessoal tomando conta, era muito legal. Então, eu tive uma bolsa da Fapesp, que era muito bom porque eu podia fazer a minha tese e ficar bastante com o Luan, meu filho. E no mesmo ano a comunidade terminou, cada um foi morar numa casinha. A a bolsa terminou, e eu tinha que fazer alguma coisa, com filho para sustentar. Tive um trabalho rapidinho na Rádio Mulher, me chamaram para fazer um programa que eram entrevistas ao vivo, e as mulheres ligavam e a gente dava respostas, era muito divertido. O programa acabou também. E eu abri consultório no dia seguinte, uma menina da rádio me pediu terapia, e no dia seguinte, sem nada, sem nenhum preparo, eu estava fazendo o consultório. Foi em 1981, desde lá eu sou psicanalista, nunca mais larguei. Aí foi fazendo cada vez mais sentido, até hoje cada vez eu mais me espanto com isso.
Ana Maria Straube: E sua tese de televisão já tinha alguma coisa a ver com psicanálise?Nada, nada. Claro que se você faz psicologia, lê algumas coisas, você tem um pouco de abertura para entender com objetividade. A minha tese era “O papel da Rede Globo e das novelas da Globo em domesticar o Brasil durante a ditadura militar”. Pegava desde a primeira novela, foi de 73, as novelas das 8, desde Irmãos Coragem até na época, que era Dancing Days, mostrando como se criou um retrato, uma imagem do Brasil para si mesmo. A brincadeira na época era assim: a única coisa que os militares conseguiram modernizar durante 20 anos de ditadura foi a imagem televisiva que o Brasil apresentava para o próprio Brasil, que é o que o Brasil acreditou. E a minha tese era mais ou menos isso.
Camila Martins: Você viveu essa questão da mulher nos anos 70, da luta feminina?Olha, eu fui muito pouco feminista. Eu falo isso até com um pouco de sentimento de culpa de não ter prestado atenção em uma coisa importante. Por exemplo, a minha contemporânea na USP, era Raquel Moreno que é uma feminista importante, militante desde o começo. Eu achava aquilo uma chatice, eu não queria ir naquelas coisas, eu achava que eu não era oprimida, que eu me virava muito bem, que eu não tinha esse problema. Talvez porque eu estivesse achando a minha vida com os homens muito divertida. Depois que eu tive filho é que, embora fosse tudo muito libertário, quem carregou o piano sozinha fui eu. Aí eu falei: “Opa! Negócio de feminismo, pelo menos para a mulher que tem filho faz sentido. Não dá para dizer que eu estou livre disso não”. E eu, não sei, não me acho uma feminista de bandeira, porque pelo menos na minha geração tinha uma bandeira feminista que até hoje eu não embarco, que é “mulher e homem é igual”. Eu acho que isso criou um ambiente meio belicoso, não que eu não brigue com os homens, mas brigar assim por mesquinharia: eu lavei dez pratos você tem que lavar dez, não posso lavar onze e você lavar nove. Eu morava em comunidade. Cada um tinha um dia para fazer supermercado, para lavar, e claro que a gente brigava porque sempre tinha um cara que folgava. No jornalismo, por exemplo, olha como as coisas são contraditórias, na época, por eu ser mulher eu acho que eu tive uma chance que se eu fosse um rapaz eu não teria, de entrar numa redação, onde só tinha homem. Hoje em dia ninguém te olha se você é mulher ou não é porque está tudo igual hoje. Só tinha homem, eu entrei e falei “não sou jornalista mas eu quero escrever”, e veio um cara legal me ensinar, entendeu? Como que isso iria acontecer se eu fosse rapaz? Viviam fazendo umas gracinhas, evidente, mas eu acho que tinha um paternalismo. Você é jovem, você é mulher, sabe. Legal ter uma mulher na redação. Eu acho que tive um pouquinho de facilidades por esse lado, e tive, evidentemente, de vez em quando uns problemas com machistas. Eu era totalmente riponga, eu andava com um saco de batata. Mas era atrasar uma reunião de pauta e o cara dizer: “É, porque você fica se empetecando na frente do espelho”.
Camila Martins: A gente pode ver a questão da mulher presente em alguns artigos que você escreve.Sim, mas a minha briga feminista teórica é dentro da psicanálise, porque eu acho que a psicanálise freudiana e lacaniana tem uma incompreensão da questão da diferença entre homens e mulheres. Resumindo, Freud desenvolveu a teoria dele sobre o complexo de Édipo baseado evidentemente nos restos de fantasias infantis de seus pacientes, e na fantasia infantil do menino principalmente, mas também da menina, o fato de haver uma diferenciação de um órgão sexual maior que o outro, então a mulher é inferior. Isso passa para a teoria quase sem mediação simbólica. Você encontra em muitos momentos, não é unânime, esse malentendido de que a chamada castração está do lado da mulher, porque o homem tem o pênis. Então, a minha tese de doutorado, já nos anos 90, tem essa discussão sobre o modo como os psicanalistas escutam suas pacientes mulheres, e como a psicanálise, se continuar escutando desse jeito, não oferece outra saída para as mulheres senão a histeria. Que a mulher que se sente inferior e que inveja o homem, e como se a mulher tivesse condenada a isso, de acordo com uma certa escuta psicanalítica. Então a minha tese é feminista nesse sentido.
Para ler a entrevista completa e outras reportagens confira a edição de maio da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou assine a versão digital da Caros Amigos.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

BOLÍVIA ABRE ARQUIVOS DA DITADURA

O presidente boliviano, Evo Morales, determinou a abertura dos arquivos das ditaduras militares que governaram o país, seguindo o exemplo da Argentina e do Chile.
O Brasil, que posa de maior democracia da América Latina, rodopia nos quesitos transparência, respeito à história, valorização da cidadania e de respeito aos direitos humanos.
Veja a matéria na íntegra, em espanhol, no jornal argentino Página 12, clicando aqui.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

OS VENENOS DA MONSANTO

O livro-denúncia da jornalista francesa Marie-Monique Robin revela os escândalos da poderosa multinacional norte-americana, a maior produtora de sementes transgênicas do mundo.
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por Guilherme Saldanha
para a Revista CAROS AMIGOS
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Resultado de quatro anos de pesquisa, “O Mundo segundo a Monsanto”, livro da jornalista francesa Marie-Monique Robin, traduzido agora para o português pela Editora Radical Livros, passa a limpo a história da empresa norte-americana, revelando seu envolvimento em diversos escândalos ocorridos no último século.
Lançada inicialmente como um documentário produzido e transmitido pelo canal de TV franco-alemão ARTE, a versão impressa de “O mundo segundo a Monsanto” já foi traduzida para doze línguas, tornando-se best-seller em diversos países.
Além de investigar a atuação criminosa da companhia de Saint Louis, EUA. em seu país de origem, Robin revela também os detalhes pouco conhecidos da “transgenização” dos campos de soja nos países do Mercosul e faz um alerta: “Em poucos anos nós viveremos uma epidemia de câncer causada pelo uso abusivo de agrotóxicos”.Confira trechos da entrevista.
Como você se interessou pela investigação da Monsanto? Eu trabalho como jornalista há 25 anos, para a televisão e escrevendo livros. Como filha de fazendeiros eu já dirigi outros filmes sobre agricultura no mundo e devo dizer que até seis anos atrás eu pouco sabia sobre organismos geneticamente modificados (OGMs). Eu era mais uma vítima da desinformação em relação a essa questão, eu achava que essa era uma questão simples, um gene a mais, um gene a menos... Mas eu estava muito preocupada com o tema da biodiversidade. Eu já tinha feito três filmes para o canal franco-alemão ARTE sobre biodiversidade e sobre a extinção de plantas e animais. Trabalhando nesses documentários e viajando para várias partes do mundo, incluindo o Brasil, eu ouvia falar da Monsanto, porque, claro, ela é hoje a maior empresa de sementes do mundo e também a primeira produtora de OGMs e eu me lembro, como explico no livro, quando estava filmando na Índia, de conversar com agricultores ligados à Via Campesina quando um deles me disse: “Você deveria investigar a Monsanto. Nós queremos saber por que ela vem comprando todas as empresas que vendem semente na Índia, queremos saber qual é seu objetivo”. Então, por acaso, eu comecei a simplesmente procurar por links sobre a empresa no Google e acabei topando com muitas informações: suicídios na Índia, intoxicação por substâncias cancerígenas, agente laranja, manipulação de resultados científicos, muita coisa! Eu me lembro de passar dias e noites na tela do computador, está tudo lá, documentos confidenciais, documentos internos, estudos, etc. Tudo pela ação dos chamados whistleblowers, pessoas de dentro das empresas que fazem “vazar” esses documentos anonimamente, pessoas da FDA (agência norte-americana para os medicamentos e alimentos), ou da EPA (agencia norte-americana de proteção ambiental), que tentam alertar o público- e acabei acumulando dois gigabytes de dado sobre a empresa! Muita coisa! E o que eu tentei mostrar no meu livro e no filme é que toda essa informação está disponível. Nós não podemos dizer que nós não sabemos...
Qual é a história da Monsanto? A Monsanto começa como uma empresa de químicos, na verdade como uma líder nesse campo. No começo do século XX, eles costumavam fabricar vários produtos tóxicos como os PCBs, usados em vários aparelhos, como transformadores elétricos. Um dos grandes clientes da Monsanto nos EUA era a General Electric. Quando eu comecei a investigação eu não sabia o que eram PCBs e acabei descobrindo que hoje em dia é proibida a produção desses componentes na França e apesar disso ainda existem muitos aparelhos que o utilizavam esperando para serem destruídos. E é preciso cuidado para destruí-los por que eles liberam dioxina, uma substância tóxica que contamina o ar, a água. Hoje em dia, todas as pessoas possuem PCBs na corrente sangüínea graças aos produtos da Monsanto. Eu recebi no mês passado um estudo de Washington, um estudo feito com 300 recém nascidos, e todos eles tinham alta percentagem de PCBs, dioxina, pesticidas, ou metais pesados no corpo. Quer dizer, todos já estavam contaminados. Os PCBs são um bom exemplo de como a Monsanto se comportou e se comporta no mundo. Quer dizer, eles sabiam que os PCBs eram altamente tóxicos, arquivos confidenciais, provam isso. Eles sabiam pelo menos desde 1937 dos efeitos cancerígenos, dos efeitos maléficos sobre o sistema reprodutor. É, realmente, um veneno. Eles sabiam e esconderam os dados, não contaram a ninguém, nem aos funcionários que trabalhavam dentro das fábricas, nem ao governo. Na verdade é pior do que isso. Para você ter uma idéia, o Congresso norte-americano admite a existência de duas categorias de crimes de colarinho branco. Uma categoria para empresas que sabem que seus produtos são tóxicos e não dizem nada para os consumidores. Outra categoria para empresas que, sabendo da toxicidade de seus produtos fazem campanhas dizendo que esses produtos não representam perigo algum. E isso é um outro nível de irresponsabilidade. É o caso da Monsanto, porque eles simplesmente mentiram.
Além dos PCBs, a Monsanto também esteve envolvida na produção de agente laranja, não é isso? Sim. O agente laranja foi produzido pela Monsanto e por outras sete empresas. Durante anos foi utilizado na agricultura e como arma na guerra contra o Vietnã. Hoje é proibido, depois de três décadas sendo despejado em fazendas. Nesse caso, a Monsanto produziu um falso estudo provando que não havia relação entre a exposição à dioxina (subproduto do agente laranja) e o desenvolvimento do câncer. Ao contrário da Dow Chemicals, que quando soube que soldados americanos seriam expostos ao agente laranja disseram “espera um pouco”, a Monsanto foi em frente. É outro nível de irresponsabilidade.
E como, desse passado ligado à indústria química, a Monsanto começou a desenvolver os transgênicos? No documentário eu apresento uma filmagem extraída da TV americana bastante esclarecedora sobre como se deu essa transição. Nela você vê Bush pai, então vice-presidente dos EUA, visitando um dos laboratórios da empresa em Saint Louis e é uma cena realmente incrível. Se passa em 1987 e a Monsanto está começando a pesquisar OGMs – as primeiras sementes geneticamente modificadas seriam comercializadas somente sete anos depois.
Em 1993, não é? Sim, 1993, 1994. E desde o começo eles estão trabalhando em um OGM resistente aos herbicidas. Eles estão trabalhando nos transgênicos com o objetivo de aumentar as vendas de herbicidas, isso é muito claro. Porque eles já eram líderes na comercialização de herbicidas por trinta anos, mas estavam perdendo o monopólio. Portanto, o objetivo deles era arrumar uma maneira de preservar o seu mercado. E conseguiram porque hoje 70% dos campos de soja são semeados com as sementes modificadas resistentes ao Roundup (herbicida produzido pela Monsanto). Quer dizer, a Monsanto ainda é uma empresa do setor químico. Claro que eles vendem sementes, mas são sementes resistentes ao Roundup, isso que importa. Sementes para serem pulverizadas com seu herbicida. Um outro benefício advindo da produção dessas sementes são as patentes, pois a partir delas a Monsanto pode proibir os fazendeiros de replantarem as sementes resultantes da primeira semeadura e assim podem tomar conta do mercado de sementes, que é o primeiro elo na produção de alimentos.
E como a Monsanto controla o uso dessas sementes? Uma das coisas foi a criação da “polícia dos genes”. Nos Estados Unidos eles criaram um número gratuito para o qual os fazendeiros poderiam ligar e denunciar seus vizinhos por uso irregular ou clandestino das sementes. A partir dessas denúncias, agentes contratados pela Monsanto extraíam amostras dessas plantações “suspeitas”, às vezes de maneira ilegal, e a partir delas processavam esses agricultores. Em alguns casos, os fazendeiros tinham suas plantações contaminadas pela soja transgênica de seus vizinhos, porque, claro, a Monsanto não conseguiu desenvolver uma maneira de parar a polinização.
Ainda não...
Para continuar a ler essa matéria e outras confira a edição de abril da Caros Amigos ou assine a versão digital da revista

quarta-feira, 20 de maio de 2009

UMA VISITA POLÊMICA

A visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, foi extremamente criticada por organizações de direitos humanos, feministas e pró-Israel, não sem razão. Embora o Irã seja um país importante, comercial e estrategicaLista numeradame, o seu líder presidencial apresenta um discurso agressivo que não se adequa à política internacional brasileira.

No entanto, o também radical chanceler israelense, Avigdor Liberman, que apresenta uma retórica dura contra a minoria árabe israelense, rejeita qualquer concessão ao povo palestino, não reconhece os acordos firmados entre Israel e a Autoridade Palestina e tampouco aceita um Estado Palestino soberano e autônomo, promete visitar o país em julho.

Organizações pró-palestinas e árabes, além de organizações de direitos humanos, devem manifestar-se contrariamente à visita de tal extremista.

Seria sorte do Brasil que esse líder da extrema-direita israelense desistisse de por os pés em solo brasileiro, para evitar constrangimentos às nossas autoridades, em especial o presidente Lula e o Chanceler Celso Amorim.

A recepção do presidente de Israel, Shimon Peres, prometida para o segundo semestre, no entanto, seria diferente e não causaria grandes transtornos, ao contrário. Serviria para fortalecer a posição do Brasil de interlocutor de palestinos e israelenses.

Vamos aguardar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

NAZISTAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA


Leia na Revista BRASILEIROS uma surpreendente matéria sobre os nazistas na floresta amazônica. Sim, eles vieram para cá. Clique aqui para ir à página da revista.





segunda-feira, 18 de maio de 2009

Desculpem a moléstia






Segundo a revista Foreign Policy, a Somalia é o lugar mais perigoso do mundo. Mas quem são os piratas? Os mortos de fome que assaltam navios ou os especuladores de Wall Street, que há anos assaltam o mundo e agora recebem multimilionárias recompensas por suas atividades? Por que o mundo premia os que o saqueiam? Por que a justiça é cega de um único olho? Wal Mart, a empresa mais poderosa de todas, proíbe os sindicatos. McDonald’s, também. Por que estas empresa violam, com delinqüente impunidade, a lei internacional?




Eduardo Galeano
Quero compartilhar com vocês algumas perguntas, moscas que zumbem na minha cabeça:O zapatista do Iraque, o que jogou os sapatos contra Bush, foi condenado a três anos de prisão. Não merecia, na verdade, uma condecoração?Quem é o terrorista? O zapatista ou o zapateado? Não é culpado de terrorismo o serial killer que, mentindo, inventou a guerra do Iraque, assassinou a um montão de gente, legalizou a tortura e mandou aplicá-la?São culpados os habitantes de Atenco, no México, ou os indígenas mapuches do Chile, ou os kekchies da Guatemala, ou os camponeses sem terra do Brasil, todos acusados de terrorismo por defender seu direito à terra? Se sagrada é a terra, mesmo se a lei não o diga, não são sagrados também os que a defendem?Segundo a revista Foreign Policy, a Somalia é o lugar mais perigoso do mundo. Mas quem são os piratas? Os mortos de fome que assaltam navios ou os especuladores de Wall Street, que há anos assaltam o mundo e agora recebem multimilionárias recompensas por suas atividades?Porque o mundo premia os que o saqueiam?Por que a justiça é cega de um único olho? Wal Mart, a empresa mais poderosa de todas, proíbe os sindicatos. McDonald’s, também. Por que estas empresa violam, com delinqüente impunidade, a lei internacional? Será que é por que no mundo do nosso tempo o trabalho vale menos do que o lixo e valem menos ainda os direitos dos trabalhadores?Quem são os justos e quem são os injustos? Se a justiça internacional realmente existe, por que não julga nunca aos poderosos? Não são presos os autores dos mais ferozes massacres? Será que é porque são eles que têm as chaves das prisões?Por que são intocáveis as cinco potências que tem direito de veto nas Nações Unidas? Esse direito tem origem divina? Velam pela paz os que fazem o negócio da guerra? É justo que a paz mundial esteja a cargo das cinco potências que são as cinco principais produtoras de armas? Sem desprezar aos narcotraficantes, este também não é um caso de “crime organizado”?Mas não demandam castigo contra os senhores do mundo os clamores dos que exigem, em todos os lugares, a pena de morte. Só faltava isso. Os clamores clamam contra os assassinos que usam navalhas, não contra os que usam mísseis.E a gente se pergunta: já que esses justiceiros estão tão loucos de vontade de matar, por que não exigem a pena de morte contra a injustiça social? É justo um mundo em que a cada minuto destina três milhões de dólares aos gastos militares, enquanto a cada minuto morrem quinze crianças por fome ou doença curável? Contra quem se arma, até os dentes, a chamada comunidade internacional? Contra a pobreza ou contra os pobres?Porque os adeptos fervorosos da pena de morte não exigem a pena de morte contra os valores da sociedade de consumo, que cotidianamente atentam contra a segurança pública? Ou por acaso não convida ao crime o bombardeio de publicidade que aturde a milhões e milhões de jovens desempregados ou mal pagos, repetindo para eles dia e noite que ser é ter, ter um automóvel, ter sapatos de marca, ter, ter, e que não tem, não é?E por que não se implanta a pena de morte contra a pena de morte? O mundo está organizado a serviço da morte. Ou não fabrica a morte a industria militar, que devora a maior parte dos nossos recursos e boa parte das nossas energias? Os senhores do mundo só condenam a violência quando são outros os que a exercem. E este monopólio da violência se traduz em um fato inexplicável para os extraterrestres e também insuportável para os terrestres que ainda queremos, contra toda evidência, sobreviver: os humanos somos os únicos especializados no extermínio mútuo e desenvolvemos uma tecnologia da destruição que está aniquilando, de passagem, ao planeta e a todos os seus habitantes.Esta tecnologia se alimenta do medo. É o medo que fabrica os inimigos que justificam o desperdício militar e policial. E em vias de implantar a pena de morte, que tal se condenamos à morte o medo? Não seria saudável acabar com essa ditadura universal dos assustadores profissionais? Os semeadores de pânico nos condenam à solidão, nos proíbem a solidariedade: salve-se quem puder, destruam-se uns aos outros, o próximo é sempre um perigo que se aproxima, olho, cuidado, esse cara vai te roubar, aquele vai te violar, este carrinho de nenê esconde bomba muçulmana e se essa mulher te olha, essa vizinha de aspecto inocente, certamente vai te contagiar com a gripe Porcina.No mundo de cabeça para baixo, dão medo até os mais elementares atos de justiça e de bom senso. Quando o presidente Evo Morales começou a refundação da Bolívia, para que esse país de maioria indígena, deixasse de ter vergonha de olhar no espelho, provocou pânico. Este desafio era catastrófico do ponto de vista da ordem racista tradicional, que dizia que era a unida ordem possível. Evo era, trazia o caos e a violência e por sua culpa a unidade nacional ia explodir em pedaços. E quando o presidente equatoriano Rafael Correa anunciou que se negava a pagar as dívidas não legítimas, a noticia produziu terror no mundo financeiro e o Equador foi ameaçado com terríveis castigos, por estar dando um tão mau exemplo. Se as ditaduras militares e os políticos ladrões foram sempre mimado pelos bancos internacionais, não nos acostumamos já a aceitar como fatalidade do destino que o povo pague o garrote que o golpeia e a cobiça que o saqueia?Mas será que se divorciaram para sempre o bom senso e a justiça? Não nasceram para andar juntos, bem pegadinhos, o bom senso e a justiça?Não é de bom senso, e também de justiça, esse lema das feministas que dizem que se nós, os machos, ficássemos grávidos, o aborto seria livre? Por que não se legaliza o direito ao aborto? Será porque então deixaria de ser o privilegio das mulheres que podem paga-lo e dos médicos que podem cobrá-lo? O mesmo acontece com outro escandaloso caso de negação da justiça e do bom senso: por que não se legalizam as drogas? Por acaso não se trata, como no caso do aborto, uma questão de saúde publica? E o país que tem mais drogados, que autoridade moral tem, que autoridade moral tem para condenar aos que abastecem sua demanda? E por que os grandes meios de comunicação, tão consagrados à guerra contra o flagelo da droga, não dizem nunca que ela provêm do Afeganistão quase toda a heroína que se consome no mundo? Quem manda no Afeganistão? Não é esse um país ocupado militarmente pelo pais messiânico que se atribui a missão de salvar a todos nós?Por que não se legalizam as drogas pura e simplesmente? Não será porque elas dão o melhor pretexto para as invasões militares, além de brindar os mais suculentos lucros aos bancos que de noite trabalham como lavanderias?Agora o mundo está triste porque se vendem menos carros. Uma das conseqüências da crise mundial é a queda da próspera indústria automobilística. Se tivéssemos algum resto de bom senso e um pouquinho de sentido de justiça, não teríamos que celebrar essa boa noticia? Ou por acaso a diminuição de automóveis não é uma boa noticia, do ponto de vista da natureza, que estará um pouquinho menos envenenada e dos pedestres, que morrerão um pouco menos?Segundo Lewis Carroll, a Rainha explicou a Alice como funciona a justiça no país das maravilhas:- Ai você tem – disse a Rainha. Está preso cumprindo sua condenação; mas o processo só vai começar na segunda-feira. E, claro, o crime será cometido no final.Em El Salvador, o arcebispo Oscar Arnulfo Romero comprovou que a justiça, como a serpente, só morde aos descalços. Ele morreu baleado, por denunciar que no seu país os descalços nasciam condenados de atenção pelo delito de nascimento.O resultado das recentes eleições em El Salvador não é de alguma forma uma homenagem. Uma homenagem ao arcebispo Romero e aos milhares que como ele morreram lutando por uma justiça justa no reino da injustiça?Às vezes acabam mal as historias da História, mas ela, a História, não acaba. Quando diz adeus, está dizendo até logo.






Tradução: Emir Sader

domingo, 17 de maio de 2009

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA: MULHERES DO PLANETA


Exposição fotográfica “Mulheres do Planeta”, de Titouan Lamazou (de 11 de maio a 11 de julho)

Local: Oca – Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Portão 3 – São Paulo, SP (das 10h às 20h)
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O artista francês Titouan Lamazou apresenta a exposição ‘Mulheres do Planeta’, de 11 de maio a 11 de julho, na Oca, em São Paulo, integrando as comemorações do Ano da França no Brasil. Com mais de 200 perfis, a mostra faz um amplo painel da mulher contemporânea por meio da fotografia, pintura, vídeo, texto e desenho realizados durante sete anos de viagens pelos cinco continentes do mundo. Refugiadas, camponesas, militantes, operárias, advogadas, artistas, nômades, modelos, professoras, empresárias exemplificam a força da mulher atual, independente da aparência física, nacionalidade, origem étnica ou religião. E entre elas, mulheres árabes, seja na Mauritânia, no Chade ou nos Territórios Ocupados da Palestina.

sábado, 16 de maio de 2009

Juízes solidários a De Sanctis são notificados

da página CONSULTOR JURÍDICO (clique ao lado e veja a matéria original)

O corregedor do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, desembargador André Nabarrete Neto, notificou 134 juízes federais que manifestaram publicamente solidariedade ao juiz Fausto Martin De Sanctis. A manifestação aconteceu depois da colisão entre o juiz e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. O ministro considerou que De Sanctis, ao mandar prender o banqueiro Daniel Dantas logo após Gilmar Mendes ter mandado soltar, desrespeitou decisão do STF. Embora 134 juízes tenham sido notificados, o total de magistrados que assinaram a lista chega a 154 (clique aqui para ver).
Na intimação, o corregedor repreende a atitude desses solidários defensores. Segundo Nabarrete, o que eles assinam é crítica clara, ostensiva, aberta e pública à decisão tomada pelo presidente do STF. “O mais grave foi o pretexto de defesa da independência jurisdicional — que não reconheceram ao presidente do Supremo — como se presidente do Supremo não fosse parte da magistratura e não tivesse, no exercício dessa independência, o direito de tomar decisão cujo controle só poderia estar cometido a esta corte.”
(...)
O corregedor afirma que os juízes, ao assinarem a carta de solidariedade a De Sanctis, violaram o inciso III do artigo 36 da Lei Orgânica da Magistratura (Lomam), que diz que “é vedado ao magistrado manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério".
(...)
Na ocasião, a própria Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota pública em apoio ao juiz. Registrou irrestrita solidariedade a De Sanctis e apontou que ele vem sofrendo perseguição por parte da Corregedoria do TRF-3

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Lula vai tratar de temas globais na Arábia Saudita




O presidente brasileiro visita o país no próximo final de semana e, com o rei Abdullah, deve discutir a crise, a reforma de instituições multilaterais e o conflito entre Israel e Palestina.





São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza nos dias 16 a 17 a primeira visita de um chefe de estado brasileiro à Arábia Saudita, maior economia do mundo árabe. Com o rei Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud, em Riad, Lula vai discutir temas de interesse global, como a crise financeira, a reforma de instituições multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o conflito entre Israel e Palestina.Segundo o chefe do Departamento do Oriente Médio II no Itamaraty, Roberto Abdalla, há interesse dos dois governos em trocar idéias sobre a crise e a reformulação de instituições financeiras internacionais, uma vez que ambos os países fazem parte do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, desenvolvidas e emergentes, que está no centro da tomada de decisões multilaterais sobre a retomada do crescimento econômico.As duas nações também, de acordo com Abdalla, são favoráveis a mudanças no Conselho de Segurança da ONU com a criação de assentos permanentes para países em desenvolvimento. Hoje os únicos membros cativos são os Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Rússia e China. A Arábia Saudita, no entanto, não deu apoio explícito à pretensão do Brasil de ocupar uma das eventuais novas cadeiras.Na questão da Palestina, o Brasil vem procurando já há alguns anos uma maior participação como mediador e apóia a Iniciativa de Paz Árabe, proposta saudita para a resolução do conflito adotada na Cúpula Árabe de Beirute, no Líbano, realizada em 2002, que prevê a existência lado a lado de Israel e um Estado Palestino, com as fronteiras como eram antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Todos os países sul-americanos endossaram esse plano na 2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), realizada em 31 de março, em Doha, no Catar.Outro tema que deve ser tratado com as autoridades sauditas e com o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), Abdulrahman Al-Attiyah, é o destravamento das negociações entre o bloco árabe e o Mercosul para um acordo de livre comércio. O processo foi iniciado em 2005, na 1ª Cúpula Aspa, mas emperrou na resistência da indústria petroquímica brasileira, que teme a concorrência das empresas do Golfo. “O presidente deverá fazer gestões para destravar o acordo”, disse Abdalla. O GCC é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã.Na 2ª Cúpula Aspa, em Doha, as duas partes divulgaram um comunicado se comprometendo a fazer o processo avançar com maior rapidez e a buscar “soluções criativas” para os impasses. Segundo Abdalla, uma das possíveis soluções poderia ser deixar de lado agora a questão dos petroquímicos e avançar nas áreas em que há maior facilidade de negociação, retomando o tema mais espinhoso num segundo momento. “O acordo não pode ficar quatro anos parado por causa de um ponto de discórdia”, afirmou.Na seara bilateral, os dois governos deverão assinar pelo menos seis atos, entre eles uma revisão ampliada do acordo geral de cooperação técnica firmado originalmente em 1976, e outros nas áreas de consultas políticas, cooperação entre academias diplomáticas, educação superior, cooperação cultural e esportes. O número de acordos e os temas de interesse, porém, ainda não estão fechados e podem ser ampliados.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

PRÊMIO DA PAZ PARA LULA

PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA, UM PRESIDENTE BRASILEIRO SERÁ AGRACIADO COM O PRÊMIO DA PAZ DA UNESCO.


Veja a matéria em espanhol publicada pelo jornal El Pais.

La organización de la ONU ha querido recompensar la labor del presidente de Brasil "en pro de la paz, el diálogo, la democracia, la justicia social y la igualdad de derechos"

El acto solemne de entrega tendrá lugar el próximo mes de junio, agregó la organización de la ONU para la Educación, la Ciencia y la Cultura, sin precisar la fecha exacta. Con él han querido recompensar, explica el texto, la labor del presidente de Brasil "en pro de la paz, el diálogo, la democracia, la justicia social y la igualdad de derechos".

El jurado quiso celebrar, igualmente, la "inestimable contribución" de Lula para a la erradicación de la pobreza y la protección de los derechos de las minorías.
La decisión del jurado de este galardón creado en 1989 fue anunciada por el ex presidente portugués Mario Soares.
El último galardonado con este premio por la Paz de la Unesco fue, en 2008, el ex presidente de Finlandia y fundador de la organización no gubernamental Crisis Management Initiative, Martti Ahtisaari, pocos meses antes de recibir el Premio Nobel de la Paz.
Entre los políticos que lo recibieron en ediciones anteriores figuran Nelson Mandela y Frederik W. De Klerk; Yitzhak Rabin, Shimon Peres y Yasser Arafat; el Rey de España, Juan Carlos I y el ex presidente estadoundense Jimmy Carter.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Movimentos sociais conectados: o MST e o Exército Zapatista

Os movimentos sociais do século 21 consolidaram suas identidades e afinaram os seus discursos na tentativa de conquistar a opinião pública. Nesse processo, o uso da Internet como instrumento estratégico para comunicação e para organização de suas luta tem sido fundamental.



O protagonismo social e político dos movimentos sociais na América Latina ganhou uma nova forma de expressão com a utilização da Internet como aliada e ferramenta de luta. Dois movimentos sociais fazem uso da rede mundial de computadores como arma estratégica: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México [1].
Por meio do uso da Internet, esses dois protagonistas disponibilizam informações divulgando a “sua versão” dos fatos e dos objetivos da sua luta, na tentativa de construir novos canais para uma nova sociabilidade [2].
Na construção do discurso dos sites “oficiais” dos dois movimentos foram desenvolvidas e utilizadas uma nova visão e uma nova representação das maneiras dos integrantes desses movimentos sociais lutarem por seus objetivos. Muitas vezes, esses sites – e todo o seu conteúdo – funcionam como principal instrumento de comunicação e como arma estratégica na elaboração das agendas dos movimentos sociais da atualidade. Funcionam ainda como contraponto ao discurso construído pelos meios de comunicação acerca das suas identidades. A construção de novos discursos que geram impactos na sociedade e se transformam em notícia é uma preocupação permanente da maioria dos movimentos sociais da atualidade, pois essa é uma maneira de legitimar suas ações e construir suas identidades.
Além disso, esses dois movimentos passaram a atuar em rede entre si e com outros atores sociais e construíram uma forma de luta, coordenando e conduzindo suas ações com o uso da Internet. Foram capazes de criar novas oportunidades de se apresentar ao mundo, de legitimar as ações, de divulgar as demandas pelas quais lutam, de pressionar os meios de comunicação tradicionais a noticiarem com menos parcialidade fatos ligados a eles e de eles próprios noticiarem fatos ligados às suas lutas.
Uma das características mais fortes do EZLN é a importância que seus membros dão para a opinião pública. Sabendo que as informações transmitidas na rede mundial de computadores podem chegar sem nenhum “tratamento” ao computador do público, os zapatistas têm o cuidado de utilizar uma comunicação estrategicamente transparente, uma linguagem simples e capaz de comunicar quem são e o que querem. Ela traz detalhes do dia-a-dia das comunidades zapatistas para o cotidiano das pessoas, ganhando a confiança de quem busca informações sobre eles de uma forma nunca antes feita por outros movimentos sociais latino-americanos.
Ao iniciar a utilização da internet como estratégia de luta, há mais ou menos seis anos, o MST também deu início a um “burilamento” de seu discurso, abandonando a sua velha tática discursiva para usar uma nova maneira de divulgar informações sobre o movimento para o resto da sociedade. Isso é consequência do processo de aquisição de identidade e consciência próprias pelo qual os trabalhadores e trabalhadores rurais sem-terra se afirmam como sujeitos sociais atuantes. Concomitantemente com o início da informatização do MST, foi iniciada a etapa de mostrar ao mundo que o movimento é integrado por pessoas altamente comprometidas com a luta pela democratização da terra no Brasil e não por arruaceiros, como tenta mostrar a mídia tradicional. Além disso, é preciso destacar a iniciativa do movimento de investir em um ambicioso projeto de inclusão digital dos trabalhadores rurais que já estão assentados. Para o MST, é importante que os camponeses e seus filhos tenham acesso às novas tecnologias como tentativa de incentivá-los a permanecer no campo, sem deixar de estarem informados sobre o que se passa no mundo.
O cotejo entre o discurso do MST e do EZLN mostrou que os dois movimentos sociais utilizam maneiras diferentes para atingir a sociedade por meio da rede mundial de computadores. O discurso emancipatório dos movimentos sociais, agora veiculado também pela internet, representa uma nova maneira de lutar pela mudança social. Enquanto os zapatistas preferem uma linguagem muito mais poética e metafórica, que resgata elementos da linguagem indígena dos Chiapas, mas que, mesmo assim, é simples e transparente, o MST investe na objetividade e em textos jornalísticos para alcançar o internauta. Numa época em que a linguagem adquiriu evidência e centralidade na constituição, manutenção e desenvolvimento das nossas sociedades, os sites dos movimentos se tornaram verdadeiros cartões de visita, apresentando e divulgado a bandeira de luta do movimento, seja pela realização da reforma agrária, seja por justiça social e por democracia. Graças à Internet, eles obtêm visibilidade pública e angariam simpatizantes que se tornam adeptos das suas bandeiras de luta e apoiam suas causas.
As análises sobre os movimentos sociais constituídos no fim do século passado ou mesmo no início deste século devem necessariamente levar em consideração que esses novos movimentos sociais do século 21 aprenderam a utilizar a internet como ferramenta para criar novas conexões que buscam diminuir as fronteiras entre eles e a sociedade, vinculando a sua luta particular a uma luta maior contra as velhas e as novas formas de dominação. Atualmente, os movimentos sociais tentam mudar a realidade social, contribuindo com a (re)construção de uma simetria das relações de poder por meio do discurso divulgado em suas páginas de internet.

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[1] As constatações deste artigo são resultado de uma pesquisa qualitativa, feita em 2005, que analisou textos virtuais e entrevistas com representantes dos dois movimentos em questão para a realização da dissertação de mestrado Movimentos sociais e a internet da mesma autora.
[
2] Lévy (1999, p. 256)
Fórum

terça-feira, 12 de maio de 2009

TENTATIVA DE GOLPE NA BOLÍVIA

EXCLUSIVO DO PÁGINA 12: NOVA TENTATIVA DE GOLPE CONTRA EVO MORALES TEM A PARTICIPAÇÃO DE BRASILEIROS

12/05/2009













Los ex carapintadas en el golpismo contra Evo

La Cancillería argentina recibió esa información de la embajada en Bolivia luego de que el gobierno de Evo Morales desbaratara una célula terrorista integrada por húngaros, croatas y bolivianos en el departamento de Santa Cruz.
Por Nora Veiras

“Estaría presente en la zona del Beni (norte de Bolivia) una célula argentina de once ex carapintadas que se sumarían a otras dos células (brasileña y uruguaya), integradas por ex militares que habrían estado en misión en los Balcanes. La mencionada ‘célula argentina’ habría mantenido contactos con sectores de ‘ultraderecha’, opositores al actual gobierno nacional boliviano, en Santa Cruz y en Cobija, departamento de Pando.” La información, fechada el 4 de mayo, que recibió la Cancillería argentina de la Embajada en Bolivia y a la que accedió Página/12, señala que “empresarios y terratenientes de Santa Cruz de la Sierra habrían requerido la presencia de los ex militares con el objetivo de ser instruidos en materia de autodefensa ante eventuales intentos de apresamiento por parte de organismos oficiales”. Las piezas del rompecabezas se empiezan a colocar en posición a partir de la investigación sobre el grupo de supuestos terroristas, liderado por Eduardo Rózsa Flores, “Héroe de la Guerra de los Balcanes”, que fue desbaratado por la Policía Nacional de Bolivia el pasado 16 de abril. El presidente Evo Morales denunció que la banda planeaba un magnicidio.
El pasado 21 de abril este diario informó que el vicepresidente de Bolivia, Alvaro García Linera, se había comunicado con el embajador argentino en La Paz, Horacio Macedo, para pedirle colaboración en el control de los pasos fronterizos “por la eventual presencia de activistas argentinos en distintas regiones de Bolivia”. En ese momento se mencionaban los viajes a Bolivia del mayor retirado Jorge Mones Ruiz, uno de los reincidentes carapintadas que entre el ’87 y el ’91 se alzó en armas para exigir la impunidad de los represores.
El nuevo informe da cuenta de que “Mones Ruiz habría estado en contacto con el presunto terrorista/mercenario ultimado Rózsa Flores y con (Luis Enrique) Baraldini”, otro compañero de armas prófugo de la Justicia argentina por su actuación durante la represión ilegal en La Pampa y radicado en Santa Cruz de la Sierra con nombre falso. Mones Ruiz estuvo destinado como oficial de inteligencia del Ejército argentino en Bolivia durante un tramo de la última dictadura y suele jactarse del conocimiento de sus camaradas bolivianos.
Al ex carapintada lo seducen sus vínculos con la ultraderecha latinoamericana. En el ’87, el Círculo Militar le publicó un libro en el que desarrollaba su expertise sobre la formación de grupos comandos contra los procesos revolucionarios en Centroamérica (ver aparte). Este año, encontró un anclaje institucional en la llamada UnAmérica, una ONG que pretende ser la contracara de la Unasur, la organización que integran los presidentes de América latina. Justamente, los gobiernos “izquierdistas”, especialmente los de Bolivia y Venezuela, provocan los desvelos del comité liderado por el venezolano antichavista Alejandro Peña Esclusa.
Mones Ruiz despunta el vicio de difundir su pensamiento en distintos formatos pero con la misma obsesión. Con otro de sus camaradas carapintada, Breide Obeid, formó el “Conjunto Patria” y sale a cantar sus propias letras en encuentros católicos. Más académico, publicó varios libros, entre ellos Argentina ¿sin destino? Estudio sobre las nuevas amenazas, y se explaya en páginas web sobre “el desgobierno y las falencias institucionales (aprietes a empresarios, control de precios, crisis energética, caso ‘Papeleras’, inseguridad ciudadana, corrupción, justicia ‘tuerta’, agrandamiento de la brecha entre ricos y pobres, legisladores ‘borocotizados’, violencia social, comandantes militares desmemoriados, fuerzas policiales con menos garantías que los delincuentes, etc.), están generando las condiciones para el cambio estructural que la sociedad reclama”. Hiperactivo, el año pasado empezó a hacerse tiempo para recorrer las asambleas rurales y azuzar el conflicto.
Esclavo de las palabras
La violenta irrupción de la policía en el cuarto piso del hotel Las Américas que terminó con la muerte de Rózsa Flores (boliviano-húngaro-croata), Arpád Magyarosi (rumano de origen húngaro) y Michael Dwyer (irlandés) y la detención de Mario Francisco Tadic Astorga (boliviano con pasaporte croata) y Elöd Tóásó (rumano-húngaro) potenció la virulencia opositora en Bolivia. El presidente Evo Morales aspira a ser reelecto el próximo 6 de diciembre y leyó la actuación de esos comandos trasnacionales como una prueba cabal de un plan para asesinarlo. En el entramado de relaciones en ese campo minado aparecen indicios de la participación de los personajes de siempre.
Cinco días después del operativo en el hotel, la Red de Televisión Húngara emitió una entrevista realizada por el periodista Andras Kepes el 8 de septiembre de 2008 en la que Rózsa confirma que viajó a Santa Cruz de la Sierra a pedido de personas que le solicitaron formar un grupo de autodefensa de la región y que, si no se lograba la coexistencia pacífica con el resto del país, se buscaría su independencia. El diario El Deber, de Santa Cruz, detalló que “el hombre, de 49 años, aseguró que su misión ‘tenía respaldo legal’, ya que la decisión de organizar la milicia se basaba en la autorización del Consejo de Santa Cruz. Consultado el presidente de la Asamblea Departamental, Juan Carlos Parada, aseguró que no conocía nada al respecto y que no sabía a cuáles de los consejos o asambleas que funcionan en Santa Cruz pidió permiso. Según Rózsa, un grupo de opositores políticos lo contactó hace más o menos año y medio desde Santa Cruz. Su misión principal era defender la región de los grupos y milicias de indígenas. ‘Estamos dispuestos, dentro de unos meses, en el caso de que la coexistencia no funcione y en virtud de la autonomía, a proclamar la independencia (de Santa Cruz) y crear un nuevo país’, dijo Rózsa.”
Rózsa grabó la entrevista como un testamento: sólo podía ser difundido en caso de muerte. El extraño personaje que supo militar en el Opus Dei, convertirse al islamismo y ser consagrado “Héroe de la Guerra de los Balcanes” terminó reclutando mercenarios para defender a la ultraderecha boliviana. La participación en el frente croata le abrió lazos con militares latinoamericanos que encontraron en esas milicias el nicho buscado para desarrollar sus competencias de comandos.
Mano de obra
El detallado informe que se está analizando en la Cancillería argentina cuenta que empresarios y terratenientes de Santa Cruz de la Sierra habrían apelado a los ex militares “con el objetivo de ser instruidos en materia de autodefensa ante eventuales intentos de apresamiento por parte de organismos oficiales y avasallamientos de distintos tipos, incluyendo la toma de tierras privadas por parte de entidades sociales como el MAS”, en alusión al Movimiento Al Socialismo, el partido que lidera Evo Morales.
El modelo de los terratenientes brasileños que instauraron virtuales escuadrones de la muerte para contrarrestar la acción de los Sin Tierra ilumina el imaginario de las fuerzas reaccionarias de los secesionistas de la región már rica de Bolivia. La organización Human Wright Foundation Bolivia, que responde a Victor Hugo Achá, sería el alma matter de la estrategia encuadrada en los objetivos de UnAmérica, evalúa el texto que recaló en el Palacio San Martín.
El 30 de abril, el fiscal Marcelo Sosa quien instruye la investigación por la actuación del grupo de Rósza convocó a declarar a Achá para corroborar las declaraciones de algunos de los deternidos en la causa. El presidente de HWF había viajado una semana antes a los Estados Unidos y anunció que no regresará hasta que no le den garantías legales para defenderse de las acusaciones. Sin embargo en una comunicación telefónica con un canal local reconoció que conversó en más de tres ocasiones con Rózsa pero, obviamente, negó cualquier vínculo con la milicia que organizaba el boliviano-húngaro-croata.
Según consignó el diario La Prensa, de La Paz, Juan Carlos Gueder, el detenido declaró: “Sé que había otra persona vinculada dentro del campo político (para ser asesinado en Bolivia), pero tampoco sé su nombre, porque hay otra gente que debería estar dando la cara aquí, debería estar aquí el señor Hugo Achá dando la cara”. Gueder aseguró que el dirigente de HWF había estado en las reuniones con la presunta banda terrorista. A Gueder le otorgaron la prisión domiciliaria por haber colaborado con la Justicia.
El 1° de mayo, el presidente boliviano dijo que si la organización no aclara sus vínculos con “los terroristas” podría ser expulsada del país como ya ocurrió en Venezuela. El comité Pro Santa Cruz, centro de la flor y nata de la oposición que reiteradamente intentó desestabilizar a Morales, convocará a una asamblea para evaluar qué hacer ante el avance de la investigación por los vínculos de empresarios con los presuntos terroristas abatidos en el hotel America.
En ese marco actúan los sectores representados en UnAmérica, organización en la que el carapintada argentino Mones Ruiz se desempeña como secretario, y proyectan presentar una denuncia ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos contra el gobierno de Morales acusándolo de ser el responsable de la Masacre de Pando. El objetivo es contrarrestar el informe aprobado por la Unasur que derivó en la prisión, entre otros, del prefecto de Pando por la persecución y los asesinatos racistas fogoneados desde la ultraderecha.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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