A mídia pouco fala do Afeganistão
e muito diz sobre os talebans (ou talibans).
Esse país montanhoso já recebia a
raça humana há mais de 50 mil anos, segundo estudos arqueológicos, e por
séculos integrou a milenar rota da Seda. Foi importante para a humanidade e
continua sendo.
É um país repleto de etnias,
pachtuns, tajiques, usbeques e hazaras e por lá passaram ou tentaram passar os
impérios persa, macedônio, mongol, soviético e estadunidense, dentre outros.
O radicalismo religioso é algo
bem recente e tem cerca de 40 anos, tendo sido fomentado pelos serviços de
inteligência dos Estados Unidos contra o então domínio soviético.
Se o Taliban, hoje, é considerado
terrorista, há 40 anos era considerado um grupo heroico pelo ocidente,
financiado pela Arábia Saudita e Estados Unidos, e que foi capaz de expulsar o
poderoso exército soviético.
Hoje, o Afeganistão, novamente
dominado pelos Talibans, traz receio de instabilidade a dois de seus vizinhos:
China e Irã, um inimigo econômico e outro inimigo político dos cada vez mais
empobrecidos Estados Unidos, incapazes de financiar tantas guerras por tanto tempo
como o fizeram durante o século XX e início do século XXI.
É possível que a saída dos
Estados Unidos seja um caso pensado, de recriar uma instabilidade na região, a
ponto de poder exigir enormes esforços econômicos e políticos dos dois países
rivais dos Estados Unidos: China e Irã.
O radicalismo foi uma arma
recentemente utilizada pelo grande império estadunidense. Foi assim no
Paquistão, no Afeganistão e, mais atualmente, no Iraque, na Líbia e na Síria. É
utilizado como arma de guerra, mais barata que o envio das poderosas armas e
tropas ao cenário do conflito armado.
Mas o radicalismo que nos assusta
no Afeganistão pode ser tão grave quanto o radicalismo que brota e cresce no
Brasil.
Muitas Igrejas neopentecostais
conservadoras, com crescentes discursos segregacionistas, de exclusão e
intolerância, aliadas a grupos paramilitares como as milícias cariocas e de
diversos outros Estados, em especial o Ceará, e a uma ala das Forças Armadas
que desrespeita o Estado de Direito, a Ordem constitucional e os Poderes
legalmente constituídos, põem em risco não apenas a nossa democracia, mas o
nosso futuro como Nação, incluindo aí o risco de fragmentação territorial.
O risco de fragmentação não é uma
teoria conspiratória, mas um risco iminente, se o radicalismo continuar a
crescer e não receber um freio imediato pelas forças democráticas.
O armamentismo, o discurso
segregacionista de muitas Igrejas apoiadas pelo atual governo, o crime
organizado cada vez mais poderoso nas grandes capitais, muitas vezes ligado a
grupos de policiais militares, o descrédito de nossas instituições promovido
pelo atual governo, e o discurso de ódio promovido pelos políticos põem o
Brasil em risco de ser o Afeganistão em potencial.
Tudo isso em um país tão injusto
socialmente, e que nunca curou suas feridas do passado, seja da escravidão, da
ditadura e da repressão a movimentos populares, pode ter como resultado a
produção de dezenas de milhões de radicais e mais esse mesmo tanto de mortos e
de deslocados internos.
Ou as Forças Armadas e nossas
instituições, como a Procuradoria Geral da República, o Supremo Tribunal Federal
e o Congresso Nacional, agem rápida e eficazmente contra a desordem, o
radicalismo e o caos, ou não só a democracia e as liberdades religiosa e de
expressão sucumbirão, mas a própria Nação brasileira.