Talvez a realidade de nosso povo,
de parte de nossos militares e também de nossas lideranças que hoje nos
transparece com nitidez assuste a maior parte dos brasileiros ingênuos, bons de
coração e que primam por um país mais próspero para todos, mas é o reflexo de
uma realidade que nos acompanha desde o Brasil colônia.
O Brasil, seja o Brasil-colônia,
império ou república, sempre foi cruel com os índios e continua a ser, embora
com menor dose de letalidade.
O Brasil foi o último país do
ocidente a abolir a escravidão negra e o país que mais usou escravos negros.
Foram mais de 4 milhões deles, contabilizados pelo governo.
O Brasil à época da Monarquia e
início da República avançava fronteiras, visando à ampliação territorial. Esse
mesmo país praticou atrocidades na guerra com o vizinho e minúsculo Paraguai,
dizimando sua população adulta masculina, poupando apenas mulheres e crianças
que não empunhassem armas. Esse mesmo Brasil praticou o maior massacre já visto
em nosso território contra a população da vila de Canudos, um povoado
localizado no sertão baiano, usando poderosas armas contra população civil,
praticando a carnificina e a execução sumária dos detidos com a degola,
adotando ilegalmente crianças e deixando mulheres na miséria, facilitando a
prostituição.
Esse mesmo Brasil, ao libertar os
negros, não lhes incluiu no processo de cidadania e permitiu o surgimento de
amontoados de casas de madeira, que viriam a se tornar as nossas favelas.
Pessoas em situação de rua,
usuários de drogas, pessoas portadoras de necessidades especiais, moradores das
nossas ditas comunidades (favelas), desempregados e moradores da periferia
nunca foram prioridade. Nem nossas crianças, embora haja determinação
Constitucional a esse respeito. O governo nunca olhou o problema de frente para
resolver ou amenizar o drama dessas populações. Tratou todas essas questões com
demagogia.
O mesmo se diga dos nossos
trabalhadores, hoje totalmente desassistidos por esse governo neoliberal e anacrônico,
que lhes retirou direitos consagrados há um século, diminuindo o já reduzido
poder de compra dessas pessoas.
Sempre faltou projeto ao país e
sempre existiu o instinto de sobrevivência e de levar vantagem, a famosa lei de
Gérson, tão real para parcela significativa de nossas classes média e alta.
Para esse grupo, a lei só é legítima quando lhes convém. Para eles é certo praticar
pequenas e seguidas imoralidades, ainda que posem de defensores da moralidade,
bem como sonegar, praticar e falar atrocidades. São o exemplo da mesquinharia e
da ausência absoluta do sentido e do compromisso com a fé cristã e com o
sentido de pátria. Mas eles adoram se dizer cristãos e patriotas, ludibriando
os mal informados com seguidas mentiras.
Foi nesse contexto que o Brasil
teve o segundo maior número de nazistas em todo o globo, só perdendo para a
Alemanha hitlerista. Foi nesse contexto que o Brasil viveu a triste história
retratada no documentário “Menino 23”, de um menino negro “adotado”, juntamente
com outros, para virar escravo em pleno século XX. A história só veio à tona
por conta da investigação de um historiador, após ser informado da descoberta
de um tijolo com o símbolo nazista em uma fazenda.
Não é à toa que nossos vizinhos
nos veem como um país imperialista. Não é por outro motivo que dizem que não
somos um país sério. Não é à toa que temos uma extrema direita tão retrógada e
atuante.
Enquanto não passarmos o país a
limpo, com ampla divulgação histórica e com processos e condenações administrativas,
cíveis e penais, pois imprescritíveis, seja no tocante ao crime da escravidão,
ao crime de Canudos e das seguidas torturas pelas ditaduras, a extrema direita
se achará no direito de defender a barbárie, a mesma que nos acompanha há 5
séculos.
Precisamos ser radicais contra a intolerância. Basta! Já foram 5 séculos de ódio! Precisamos pacificar o país e nos tornarmos uma pátria, integrando nosso povo no processo de cidadania com dignidade, para que possamos crescer e nos desenvolver como sociedade e Nação!