Eugene Rogan começa narrando sobre os
árabes a partir do século XVI, quando os otomanos dominaram o território árabe
e criaram o antigo império turco. É uma nova forma de abordar, sem dúvida, mas
que limita o aprofundamento de uma etnia. É, na verdade, um estudo temporal,
limitado à época de dominação pelos turcos e pós independência.
Confesso que não li o livro, mas nem
precisaria para fazer essa crítica sobre a questão temporal.
Os árabes são uns dos povos mais antigos
do mundo e deveriam ser estudados desde antes de sua dominação pelo império
otomano (século XVI) ou do surgimento do islamismo (século VII), para que se
compreenda essa fascinação e respeito que essa etnia têm e sempre teve pelo
diferente.
Situados originalmente no Oriente Médio,
os árabes se expandiram para a África e Europa e tiveram contato frequente com
os pretos africanos e com os brancos europeus, além de manter comércio com
diversos reinos da Ásia.
Diferentemente do que apregoa a grande
mídia internacional, repercutida no Brasil, os árabes não são fechados e
intolerantes. Nunca foram. Como povo do deserto, sempre tiveram fascinação
pelas miragens e imagens de fora. Foram eles que difundiram o uso do café pelo
mundo e do banho pela Europa. Foram eles que traduziram os filósofos gregos durante
a Idade Média e permitiram os seus estudos no mundo afora. Foram eles que
aprofundaram os estudos da matemática e da medicina. Foram eles que levaram
histórias do mundo asiático ao resto do mundo, através das Mil e Uma Noites.
Foram os árabes que permitiram o comércio da Grande China com a Grande Europa.
Os árabes ajudaram a iluminar o mundo não apenas quando a Europa caia nas
trevas da Idade Média.
Os árabes são vitais para a compreensão
do mundo, principalmente agora, quando parte do ocidente repudia o poder
crescente da China. Os árabes, que comercializam com os chineses e os europeus
há mais de mil anos, podem ser um ponto de sensatez nesse mundo de rivalidade
econômica travestida de racismo.
Assim, para tentar compreender os
árabes, a leitura do livro de Eugene Rogan é importante, assim como de Albert
Houraine e de Edward Said. Mas ainda será muito pouco. Ler as Mil e uma Noites
e se aprofundar na leitura das poesias e filosofia sufi, bem como sentir o sabor e o aroma da culinária árabe e ouvir e dançar sob o ritmo do povo do deserto pode auxiliar muito
nessa empreitada de tirar o véu sobre um povo milenar que ajudou a difundir a
filosofia e a ciência quando o ocidente caia nas trevas.