Como paulista e paulistano que
sou, amo a minha cidade de São Paulo e admiro as diversidades étnica e cultural
existentes na terra de Piratininga.
A minha família, que reside nesta
cidade há mais de 100 anos, foi formada pela miscigenação de imigrantes
europeus, libaneses, sírios e indígenas.
Assim como a enorme maioria dos
brasileiros, sou fruto de uma mestiçagem característica de nosso povo. E assim
como muitos, também carrego comigo um pouco do sofrido sangue indígena.
E como paulista de alma e de
história, sou democrata, respeito as leis e admiro a Constituição que rege a
pátria brasileira, sedento pelo dia em que todos poderão frequentar e
permanecer nas escolas, alfabetizando-se e enriquecendo-se de história e
cultura, divulgando e eternizando o conhecimento e as letras da civilização.
Embora não deixe de recordar a
luta dos paulistas contra a ausência de uma legitimidade constitucional em 1932,
reconheço a barbaridade praticada séculos atrás por uma milícia de Piratininga,
a que denominavam bandeirantes, que embora tivessem ajudado na expansão
territorial brasileira, o fizeram sob o rito da escravização e da matança de
indígenas.
Foi o bandeirantismo, talvez, o
responsável por não termos hoje um dos melhores exemplos educacionais de terras
americanas, com a destruição de um ícone na educação: as Missões idealizadas
pelos Jesuítas.
Foram os bandeirantes, juntamente
com os portugueses, que puseram fim às reduções civilizatórias das Missões
Jesuíticas, onde os indígenas, especialmente os Guaranis, tinham a oportunidade
de desenvolver dons artísticos dos mais diversos, ao lado de uma educação
primorosa alinhada à tarefa diária do trabalho no campo, com cuidados com a
plantação e o gado.
Eram dezenas de milhares de
brasileiros cristianizados, reconhecidamente pessoas com alma pela Igreja e pela Coroa, que se
empenhavam em estudar, plantar e semear cultura, que foram dizimados e expulsos
para países vizinhos.
Hoje, as Missões restam apenas em
lembranças e em poucas ruínas espalhadas pelo Rio Grande do Sul e nos territórios
do Paraguai e do nordeste da Argentina.
Embora em ruínas, a grandeza do
projeto missionário ainda é visível e pode ser percebido pela riqueza de
detalhes em cada item sobrevivente do que foi a maior barbárie contra um
projeto educacional.
Como é perceptível, hoje, a luta civilizatória
travada desde o início de nossa colonização ainda persiste. De um lado há os
que, como grupos de interesses de nossos tempos, pensam apenas na devastação e
no lucro econômico imediato. De outro, porém, há a grande massa de brasileiros
de corpo e alma, que trazem consigo o projeto de País, o planejamento econômico,
a ciência e a defesa da cultura nacional.
A luta hoje ainda retrata o
passado sombrio, com aqueles que buscam a riqueza individual e egoística e a
qualquer preço contra o firme projeto nacional, cultural e social do nosso povo, ao lado de uma educação de qualidade que nos permita ser livres tanto individualmente como no aspecto de nossa sempre sonhada grande Nação.
A realidade atual retrata a
miséria de séculos passados: miséria cultural, miséria humana e miséria
econômica, as mesmas misérias que sempre acompanharam o Brasil-Colônia, Brasil-Império
e Brasil-República. Hoje, no entanto, a miséria foi agravada pelo oportunismo político
e econômico inconsequentes de um diminuto grupo que se diz nacional, mas que odeia
nossas raízes e semeia o ódio contra tudo e todos.
A Revolução Constitucionalista
dos paulistas, hoje, deveria ser de defender a cultura nacional, o projeto de
País autossuficiente e independente, com uma educação primorosa e uma ciência
devidamente valorizada para que tenhamos, antes que nunca, a Pátria idealizada
por cada pequeno e grande herói que viveu em nossa terra ao longo de nossos
mais de 500 anos de história.
Hoje a luta de todos que amam as
terras de Piratininga e do imenso Brasil não deveria ser apenas pelo necessário
respeito à Constituição, mas também e principalmente pela defesa intransigente
daquilo que se pode chamar de civilização.
A União de todos que sonham um
País grande deveria ser simplesmente pelo Brasil, com todos unidos contra a barbárie e a
devastação do pouco que ainda nos resta.