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Carlos Prats González não era um esquerdista. Era um militar legalista, que ocupava o cargo de comandante do Exército chileno no governo demorata-cristão de Eduardo Frei e que Salvador Allende manteve no posto quando foi eleito presidente do Chile.
Prats foi convidado a participar da derrubada do presidente constitucional e recusou-se a trair seus deveres militares. Deposto, amargou o exílio em Buenos Aires. Mas por pouco tempo. Um ano depois, no seu automóvel, junto com a mulher, Sofia Cuthbert, foi morto por uma bomba acionada por controle remoto.
As investigações apontaram a Diretoria Nacional de Inteligência, a Dina, órgão do governo chileno, como responsável pela explosão. Recentemente, Manoel Contreras, ex-chefe da Dina, foi condenado a 17 anos de prisão pelo crime.
Ontem, o canal Chilevision divulgou uma entrevista de Contreras, em que ele nega ter sido o mandante do crime.
-Quem mandou matar o general Prats foi a CIA, disse Contreras.
O ex-chefe do órgão de repressão chileno, que está preso, disse que “nunca recebeu um centavo da CIA” . Doente, ele diz que “foi chefe de uma instituição que eliminou o terrorismo no Chile e estou orgulhoso do que fez a DINA”.
Curioso que diga que “eliminou o terrorismo” alguém condenado por explodir um carro-bomba. Trágico que a esta altura ponha a culpa na CIA. Intrigante que não lhe seja inquirido que elementos possui para fazer tal afirmação.
Na maioria dos países da América do Sul – o Brasil é uma desonrosa exceção – os militares culpados destes atos de desumanidade foram julgados e receberam penas. Mas ainda falta muito a esclarecer – e o Governo dos EUA deveria ajudar a fazer isso – qual foi o envolvimento de seus serviços de inteligência e extermínio nestas ações.
E aos militares que acham que investigar e punir é “revanchismo”, fica o exemplo digno de Cesar Prats, um militar cujo unico “crime”, o que lhe custou a vida foi honrar a farda e o juramento de fidelidade à Constituição de seu país e à vontade de seu povo, livremente expressa nas urnas.