O Brasil é um país vital aos interesses dos Estados Unidos para atingir diretamente a China e a Europa e, indiretamente, a Rússia.
Os Estados Unidos estão desesperados, e já faz certo tempo, com o crescimento incansável da China. A China é a segunda maior economia do mundo e cresce muito militarmente e, ao contrário de anos anteriores, passou a atuar no campo geopolítico.
Trump prometeu aos estadunidenses gerar empregos e trazer os Estados Unidos grande de volta, promessas difíceis de concretizar. Com isso, implementa o protecionismo, marginaliza a mão de obra estrangeira, e visa solapar qualquer progresso na União Europeia ou em outros blocos econômicos. A verdade é que o topete alaranjado criou um pouco mais de empregos, mas a economia estadunidense ainda patina.
E o Brasil? O Brasil é vital no projeto de afastamento da China da região e de apoio às pretensões estadunidenses. Explico.
Hoje a China mostra força geopolítica na África, na Ásia e na América Latina e é o principal membro do bloco BRICSs, que integra juntamente com a Rússia e a Índia, potências nucleares, além da África do Sul e o Brasil.
Os BRICSs criaram um banco próprio e juntos ameaçam a hegemonia dos Estados Unidos. O esfacelamento dos BRICSs parece ser um projeto prioritário dos Estados Unidos.
E o futuro presidente brasileiro já disse que os BRICSs não são prioridade. Bolsonaro, um militar sem visão estratégica, terá dificuldades de sentar juntamente com os presidentes da China comunista e da Rússia, herdeira da antiga União Soviética, e da própria Índia, país que sempre preservou a neutralidade. É o presidente providencial aos interesses dos Estados Unidos.
A China investe em empresas públicas de outros países, compra empresas privadas estrangeiras, financia projetos estatais estrangeiros e se torna um parceiro importantíssimo a grande parcela de países.
A China é o país que mais compra do Brasil, e Bolsonaro, após visitar a ilha de Taiwan, reivindicada pela China, ainda ameaça os chineses de que eles não comprarão o Brasil. Segundo uma visão liberal, os chineses não compram, mas investem.
Depois da China vêm os Estados Unidos, a Argentina e os Países Árabes, nessa ordem dos que mais importam produtos brasileiros.
A Argentina a nossa maior parceira na América Latina já não é prioridade para Bolsonaro, tanto que o primeiro país que ele irá visitar após tomar posse será o Chile (ao contrário do que faziam os presidente anteriores) e já antecipou que o Mercosul não é prioridade, assim como fez recentemente o seu provável ministro da economia.
Não fosse suficiente para afundar a economia brasileira, Bolsonaro ainda promete aumentar a parceria com Israel e transferir a embaixada brasileira de Israel para a disputada Jerusalém, criando animosidade com os países árabes (nosso 4º maior mercado) e islâmicos.
A retaliação comercial virá e com ela aumentará o desemprego, a crise em setores específicos, como o agropecuário e de alimentos, e a tomada de financiamento internacional para a realização de projetos. Ou seja, nos afundaremos e ao mesmo tempo aumentaremos a nossa dívida internacional, remetendo altos juros para fora do país.
A crise sem precedentes que o Brasil enfrentará facilitará a compra das empresas estratégicas pelos Estados Unidos.
Os Estados Unidos não estão de olho no nosso petróleo. Eles têm bastante e já investem pesadamente no Oriente Médio. Os Estados Unidos estão de olho em nossa água potável e em nossas indústrias de tecnologia, como a Embraer, visando desbancar de vez a europeia Airbus.
Além do mais, é do interesse dos Estados Unidos que parecerias econômicas entre o Mercosul e a União Europeia não progridam e Bolsonaro exerce fator fundamental nisso, pois não dará prioridade ao bloco, como já antecipou durante a sua campanha eleitoral e recentemente fez o mesmo o seu potencial ministro da economia.
Mas não serão apenas os Estados Unidos que lucrarão com esse posicionamento equivocado e vendilhão do novo governo.
Quem pode lucrar muito com isso são os países africanos, com ampliação da venda de minérios à China, além da Austrália, a Argentina e o Uruguai, que poderão ampliar a venda de frangos e carne não só para a China, mas também para os países árabes e islâmicos, ocupando o lugar de destaque até então ocupado pelo Brasil.
O Brasil será alijado, um país à sombra.
Bolsonaro é tudo com o que Trump sonhava. O pesadelo será das indústrias e do povo do Brasil.