quarta-feira, 31 de agosto de 2011

INTOLERÂNCIA, SEJA ELA QUAL FOR, NÃO!

É lamentável que pseudos torcedores de futebol matem pessoas que, simplesmente, adotaram opção diversa de time. É um sinal de intolerância inadmissível e uma aberração sem fim, tão similar e perigosa quanto os preconceitos contra homossexuais, negros, judeus, muçulmanos, nordestinos e tantos outros.
Não podemos mais admitir que crimes tão hediondos ocorram sem punições rigorosas.
Crimes contra a vida afetam toda a sociedade e a própria estabilidade democrática. Não temos que proteger uns contra os outros, não se trata disso e tampouco de julgar que existem bons e maus, mas devemos, sim, proteger os valores de uma sociedade livre, democrática e tolerante que prima fundamentalmente pela vida. Pense a respeito e divulgue o seu inconformismo com mais esse assassinato por motivos de intolerância.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

TELEVISION AMÉRICA LATINA

Você conhece a TAL - Television America Latina? Então, você não tem ideia do que perdeu até agora.
É um sítio na internet muito rico em documentários sobre os nossos países vizinhos e também sobre o Brasil.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

VÍDEO: FLAMENCO

Um brevíssimo vídeo sobre a arte da dança flamenca, de origem cigana e, mais longinquamente, paquistanesa.

domingo, 28 de agosto de 2011

A SOMBRA DOS ANOS 30

MAURO SANTAYANA
maurosantayana.com

O século passado teve como eixo a década de 30. Ela se iniciou com a crise econômica mundial, que estas últimas horas de angústia nos mercados financeiros fazem lembrar, e se fechou com a conseqüência prevista pelos céticos: o início da Segunda Guerra Mundial. Foram os anos do grande confronto entre a esquerda e a direita, com contradições, idas e vindas, ilusões e tragédias, que os livros registram. Em suma, sinistras lições aos homens, que devem ser meditadas, para que o mundo não volte a ser encharcado de sangue.

Muitas são as teorias que tentam explicar aquela amostra do apocalipse. A mais conhecida é a de que, derrotada e humilhada em 1918, a Alemanha buscava a revanche com Hitler. Para isso, seu líder, encarnando o velho orgulho prussiano, obtivera o apoio da Nação a fim de vingar-se de seus inimigos e expandir o espaço vital, que consideravam necessário à plena realização de seu destino de povo de senhores.
Naqueles anos e meses da República de Weimar, mais do que em outras épocas históricas, as distorções da linguagem serviram para confundir e desorientar os homens. A esquerda buscava construir, na antiga Rússia, uma sociedade socialista. Hitler começou filiando-se a um pequeno partido de trabalhadores, que ele dominaria e o ampliaria no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os comunistas e socialistas alemães menosprezaram aquele grupo de bêbados, que se vestiam militarmente e brandiam slogans primários. A Alemanha não é a Itália, declarou, confiante, aos que temiam o totalitarismo no país, Ernst Thälmann, o lendário dirigente do Partido Comunista Alemão, depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 1932, por Hindemburg, e da ascensão de Hitler à chefia do governo, à frente da coligação de direita, graças ao apoio dos católicos. Em março de 33, poucas semanas depois, Thälmann seria metido no campo de concentração de Buchenwald, onde foi executado em agosto de 1944.

Os democratas e as organizações de esquerda não souberam unir-se, ali, para a resistência – o que reclamava a construção de uma idéia forte de centro político, a fim de impedir, a tempo, a ascensão dos nazistas. Não souberam unir-se ali, nem em outras nações. O caso mais dramático, fora da Alemanha, foi o da Espanha. Como anotou Salvador de Madariaga, de resto um homem rigorosamente de centro, o malogro da República Espanhola foi o malogro do centro político. Ao crescer o radicalismo tanto na direita quanto na esquerda, não houve espaço para a moderação do centro. Mais poderosa – com a ajuda dos fascistas italianos e dos nazistas, e a total adesão da hierarquia da Igreja Católica – a direita esmagou a República, depois de quase três anos de conflito. De nada valeu a pouca ajuda soviética que conseguia chegar ao país – nem a presença simbólica dos corajosos intelectuais que formaram as Brigadas Internacionais. Madariaga tinha razão: se tivesse havido o entendimento entre os partidos de esquerda, que mal se acomodavam na Frente Popular, e, depois, com as forças de centro, não haveria clima para a insurreição dos generais Sanjurjo, Mola, Queipo de Llano e Francisco Franco. Madariaga foi rigorosamente de centro no eclodir do conflito: como embaixador da República, não tomou partido na guerra, mas se tornou vigoroso opositor da ditadura franquista, e só voltou à Espanha em 1976, depois da morte do ditador.

Menosprezar a direita tem sido, mais do que erro de percepção política, ilusão criminosa. Na mesma Espanha, quando o governo dispunha de informes seguros da conspiração em marcha, o então chefe do governo, Casares Quiroga, recebeu a advertência do serviço secreto republicano com um muxoxo: se eles se levantam, eu vou me deitar. Em 1964 – recordam-se? – as esquerdas, também divididas em nosso país, percorreram as mesmas sendas da ilusão. Não só é vezo da esquerda subestimar as forças adversárias, mas também assusta-las, com os espantalhos da insurreição. Em seu favor milita realmente a ilusão. As Ligas Camponesas, armadas de fé e de espingardas cartucheiras, cresciam seu ilusório poder, diante da classe média em pânico. O mito de Che Guevara empolgava os jovens, da mesma maneira que a invencibilidade cubana, na Bahia dos Porcos, atiçava os ânimos bélicos de muitos de nós, os que vivemos aquele tempo.

Esse excurso ao passado não é por acaso. Estamos em tempo muito parecido aos anos 30. Nos Estados Unidos, um governo que tenta chegar ao centro, o de Obama, é acossado pelo Tea Party e pelos velhos texanos, que sempre estiveram na linha de frente do obscurantismo. Basta recordar que foi em Dallas que a direita eliminou Kennedy, ainda que o jovem presidente, como a história nos mostra, não fosse exatamente um liberal de esquerda. Do Texas vieram Bush pai e Bush filho, e os republicanos agora ameaçam buscar em Rick Perry, seu atual governador, e raivoso direitista, o oponente a Obama nas eleições vindouras.

A Europa caminha rapidamente para a direita, e os governantes buscam justificar a repressão policial como necessária, diante das crescentes manifestações populares contra o desemprego, a redução das pensões, a falta de moradias e de perspectivas para o povo - também comuns nos anos 30. A Espanha recebeu ontem a visita do papa Bento 16, cuja simpatia pela direita é notória. Os espanhóis foram às ruas, protestar contra os gastos governamentais com a recepção ao pontífice, em momento de gravíssima crise econômica interna. Ainda que o papa se tenha declarado contra a lógica do “lucro acima do direito das pessoas”, seus atos não confirmam a retórica. A posição do papa, diante das dificuldades da Península, foi bem exposta em visita anterior a Santiago de Compostela, quando Ratzinger expressou preocupação contra a crescente laicidade dos espanhóis e o seu anticlericalismo, “que lembra os anos 30”, e pediu “nova evangelização” na península. A “evangelização” franquista dos anos 30, apoiada na Opus Dei e no garrote vil, nós já conhecemos. Que outra “evangelização” pretende agora o papa, quando se queixa da liberdade de pensamento na Espanha atual?

A presidente Dilma Roussef atribuiu-se duas missões em seu governo: a de combater a corrupção e a de eliminar a miséria que ainda assola grande parte de nosso povo. E a direita nacional, ainda que com certa dissimulação, começa a articular-se.

Isso vai exigir da esquerda, no diálogo com o centro, grande esforço, para a criação de força política, organizada e articulada, firme em sua ação, a fim de dar suporte à nação, para esta possa enfrentar o vendaval internacional – com a crise econômica, o renascimento brutal do racismo na Europa e a reorganização do nazismo e do fascismo.

A Alemanha, contra o otimismo dos comunistas e socialistas, repetiu, em 30, com mais tragédias, o fascismo italiano. Por pouco, os integralistas não se apossaram do Brasil, nos anos 30. Sofremos o que sofremos sob a direita nacional, a partir de 1964. Essas lições dos anos 30 nos exigem acurada vigilância e a visão real do processo histórico. A direita está aí, firme, construindo sua vez e sua hora.

sábado, 27 de agosto de 2011

URÂNIO EMPOBRECIDO É UTILIZADO EM ARMAMENTOS

ESTARRECEDOR!
O portal na internet DIÁRIO LIBERDADE, da Galiza, denuncia em sua página a utilização do urânio empobrecido em armamentos, principalmente pela Grã Bretanha e Estados Unidos.

Entrevista realizada por Norbert Suchanek e Marcia Gomes de Oliveira, do Rio de Janeiro.

Urânio empobrecido: uma ameaça ainda desconhecida.


Com o processo de enriquecimento de urânio o Brasil está produzindo todo dia um lixo nuclear chamado urânio empobrecido (urânio-238). Entrevista com Damacio A. Lopez do Novo México (EUA), especialista em urânio-238 e seu uso em armas.

As armas e munições modernas feitas com urânio-238 representam um sério risco para os civis e seu uso vai contra vários princípios da lei internacional de direitos humanos. O Comitê de Direitos Humanos da ONU condenou estas armas radioativas, porque elas têm um efeito indiscriminado, com conseqüências a longo prazo para o meio ambiente e a saúde humana. Em abril deste ano, o Congresso da Costa Rica aprovou uma lei contra armas de urânio, tornando-se o segundo país no mundo, depois da Bélgica, com esta lei. Recentemente, a Presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, formalizou esta lei que proíbe o uso, comércio, trânsito, produção, distribuição e armazenamento de armas de urânio no território costarriquenho.

Entrevista com Damacio A. Lopez, Diretor Executivo do Grupo Internacional de Estudo sobre Urânio Empobrecido (IDUST), uma organização não-governamental de pesquisadores, ativistas, soldados, médicos e cientistas. Ele não foi apenas a força principal por trás da proibição na Costa Rica das armas de urânio. Lopez também é autor e co-autor de muitas obras respeitadas sobre o assunto, incluindo o livro "Friendly Fire, a Relação entre as Munições com Urânio Empobrecido e o Risco à Saúde Humana" e o documentário "Urânio 238", que em maio passado ganhou o Prêmio do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear, no Rio de Janeiro.

Norbert Suchanek: O que é o urânio empobrecido?

Damacio A. Lopez: resíduos radioativos produzidos pela indústria da energia nuclear.

N. S. Por que este urânio é usado em armas, bombas e munições?

Porque, sendo lixo, este material é de graça e a munição ou projétil de urânio atravessa os tanques, e qualquer colete, como numa manteiga. Quando entra no tanque, o projétil queima e desenvolve um calor tão alto que os soldados dentro do tanque são carbonizados imediatamente e o tanque explode.

N. S. Quais são os efeitos ou consequências do uso de armas U-238 para o meio ambiente e a saúde humana?

Estas munições criam uma poeira (como um gás) radioativa e tóxica que pode ser inalada ou ingerida.

Por isso os campos de batalha na Ex-Jugoslávia e no Iraque, onde já foram usadas estas armas modernas pelo Exército dos EUA e da OTAN, tornaram-se lugares radioativos ...

Qualquer campo de batalha onde DU (sigla para urânio empobrecido) é usado, torna-se contaminado por 4,5 bilhões de anos.

N. S. Quem é mais afetado?

Qualquer pessoa que entra em contato com DU será afetado negativamente.

N. S. Os soldados que usam esta arma ficam doentes também?

Os soldados são geralmente os primeiros a serem contaminados se dispararem a arma ou se forem o alvo. A poeira ou "gás" de urânio-238 queimado afeta os soldados dos dois lados e a população civil local também.

N. S. Quais são os países com armas de U-238?

Há mais de 18 países que possuem essas armas. Os EUA e a Grã-Bretanha usam esta arma regularmente. É difícil saber quais outros países já estão usando estas armas, porque os governos tratam isso como assunto secreto, já que seu uso pode representar uma violação das normas internacionais. Uma das razões porque sabemos sobre o uso destas armas pelos EUA e a Grã-Bretanha é o fato dos pesquisadores independentes terem entrado em zonas de guerra com contadores Giger e terem retirado amostras para análise. Eu fiz isso no Iraque, Kosovo e na Palestina. Mais tarde, a ONU enviou equipes para verificar estas descobertas de pesquisadores independentes.

N. S. Desde quando você luta contra urânio empobrecido?

Comecei este trabalho em 1985, quando eu descobri que as armas de urânio foram sendo testadas menos de dois quilômetros da minha casa. Os testes são feitos pela universidade New Mexico Institute of Mining and Technology (NMIMT), em Socorro, financiado pelo Estado do Novo México.

N. S. Sua missão é a proibição global das armas de urânio empobrecido? O banimento pelas Nações Unidas?

Correto! Meu objetivo é um tratado internacional que proíba estas armas.

A Bélgica foi o primeiro país que proibiu essas armas. Agora a Presidente da Costa Rica assinou também a proibição destas armas, que foi em grande parte o resultado de seu trabalho. Qual é o próximo passo?

Meu próximo passo é localizar mais um país interessado em proibir essas armas DU, e estarei feliz em ir a este país para ajudar na campanha contra elas.

N. S. O Senhor esteve recentemente no Rio de Janeiro participando do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear (Uranium Film Festival) , onde o documentário "Urânio 238: A Bomba suja do Pentágono", de Pablo Ortega ganhou o prêmio de melhor curta-metragem. Você acha que a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, poderia seguir a sua colega da Costa Rica?

Será maravilhoso o Brasil seguir o exemplo da Costa Rica.

Obrigado pela entrevista!

Damacio A. Lopez estará até 27 de agosto em Natal e Fortaleza, representando o filme "Urânio 238", nas Mostras Itinerantes do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear. Depois Damacio estará no Rio de Janeiro até 07 de setembro e estará disponível para outras entrevistas e palestras. Contato: info@uraniumfilmfestival.org

A foto mostra Damacio A. Lopez e David Rothauser, Diretor do filme Hibakusha, em frente à ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), onde informavam os deputados sobre seus objetivos, durante o Festival, Maio 2011. Foto crédito: Haroldo Mota

Mais informações sobre urânio empobrecido:

Norbert Suchanek e Marcia Gomes de Oliveira, Rio de Janeiro

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

OS MANOS DE ALÁ

Ana Maria Straube



Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo. No Brasil, sua expansão tem acontecido principalmente nas periferias das grandes cidades, por meio de homens e mulheres jovens, boa parte deles negros.

É dessa constatação que parte o documentário “Os manos de Alá”, dirigido pelo jornalista e documentarista Luiz Carlos Lucena. Em aproximadamente uma hora, o filme apresenta depoimentos de brasileiros que se tornaram muçulmanos pelas mais diversas razões. Alguns se aproximaram da religião por curiosidade, outros foram apresentados a ela por parentes. Em comum está a busca por paz de espírito e demais respostas encontradas por estes jovens no Corão, livro sagrado do Islã.

Lucena colheu os depoimentos que compõem o documentário em mesquitas espalhadas pela cidade de São Paulo e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. No começo do trabalho, foi recebido com desconfiança pelas pessoas que haviam tido experiências negativas em entrevistas para a imprensa comercial. Em São Paulo, o diretor visitou mesquitas na Praça da República, região central da cidade e no Brás.

São esses depoimentos que dão o tom do filme. O diretor optou por deixar os entrevistados livres para expressar suas crenças e opiniões, não recorrendo a recursos como narração ou mesmo procurando especialistas que fizessem análises acadêmicas do assunto.

Islã e hip hop

Um dos aspectos que mais chama a atenção no filme é a relação que diversos entrevistados estabelecem entre a religião e o hip hop, expressão artística da cultura negra que se apresenta em elementos como dança, música, grafite e poesia.

Segundo Lucena, essa aproximação entre dois mundos aparentemente opostos se deu a partir da busca pelo conhecimento, que é comum tanto ao hip hop e à religião islâmica. “Muitos artistas ligados ao rap são muçulmanos, especialmente nos Estados Unidos, e esses jovens começam a ouvir suas músicas, que contêm muitos conceitos ligados ao islamismo”, explica. Um exemplo é o DJ Afrika Bambaataa, figura de referência do hip hop e muçulmano.

A ligação entre o Islã e o movimento negro inclusive não é recente. Nos Estados Unidos, grandes ícones da luta por direitos civis e antirracista adotaram o Islã como religião, como Malcolm X e o boxeador Muhammad Ali. No Brasil, um episódio pouco conhecido é a Revolta dos Malês, movimento insurgente ocorrido na Bahia em 1835, capitaneado por escravos de religião islâmica que buscavam sua libertação.

Mulheres

Outro elemento interessante é a grande quantidade de mulheres que se tornam muçulmanas. Segundo estatísticas apresentadas por alguns entrevistados, entre dez pessoas que se convertem ao Islã, sete são mulheres. No documentário, diversas entrevistadas declaram que o estigma que cerca a religião muçulmana em relação ao papel subalterno das mulheres não corresponde à realidade. Os depoimentos ressaltam também a tolerância que existe em relação ao uso do véu.

Leia a seguir a entrevista completa com Luiz Carlos Lucena, diretor do filme “Os manos de Alá”

Como você se interessou pelo tema do filme “Os manos de Alá”?

Comecei a ler sobre o tema aos onze anos, ainda no colégio. O Corão sempre despertou minha curiosidade, as palavras em árabe também. Quando li uma reportagem sobre o crescimento do islamismo na periferia de São Paulo, achei que era um tema interessante para um documentário. Inscrevi o projeto em um edital do Ministério da Cultura, que financiaria documentários em rádio e fui aprovado. Aí aproveitei e fiz também o filme. O programa de rádio ganhou menção honrosa do Ministério.

O crescimento da religião islâmica no Brasil está restrito aos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, que são os que aparecem no filme?

Não somente. Há grupos em Curitiba, na Paraíba e em outros estados do Nordeste. No Rio Grande do Sul há uma grande produção de comida para o mercado islâmico e também muitas pessoas que praticam a religião.

Apesar do grande número de mulheres que optam pela religião islâmica, o filme mostra apenas homens nos espaços das mesquitas e rezando. Por que?

Os espaços para as rezas são diferentes para homens e mulheres, eles ficam separados para que as mulheres possam ter seus momentos para rezar. Eu não quis invadir esses espaços para filmar.

Boa parte dos entrevistados coloca que a religião islâmica é estigmatizada, mas declara nunca ter sofrido intolerância individualmente. Por que?

Acredito que a imprensa não agride pessoalmente. O que existe é mais curiosidade em relação à religião islâmica e não intolerância. O estigma existe em nível mundial, criado pela mídia, sobretudo americana.

E a que você credita essa relação estreita entre o islamismo e o hip hop que existe nas periferias brasileiras?

O hip hop tem forte conteúdo político, é uma expressão do movimento negro. O rap é música americana, politizada. Esses jovens começam a ouvir esse tipo de música e fazem a relação. O DJ Afrika Bambaataa, que é uma das referências do hip hop traz conceitos islâmicos em sua obra. O Islã prega a busca pelo conhecimento e o hip hop também.

Como será a distribuição do filme “Os manos de Alá”? Onde ele poderá ser assistido?

O filme será exibido em centros culturais, universidades e festivais. Estou inscrevendo em diversos festivais e a partir dos resultados pode ser que haja uma exibição no circuito comercial.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Na Palestina, movimentos organizam série de protestos por reconhecimento na ONU


Comitês de resistência popular reiteram que ações serão pacíficas
Baby Siqueira Abrão
de Ramallah

Os comitês de resistência popular já decidiram como serão as manifestações de apoio à proposta de reconhecimento do Estado da Palestina, a ser levada à Assembleia Geral da ONU, em setembro, pela Autoridade Nacional Palestina (ANP). Como haviam comentado nas últimas semanas, os comitês farão ações pacíficas, de acordo com a política de não violência adotada há mais de um século pelos movimentos sociais palestinos.

“Seguiremos o exemplo dos egípcios na Praça Tahir”, informou Abdallah Abu Rahmah, coordenador da ação na Palestina, em referência à mobilização popular que forçou a queda do ditador Hosni Mubarak. “Vamos nos reunir no centro das cidades e acampar até que a ONU vote o reconhecimento do nosso Estado, nas linhas anteriores a 1967.”

A ordem é evitar confrontos com o exército israelense. Por isso, estão previstas marchas em locais distantes dos postos de controle e das colônias judaicas. “Nosso objetivo é obter a vitória nas Nações Unidas, e não provocar um enfrentamento”, explica o coordenador. “Esperamos que os soldados entendam isso e não entrem nas cidades para atacar os manifestantes. Estamos exercendo um direito reconhecido pela legislação internacional.”

Essa revelação acaba com as especulações do governo israelense sobre as ações populares palestinas em setembro. Os serviços de segurança de Israel enviaram relatórios garantindo que as manifestações nos territórios ocupados seriam pacíficas, mas nem mesmo essa informação sossegou os sionistas. Eles gastaram 75 milhões de shekels (cerca de 21 milhões de dólares) na compra de armas e equipamentos para usar nos atos públicos de setembro. Na quarta-feira (17), o gabinete do primeiro ministro Benjamin Netanyhau anunciou uma reunião do Gabinete de Segurança, para discutir os possíveis cenários dentro dos territórios palestinos. “Eles se concentraram nas mobilizações populares que devem ocorrer na Cisjordânia”, informou uma fonte do governo.

Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, de extrema direita, anunciou à mídia que setembro seria um mês “violento e sangrento, numa escala nunca vista”. "Quanto mais a ANP fala que só vai operar no campo democrático, mais eu vejo preparações para violência e derramamento de sangue", afirmou a repórteres no Parlamento israelense, em 7 de agosto.

As fontes de informação do ministro, porém, parecem ter falhado. Caso as autoridades responsáveis pela segurança em Israel mantenham sua promessa, setembro será tranquilo. Elas declararam que somente agiriam caso os ativistas se aproximassem dos postos de controle e das estradas que levam às colônias, construídas por Israel em terras palestinas e consideradas ilegais pela Corte Internacional de Justiça, em parecer de 2007. A violência que o exército usou contra os pacifistas na Nakba e na Naksa, em maio e junho, provocou dezenas de mortos e centenas de feridos do lado palestino e foi condenada no mundo inteiro.

Ao lado dos palestinos, nas ações programadas para as 10 “cidades” ou regiões distritais dos territórios ocupados (Belém, Ramallah, Nablus, Jenin, Tubas/Salfit, Tulkaren, Qalqiliya, Hebron, Jericó e Gaza), estarão centenas de israelenses, tanto aqueles que há mais de seis anos acompanham as passeatas das sextas-feiras nas vilas da Cisjordânia como os que aderiram recentemente à causa palestina. Além disso, prevê-se uma grande manifestação em Tel Aviv, reunindo milhares de israelenses, em apoio ao Estado palestino dentro das fronteiras pré-1967 – quando Israel tomou Cisjordânia, Jerusalém e Gaza – e com a parte oriental de Jerusalém como capital.

Também serão realizadas ações pacíficas em várias cidades do mundo árabe, da Europa, dos Estados Unidos, da Austrália e da América Latina. Em São Paulo, um ato público está marcado para 20 de setembro na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, às 17h.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PÉS QUE SEDUZEM

Os pés sem cheiro trazem o odor da sedução.
O mesmo odor que pode nos trazer um pé ao traseiro
e nos levar rumo aonde ficam os pés que caminham,
bem próximo a um lugar sem pé, nefasto, o bueiro.
Os pés que seduzem e nos fazem aproximar, também sabem afastar.
É o odor da sedução, a eterna insegurança existente entre o desejar desesperadamente
e o não mais querer absoluto.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

AGÊNCIAS OCIDENTAIS ESCONDEM PARTE DA VERDADE

A agência iraniana IRNA informa que a Polônia vendia armas aos rebeldes líbios, claramente com o consentimento dos outros países integrantes da OTAN.
Isso evidencia que toda a ofensiva foi armada para o controle da Líbia, mais especificamente de suas riquezas que mais importam aos países de economia decadente: o petróleo. E isso ecoará favoravelmente nas próximas eleições, principalmente ao direitista Sarkozy, cercado por assessores de extrema direita.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NÃO ESCREVO COM A MESMA FLUIDEZ, MAS COM EXPERIÊNCIA

Eu me sinto em débito com os leitores deste blog, que sei que não são muitos. Sinto que já escrevi mais e melhor. Tenho que confessar que, hoje, falta tempo e um pouco de capacidade de percepção da minha parte.
Não quero me vitimizar, mas já tive mais aflorada a alma de escritor e a inteligência a ela relacionada. Escrevia com maior fluidez e pontuava com as palavras certas e precisas cada frase. A causa eu relaciono a um grave problema de saúde que tive há exatos 4 anos. Fiquei muito tempo sem oxigenação. Sequelas? Dizem que não tive, mas não tenho hoje a mesma capacidade de antes. Continuo a escrever, o que me dá prazer, mas percebo que já não tenho a mesma capacidade de emocionar, a mesma capacidade de discernir a verdade e a mentira de um só contexto e a mesma capacidade de síntese poética. Se hoje já não sou o mesmo, me resta a experiência e um pouco mais de sabedoria, que só o tempo nos dá e nada nos retira, de forma que tento compensar os textos sem tanta fluidez, mas com um pouco mais de palavras experientes.
O tempo nos retira muitas coisas e nos permite outras. Para compensar, hoje permito ousar os meus textos com um pouco mais da experiência que adquiri.
A você, o meu muito obrigado por compartilhar este espaço que é nosso.

domingo, 21 de agosto de 2011

DEPRESSÃO

Este é um dos vídeos-textos, ou textos em vídeo, mais bonitos que já produzi, ao menos na minha opinião. Eu o realizei em junho de 2007, logo após ter recebido alta de uma série de infartos no miocárdio.
O coração pode parar por vários motivos. E a depressão pode nos parar no tempo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O VENENO ESTÁ NA MESA

Um documentário do cineasta Sílvio Tendler promete ser bombástico. O Brasil é o campeão mundial no uso dos agrotóxicos, o que já está proibido nos Estados Unidos e até na China!
Veja a primeira parte do vídeo disponível no Youtube

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Inglaterra: Os saques reflectem uma sociedade governada pela pilhagem e pela ganância

Os distúrbios irromperam em várias partes do que é hoje a cidade mais desigual do mundo desenvolvido — onde a riqueza dos 10% mais ricos é 273 vezes maior do que a dos mais pobres.

Por Seumas Milne
Guardian.
Traduzido e publicado no site ESQUERDA.NET


David Cameron precisa dizer que a violência não tem causa, a não ser a criminalidade — ou ele e os seus amigos podem ser responsabilizados.

É essencial para os que têm poder na Inglaterra que os distúrbios que se espalham não tenham causa além da ferocidade maléfica dos envolvidos. Não é nada, mas “criminalidade pura e simples”, declarou David Cameron depois de reduzir as suas férias na Toscana. O presidente da Câmara de Londres e, como Cameron, ex-integrante do Clube Bullingdon [um grupo exclusivo da Universidade de Oxford], Boris Johnson, vaiado por londrinos hostis em Clapham Junction, alertou que os provocadores devem parar de ouvir as “justificativas económicas e sociológicas” (embora ele não tenha explicado quem as estava a dar) sobre o que estão a fazer.

Quando o seu predecessor Ken Livingstone ligou os ataques ao impacto dos cortes de orçamento, é como se ele tivesse largado fogo num prédio. O Daily Mail [tablóide britânico] gritou que culpar os cortes era “imoral e cínico”, e houve um eco dos entusiastas da repressão. Não havia nada a explicar, insistiram eles, e a única resposta deveria ser dada com balas de borracha, canhões de água e tropas na rua.

Ouviremos muito mais disso quando o Parlamento reunir — e não é difícil entender o motivo. Se estes distúrbios não têm causas políticas e sociais, então claramente nenhuma autoridade pode ser responsabilizada. E mais, com muita gente aterrorizada pelos distúrbios e frustrada com o fracasso da polícia, o governo tem a oportunidade de recuperar o equilíbrio apresentando-se como uma força em defesa da ordem social, com isso restaurando a sua credibilidade profundamente danificada.

Mas é uma posição que não faz sentido. Se a erupção desta semana é pura expressão da criminalidade e não tem nada a ver com violência policial ou desemprego de jovens ou a crescente desigualdade e o aprofundamento da crise económica, porque está a acontecer agora e não há uma década atrás? As classes criminosas, como os vitorianos se referiam àqueles à margem da sociedade, sempre estiveram connosco. E se não há relação com a divisão social selvagem da Inglaterra e os guetos da miséria, por que os distúrbios começaram em Haringey [um bairro pobre] e não em Henley [um bairro da elite]?

Acusar os que estabelecem estas ligações óbvias de ser apologistas ou “dar desculpas” para os ataques contra bombeiros ou pequenos comerciantes é igualmente tolice. Deixar de reconhecer as causas dos distúrbios é tornar mais provável que voltem a acontecer — e os ministros certamente não cometerão este erro a portas fechadas, se tiverem preocupação com seu próprio futuro político.

Aconteceu o mesmo quando distúrbios irromperam em Londres e Liverpool há trinta anos atrás, também resultado de um confronto entre a polícia e a comunidade negra, quando um governo conservador estava a promover cortes de investimento durante uma recessão. O povo de Brixton e Toxteth foi denunciado como criminoso e bandido, mas em algumas semanas Michael Heseltine [primeiro-ministro] estava a escrever um memorando privado para o gabinete, começando com “foi preciso uma revolta” e falando sobre a necessidade urgente de acções contra a pobreza urbana.

Desta vez, os distúrbios multiétnicos espalharam-se mais longe e mais rápido. Foram menos politizados e houve mais saques, a ponto de que em alguns bairros agarrar “coisas de graça” foi a principal acção. Mas não há mistério sobre a origem dos distúrbios. O gatilho foi a morte de um jovem negro pela polícia num país onde os negros têm 26 vezes mais chances de serem parados e revistados pela polícia que os brancos. Os distúrbios que explodiram em Tottenham no fim de semana seguinte aconteceram num bairro que tem a maior taxa de desemprego de Londres, onde os clubes de jovens foram fechados para atender a um corte de 75% no orçamento dos serviços para a juventude.
Depois os distúrbios irromperam em várias partes do que é hoje a cidade mais desigual do mundo desenvolvido — onde a riqueza dos 10% mais ricos é 273 vezes maior do que a dos mais pobres — atraindo jovens que tiveram as suas bolsas de estudo cortadas justamente no momento em que o desemprego de jovens atingiu um nível recorde e o acesso à universidade foi dificultado pela triplicação das propinas.

Agora os distúrbios se tornaram nacionais. Mas não é que o governo não esperasse por eles quando embarcou no seu programa irresponsável de encolher o estado. No Outono passado, a Associação dos Superintendentes de Polícia alertou sobre o perigo de cortar o número de polícias num momento em que eles seriam necessários para lidar com “tensão social” ou “desordem ampla”. Há menos de duas semanas, jovens de Tottenham diziam ao Guardian que esperavam por distúrbios.

Os políticos e os média dizem que nada disso tem a ver com adolescentes sociopatas que partem vitrinas de lojas para roubar plasmas e ténis. Mas onde exactamente é que os manifestantes foram buscar a ideia de que não há maior valor que a riqueza pessoal, ou que produtos de marca são a rota para a identidade e o autorespeito?

Enquanto os banqueiros publicamente pilharam a riqueza do país e não pagaram por isso, não é difícil descobrir o que levou os que ficaram de fora da festa a pensar que têm o direito de levar um telemóvel de uma loja. Alguns dos que se envolveram nos distúrbios tornaram a conexão explícita. “Os políticos dizem que pilhamos e roubamos, mas eles são os gangsters originais”, declarou um deles a um repórter. Outro explicou à BBC: “Estamos a mostrar aos ricos que podemos fazer o que quisermos”.
A maioria dos que participaram não têm nada a perder, numa sociedade que os empurrou para fora ou num modelo económico que se atolou na areia. Está claro que uma Inglaterra dividida não tem condições de absorver a austeridade agora adoptada, já que três décadas de capitalismo neoliberal destruíram todas as relações sociais de trabalho e comunidade.

O que agora vemos em cidades da Inglaterra são reflexos de uma sociedade governada pela ganância — e o fracasso venenoso da política e da solidariedade social. Existe agora o perigo de que os distúrbios alimentem o conflito étnico. Enquanto isso, a fase mais recente da crise económica que pula entre os Estados Unidos e a Europa ameaça lançar a Inglaterra na recessão ou na prolongada estagnação económica. Estamos a começar a ver os efeitos devastadores da recusa de mudar de rumo.

Artigo de Seumas Milne, jornalista e colunista do jornal britânico Guardian. Tradução de viomundo.com.br

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

ÍNDIO, INDIANO, AMERICANO, ESTADUNIDENSE. QUANTA CONFUSÃO!

Quando Cabral descobriu o Brasil pensou que estivesse na Índia. Por isso os nossos nativos foram chamados de índios... Mas tenho que fazer uma observação. Quem nasce na Índia não é hindu ou índio, mas indiano, está certo?
Por outro lado, quem nasce nos Estados Unidos é tão americano quanto quem nasceu em Cuba, Venezuela ou Brasil. Por isso, não os chame de americanos. O certo é dizer estadunidense. Embora pareça uma discriminação utilizada pela esquerda mundial, é a denominação correta.
Se você for à Europa, os europeus se sentirão constrangidos de chamar os estadunidenses de americanos, mas nós, por incrível que pareça, que também somos americanos, pois nascemos no continente americano, não ligamos e achamos correto...
Quanta confusão. E por detrás se esconde uma pitada de condescendência imperialista.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

AMORIM E OS EUA

A Revista Carta Capital publica em sua página uma matéria de duas jornalistas investigativas: AMORIM E OS EUA, revelando o que os EUA achavam e acham do ministro da Defesa, Celso Amorim, um brasileiro digno que sempre se pautou pela independência do Brasil nas relações internacionais.

CARTA CAPITAL
Marina Amaral e Natalia Viana

Aos olhos do serviço diplomático dos Estados Unidos, em especial durante a era Bush, a posição independente do Ministério das Relações Exteriores, capitaneado por Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, parecia uma constante provocação. Nos telegramas vazados pelo WikiLeaks, o MRE é acusado de dificultar as relações bilaterais por suas “inclinações antiamericanas”, definidas por um ministro “nacionalista” e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães), e secundado por um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia), conselheiro de política externa do presidente Lula.

“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava o embaixador John Danilovich, em novembro de 2004.

Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou convencer Amorim da ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava à região. A resposta “clara” e “seca” do chanceler desapontou o americano: “Nós não vemos Chávez como uma ameaça. Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”. E cortou o assunto.

O sucessor de Danilovich, Clifford Sobel, teve mais sorte. O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim era interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE, em especial com Pinheiro Guimarães. Tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em proveito próprio, como revelam os telegramas.

Em fevereiro de 2009, já com Obama na Presidência dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três informes, sugerindo formas de contornar o triunvirato “esquerdista” da política externa brasileira. O jeito, afirma, seria fazer aliança com o setor privado, que tem “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo” e tentar uma aproximação direta com Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.

Uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência para o Brasil dos 30 agentes da DEA, a agência americana de combate às drogas, expulsos da Bolívia por Evo Morales no fim de 2008. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o ministro da Justiça (Tarso Genro)”, gaba-se.

O segundo telegrama foca os minguados recursos humanos e financeiros do Itamaraty, apresentando-os como oportunidade para os Estados Unidos. Muitos cargos diplomáticos estavam sendo preenchidos por “trainees e terceiros-secretários” por falta de pessoal para as novas embaixadas brasileiras, observa o embaixador americano, acrescentando que seria “crucial influenciar essa nova geração”.

“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship, e agora têm um diplomata trabalhando no Departamento Europeu do Itamaraty. Uma proposta similar seria válida para conseguir um posto que nos permita observar de dentro esse ministério-chave e mostrar como os Estados Unidos executam sua política externa”, sugere.

No terceiro telegrama, Sobel afirma que, embora o MRE continuasse a ser o líder incontestável da política externa brasileira, o crescimento internacional tendia a erodir seu controle. Apesar da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros, alguns ministérios como o do Meio Ambiente e, principalmente, o da Defesa estabeleceram relações diretas com a embaixada norte-americana em Brasília, relata.

Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático da eficiência dessa estratégia. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim pretendia contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente através do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado pela União Sul-Americana de Nações (Unasul). “Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países sem passar pelo MRE”, escreve, acrescentando que o então ministro da Defesa estaria disposto a envolver os militares no combate ao tráfico nas fronteiras brasileiras. “O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro”, comenta.

Também durante as tratativas frustradas de compra dos caças, Jobim e os líderes militares agiram longe do Itamaraty, como mostram os cerca de 50 telegramas sobre o tema. Em um deles, Sobel relata a visita da comitiva presidencial à França e comenta, com ironia, as reportagens da imprensa brasileira que afirmam o apoio de Lula, Amorim e Jobim à aquisição dos caças Rafale: “Talvez isso seja mais um marriage blanc do que amour veritable”, diz. E explica: “Nos encontros privados com o embaixador, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é o Ministério das Relações Exteriores”.

Sobel também se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” sobre as chances de os caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. Ficou entusiasmado com o resultado: “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito”, relata em telegrama de janeiro de 2009.

O embaixador também obteve “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington), que “permite planejar os próximos passos para os Estados Unidos vencerem a negociação”. Além de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha, o documento informa que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se houvesse “a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.

À luz dos telegramas do WikiLeaks, o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela FAB ao ministro Jobim, colocando a aeronave sueca como melhor opção, exatamente por causa dos custos, traz novas indagações. O Rafale francês foi classificado em terceiro lugar, atrás dos caças americanos, esse sim apontado como o de melhor tecnologia. Mas não era o preço que importava, não é?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Craqueiras e craqueiros

Abaixo transcrevo um texto de um médico corajoso, Dráuzio Varella. Mesmo sendo humanista, não tem medo de defender a internação compulsória de craqueiros. É a forma de salvar o que resta da vida. É por isso e por outras lições que sou fã desse médico íntegro e corajoso. Abaixo o texto publicado em sua página oficial

DR. DRÁUZIO VARELLA
de sua página oficial

A contragosto, sou daqueles a favor da internação compulsória dos dependentes de crack.


Peço a você, leitor apressado, que me deixe explicar, antes de me xingar de fascista, de me acusar de defensor dos hospícios medievais, ou de se referir à minha progenitora sem o devido respeito.

A epidemia de crack partiu dos grandes centros urbanos e chegou às cidades pequenas; difícil encontrar um lugarejo livre dessa praga. Embora todos concordem que é preciso combatê-la, até aqui fomos incapazes de elaborar uma estratégia nacional destinada a recuperar os usuários para reintegrá-los à sociedade.

De acordo com a legislação atual, o dependente só pode ser internado por iniciativa própria. Tudo bem, parece democrático respeitar a vontade do cidadão que prefere viver na rua do que ser levado para onde não deseja ir. No caso de quem fuma crack, no entanto, o que parece certo talvez não o seja.

No crack, como em outras drogas inaladas, a absorção no interior dos alvéolos pulmonares é muito rápida: do cachimbo ao cérebro, a cocaína tragada leva seis a dez segundos. Essa ação quase instantânea provoca uma onda de prazer avassalador, mas de curta duração, combinação de características que aprisiona o usuário nas garras do traficante.

Como a repetição do uso de qualquer droga psicoativa induz tolerância, o barato se torna cada vez menos intenso e mais fugaz. Paradoxalmente, entretanto, os circuitos cerebrais que nos incitam a buscar as sensações agradáveis que o corpo já experimentou permanecem ativados, instigando o usuário a fumar a pedra seguinte, mesmo que a recompensa seja ínfima. Mesmo que desperte a paranoia persecutória de imaginar que os inimigos entrarão por baixo da porta.

A simples visão da droga enlouquece o dependente: o coração dispara, as mãos congelam, os intestinos se contorcem em cólicas e a ansiedade toma o corpo inteiro; podem surgir náuseas, vômitos e diarreia.

Quebrar essa sequência perversa de eventos neuroquímicos não é tão difícil: basta manter o usuário longe da droga, dos locais em que ele a consumia e do contato com pessoas sob o efeito dela. A cocaína não tem o poder de adição que muitos supõem, não é como o cigarro cuja abstinência leva o fumante ao desespero, esteja onde estiver.

Vale a pena chegar perto de uma cracolândia para entender como é primária a ideia de que o craqueiro pode decidir, em sã consciência, o melhor caminho para a sua vida. Com o crack ao alcance da mão, ele é um farrapo automatizado sem outro desejo senão o de conseguir mais uma pedra.

Veja a hipocrisia: não podemos interná-lo contra a vontade, mas devemos mandá-lo para a cadeia assim que roubar o primeiro transeunte.
A facção que domina a maioria dos presídios de São Paulo proíbe o uso de crack: prejudica os negócios. O preso que for surpreendido fumando apanha de pau; aquele que traficar morre. Com leis tão persuasivas, o crack foi banido: craqueiras e craqueiros presos que se curem da dependência por conta própria.

Não seria mais sensato construirmos clínicas pelo País inteiro com pessoal treinado para lidar com dependentes? Não sairia mais em conta do que arcar com os custos materiais e sociais da epidemia?

É claro que não sou ingênuo a ponto de acreditar que ao sair desses centros de tratamento o ex-usuário se tornaria cidadão exemplar; a doença é recidivante. Mas, pelo menos, ele teria uma chance. E se continuasse na cracolândia?
E se, ao receber alta, contasse com apoio psicológico e oferta de um trabalho decente, desde que se mantivesse de cara limpa documentada por exames periódicos rigorosos, não aumentaria a probabilidade de permanecer em abstinência?

Países como a Suíça, que permitiam o uso livre de drogas em espaços públicos, abandonaram a prática, ao perceber que a mortalidade aumenta. Nós convivemos com cracolândias a céu aberto sem poder internar seus habitantes para tratá-los, mas exigimos que a polícia os prenda quando nos incomodam. Existe estratégia mais estúpida?

Faço uma pergunta a você, leitor, que discordou de tudo o que acabo de dizer: se fosse seu filho, você o deixaria de cobertorzinho nas costas dormindo na sarjeta?

domingo, 14 de agosto de 2011

A GOTA

Já me chamei de pingo. Um pingo que sozinho nada muda, mas que em conjunto com outros pingos ajuda a transbordar, inundar e até a mudar a realidade.
Um pingo que não é no i, que não aponta, mas um pingo no jota, que não aparece, mas está lá, fazendo alguma diferença, ainda que de forma bem limitada.
Um ponto que não põe fim à sentença, mas que se perde no meio da frase.
Alguém que não é tudo, mas que se liga ao todo, como toda gota que corre em direção às outras. Poderia ser a gota d' água, mas sou apenas mais uma gota, mais um pingo, mais um ponto no meio de tantos.

sábado, 13 de agosto de 2011

QUALIDADE NA TV CULTURA

A TV Cultura já foi considerada a possuidora da melhor qualidade de programação de todas as redes de televisão brasileira. De um tempo para cá, devido a crise orçamentária, teve o declínio de sua programação. Quem não se lembra do Castelo Ratimbum, um sucesso entre a criançada?
Bem, hoje ela apresenta a Mostra Internacional de Cinema na TV, o Jornal da Cultura com uma qualidade diferenciada e desenhos infantis de grande qualidade. É o retorno da TV Cultura à programação de qualidade. Dê uma olhada na TV e no site: http://tvcultura.cmais.com.br/

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CAMPANHA DA LEGALIDADE - 1961

Você verá abaixo um documentário sobre a Campanha da Legalidade, visando garantir a posse de Jango logo após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Foi feito pelo PDT, sucessor do PTB à época.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

UMA MULHER DEFENSORA DOS DIREITOS HUMANOS NO STF

Considerando-se que há nomes de mulhereres consagradas na luta pelos direitos humanos na lista de candidatas à vaga de ministra do STF, repito aqui um texto que publiquei no dia 15/09/2010

O Supremo Tribunal Federal é a mais alta Corte jurídica do país. É nesse órgão que são decididas as grandes questões nacionais, as grandes causas e os grandes impasses jurídicos.

O STF, como é chamado no dia-a-dia de quem milita no direito, é composto por 11 Ministros, todos indicados pelo Presidente da República. Os requisitos básicos para os candidatos a compor o Supremo Palácio da Justiça são ter notório saber jurídico e conduta ilibada, além da idade mínima.

Há grandes nomes, juristas de peso, que compõem o Tribunal. Disso ninguém tem dúvidas, mas falta um tipo específico. Falta alguém profundamente ligado aos Direitos Humanos. Alguém que tenha tido uma militância combativa e que tenha grande conhecimento teórico. Em um país com tanta injustiça social, com um salário mínimo para lá de indigno, com um passado não muito remoto de ditadura e de infinitas atrocidades, com o desprezo de culturas nativas, e um verdadeiro oceano de oportunidades para os assassinatos de parte da população por esquadrões da morte, torna-se necessário ou, mais exatamente, de rigor, a indicação de alguém com o perfil de defensor dos direitos humanos, seja para arejar os demais Ministros componentes da mais alta esfera judiciária nacional, seja para nortear algumas decisões, seja para permitir, de vez, que o Brasil ingresse em um mundo mais próspero em respeitabilidade das diferenças, dos direitos fundamentais e da valorização de princípios muito caros à nossa sociedade.

Precisamos dos direitos humanos no nosso dia a dia, mas também de sua aplicação em decisões que versem sobre tortura, saúde, educação, infância e juventude, idosos, discriminação racial ou religiosa.

Se hoje o Brasil é membro dos BRICSs e pretende ocupar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, tem o dever de assegurar nas decisões da mais alta Corte de Justiça do país os princípios basilares que assegurem um Brasil menos injusto, menos indigno e menos segregador.

Afinal, o respeito aos Direitos Humanos é o básico do direito, como qualquer estudante primeiro-anista tem conhecimento. De nada adianta, portanto, termos grandes decisões sobre células-tronco e direito aeroespacial se não tratarmos o básico, o elementar, os direitos humanos de todos nós.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

MAIS UMA LIÇÃO QUE VEM DO SUL

Em um dos Estados cuja população é mais politizada, o Rio Grande do Sul, uma empresa de mídia divulga uma página sobre direitos humanos e sociais (clique e veja: RBS), mas e no resto do Brasil?
Daí a pergunta que não quer calar: a imprensa acha que pode não ter compromissos com esses direitos elementares?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

IKIRA BARU

Esse é o nome de uma cantora colombiana que promete fazer muito sucesso devido à sua voz macia e seu rosto para lá de belo. Veja a sua página no youtube, com várias de suas canções, clicando aqui.
Veja sua versão de "Besame mucho": http://www.youtube.com/watch?v=U1WZEV2tZXw

domingo, 7 de agosto de 2011

ENSINANDO A ECONOMIZAR NOS ESTADOS UNIDOS

Vila Sésamo, vocês se lembram?
Pois é, em época de superaquecimento global, de desaquecimento econômico mundial e de crise financeira, os seus personagens ensinam crianças estadunidenses a economizar.
Sim, o país mais gastão do mundo está mudando! O capitalismo está entrando em sua quarta significativa mundaça. 

Dica do OPERAMUNDI.

sábado, 6 de agosto de 2011

A HUMANIDADE NÃO É ASSIM TÃO SÉRIA...

Você já deve conhecer a velha piadinha de que os franceses só criaram os melhores perfumes porque tomam banho uma ou duas vezes por semana, e precisavam esconder os maus odores. É, essa é a realidade européia. Talvez o frio ou o costume leve esse povo a não tomar banho da forma a que estamos acostumados.
Quando os árabes invadiram a Europa, há quase 1.500 anos, levaram consigo o hábito de tomar banho diariamente, o que foi incutido no modo de vida dos espanhóis e portugueses, que são verdadeiras exceções ao hábito de economizar água da moda mais horrenda que existe (não tomando banho).
É a história ensina e nos traz elementos para dar bons sorrisos. Quem diria que os maiores impérios, como o francês e o inglês, era dominado por pessoas que não tomavam banho diariamente... Enfim, a humanidade não é tão séria quanto parece, ainda bem!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis"


O Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios económicos à saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.

Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.

A investigação pode ser planeada?

Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pelas Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.

Parece uma boa política.

Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada ...

E não é assim?

Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.

Como nasceu?

A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.

Uma aventura.

Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.

Foi cientificamente produtivo?

Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.

O que descobriu?

Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de introns no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).

Para que serviu?

Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.

Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de saúde... Eu tenho as minhas reservas.

Entendo.

A investigação sobre a saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.

Explique.

A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais ...

Como qualquer outra indústria.

É que não é qUalquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.

Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.

Por exemplo...

Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença ...
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.

Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam.

É por isso que lhe dizia que a saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.

Um exemplo de tais abusos?

Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.

Não fala sobre o Terceiro Mundo?

Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.

Os políticos não intervêm?

Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.

Há de tudo.

Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…

Publicado originalmente no La Vanguardia. Retirado de Outra Política

Tradução de Ana Bárbara Pedrosa para o Esquerda.net

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Revista Sobre Intolerância

Dê uma olhada na revista Intolerância, da USP, com artigos interessantes sobre intolerância e direitos humanos. Clique aqui para acessar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O RISCO DE UMA ESPANHA CONSERVADORA

Um dos pouquíssimos países na Europa que atualmente privilegiam o humanismo em detrimento de questões fascistas, corre o risco de migrar para a direita nas próximas eleições. Trata-se da Espanha, governada atualmente pelo Partido Socialista Operário da Espanha, do primeiro-ministro Zapatero.

Nestes últimos anos, a Espanha teve progressos fantásticos no que toca aos direitos civis, como o reconhecimento ao direito ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo, e no plano internacional adquiriu uma visão mais humanista e menos pró-imperialismo. Porém, o Partido Popular, resquício da ditadura de Franco, vem tramando contra. Governantes locais e candidatos a governos de regiões têm adotado postura verdadeiramente fascista, como têm apontado o jornal espanhol El Pais e o site brasileiro Opera Mundi. Clique nos títulos abaixo para ter acesso às matérias nas páginas originais.




Os exemplos acima demonstram uma Espanha conservadora que se alinha à Áustria, Itália e França, numa visão preconceituosa, discriminatória e fascista. É um perigo para o mundo que a Europa esteja beligerante e racista. Não é demais lembrar que crise econômica associada a um nacionalismo beligerante e racista pode dar início a um conflito armado, no caso, à terceira guerra mundial.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

CRISE ECONÔMICA E ARMAS APONTAM PARA UMA POSSÍVEL GUERRA MUNDIAL

Tenho que começar esse texto com uma afirmativa que poderá gerar medo em alguns, mas que é fato: os blocos de países que vivenciam mais de perto a crise econômica são aqueles que detêm o maior poderio bélico da atualidade.
E crise econômica misturada a poderio armamentista deve gerar receio em qualquer pessoa de bom senso, sim. São duas bombas misturadas e cujo resultado já podemos imaginar: o risco de uma nova guerra mundial.

Basta ver a história de quase 80 anos atrás, com a Alemanha, a Itália e o Japão, em crise, sedentos pelo crescimento econômico. Esses países culpavam os estrangeiros, e alguns deles os judeus e ciganos, pela crise financeira. Deu no que deu. Uma guerra sangrenta com dezenas de milhões de mortos, a maioria de soviéticos, e o holocausto.
Hoje temos os Estados Unidos com um déficit enorme, uma dívida estrondosa e uma incapacidade de criar empregos em seu próprio território. O retorno das fábricas do exterior, em especial da China, de certo criaria milhões de empregos, mas não garantiria a exportação dos produtos que sairiam muito mais caro, principalmente, segundo dizem os economistas, pelo alto custo da produção nos EUA.
As guerras, garantidoras do acesso à energia para a produção, não podem mais ser tão fomentadas individualmente como no Iraque. Faltam recursos.
Um novo tipo de guerra está à vista, aquela que se utiliza de uma força militar comum onde são repartidos os custos entre os países, justamente aqueles que vivenciam essa grave crise econômica. É o caso da OTAN, essa força bélica que já teve experiências nos Bálcãs, no Afeganistão e hoje está voltada à Líbia. A OTAN reúne um potencial bélico de causar medo nos demais países.
Rùssia e China assistem assustados, mas não barraram as ações da OTAN, a não ser na Síria, onde rejeitaram qualquer proposta de intervenção naquele país árabe.
Índia, China e Rússia deveriam precaver-se, e segundo consta já estão, inclusive com treinos comuns de suas forças militares.
Integrantes do grupo denominado BRICS, são países com prosperidade econômica, poderio bélico considerável e detentores de ogivas nucleares. Ao lado dos países detentores de riquezas naturais e minerais imprescindíveis para a atualidade, como florestas, água, gás e petróleo, são alvos de potenciais ataques de países economicamente decadentes.
O Brasil integra os BRICSs, assim como a África do Sul, mas não são países militarmente fortes. De todos os BRICS, o Brasil é o país que reúne as condições mais precisas para sofrer um primeiro ataque estrangeiro, pois possui largas fontes de água potável, tem muito petróleo e a maior reserva de floresta do planeta (a Amazônia brasileira).  E é um país que cresce rápido, também graças ao investimento de grupos de investidores estrangeiros, que lucram investindo no mercado brasileiro.
Os militares brasileiros já sabem disso há anos, talvez décadas, e montaram aquilo que se chama de força de resistência. Não possuimos capacidade forte de dissuasão, de gerar medo em quem ataca, que ocorre com o país que ostenta a detenção de ogivas nucleares, mas o fato é que teriamos condições de retardar uma invasão territorial. Acontecendo esta, o Brasil sairia em vantagem, pois há milhares de militares treinados para o combate ao estilo guerrilha por todo o país, algo que pode ser considerada uma especialidade brasileira, exportada para o mundo, em especial para as forças armadas colombianas no combate ao narcotráfico.
Saindo do nosso território e avançando no aspecto global, já é possível antever aonde se situariam os países. Dificilmente um país europeu deixaria de apoiar países mais radicais, até pela proximidade territorial e medo de retaliação e invasão.
Hoje o cenário político europeu é dominado por partidos de centro-direita e de direita que têm um discurso quase que uníssono ao culpar os estrangeiros pela crise econômica, com especial ódio aos latino-americanos, ciganos, árabes e muçulmanos.
O que ocorreu há dias na Noruega pode voltar a repetir-se em qualquer outro canto da Europa. Vide os comentários estapafúrdios de um representante da Liga do Norte, um partido de direita italiano, apoiando as ideias (não as ações) do norueguês frio e calculista que matou compatriotas.
A extrema direita, o neofascismo e o neonazismo estão ativos, proliferam-se em manifestações na internet e nas urna, e são um perigo em potencial à humanidade.
Os Estados Unidos, que tiveram um papel fundamental, ao lado da União Soviética, para barrar as forças nazistas, hoje estão mais conservadores. Vide o Tea Party e as intervenções de inteligência e bélicas havidas nos mais diversos países nos últimos anos. E, em grave crise econômica, tornaram-se alvo fácil dos direitistas radicais, do fundamentalismo cristão ou não.
Para evitar uma disseminação de ideias contra latinos, islâmicos, árabes e ciganos é preciso que a ONU, através da maioria de países que ainda adotam atitudes moderadas, se posicione.
A França já proibiu as vestes islâmicas em escolas e locais públicos. A Alemanha e outros países vetam o ingresso da Turquia na chamada Zona do Euro. Os discurso antiislâmico avança também na Finlândia, Noruega, Bélgica, Áustria, Itália, Espanha...
Os gregos, os portugueses e os irlandeses que não se esqueçam de que os alvos sequenciais aos árabes, islâmicos, latino-americanos e ciganos, são eles mesmos, europeus, mas pobres.
Vivenciamos uma fase que demonstra que o mundo está cada vez mais perigoso e injusto.
O Brasil que se previna rapidamente!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Informe revela que a cada ano 20 mil crianças são exploradas sexualmente


Camila Queiroz *
Mais de 20 mil crianças mexicanas são vítimas, anualmente, da exploração sexual originada pelo tráfico de pessoas. Os adultos também não estão imunes: apenas no Distrito Federal, cerca de 10 mil mulheres são exploradas sexualmente. Os dados constam no "Informe do Observatório contra o Tráfico de Pessoas com fins de Exploração Sexual no Distrito Federal", apresentado ontem (25), no México.

De acordo com o relatório, o turismo sexual infantil mexicano está crescendo em cidades turísticas como Acapulco e Cancún e em cidades fronteiriças como Tijuana e Ciudad Juárez. Os locais com maior índice do delito são Distrito Federal, Baixa Califórnia, Chiapas, Guerrero, Oaxaca, Chihuahua, Tlaxcala e Quintana Roo.

A situação rendeu ao México catalogação como fonte, trânsito e destino para o tráfico de pessoas visando à exploração sexual comercial e o trabalho forçado, revelou o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Distrito Federal (CDHDF), Luis González Placencia, citando o Escritório das Nações Unidas para o Controle de Drogas e a Prevenção do Delito e o Informe de Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

González afirmou que os grupos mais vulneráveis ao tráfico de pessoas são mulheres, crianças, indígenas e imigrantes ilegais. Acrescentou ainda que os imigrantes provêm, principalmente, da Guatemala, Honduras e El Salvador - entre 2005 e 2008, detectou-se 300 casos de tráfico de pessoas, vitimando 22 imigrantes.

Na outra ponta do ciclo da exploração, estão os principais "clientes" do turismo sexual, oriundos dos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental.

"O tráfico de pessoas constitui o segundo delito mais importante desde a perspectiva da criminalidade organizada, daí que seja da maior relevância que se preste atenção a este fenômeno para que seja abatido", declarou.

González Placencia afirmou que, segundo o Diagnóstico Ferramenta de Avaliação de Tráfico de Seres Humanos, realizado no México, há 47 bandos no país dedicados ao tráfico de pessoas para exploração sexual e do trabalho.

Dentre os fatores que impedem o combate ao crime, o presidente citou a falta de dados oficiais e confiáveis, que deixem entrever o tamanho do problema, e a não garantia de acesso à justiça e políticas públicas de atenção às vítimas. Sobre isso, ressaltou a necessidade de analisar, por meio de um trabalho de campo, todos os atores do sistema: vítimas, exploradores e clientes.

O pesquisador do Observatório, Oscar Montiel Torres, explicou que a dificuldade em erradicar esse sistema consiste na capacidade de adaptação e camuflagem dos envolvidos. Ele também fez críticas ao Programa Nacional para Prevenir e Sancionar o Tráfico de Pessoas, argumentando que a política não conta com um enfoque integral do fenômeno, nem com uma perspectiva de gênero e antidiscriminatória. Na opinião do pesquisador, é necessário se apropriar de instrumentos do direito internacional que caracterizam o tráfico de pessoas como conduta criminosa e passível de punição.

Impunidade

Apesar do número de casos de tráfico de pessoas, em 2010, apenas 40 foram investigados pela Procuradoria do Distrito Federal, e, destes, o Tribunal Superior de Justiça do Distrito Federal ditou apenas três sentenças condenatórias pelo delito.

Foram apresentadas seis investigações prévias pelo crime de Exploração Sexual Comercial Infantil (ESCI) e quatro pessoas foram condenadas.

* Jornalista da ADITAL

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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