As guerras mutilam
corpos, separam famílias e países. Foi assim com a guerra da Coreia, que
resultou em 2 milhões de mortos e a dividiu em dois países, Coreia do Sul e Coreia
do Norte.
A Alemanha também foi
dividida logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, que deixou a marca de 80
milhões de mortos, dos quais 2 mil eram brasileiros.
A Guerra de Secessão
deixou quase 1 milhão de mortos nos Estados Unidos e dividiu o sul conservador
e o norte liberal em um mesmo país, repleto de radicalismo, avanços e
retrocessos.
Esses países superaram os
traumas e se reergueram economicamente poucos anos após o fim das guerras.
Mas os números de mortos
não param aí. A humanidade passou por muitas outras guerras. Citaremos algumas
apenas exemplificativamente, dentre as quais a Primeira Guerra Mundial, que deixou
30 milhões de mortos e, na América do Sul, a Guerra do Paraguai, que dizimou
esse pequeno país, deixou 450 mil mortos ao longo de 6 anos, dos quais menos de
60 mil eram brasileiros. Era, até meados desse ano, a maior marca de
brasileiros mortos em uma guerra.
Todos os números citados,
sejam altíssimos ou não, deveriam assustar, pois estamos tratando de vidas
humanas.
Mas o que houve em comum
nessas guerras? Além da barbárie, foi o confronto militar entre países e o rápido
reerguimento econômico de muitas das Nações, através da solidariedade e da
visão de Nação.
No entanto, a guerra mais
sangrenta que o Brasil enfrentou e ainda enfrenta não foi contra um país
estrangeiro, mas contra um vírus e em pleno território nacional. Sem um
Ministro da Saúde, mas com um general da ativa como ministro interino da Saúde,
o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil brasileiros mortos em apenas 5 meses e
ocupa a vergonhosa e triste segunda colocação no mundo em número de perdas de
vidas para a pandemia do novo coronavírus.
Sem uma preocupação
efetiva com a pandemia, tratando-a como se fosse uma simples gripe e usando a
fé e um medicamento sem eficácia comprovada para a cura, o governo federal demonstrou
a sua incompetência para o combate a essa doença, na verdade pandemia, que
retirou a vida de mais de cem mil brasileiros e o trabalho e oportunidade de
empreender de dezenas de milhões de nacionais. As saúdes física e mental, além
da econômica dos brasileiros, foi tratada de uma forma absolutamente inepta e incompetente.
Foi a falta de
compromisso e de seriedade do governo federal e dos militares que o integram e
de muitos governos Estaduais e Municipais que permitiu que o Brasil sofresse
esse verdadeiro massacre. Não foi uma derrota. Foi uma aniquilação. Não houve uma
luta, mas quase uma rendição ao inimigo.
Países muito mais
populosos sofreram baixas muito inferiores. Países africanos, asiáticos e até
sul americanos mais pobres conseguiram minimizar ou até zerar o número de
mortos.
Mas por aqui a
incompetência e demagogia do governo federal e também o oportunismo de vários entes
federados permitiu a maior matança de brasileiros que já se viu e ouviu falar.
Um “lockdown” ou confinamento
sério por 20 dias poderia ser suficiente para minimizar os danos dessa horrenda
pandemia, mas não. A maior parte de nossas autoridades preferiu optar por
medidas brandas de combate, que além de se demonstrarem parcialmente
ineficientes, foram prolongadas ao longo do tempo, afetando assim, além das
vítimas humanas, mas também de forma grave, a própria economia brasileira. Como
hoje pode ser visto claramente por todos, os resultados poderiam ter sido,
emocional e financeiramente, muito menos impactantes.
Mas não se pode deixar de
consignar que, como se estivessem embriagados por um discurso ufanista, muitos “cidadãos”
brasileiros deixaram de adotar as cautelas mínimas necessárias para evitar o
contágio e a transmissão dessa doença e que muitos, até hoje, repudiam o uso
das máscaras como medida de prevenção.
A irresponsabilidade
desses brasileiros, principalmente de nossos governantes. será cobrada pela
história. E os familiares dos brasileiros mortos na luta contra a pandemia um
dia poderão ver assegurado, perante a Justiça brasileira, o direito à indenização,
em razão da ineficiência e incompetência de muitos dos governos dos nossos entes
federados.
Não há como não observar
que nessa guerra, além de sofrermos com mais de cem mil mortos, ainda perdemos
em todas as outras frentes. Fomos humilhados. Os nossos heróis foram aqueles
que lutaram de forma silenciosa e permitiram condições dignas de combate
àqueles grandes heróis que estiveram na linha de frente na guerra ao COVID-19.
Superamos a morte de
brasileiros havida na guerra do Paraguai e estamos próximos de deixar
registrado perante o mundo a incompetência de governantes e a irresponsabilidade
de parcela do nosso povo.
Esse momento é de dor,
mas também deve ser de solidariedade aos brasileiros acometidos pela doença,
aos que se encontram adoentados e hospitalizados e aos familiares dos
brasileiros mortos pela incompetência do governo no combate a essa pandemia.
Que o Brasil saia mais
forte após a pandemia e que os brasileiros saiam mais conscientes do que é
cidadania, abandonando a visão extremamente individualista de sobrevivência e
de bem estar, tão características do jeitinho de levar vantagem em tudo.
Que a solidariedade e ações
de cidadania, tão exigidas no enfrentamento a essa triste pandemia e reveladas
às claras como nossa maior arma pela sobrevivência, contagiem nossas almas e permitam
a mudança efetiva de nós brasileiros para melhor, permitindo um progresso
humano, espiritual e econômico.
Que a morte de nossos
irmãos brasileiros não se revele ter sido em vão. Que mudemos por eles e em
homenagem a eles, bem como aos pequeninos brasileirinhos que por aqui já se
encontram ou que em breve integrarão a nossa Nação.