terça-feira, 31 de agosto de 2010

QUANDO PARAR DE PENSAR SE TORNA NECESSÁRIO PARA PODER VIVER

Às vezes é melhor não compreender e dessa forma evitar uma cicatrização ainda mais difícil.

É preferível olhar e ver o tempo passar. Entender as dores? Não, não é necessário. Não cicatrizarão dessa maneira, mas apenas com o sopro lento do tempo. A compreensão não ameniza o sofrimento; apenas faz aumentar as dores. Há horas que é necessário parar de pensar, analisar e compreender. Há momentos em que se precisa viver, algo muito diferente da racionalidade que permeia nosso dia-a-dia.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MEU POSICIONAMENTO POLÍTICO?

Faço questão de deixar claro que não sou petista, peessedebista ou comunista. Sou alguém de esquerda preocupado com questões humanas. Não tenho rabo preso com quem quer que seja nem me rotulo de algo, ainda bem!

Já fui um grande admirador dos ex-governadores Leonel Brizola e Mário Covas.  Esses dois líderes, tão diferentes e tão complementares, já se foram e penso que inexiste alguém à altura da estatura moral de ambos. Hoje, estou órfão de figuras políticas de expressão nesse cenário político brasileiro.

Em síntese, sou um crítico solitário, um brasileiro que vê com os seus próprios olhos e alguém que escreve desejando o bem para esse país, apenas isso.

sábado, 28 de agosto de 2010

Lei da Anistia, 31 anos

(Matéria da OPERA MUNDI, de 2009. À época, a lei da anistia completava 30 anos. Hoje, ela completa 31.)

foto: OPERA MUNDI

A Lei da Anistia completa 31 anos no Brasil. Foi sancionada pelo presidente João Batista Figueiredo no dia 28 de agosto de 1979. Desde então, continua intacta, protegendo tanto os militantes que lutavam contra a ditadura militar quanto os repressores que matavam e torturavam.

Nos outros países do Cone Sul, o assunto vem sendo tratado de forma diferente. Argentina, Uruguai e Chile têm promovido mudanças na lei, colocando em xeque a impunidade dos torturadores.

Argentina

A Argentina revogou em 2005 as leis Ponto Final (1986) e Obediência Devida (1987), após um processo de quatro anos. Isso permitiu reabrir processos contra ex-militares e ex-policiais.

Segundo o juiz federal do país Daniel Eduardo Rafecas, as mudanças na legislação são fundamentais para a memória do país e para impedir que atrocidades cometidas no passado se repitam. “Na Argentina, tivemos leis de impunidade e indultos. Todas essas etapas, felizmente, foram superadas. Hoje, os juízes têm o caminho livre para avançar com esses episódios nebulosos da história argentina”, afirmou Rafecas em entrevista ao Opera Mundi.

A partir de então, 260 repressores da ditadura argentina enfrentam processos, dos quais 41 foram condenados. O número estimado pelas organizações de direitos humanos do país é de que pelo menos mil pessoas cometeram crimes contra a humanidade.

Um dos exemplos mais marcantes de condenação na Argentina é o do ex-chefe policial Miguel Etchecolatz, sentenciado com a prisão perpétua. Neste ano, o ex-ditador Reynaldo Bignone, que governou o país entre 1982 e 1983 e foi o último presidente do regime, chegou ao banco dos réus e aguarda julgamento, assim como mais de cem militares.

Além da reabertura dos casos, outra mudança considerada um progresso por alguns juristas do país é que, em 2009, começaram os julgamentos orais, aqueles em que a acusação e a defesa expõem seus argumentos perante o juiz, como nos filmes norte-americanos, e não por escrito, como era feito anteriormente. Isso deve agilizar os processos.

Apesar de os processos contra torturadores terem sido abertos nos últimos anos, a lentidão para conclusão dos casos é alvo de críticas “justas”, disse Rafecas. “Os tribunais penais argentinos não estavam preparados de nenhuma maneira para enfrentar essa carga de trabalho”.

Além disso, a Argentina enfrenta outro problema, também comum a outros países sul-americanos: a falta de provas documentais. “Há poucos documentos, não há corpos das vítimas e muitos estão desaparecidos”.

Em sete anos de ditadura, cerca de 30 mil pessoas desapareceram nas prisões clandestinas, e por volta de 500 crianças foram roubadas e entregues em adoção ilegal a repressores.

Uruguai

No Uruguai, a lei de impunidade política, aprovada em 1986 pelo Parlamento, será submetida a um referendo no dia 25 de outubro, para que a população decida se deve ou não ser anulada. Ela é responsável pela impunidade dos militares envolvidos em violações dos direitos humanos durante a ditadura do país (1973-1985). O governo de Tabaré Vázquez já se pronunciou a favor da anulação.

O advogado Óscar López Goldaracena, especialista em Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), acredita que a mudança na lei tem grandes chances de ser aprovada, já que o pedido recolheu 285 mil assinaturas, número necessário para encaminhar o projeto ao Senado.

“O direito internacional cobra uma resposta punitiva do país para que não sejam mais cometidas aquelas atrocidades. É um assunto que deve ser resolvido na América Latina como um todo”, afirmou Goldaracena.

No país, a legislação permite uma indenização equivalente a 40 mil dólares para familiares de desaparecidos e assassinados; 30 mil dólares para crianças que tenham permanecido subtraídas por mais de 30 dias; e 20 mil dólares para quem tenha sofrido lesões gravíssimas por causa da atuação do Estado.

Chile

No Chile, o decreto-lei de 1979 foi anulado em agosto do ano passado após pressão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o que possibilitou a prisão do ex-chefe da Dina (a polícia política chilena), Manuel Contreras, por crimes cometidos na ditadura, encerrada no país em 1990.

Apesar de inúmeras tentativas de processar o ditador Augusto Pinochet, este só foi preso quando o juiz espanhol Baltasar Garzón abriu um processo contra ele pelos crimes de genocídio, terrorismo e tortura. Pinochet foi detido em Londres, onde ficou 503 dias em prisão domiciliar. Morreu em 2006 e foi sepultado sem honras de Estado.

Em março de 2008, 24 oficiais e suboficiais da polícia de Pinochet foram condenados por crimes de sequestro, homicídio e tortura de 31 militantes de esquerda.

Entre 1992 e 2004, a Corporação Nacional de Reparação e Reconciliação pagou mais de 191 milhões de dólares em indenizações aos familiares de mortos e desaparecidos políticos. No Chile, são destinadas reparações específicas a exilados, a exonerados políticos, aos excluídos da reforma agrária e aos atingidos pelos confiscos de bens do regime militar.

A partir de 1994, também começaram a ser pagas pensões para presos políticos e vítimas de tortura, recebidas por quase 20 mil pessoas em 2006. A Comissão Nacional de Prisão Política e Tortura, criada em 2003, recebeu depoimentos de 35.865 pessoas e reconheceu 28.459 vítimas da repressão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

10 DIAS COM ZECA BALEIRO

A partir de amanhã você terá 10 dias com vídeos do youtube do cantor e compositor ZECA BALEIRO. Haverá a interrupção de um dia, por motivos de força maior. Não perca!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Saiu nesta semana na prestigiada revista semanal VISAO, de Portugal, uma materia que abordou o Descobrimento do Brasil, inclusive. Os proprios portugueses reconhecem que nao foi Cabral quem descobriu o Brasil, que foi descoberto anos antes por um de dois outros navegadores, tambem lusitanos. A divulvacao do descobrimento foi retardada a fim de se definir o tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha e ai veio a famosa frase de que "Quem descobriu o Brasil foi o Cabral". 
Vale a pena conferir a materia.
http://aeiou.visao.pt/ (site da revista)
http://aeiou.visao.pt/conheca-ja-a-visao-desta-semana=f568899 (video com os destaques da semana)

Quanto a falta de acentuacao, isso se deve ao desacordo ortografico da lingua portuguesa que os teclados as vezes resolvem nos impor.

domingo, 15 de agosto de 2010

5ª MOSTRA MUNDO ÁRABE DE CINEMA

Vem aí a 5ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, promovida pelo ICArabe. Vá ao site http://www.icarabe.org/ e veja a programação.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

AGENTE DE PINOCHET DIZ QUE CIA MATOU PRATS

TIJOLACO.COM

TIJOLACO.COM
Carlos Prats González não era um esquerdista. Era um militar legalista, que ocupava o cargo de comandante do Exército chileno no governo demorata-cristão de Eduardo Frei e que Salvador Allende manteve no posto quando foi eleito presidente do Chile.

Prats foi convidado a participar da derrubada do presidente constitucional e recusou-se a trair seus deveres militares. Deposto, amargou o exílio em Buenos Aires. Mas por pouco tempo. Um ano depois, no seu automóvel, junto com a mulher, Sofia Cuthbert, foi morto por uma bomba acionada por controle remoto.

As investigações apontaram a Diretoria Nacional de Inteligência, a Dina, órgão do governo chileno, como responsável pela explosão. Recentemente, Manoel Contreras, ex-chefe da Dina, foi condenado a 17 anos de prisão pelo crime.

Ontem, o canal Chilevision divulgou uma entrevista de Contreras, em que ele nega ter sido o mandante do crime.

-Quem mandou matar o general Prats foi a CIA, disse Contreras.

O ex-chefe do órgão de repressão chileno, que está preso, disse que “nunca recebeu um centavo da CIA” . Doente, ele diz que “foi chefe de uma instituição que eliminou o terrorismo no Chile e estou orgulhoso do que fez a DINA”.

Curioso que diga que “eliminou o terrorismo” alguém condenado por explodir um carro-bomba. Trágico que a esta altura ponha a culpa na CIA. Intrigante que não lhe seja inquirido que elementos possui para fazer tal afirmação.

Na maioria dos países da América do Sul – o Brasil é uma desonrosa exceção – os militares culpados destes atos de desumanidade foram julgados e receberam penas. Mas ainda falta muito a esclarecer – e o Governo dos EUA deveria ajudar a fazer isso – qual foi o envolvimento de seus serviços de inteligência e extermínio nestas ações.

E aos militares que acham que investigar e punir é “revanchismo”, fica o exemplo digno de Cesar Prats, um militar cujo unico “crime”, o que lhe custou a vida foi honrar a farda e o juramento de fidelidade à Constituição de seu país e à vontade de seu povo, livremente expressa nas urnas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O galego e a opressão linguística espanhola


No dia 24 de julho, véspera do Dia Nacional da Galiza (ou Galícia), no noroeste da Espanha, chegou ao fim por problemas econômicos o jornal diário galego Vieiros, o primeiro totalmente monolíngue em galego a chegar à internet.

É o fim de um importante jornal, com 15 anos de história, escrito na norma galega mais condizente com o idioma, a que difere da norma imposta pela Espanha. A língua castelhana e o galego compartilham semelhanças marcantes, tanto gramaticais quanto de pronúncia. Para os desavisados, o galego pareceria uma mistura estranha de português e espanhol, ou algo entre ambas as línguas. Graças a esta semelhança e a esta comum confusão, a Real Academia da Língua Galega, controlada pela Espanha, faz de tudo para sufocar o galego e torná-lo um mero dialeto do espanhol e não a língua rica em história e literatura que é.

As tentativas da Espanha de sufocar o galego são conhecidas, históricas. O partido governante na Galiza, o PP, é um grande incentivador deste genocídio cultural, promovendo políticas visando à absorção do galego na esfera da língua espanhola, dificultando o acesso da população à TV e demais entretenimentos e meios de comunicação portugueses (o galego e o português já formaram a mesma língua e hoje continuam muito próximos) e impedindo o ensino da língua nas escolas básicas.

O “galeguismo” é ainda fraco se comparado ao forte sentimento nacional basco ou catalão.

Violência

Dizem os especialistas que o início do reconhecimento da população da Galiza enquanto galegos, e não espanhóis, se deu tardiamente e foi brutalmente interrompido em seu auge pela Guerra Civil Espanhola que, junto com a gigantesca migração de galegos para a América Latina, enfraqueceu o movimento.

A Galiza, historicamente, foi submetida a extrema violência pelo governo central castelhano e a região foi, durante muitos séculos, mantida na pobreza. A Espanha se esforçou por vários séculos em separar a Galiza da Espanha, não só geograficamente, mas culturalmente, impondo o ensino exclusivo em espanhol, dficultando o intercâmbio na fronteira galaico-portuguesa e criminalizando o uso do galego. Ironia máxima: um dos grandes responsáveis pela destruição do galeguismo era ele mesmo um galego – Francisco Franco.

Desde o fim da ditadura franquista (1939-1975), porém, o movimento galeguista vem ressurgindo com força, seja puxado pelo Bloque Nacionalista Galego (BNG, uma federação de partidos de esquerda e nacionalistas), seja por outros partidos políticos menores (Nós-Unidade Popular, FPG, etc) ou grupos culturais.

Contradição

A política galega, em si, é extremamente complicada. A maioria da população se declara conservadora, muitos falam apenas o espanhol e seu galeguismo não passa de um mero traço regional. Outra parte da população é francamente nacionalista, defensora de um Estado galego, enquanto outra parcela é irredenta – ou seja, consideram-se parte da herança portuguesa e gostariam de ver a Galiza unificada com Portugal.

Porém, uma ideia que unifica os grupos anti-Espanha prega a entrada da Galiza na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Defendendo ou não a união com Portugal, o fato é que o galego e o português são línguas irmãs.

Infelizmente, os países-membros da CPLP preferem apoiar a adesão da Guiné Equatorial – uma ditadura sanguinária cujo português não é falado por ninguém, e não passa de uma terceira língua oficial imposta há um mês – do que incluir nossos irmãos galegos, cuja influência é sentida especialmente no falar nordestino. Expressões como "oxe" ou "oxente" têm origem galega, da imensa imigração vinda do sul da região e do norte de Portugal, que também sofreu influência galega ao longo dos séculos de contato.

Outros casos

O que se vê na Europa, aliás, e em particular na Espanha, é a tentativa de governos em suprimir o uso de línguas minoritárias. Cabe a grupos culturais e políticas realizar um processo de revitalização, por assim dizer, ou de conscientização. O mero ato de governos não fazerem nada para promover as línguas minoritárias já se configura como um atentado. A França é um caso especial: o catalão falado no Rossilhão ainda permanece vivo pela ação de grupos culturais e políticos; o bretão vai pelo mesmo caminho, assim como o provençal/occitano e outras dezenas de línguas que, garanto, a maioria nunca ouviu falar.

Na Espanha, as autonomias como a Catalunha e o País Basco conseguiram realizar grandes avanços, mas existe uma enorme briga em Navarra, região basca onde a língua é falada no norte e na chamada “zona de transição”. No sul, não existe qualquer tipo de ensino controlado pelo governo e fala-se apenas o espanhol, ou assim querem fazer crer.

Em situação pior se encontra o leonês. Fazendo parte da região de Castela, a língua vem rapidamente sumindo e apenas grupos culturais e folclóricos ainda tenta fazê-lo sobreviver, mas com sucesso limitado. O asturiano, o extremenho e o aragonês são línguas correndo grande perigo de desaparecer pela falta de preocupação do Estado em dar suporte à sua utilização e ensino.

Centelha

E o galego, apesar de ter uma região autônoma própria e de ser falado por uma ampla maioria da população, é constante vítima do governo de caráter fascista local e da imposição de uma norma homogeneizadora e cruel, que a faz se assemelhar demais com o Espanhol e a perder sua identidade.

O fim do Vieiros pode ter dois significados distintos – ou, ao menos, deixar dois questionamentos ou possibilidades. De um lado, seu fim pode ser o retrato do enfraquecimento do movimento galeguista, uma vitória espanhola que vem na esteira do controle de longa data do PP (Partido Popular, conservador) das terras galegas, por outro, pode ser apenas reflexo da crise econômica que atinge a Europa – como parece ser o caso – e a centelha que fará o movimento ressurgir com força e ocupar os espaços que surgem a cada dia.

*Raphael Tsavkko Garcia é mestrando em Comunicação e blogueiro. Escreve o Blog do Tsavkko e é autor e tradutor do website Global Voices Online.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Casamento Igualitário na Argentina. E no Brasil?


Interessante perceber que algumas pessoas no Brasil, de forma hipócrita, escondem seu preconceito, sua homofobia com discurso "racional" e/ou conciliatório. Todos nós sabemos que o Brasil sofre de uma hipocrisia estrutural histórica, e os brasileiros têm a triste mania de não falar claramente o que pensam. Escondem-se, mas, no dia-a-dia discriminam, são racistas, machistas e homofóbicos. Triste, essa hipocrisia impede que o país avance.

Gostaria muito de ao menos ver um debate realmente franco por aqui. Como o que aconteceu recentemente na Argentina sobre o Casamento Gay ou Igualitário. Entretanto nem isso parece ser possível por essas terras brasileiras. É por isso que o projeto de lei de União Civil entre pessoas do mesmo sexo, de autoria de Marta Suplicy, hoje já mais que caduco, está há mais de 15 anos, desde 1995, no parlamento e nem ao menos foi discutido! Hipocrisia? Sim. Negue-se a debater o assunto, e você estará escondendo de forma "elegante" seu preconceito e sua homofobia.

Engraçado que ninguém em sã consciência teria a coragem de alegar "objeção de consciência" para debater problemas relacionados ao racismo, seria imediatamente tachado de racista. Engraçado que alguns parlamentares, ditos progressistas, alegam justamente essa “objeção" para não votar, ou não discutir a questão da homofobia (Ex: Marina Silva, Tião Viana) e da equiparação de direitos civis entre heterossexuais e homossexuais (casamento gay, etc.).

O fato é que temos que aprender muito com nossos hermanos argentinos. Não importa se jogam um melhor ou pior futebol que nós brasileiros, importa que esbanjam civilidade. Devíamos deixar nossa arrogância e olharmos com admiração e respeito às conquistas dos argentinos. Devíamos estudar a sociedade, para com ela aprendermos.

Exemplos de civilidade argentina?

- Na Argentina, 95% da população é alfabetizada, enquanto no Brasil 75% da população economicamente ativa é analfabeta funcional (está aí um grande gargalo para o desenvolvimento do país). Diga-se de passagem que a Argentina fez uma revolução educacional ainda no século XIX, enquanto nós apenas avançamos nos últimos oito anos do governo Lula, e ainda muito modestamente… Vocês querem mais?

- A Argentina julgou e puniu ditadores e torturadores. No Brasil eles ainda estão no nome de rodovias e ruas ou, pior, são deputados e senadores. Tenho vergonha quando vejo alguns senadores na TV Senado, sendo que alguns deles deveriam estar presos ou sendo julgados por seu envolvimento com a ditadura.

- O governo Lula convocou a Confecom para tentar discutir democraticamente como acabar com o monopólio midiático que sufoca nosso país. Esta foi desprestigiada e atacada por integrantes do próprio governo (ex: Hélio Costa – ministro das Comunicações), e as ideias tiradas da conferência foram tachadas pela grande mídia de chavistas. Absurdo? Não: Brasil. Na Argentina, o governo da presidenta Cristina Kirchner apresentou um projeto de lei reformando a regulamentação da mídia, que era do tempo da ditadura, a chamada "Ley de los Medios", que ao ser aprovada está quebrando monopólios (como do grupo Clarín), que por sinal são muito menos poderosos que no Brasil. A lei divide as concessões de mídia entre sociedade civil, empresários e governo, e é uma conquista enorme da democracia argentina (ao contrário do que a grande mídia brasileira disse não tem nada de chavista, e é muito democrática! Basta ler o texto da lei.)

- Agora mais essa! Os argentinos, objeto de chacota de brasileiros arrogantes, aprovaram em um amplo debate no parlamento e na sociedade não somente a equiparação civil entre os cidadãos, sejam heteros ou homos, como o Casamento Igualitário (chamado pela imprensa do Brasil de casamento gay.) O que a lei argentina na verdade faz, é retirar do artigo do código civil o trecho que o casamento é formado por "um homem e uma mulher", substituindo-o por "duas pessoas". Algo bastante simples, mas que dá isonomia republicana de direitos aos cidadãos argentinos e corrige injustiças enormes sofridas por gays, lésbicas e transexuais. Uma coisa que me chamou a atenção é a percepção dos argentinos de que a votação da lei não dizia respeito somente aos gays, mas aos princípios básicos de igualdade e liberdade da República Argentina. Por isso, foi possível ver nos debates um grande envolvimento de heterossexuais defendendo o Casamento Igualitário. (Ex: No programa da TV Pública Argentina 678).

No Brasil a antiquada lei da União Civil – que não equipara heteros e homos – proíbe adoção e nem ao menos foi discutida pelo parlamento! É por isso que a solução do governo Lula (PT), simpático à causa, foi determinar que a Advocacia Geral da União entre com uma ação para que o artigo do "novo" código civil – que já nasceu pré-histórico –, que determina que casamento acontece somente entre "um homem e uma mulher", seja considerado inconstitucional e discriminatório. Isso porque a Constituição Federal já diz que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Não precisa ser da área jurídica para perceber que o dito artigo do Código Civil é claramente inconstitucional.

Vale neste momento perguntar-nos a razão pela qual o parlamento brasileiro é tão conservador e atrasado… Quem escolhe os deputados e senadores que lá estão? Os argentinos? Claro que não! Somos nós, brasileiros. Então nessas eleições não somente votemos em candidatos do legislativo comprometidos com estas causas, como nos mobilizemos socialmente, como o fazem os argentinos, para exigir dos parlamentares justiça, liberdade, dignidade e igualdade.

Outro dia li um "artigo" no "Estadão" que dizia que a questão do "casamento gay" deve ficar fora do debate eleitoral! Ora, quem determina isso? O jornal? A mídia? Os partidos? Não, povo, somos nós! Então, se queremos o Casamento Gay ou igualitário aprovado no Brasil, vamos impor o debate, pois esse, como cidadãos, é nosso direito político e constitucional.
Vale lembrar a importância do tema do direito a livre orientação sexual num país que é um dos campeões mundiais de assassinatos homofóbicos. Recentemente em São Gonçalo um menino de 14 anos foi brutalmente sequestrado e torturado até a morte, apenas por que era gay. Pois então está mais que na hora de os temas da homofobia e dos direitos iguais entre homossexuais e heterossexuais entrarem nas pautas políticas, jornalísticas e do movimento social. Depende de nós!

PS: Queria ver as organizações LGBTs brasileiras (que, por sinal, têm dinheiro) promoverem uma mobilização social parecida com a que foi feita pela Federación Argentina de Lesbianas, Gays y Trans, ou dos "Putos Peronistas". Quem faz a maior Parada Gay poderia muito bem promover uma campanha de conscientização e mobilização, não? Vale a pena ver os vídeos produzidos pelo Inadi argentino: Objetos é ótimo!

PS2: O Brasil está tão atrasado na questão dos direitos civis que nem ao menos fez o básico, criminalizando a homofobia! Ou seja, em nosso país ainda se têm o direito de excluir e ferir moralmente pessoas apenas por que estas não fazem parte da heteronormatividade. Algo urgente precisa ser feito.
Augusto Patrini, pós-graduando em história (FFLCH-USP), é jornalista, historiador e tradutor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mabruk!", um diálogo através da dança

foto: Márcia Dib
ICARABE

Uma viagem a passeio ou estudos para a Síria nos mostra a riqueza de sua história e a diversidade de lugares, costumes, manifestações sociais e culturais. Conforme relatado em artigo anterior – “A massificação cultural ameaça também a Síria” (edição nº 14 da newsletter do Icarabe) – é preocupante que estas expressões estejam se diluindo no caldeirão da “globalização”, transformando toda manifestação cultural em cópias mal-feitas da ocidental, ou, mais especificamente, da norte-americana. Não se costuma dar a devida atenção à dominação cultural, tudo é visto como natural: “todos fazem assim”. Uma pena...

É importante que exista o diálogo entre as culturas e, como se sabe, os diálogos mais saudáveis e frutíferos são aqueles em que as partes envolvidas têm seus próprios argumentos, igualmente válidos e respeitados como tal. Só assim é possível haver troca. De outra forma, se uma das partes envolvidas entra no diálogo como dona da verdade, cria-se uma atmosfera de dominação e submissão. Essa atmosfera é comum entre países colonizadores e colonizados, e estes últimos geralmente abrem mão dos próprios valores, passando o diálogo a ter, no lugar da troca, substituição ou eliminação de idéias.

Em função dessa ameaça, senti a necessidade de pesquisar e divulgar as manifestações artísticas da Síria e, posteriormente, de outros países de cultura árabe. Pois essa massificação cultural atinge vários lugares do mundo, e não apenas a Síria.

Foi escolhida a dança como veículo de expressão cultural. Sabe-se que a dança vai muito além dos passos em si: ela diz muito sobre a cultura, os costumes, os movimentos escolhidos para cada situação, a postura adotada em cada região, as músicas utilizadas, os modelos das roupas, as cores. A dança folclórica é uma expressão do modo de vida de uma comunidade; é mais uma conseqüência do que uma causa. Pela dança, podemos aprender muito sobre um agrupamento sociocultural.

O grupo “Mabruk! Companhia de danças folclóricas árabes” foi então criado a partir dessa necessidade. A intenção é ser um elo de ligação, de comunicação com as terras ditas árabes. O grupo, ainda jovem, tem tido excelente aceitação do público em geral e a análise desta aceitação nos leva para outra necessidade: a que atinge as pessoas em geral, de entender melhor essa cultura, tão deformada pela mídia. Passamos, com a dança, a mensagem de que os árabes não são aqueles “bárbaros que trancafiam e mutilam mulheres, rudes e ignorantes”. Ela pode levar ao público a mensagem de riqueza cultural; dos gestos ora delicados, ora firmes; de sutileza musical; de capricho nas formas e cores das roupas.

Essa mensagem não-verbal pode atingir ainda mais as pessoas, exatamente por não ultrapassar a razão. Os vários sentidos estimulados propiciam uma experiência rica, uma percepção diferenciada e, com isso, consegue-se comunicar uma cultura muito mais elaborada e cheia de nuances do que se costuma divulgar como árabe.

Nesse objetivo também didático e cultural, o grupo “Mabruk!” encontrou companheiros de viagem com os mesmos questionamentos, necessidades e objetivos: além das entidades, como clubes árabes e associações ligadas à dança folclórica, a presença do Instituto da Cultura Árabe.

Em parceria com esse Instituto, o “Mabruk!” fez a apresentação de abertura da Mostra Amrik, em 2006, na Galeria Olido. Neste evento, aberto ao público em geral, foram mostradas danças de várias regiões da Síria, cada uma com suas características gestuais e musicais. O público presente foi bastante caloroso e atento às explicações dadas para as diversas danças. Existe sede em relação a isso!

Em seguida, houve participação no curso “Panorama da Cultura Árabe”, também promovido pelo ICArabe, em parceria com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Dentro da aula sobre música e dança, o grupo apresentou em movimento e música o que as palavras nem sempre conseguem explicar.
Agora, em 2007, novamente o grupo se encontra com o ICArabe para um evento de grande riqueza e delicadeza, o Dîwân (espetáculo de poesia e dança), que acontecerá em 18 de junho, no Teatro da Aliança Francesa.

Todas estas ocasiões servem para reafirmar os objetivos tanto do grupo “Mabruk!” como do próprio Instituto, que são pesquisar, discutir e divulgar, “engrossar o caldo” do conhecimento em relação a essa cultura, para que os diálogos deixem de ser unilaterais, para que as pessoas tenham mais formação e informação a respeito dos árabes em geral e para que possam existir trocas verdadeiras a esse respeito.
Mabruk (lê-se mabrúc) é uma expressão em árabe que significa um tipo de “Parabéns”, porém embebido em bênçãos. Então, deixa-se aqui um “Mabruk!” para todas as iniciativas no sentido de dissipar o véu do preconceito e ignorância em relação à cultura árabe.

http://marciadib.blogspot.com
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por Márcia Dib, bailarina, coreógrafa e professora de dança árabe nos clubes Homs, Sírio e Monte Líbano. Pesquisa a arte e cultura árabe há 22 anos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Prostituição infantil se dissemina ao longo de rodovia do Pacífico

bordel coberto de lona/OPERA MUNDI

Às quatro da manhã, Teresa veste a pouca roupa que trouxe, uma por cima de outra. Ela tem apenas 14 anos e nem sabe aonde está. Espera algumas horas e, ao comprovar que todos ainda estão dormindo, sai em disparada pela entrada do bordel sem olhar para trás. Faz três dias que ela chegou. O lugar é uma cabana coberta de lona azul e forrada com pôsteres de mulheres nuas com um tubo no meio rodeado de cadeiras, onde garimpeiros ilegais vêm tomar cerveja e deitar-se com uma menina.

"Eu corri, corri, corri até encontrar um senhor numa moto que me tirou de lá. Graças a Deus, me salvei. Estava perdida e, além do mais, de noite tudo é escuro, não há lâmpadas nem nada. O policial depois me parabenizou, disse que era um milagre eu ter saído viva, pois lá ninguém se salva. Eles te estupram e te jogam no matagal", conta a menina, que não pode revelar o verdadeiro nome por razões de segurança.

Passaram-se dois dias desde aquela noite e Teresa fala no único abrigo para crianças exploradas na região de Madre de Dios, no coração da Amazônia peruana, enquanto espera seus pais chegarem de Lima.

A um quarteirão dali, passa a nova rodovia Interoceânica, prevista para ser concluída no fim do ano, provocando uma febre do ouro ao facilitar a chegada de pessoas e suprimentos e, ao mesmo tempo, uma explosão nas redes de prostituição infantil para saciar os apetites sexuais dos garimpeiros.

Entidades de defesa dos direitos humanos estimam que todo ano chegam cerca de 1.200 meninas de 12 a 17 anos aos bordéis em meio aos imensos acampamentos à beira da estrada que servem de ponto de abastecimento dos garimpeiros. Ou, em vez disso, estão nos vilarejos miseráveis do garimpo dentro da mata, em lugares como Guacamayo, Delta 1 e Delta 2, verdadeiros desertos aonde só é possível chegar de motocicleta, por caminhos estreitos que partem da rodovia.

Os bordéis têm nomes como "FBI" e "Noche Azul" e ficam ao lado de outras cabanas que oferecem lavagem da moto, telefone e futebol na televisão sob um calor forte, mau cheiro do esgoto a céu aberto e uma atordoante música salsa. Assim que a reportagem do Opera Mundi chegou ao vilarejo, duas meninas se aventuraram do lado de fora, mas logo deram meia volta quando um homem fez um gesto com a mão, enquanto a poucos passos dali um grupo de garimpeiros assistia à partida entre Itália e Paraguai na Copa do Mundo.

As meninas são trazidas de outras regiões do país com a promessa de trabalhos simples e bem remunerados - que, na verdade, não existem. "Elas recebem propostas para cuidar de bebês, trabalhar em uma loja de roupas, acompanhar crianças à escola por 500 soles (180 dólares) por mês. As garotas se surpreendem, pois uma empregada doméstica em Cuzco, por exemplo, ganha em média 80 soles. Quando chegam, no entanto, são levadas para os acampamentos de garimpeiros e de lá não saem mais", diz Óscar Guadalupe, diretor da Associação Huarayo, que administra o abrigo onde estava Teresa.

Desde outubro de 2008, 72 meninas foram atendidas no abrigo, um edifício simples de madeira com desenhos de crianças sorridentes pendurados nas paredes, em uma rua secundária de Mazuko, porta de entrada da região. Mas nem todas tiveram tanta sorte quanto Teresa. "Havia uma menina de 16 anos que também se negou a atender", lembra Guadalupe.

"O marido da dona do bar a violentou, engravidou e a fez abortar. A menina teve uma infecção terrível. Ele a mantinha trancada com cadeado, até que um dia pediu que ela fosse à farmácia buscar uma vacina. Foi quando ela fugiu".

Dívida eterna

A maioria não consegue nem isso. A polícia afirma que existe uma espécie de acordo de controle entre donos de bares e garimpeiros: quando veem que uma menina escapa, comunicam-se para impedir que ela passe. Das maiores de idade, eles costumam tomar os documentos. Às menores, prometem o pagamento para quando forem embora, o que raramente acontece.

Além disso, põem todos os gastos na conta da menina - desde um copo quebrado até o dinheiro que a cafetina teve de pagar por ela: 5 gramas de ouro, no caso de uma garota de aparência andina, ou 10 se ela for "A1" (ou seja, da cidade). Por isso, as meninas acabam "endividadas" com a aliciadora.

Perguntado se recebe ajuda oficial, Guadalupe faz um gesto resignado: "Não fazem quase nada. Tentamos incentivar intervenções policiais e às vezes temos sucesso, como em fevereiro do ano passado, quando resgatamos 12 vítimas. Mas há dedos-duros na polícia que avisam sobre qualquer intervenção. O que conseguimos é muito pouco, apenas um grão de areia".

domingo, 8 de agosto de 2010

SER PAI

Ser pai é como ser um líder que deve saber guiar toda uma comunidade rumo a um futuro melhor.
Como todo político, o pai deve distribuir carinho e atenção, mas ser sério e ter pulso firme nas decisões em benefício dos seus seguidores.
Ser pai é estar atento e perceber o que ocorre com o filho, o que também deveria ocorrer com os nossos líderes, que se esquecem de enxergar o drama do povo que governa.
Ser pai é superar a individualidade e enxergar o outro, o que deveria ocorrer com os membros de todas as religiões que conhecemos.
Ser pai não precisa de dia e hora para comemoração ou para ter responsabilidade. O pai está preparado a todo instante para agir em prol daqueles que ama, assim como um exército nacional de prontidão.
Ser pai é respeitar as diferenças, saber enxergar e compreender, como determina a Constituição para o convívio social.
Ser pai, mais que repreender, é esticar a mão. Ser pai, mais que rir junto, é compreender. Ser pai, mais que abraçar, é estar disponível. Ser pai é abstrair dos sonhos próprios e da vida individual. Ser pai é construir uma vida pensando não naquilo que gostaria para o outro, mas naquilo que de fato pode acalentar o futuro do filho.
Ser pai exige tão pouco, pois para sê-lo é necessário, antes de tudo, enxergar o filho de acordo com a personalidade que ele próprio foi construindo desde o nascimento.
Ser pai é tão importante para o autocrescimento que deveria ser obrigatório a todo homem ter um filho e a todo filho dar um neto ao seu pai. A procriação, mais que a preservação da espécie, visa dar sentido à vida.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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