quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

INFÂNCIA E JUVENTUDE. A PRIORIDADE VIROU PROMESSA VAZIA

Que a imagem de criança consegue comover o grande público, todos já sabemos. Não é por outro motivo que a publicidade e as produções visuais, incluindo aí o cinema, abusa da imagem das crianças quando quer emocionar de forma fácil. Até os políticos se utilizam disso em período eleitoral.

Recentemente vimos as imagens de crianças sírias mortas em praias da Turquia e da Europa e uma, em especial, comoveu o mundo todo, a do menino Aylan Curdi, de apenas 3 anos de idade. Mas essa não é a primeira vez que o mundo se emociona com as imagens dos pequeninos. Na década de 90, a foto de uma pequena e cadavérica menina sudanesa, acompanhada de perto por urubus, chocou o mundo para a questão da fome e das guerras. Durante os anos 70, a menina vietnamita Kim Phuc, com então 9 anos de idade, foi fotografada desesperada, correndo nua, com visível dor causada pelas queimaduras da bomba incendiária Napalm, jogada pelas forças estadunidenses.

No Brasil, as fotos das crianças órfãs de Canudos, na Bahia, vítimas da guerra fratricida do final do século XIX, foram amplamente divulgadas à época, o que sensibilizou a opinião pública. Também tivemos mais recentemente o triste episódio da Chacina da Candelária, onde crianças e adolescentes foram assassinados enquanto dormiam nas escadarias da Igreja de mesmo nome, no Rio de Janeiro.

E quem não ouviu a famosa história do recém nascido menino Jesus que teve que fugir para o Egito a fim de não ser assassinado pelo exército de Herodes?

Os exemplos de tristes episódios envolvendo crianças não faltam aqui e no mundo afora. E nada tem mudado substancialmente.

Além da Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças, a nossa Constituição, que também trata do mundo ideal, do dever ser, aquele da poesia sonhada, declara em seu artigo 227 que crianças e adolescentes têm prioridades nas mais diversas áreas.  Para a legislação nacional, aquele que tem até 12 anos incompletos é criança, enquanto adolescente é aquele que tem entre 12 anos e 18 anos incompletos.

A esse grupo de pessoas com menos de 18 anos, segundo a Constituição da República Brasileira, deveria ser assegurado recursos suficientes, com o devido e necessário planejamento, para a inclusão social, educacional e cultural, prioritariamente.  Mas a realidade fática, aquela cruel, típica do mundo real e retrato fiel dos nossos líderes políticos e empresariais e da própria sociedade, é bem diferente. 

Como todos sabem, as crianças e os adolescentes são absoluta prioridade nas campanhas políticas. Todo político adora segurar crianças no colo e se dizer protetor daqueles que serão um dia os trabalhadores e a própria liderança do nosso país. Basta passar a época da campanha para se perceber que crianças e adolescentes continuam nas esquinas e faróis de nossas ruas, fora das escolas, sem acesso a bens culturais, sem qualquer dignidade, com rostos sujos de carvão, barriga inflada por vermes ou, quando ainda de tenra idade, abandonados nas esquinas, para que uma alma boa as adote.

Sob a ótica jurídica, particularmente da área infracional, onde atuei por 12 anos, depara-se diuturnamente com pequenos jovens, quase crianças, muitas vezes serem privados da liberdade, total ou parcialmente, por atos sem gravidade. Devido ao convívio com jovens mais experientes, essas quase crianças, depois de algum tempo, vêm a praticar e a reincidir em atos infracionais graves. E não é necessário ser especialista para apontar algumas das possíveis causas: a falta de estrutura familiar adequada, a absoluta ausência de prazer em estudar e o materialismo consumista privado de valores culturais.

Também já me deparei com grande massa de adolescentes presos ilegalmente em masmorras, enquanto o Estado ineficiente não construía unidades de internação.

Não precisa ser jurista para verificar que a prioridade absoluta encontra-se redigida em nossa Constituição, e só. O que era para ser um princípio norteador da administração pública e da própria sociedade praticamente virou letra morta. Afinal, criança e adolescente menor de 16 anos não votam.

Os números divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF assustam. Ou priorizamos a infância e a juventude ou o nosso país continuará a não alcançar a educação de qualidade, a cultura para todos, o desenvolvimento integrado de tecnologia, a diminuição das injustiças sociais e o respeito à cidadania.  Como se sabe, investir em crianças e adolescentes é investir no futuro e na mudança de rumos do próprio País. A falta de investimento significa, ao contrário, o abandono (da infância e do próprio País).

Segundo o Fundo, a ausência de registros de nascimentos no País, que era superior a 30% em 1995, caiu para índice inferior a 9% em 2008, mas continua alto no Norte e Nordeste do País.

O UNICEF aponta que 45% de nossas crianças vivem em famílias pobres. E as crianças negras e do semiárido vivenciam um quadro ainda mais grave, tendo 70% a mais de chance de viver na miséria, segundo o mesmo organismo internacional.

Ainda de acordo com o UNICEF, o nosso país conseguiu reduzir muito a mortalidade infantil, mas certifica que, aqui, ”as crianças pobres têm mais do que o dobro de chance de morrer, em comparação às ricas, e as negras, 50% a mais, em relação às brancas.” Ainda, mais de 60 mil crianças brasileiras com menos de 1 ano são consideradas desnutridas, embora esse número já seja reflexo de uma diminuição de mais de 60% havida nos últimos anos.

A questão escolar é muito pior, retratando a absoluta falta de prioridade. Segundo  o Fundo, o Brasil possui mais de 535 mil crianças fora da escola, sendo que, desse total, mais de 60% são de crianças negras. O mais estarrecedor, porém, é que apenas 40% das crianças conseguem terminar o ensino fundamental. A pesquisa ainda revela que  64% das crianças pobres não vão à escola durante a primeira infância. Assustado? Os números não param por aí.
 
Na nossa sociedade que valoriza o aparecer, o ter e o consumir, as crianças são estimuladas a cantar músicas com fundo sexual, a ser modelos e a ganhar dinheiro. O resultado disso, em especial da erotização de nossa infância, é de que, ao ano, nascem 300 mil bebês que são filhos e filhas de mães adolescentes, que tem menos de 18 anos. Não são poucas as mães que ainda são crianças.

Como se percebe, há que se dar prioridade às ações e medidas garantidas na Constituição Federal. Só isso ajudará o Brasil a ser menos injusto, menos sofrido e a ter um futuro mais próspero, não só na ótica econômica, mas principalmente sob os aspectos cultural, educacional e tecnológico.

Chega das tristes imagens de crianças em fuga para sobreviver e também daquelas afogadas, queimadas e morrendo de fome. O mundo, em especial o Brasil, precisa das poesias sonhadas, e elas somente serão realizadas se garantirmos o futuro das crianças e jovens, que, óbvia e legalmente, deveria ser a nossa prioridade.

sábado, 23 de janeiro de 2016

SÃO PAULO MULTIÉTNICA E MUITO SÍRIA

São Paulo faz aniversário. A nossa São Paulo, a cidade acolhedora e um pouco síria.



O nome do Santo Paulo remonta à Síria, mais precisamente a Damasco, onde esse importante personagem deixou o nome hebreu Saul e passou a adotar o nome Paulo.

Foi na Síria, quando passava por Damasco, que o Santo Paulo teve provações e começou a divulgar o Cristianismo. Difundiu o Deus misericordioso.

A nossa cidade, quase samaritana, que a todos recebe e acolhe, adotou há quase 5 séculos o nome São Paulo.

Mas não é só o nome da cidade que nos remonta à Síria.

Avenidas, ruas, clubes e importantes hospitais têm nomes sírios. Importantes personalidades brasileiras, como empresários, engenheiros, geólogos, médicos, filósofos, juristas, jornalistas, escritores, cineastas, políticos e artistas têm origem síria.

Temos muito em comum. E não falo aqui das esfihas à venda em quase todos os botecos e muitos restaurantes. A nossa São Paulo tão diversificada e multiétnica lembra a Síria, que sempre teve uma diversidade étnica e cultural, com povos e religiões muito antigas que conviviam em harmonia ao menos até 2011, quando teve início a sangrenta e devastadora guerra civil.

Já faz tempo que a nossa cidade começou a acolher os sírios. São quase 150 anos. No início eram os sírios cristãos, na maioria ortodoxos. Também vieram muitos sírios judeus. Hoje, São Paulo recebe uma nova leva de sírios, na maioria muçulmanos, que foge de uma das mais horrendas guerras já vistas na região.

Hoje é fato que o atual Caminho de Damasco leva muitos a São Paulo. E não se trata de mera coincidência. É a concretização da misericórdia e da caridade que Paulo, antes de se tornar Santo, apregoava aos seguidores do Cristianismo.

Que sejamos capazes de honrar o nome da cidade e possamos acolher cada vez mais pessoas que vêm buscar aqui o seu lar, com todo o seu amor, toda a sua fé e todo o seu carinho, na São Paulo de todos nós.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O EPÍLOGO DA HUMANIDADE


Muitos chamam os integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico de sírios, islâmicos e radicais.

Primeiramente, deve-se reconhecer tratar-se de um grupo radical que vem praticando barbaridades. Mas não se trata de grupo sírio ou islâmico.

Há que se salientar que não se trata de grupo que esteja autorizado pela população ou pelas autoridades religiosas islâmicas a ser proclamado como muçulmano. Não. Esse grupo persegue muçulmanos, os executa em praça pública e pratica barbaridades não defendidas pela religião do Islã. Esse grupo não tem nada de muçulmano, portanto, a não ser o nome utilizado como marketing pelos ideólogos do caos humanitário.

Esse grupo é financiado pelo tráfico de mulheres, pela venda de relíquias e pelo comércio de petróleo dos territórios sírio e iraquiano ocupados, bem como pelo recebimento de vastos recursos de milionários residentes nos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. A controversa Turquia, além de comprar ilegalmente o petróleo desse grupo terrorista, ainda permite o ingresso de radicais pelo seu território. É o que afirmam os governos sírio e russo. De sírio esse grupo não tem nada. Tem apenas destruído a Síria, a tranquilidade e a paz de seu povo e a riqueza histórica e cultural local.

É um grupo de muitos oportunistas bancado por muitos países oportunistas e que estão levando o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial.

Israel, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Inglaterra, França e Turquia têm responsabilidade direta pelo o que vem ocorrendo na região. Todos, de uma ou outra forma, se envolveram na guerra travada na Síria e têm interesses bem definidos. Há alianças surpreendentes como da França, Arábia Saudita e Israel na criação do Curdistão no norte da Síria, que beneficiaria o transporte de gás comprado por Israel e enfraqueceria a luta da Síria pela retomada das Colinas de Golan ocupadas por Israel.

A Turquia, que sempre apoiou todos os extremistas rebeldes, agora se vê numa situação delicada, pois não pretende ver criado o Curdistão da forma pretendida pelos israelenses e franceses. Esse é o motivo de fomentar e armar os turcomanos que guerreiam contra os curdos no norte da Síria, e que, ao que parece, a levou a derrubar recentemente o caça russo.

Há a possibilidade de um absurdo mapa que dividiria a Síria em três Estados. Um sunita, um curdo e um das minorias mais ao sul, hoje ocupado pelo exército leal a Assad.

O mundo se divide geopoliticamente e enquanto isso milhões de pessoas de um pequeno e antigo país, com a cidade mais antiga do mundo permanentemente habitada, estão impedidas de emigrar. A Turquia segrega os refugiados e os proíbe de trabalhar. Sem qualquer labor não tem como se sustentar e são obrigados a sair da Turquia, rumo à Europa. Ocorre que agora a Europa está financiando a Turquia para que esta barre o ingresso de refugiados na Europa.

É um ato de uma insensibilidade sem fim, similar a um crime contra a humanidade, pois segrega os refugiados à realidade de falta de oportunidade e à impossibilidade de buscar um lar que considerem seguro e digno.

Os sírios estão presos. Presos pelo Estado Islâmico. Presos pela guerra. Presos pela Turquia. Impedidos de entrar na Europa. Impedidos de entrar no Canadá. Impedidos de entrar em muitos Estados norte americanos.

Os sírios já não são refugiados. São presos condenados à pena de morte por fome, por frio, por abandono e pela guerra fratricida. São o povo do caminho de Damasco, mas que a humanidade, mais uma vez, esquece de dar a devida interpretação ao seu significado. Talvez o fim esteja próximo, não só dos sírios, mas de toda a humanidade, que aniquila a esperança de fraternidade em prol do lucro acarretado pelo contrabando do petróleo, pela venda de armas, pela escravidão de mulheres, pela utilização de crianças como soldados, pelo estupro e pelo trabalho escravo generalizado, condições hoje correntes naquilo que já foi a Síria.

O mundo não difere muito do que era há milênios, mas talvez o seu destino seja outro. O caminho talvez não seja mais o de Damasco, mas o do epílogo da humanidade, somente isso poderia hoje trazer paz ao Planeta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

10 anos de blog

Pode não parecer muito, mas é o meu décimo ano com blog. O primeiro surgiu em 2007. Depois outro em 2008 e esse no mesmo ano.
Uma década de informação e prosa. Muita conversa. Muita coisa útil e inútil. Coisas da vida.
Obrigado pela sua companhia sempre atenta!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

INOCÊNCIA DAS CRIANÇAS

Só poderia começar o Ano falando de um tema que gosto muito: crianças.
 
Já escrevi muito sobre o encarceramento indevido e sobre a prioridade absoluta, mas talvez seja o caso de escrever aqui sobre a inocência delas, que precisa ser resgatada pela sociedade.
 
Num mundo consumista, materialista e individualista, a inocência das crianças permite a solidariedade mais intensa e o amor mais desmedido e absoluto.
 
Reflitamos sobre isso já no início de 2016.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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