OS ESTADOS UNIDOS LUCRAM COM O RESULTADO DA CRISE NA SÍRIA E CRESCEM
Não basta aos Europeus atacar o
Estado Islâmico e fomentar outros grupos rebeldes a Assad (presidente sírio).
Enquanto tomar atitudes desse estilo, a União Europeia estará sujeitando
diversos de seus países a uma avalanche de refugiados sírios desesperados por
um porto seguro.
Enquanto isso, os Estados Unidos,
que treinaram muitos dos militantes do Estado Islâmico e demais rebeldes
sírios, recebem poucos refugiados, crescem economicamente e fazem um acordo com
uma dezena de países no Pacífico. Se a cartada americana era crescer às custas
da Europa, que sofreria com a crise com os refugiados, enquanto estava tentando
se recuperar da forte crise que vivencia desde 2008, parece que conseguiu.
Por outro lado, se os
estadunidenses pretendiam frear o crescimento chinês, também estão
conseguindo. Eles enfraqueceram política
e economicamente a Rússia e o Brasil, ao mesmo tempo em que estão minando a
popularidade dos líderes de esquerda em toda a América Latina, com os quais a
China mantinha bons laços econômicos e firmou acordos com investimentos
massivos. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos movimentam suas tropas em sentido
às fronteiras da China e da Rússia, ou seja, estão cercando seus rivais
geopolítico (Rússia) e econômico (China).
A Índia, outro membro dos BRICS,
ao lado do Brasil, Rússia, China e África do Sul, mantém contatos com China,
Rússia e também os Estados Unidos e não ameaçam a grande potência militar do
planeta, os Estados Unidos. Porém, estão para ocupar o 7º lugar no PIB mundial,
deixando o Brasil para trás.
BRASIL
O Brasil enfrenta uma séria crise
política e econômica e uma tentativa nunca dantes vista de quebrar a Petrobras,
que deixaria de explorar vários campos de petróleo e de ampliar o refino
limitado de petróleo, para meramente exportar óleo cru, importando ele já
refinado. Ou seja, gastaria muito mais e se tornaria dependente do exterior, deixando
de industrializar-se, criar mais empregos e produzir dólares. Esse sério alerta
foi dado na revista Diplo,
Le Monde Diplomatique Brasil, edição de setembro.
Se a ideia dos Estados Unidos
eram barrar a China das Américas, conseguiu, e facilmente. Isso não tira a
responsabilidade de Lula, Dilma e do Partido dos Trabalhadores, mais
preocupados em criar multinacionais brasileiras do que em fomentar a
industrialização massiva no interior do país.
Hoje, as maiores cervejarias do mundo têm sócios brasileiros; as maiores
exportadoras de frango também, alguns dos bancos mais bem estruturados, bem
como uma das maiores redes de fast food do mundo. Mas isso não tem colaborado
com o crescimento acelerado do país. Ao contrário, implicou em remessa de
dinheiro para o exterior e a criação de unidades industriais em solos
estrangeiros e uma política que premia investidores no mercado financeiro ao
invés de produtores.
Não é necessário dar golpe para
mudar a política social. A presidente Dilma já está fazendo isso por conta
própria. No entanto, setores conservadores tentarão, a todo custo, ocupar o
governo federal no tapetão.
Se os Estados Unidos ficarão
quietos, ou não, não sabemos, já que a desestabilização do Brasil não
interessará a eles, que voltaram a crescer e querem seus vizinhos pacificados e
aliados, mas sem turbulências próximas. Embora queiram o controle e assegurar
estabilidade, a prioridade dos Estados Unidos é a Ásia, e não a América do Sul.
Talvez os Americanos invistam no
Brasil, assegurando certa estabilidade a Dilma, que já tem um governo mais
próximo daquilo que lhes convêm, afastando ao mesmo tempo o gigante sul
americano da China e de outros líderes esquerdistas do continente.
Mas se a “esquerda” no Brasil
cair, os governos da Argentina e da Venezuela não sobreviverão. Os Estados
Unidos podem ajudar um pouco a economia do Brasil, mas não a ponto de dar carta
branca ao governo Dilma.
RÚSSIA E OUTROS PAÍSES
A Rússia, hoje, não é a potência
que interfere em todo o planeta, como fazia a URSS décadas atrás, mas devido ao
seu poderio militar e às ações geopolíticas estratégicas pontuais, ainda faz a
diferença, ao contrário da China, que se atém basicamente ao fortalecimento do
seu exército, sem grande papel no cenário mundial.
A Rússia percebeu há tempos a
intenção da União Europeia e dos Estados Unidos isolarem-na, seja com a cortina
de mísseis Patriot de defesa na Turquia e Polônia, seja com as ações militares
na Ucrânia e com as guerras patrocinadas pelos Estados Unidos e União Europeia
nos países que lhe são próximos, Iraque, Afeganistão e Paquistão.
A ação russa e de outros países
integrantes da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, Bielorússia,
Armênia, Tadjiquistão, Cazaquistão e Quirguistão, na Síria, visa evitar que
venham a sofrer em seus solos com as ações terroristas do Estado Islâmico. A
Rússia também almeja garantir que a sua marinha tenha um porto no Mediterrâneo,
de fronte aos países europeus, numa região estratégica, ao mesmo tempo em que
manteriam um aliado numa região em que os Estados Unidos, Israel, Irã e Arábia
Saudita, predominantemente, ditam as regras.
Os russos já comunicaram que
enfrentaram não só militantes do Estado Islâmico, mas aviões turcos e
israelenses que sobrevoavam a Síria. Ou seja, a guerra da Síria reflete no
mundo todo e interessa a diversos países. Aos Estados Unidos, em especial, por
diversos motivos, seja por tirar um rival do poder e fortalecer o seu aliado
israelense, seja por criar, com os refugiados, uma situação de crise para os
europeus, permitindo que cresça sem a concorrência no oeste do globo.
A Israel, a crise na Síria serve
de pretexto para enfraquecer os seus opositores Hezbollah e Irã, ao mesmo tempo
em que fomenta militantes radicais (leia-se Estado Islâmico) que lutarão em
vários outros países do Oriente Médio, enfraquecendo política e militarmente
todos os seus vizinhos. Os sobrevoos de aviões israelenses e os ataques que têm
ocorrido sistematicamente no território sírio contra alvos do exército sírio,
demonstram que Israel não está apenas observando o que ocorre no seu país
vizinho.
A Arábia Saudita fomenta o
radicalismo islâmico, mas ao mesmo tempo defende países com ditaduras militares
que lhes sejam favoráveis, como a do Egito. Visa ela manter a hegemonia no
mundo muçulmano no Oriente Médio, afastando o seu rival Irã. Ao mesmo tempo
aproxima-se de Israel, também aliado próximo dos Estados Unidos.
O Irã tem uma indústria pulsante
e crescia muito economicamente, tendo sido freado por conta dos embargos agora
amenizados. Com o acordo nuclear, o Irã voltará a ter a sua economia crescente,
que é o que interessa ao atual governo. A médio prazo, inclusive, poderá fazer
parte do bloco emergente dos BRICS. Questões geopolíticas não foram esquecidas,
tanto que atua na Síria e no Iemen, para contrapor-se às ações da Arábia
Saudita, que teria se aliado a Israel. O Irã afirma que os aviões sauditas que
atacam o Iemen são conduzidos por pilotos israelenses, que teriam melhor
preparo para essas missões.
SÍRIA
Enquanto o mundo se divide em
questões econômicas e geopolíticas, os sírios e os curdos vêm sofrendo na carne
e na alma os reflexos da mais grave crise humanitária das últimas décadas. Não
bastasse o horror de uma guerra comum, as atrocidades praticadas por soldados
de diversos países, além dos militantes radicais do auto denominado Estado
Islâmico, que agravam a questão com atos de selvageria, já que prostituem,
estupram, crucificam, apedrejam, queimam, esquartejam e fuzilam suas vítimas,
tornam o viver desesperador.
A Síria está em ruínas e em
cinzas e o seu povo foge desesperado.
Será que a população mundial está
preparada para enxergar as questões humanitárias envolvidas nessa questão,
deixando as econômicas e as geopolíticas para um segundo plano? Será que nos
preocuparemos principalmente em salvar e preservar vidas? Será que gritaremos
para que os líderes recebam os refugiados de guerra? Será que cobraremos dos
nossos líderes que ajudem os deslocados internos na Síria? Será que cobraremos
dos líderes políticos dos países envolvidos os esclarecimentos necessários e a
abstenção de financiar ou intervir belicamente nesse conflito horrendo? Será
que teremos manifestações pelo fim do conflito na Síria?
Os Caminhos são muitos. O antigo
Caminho de Damasco, de Paulo, foi o de publicizar que Deus não punia ou se
vingava, mas pregava amor e caridade. O atual exige isso dos humanos. Estaremos
preparados para esse importante Caminho?