sexta-feira, 28 de julho de 2017

NO NOSSO PAÍS LER NÃO LIBERTA

O Brasil é um país curioso.

Pequenos ladrões, ainda que por furtar alimentos, ficam presos, enquanto corruptos respondem a processos em liberdade.

Mas não é só. O que me chamou a atenção foi a história de um rapaz no interior (Itápolis) que teria furtado 384 livros para, segundo diz, lê-los. Ele, como era de se esperar no nosso País, encontra-se devidamente enjaulado. Sim, enjaulado, pois as nossas cadeias mais parecem jaulas que locais de habitação de seres humanos.

Isso me fez lembrar a história de dois meninos que atendi enquanto era defensor na Vara da Infância e da Juventude. Eram dois irmãos que haviam subtraído dois cadernos. O objeto furtado chamou a minha atenção e perguntei o motivo deles terem entrado numa grande rede de lojas para pegar dois cadernos sem pagar. A resposta me comoveu: "foi para poder estudar". Eles eram muito pobres, ao menos foi a impressão visual que tive. Ora, numa Vara Especializada, como a da Infância e da Juventude, em um país de primeiro mundo ou mais sério no trato das pessoas, eles e os genitores seriam inseridos automaticamente em programa assistencial. Mas não foi assim. No Brasil, o Poder Executivo não está presente para resolver problemas sociais que por força de nossas mazelas desaguam no Judiciário. Está presente no fórum apenas para tratar de questões burocráticas de internação ou desinternação, esquecendo-se de cada brasileiro, de suas necessidades e potencialidades.

Não sei o que aconteceu com aqueles dois garotos, mas para mim, eles eram pequenos "heróis" que, num país injusto e que não prima pela educação, almejavam se instruir. E isso, para um País de analfabetos políticos e de pessoas que sequer sabem compreender textos, não é salutar. O bom, para os dirigentes desse país, é ter pessoas que não compreendem as falas, não questionam e votam em seres que falam frases curtas, sem qualquer conteúdo ou pretensão de resolver efetivamente um problema.

E aí está o círculo vicioso que atormenta o país. Quem não entende e quem é mal intencionado vota em quem não é honesto e não se propõe a resolver problema algum, a não ser o próprio, e isso se eterniza numa espiral que transforma-se em grande redemoinho que devasta tudo o que o país já conseguiu implementar de bom nesses quase dois séculos de "independência".

Quem procura instruir-se ou alimentar-se, pelas vias ilegais, não é nada bem visto no nosso país e responde ao processo judicial devidamente encarcerado. Soa como um ultraje, para alguns, a vontade de sobreviver física e intelectualmente, quando a sentença de morte física e intelectual já é aplicada logo ao nascer. Enquanto isso, os abonados que praticam os mais horrendos crimes, como tráfico ou corrupção, e que devasta não só a economia, mas a própria democracia, muitas vezes encontram-se soltos.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Pequenos Sabores da Infância

Lembro de que na minha infância tinha-se o hábito de não servir refrigerantes na casa dos meus pais.
Então, quando estava na escola, vendo tevê ou mesmo saindo com a família de amiguinhos, observava o intrigante mundo dos refrigerantes.
Aquela época havia refrigerantes como gini e seven up que não são mais comercializados no Brasil.
E a velha fanta, que já existia, era diversificada. Tinha a de sabor laranja, uva e até limão e a de guaraná. Particularmente, preferia a gini, a seven up e o velho guaraná Antarctica em garrafa.
E mesmo com as preferências, a maior diversão era descobrir o sabor resultante da mistura de dois refrigerantes diferentes. Misturava-se de tudo. Nenhuma criança resistir a isso. Era uma orgia líquida num mundo de valores sólidos.
Hoje, com pouca capacidade criativa, numa mesmice intelectual e de valores de nossa sociedade,  as duas grandes fabricantes de refrigerantes aqui no Brasil lançam como novo o que não é novidade. Estranha semelhança com os nossos políticos.

A REPÚBLICA CRIMINOSA

O jornalista José Arbex diz que a Nova República, surgida com a Constituição de 1988, morreu.
Não se tem dúvida de que uma quadrilha se apropriou do Executivo e do Legislativo, com ramificações no Judiciário, ao mesmo tempo em que o PCC se expande pelo Brasil, América do Sul e com ligações financeiras e de estrutura com o crime organizado italiano, chinês e do oriente médio.
O Brasil pode se tornar um país liderado por uma organização criminosa, e não falo partidária, digo do PCC. A comprovação de ligação de políticos de peso, que comandam, e de magistrados com essa organização criminosa, se ainda formos uma República, é questão de tempo, pouco tempo.
Corremos um sério risco.
Já passou da hora de batermos panelas e de exigimos eleições diretas, com urgência.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

ALMA DE CRIANÇA


Alma de criança é aquela pura, ingênua, sem maldade, que transmite luz e não desequilibra o ambiente.
Quase todos nascemos assim, mas muito poucos se preservam assim.
A maioria se contamina pelo raciocínio equivocado da competição, da ganancia, do ódio, como se o mundo se resumisse apenas à matéria, com o qual o poder tão bem se amolda.
Se a filosofia, a astronomia e até a matemática vão muito além da nossa compreensão, por que devemos acreditar que só existe o mundo material?
O mundo é feito de energias, que nos formam e transformam. Elas nós não vemos, mas alguns podem sentir.
O mundo é vasto e lógico, absolutamente lógico.
O que move o mundo é a vida, sempre intensa e diversificada.
Quando não acreditamos nela ou não permitimos que exista, seja por ignorância, egoísmo ou outra maldade, ela se esvai e só resta a escuridão do vazio, de um certo imobismo, da absoluta ignorância e incompreensão, a que muitas chamam de antítese da vida.
Essa, a vida, nunca deixa de existir, pois tem como mola propulsora a energia, fonte inicial da vida. A energia se espalha, se multiplica, se divide, mas não desaparece totalmente. 
A energia e a imensidão do Universo retratam como a própria vida deveria ser: intensa, pulsante, sem limites e sempre em busca do desconhecido.
Quanto mais vivemos, mais a vida se consolida em nós e no nosso Universo.
Cada Universo reflete a própria vida. O conjunto de vidas reflete a infinitude de Universos e, por que não, das possibilidades de vidas.
Não somos únicos, mas somos especiais. Somos os condutores de um pedaço do universo nada insignificante.
Não somos um grão de areia, mas uma unidade sem o qual o número imenso perderia o sentido e se transmutaria.
Temos responsabilidades e por isso os antigos buscavam o equilíbrio anterior e a paz interior.
A paz reflete-se, como a luz e a energia que não vemos. A esse conjunto de possibilidades podemos chamar de vida.
Anime-se. Há muitos caminhos a percorrer, escolher e sonhar. 
Viva. Viva a eternidade e as possibilidades.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

DESINDUSTRIALIZAÇÃO, O ETERNO GOLPE DE PARTE DA ELITE CONTRA O PAÍS

Não é por outro motivo que repito que revivemos a Era Vargas. Há uma luta interna entre aqueles que querem a industrialização e o progresso do País e do seu povo contra aqueles que querem abocanhar parte das riquezas para si, numa apropriação do público pelo privado.

Nesse instante, o lançamento da candidatura de Ciro Gomes pelo PDT, partido de Brizola, de Darcy Ribeiro e de Prestes, e herdeiro do trabalhismo de João Goulart e de Getúlio Vargas, faz-se mais importante do que nunca.
O Brasil precisa de um nome que una o Brasil, que defenda a industrialização, o crescimento, a boa educação, a cultura e a saúde. E Ciro Gomes reúne os predicados necessários. Poucos entendem de economia como ele, que estudou no exterior e foi um dos criadores do Plano Real, no governo Itamar Franco.
Ciro Gomes nunca foi processado por enriquecimento ilícito, enquanto governador mandou devolver presentes que uma empreiteira enviou e, transparente, fala abertamente o que pensa, destoando dos políticos que passam a imagem de bonzinhos e depois se revelam verdadeiros monstros.
Veja a matéria do Jornal Brasil de Fato sobre a grave desindustrialização que afeta o Brasil.
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DO JORNAL BRASIL DE FATO

 

Desmonte

FHC em 1997, Lava Jato em 2014: o novo-velho golpe contra a industrialização do país

Última reportagem da série Lava Jato e Desindustrialização compara os dois momentos de desmonte do setor produtivo

Brasil de Fato | Curitiba (PR)

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População foi às ruas para protestar contra a privatização da companhia Vale do Rio Doce, vendida "a preço de banana" em 1997 - Créditos: Arquivo - Brasil de Fato
População foi às ruas para protestar contra a privatização da companhia Vale do Rio Doce, vendida "a preço de banana" em 1997 / Arquivo - Brasil de Fato

A suspensão dos contratos da Petrobras com empreiteiras brasileiras, nos últimos dois anos, paralisou vários segmentos da indústria nacional. Entre os mais afetados, estão os setores metalúrgico, naval e de construção civil.

Os dois primeiros capítulos desta série demonstraram que o rombo na economia brasileira pode ser atribuído não só aos políticos e empresários, que cometeram crimes, mas também ao Poder Judiciário, que poderia ter evitado parte desse prejuízo – sem enfraquecer o combate à corrupção.

Mas como é que a  Lava Jato foi capaz de comprometer, em poucos meses, o avanço da indústria nacional? A reportagem do Brasil de Fato Paraná ouviu pesquisadores sobre o tema e explica por que a economia do país não conseguiu sobreviver aos impactos da operação, e como ela beneficiou o mercado financeiro internacional.

Histórico 

Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, não se pode analisar os impactos da Lava Jato sem compreender o desmonte industrial ocorrido na década de 1990: "O Brasil vinha estruturando sua indústria desde os anos 1930, com Getúlio [Vargas], depois Juscelino [Kubitschek], e uma pequena interrupção entre 1961 e 1963. E os militares [a partir de 1964] retomaram o projeto de industrialização, mantendo o arranjo produtivo institucional entre bancos públicos, empresas estatais e articulação com o setor privado", relata. "O chamado "milagre brasileiro" se apoiou nisso, até chegar no [Ernesto] Geisel, que cometeu o pecado do endividamento externo".

Para superar o período de instabilidade financeira que sucedeu a ditadura militar (1964-1985), o Brasil adotou o chamado projeto econômico neoliberal. A indústria foi enfraquecida e as portas foram abertas para o capital estrangeiro. "Vendeu-se a ideia de que era preciso abrir a economia e diminuir o papel do Estado, através das privatizações", critica o economista.

O abandono do projeto de desenvolvimento nacional, realizado nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), pode ser traduzido em números: "Se, no final dos anos 1980, a indústria tinha quase 25% de participação no PIB [Produto Interno Bruto], hoje tem 9%. E isso não foi revertido no governo Lula". Ou seja, o efeito da Lava Jato foi ainda mais devastador porque o Brasil sequer havia se recuperado da destruição causada pelo projeto neoliberal, 20 anos antes.

Mau negócio

Entre as empresas privatizadas na década de 1990, está a mineradora Vale do Rio do Doce. Ela foi vendida por FHC por R$ 3 bilhões e, 14 anos depois, tinha um valor de mercado estimado em R$ 300 bilhões. Os movimentos sociais foram às ruas e denunciaram o modelo exportador adotado pela Vale, que não gerava emprego, desenvolvimento e industrialização.  O pretexto da venda era o pagamento de parte da dívida pública interna e externa. A exemplo de outras privatizações, isso nunca aconteceu.

A Vale do Rio Doce principal empresa estratégica brasileira no ramo de mineração e infraestrutura, e suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões à época do leilão. Nos últimos três anos, o fantasma das privatizações voltou a assombrar aeroportos e companhias de saneamento em todas as regiões do país, com a falsa promessa de tirar os estados do vermelho.

"Foi uma perda de oportunidade", resume o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Caio Bugiato, sobre aquele período. "Tínhamos finalmente uma democracia, uma Constituição cidadã, com vários direitos sociais garantidos, mas a política econômica, que poderia gerar empregos e desenvolver o país, foi rompida".

Bugiato aponta que, durante os oito anos de governo Lula (PT), o investimento na indústria alcançou, em alguns meses, o mesmo patamar dos anos 1980. Porém, não houve uma política de diversificação. "A indústria brasileira se concentra em poucos setores: gás, petróleo, indústria de alimentos, construção civil, e para por aí. Como os investimentos se concentram em grandes monopólios e em estatais, como a Petrobras, nos momentos de crise, como na Lava Jato, toda a economia nacional é afetada", explica.

Essa situação fica evidente no relato de Edson Rocha, conselheiro do Fundo da Marinha Mercante (FMM). A indústria naval foi desmantelada rapidamente, após a Lava Jato, porque a maioria dos estaleiros do país dependiam da demanda da Petrobras. "Lula e Dilma [PT] fizeram um esforço para investir no nosso setor. Mas a indústria naval não pode ficar pendurada em uma decisão governamental. Tem que criar uma política de Estado", defende Edson Rocha. "O Brasil tem quase 9 mil km de costa e vários rios navegáveis. Por que é que a gente transporta quase tudo por via terrestre? Como um país desse tamanho não tem uma indústria naval forte?".

Falta autonomia

Luiz Gonzaga Belluzzo afirma que os esforços realizados nos últimos 15 anos para retomar o caminho do crescimento não foram suficientes. "Quando eu digo que os governos PT fazem parte do período neoliberal é porque não se tocou em questões fundamentais. Tivemos um movimento de expansão da economia, e os programas sociais melhoraram muito a vida das pessoas. Mas, em termos de indústria, houve certa hesitação", pondera. "É claro que reconstruir todo o parque industrial não era uma tarefa fácil. Seja como for, o pré-sal poderia fazer esse papel, com o chamado "conteúdo nacional".

A entrega da camada pré-sal para o investimento estrangeiro, além de ser uma consequência direta da Lava Jato, segundo o economista, impede qualquer perspectiva imediata de reindustrialização do Brasil.

O que explica os altos índices de crescimento econômico da China, na comparação com o Brasil, é que lá foi possível preservar a autonomia do setor público. "São as empresas estatais chinesas que definem a relação que vão manter com o setor privado. O que aconteceu na Petrobras, de certa forma, é que se inverteu a relação: as empresas privadas começaram a determinar as políticas da Petrobras. Com o neoliberalismo, houve uma tremenda invasão, no Brasil, do privado sobre o público", interpreta Belluzzo.

Papel do BNDES

Segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base, o país possui um déficit em infraestrutura equivalente a R$ 3 trilhões. Com 14 milhões de desempregados e a necessidade urgente de voltar a crescer, o governo Michel Temer (PMDB) caminha na contramão do desenvolvimento. Uma das propostas do presidente golpista é reduzir o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal entidade fomentadora de obras e empreendimentos no território nacional.

"Foram ventiladas várias possibilidades de se fazer isso [enfraquecer o Banco]. Uma delas, que se concretizou no ano passado, foi a devolução antecipada de R$ 100 milhões referentes a empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES. E a ameaça mais recente é a MP [Medida Provisória] 777, que está em fase de audiências públicas", afirma Thiago Mitidieri, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES. 

A MP 777 coloca uma série de barreiras para investimento no setor produtivo, encarece os custos de financiamento e aumenta o risco dos empresários, favorecendo a concorrência estrangeira. A tentativa de imobilizar o banco público, segundo Mitidieri, é uma repercussão equivocada da operação Lava Jato.

"Nenhum funcionário do BNDES foi citado por receber vantagens ou favorecimentos. Tanto nas delações da Odebrecht quanto do Joesley Batista [executivo da empresa JBS], fica claro que não havia envolvimento do corpo técnico do BNDES", esclarece. "Mas vivemos um período de destruição da reputação do Banco. É uma questão de oportunismo. Essa campanha coloca a opinião pública contra o banco, favorecendo qualquer proposta de mudança, mesmo que seja contrária ao interesse nacional". 

De acordo com Belluzzo, não há saída para a crise do setor industrial sem o fortalecimento do Estado e dos bancos públicos. "O sistema de inovação exige um aporte muito grande de recursos, tanto humanos quanto financeiros. Porque a inovação tem um risco muito grande, e o Estado tem que mitigar esse risco. Eu não estou querendo minimizar, pelo contrário, eu estou exaltando o papel do empresário. Só que, hoje em dia, objetivamente, a articulação é essa", afirma o economista. Tudo ao contrário do que propõe o governo Temer. 

Alternativa

A Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais em defesa da democracia e da classe trabalhadora, lançou há dois meses um documento com alternativas para a política econômica do país. O material, chamado de Plano Popular de Emergência, propõe saídas para o cenário apresentado pelos economistas.

O Plano inclui a elevação dos investimentos a 25% do PIB no prazo de quatro anos. Além disso, prevê a suspensão das concessões e privatizações realizadas durante o governo Temer, por exemplo, a venda de ativos das empresas estatais e os leilões das áreas do pré-sal.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O MUNDO IDEAL NÃO É AZUL. É DOCE!

O MUNDO IDEAL NÃO É AZUL. É DOCE!

 

Não há palavra mais doce que o MEL.

Não há som mais doce que o RISO DE UMA CRIANÇA.

Não há escrita mais doce do que a POESIA.

Não há comida mais doce que a de nossa AVÓ.

Não há bebida mais doce que a água gelada no calor.

Não há sentimento mais doce que o AMOR.

Não há relação mais doce do que a de MÃE.

Não há local mais doce que o COLO.

Não há trabalho mais doce que o de CUIDADOR.

Não há animal mais doce que o CACHORRO.

Não há planeta mais doce que a TERRA.

Não há vida mais doce que a sonhada com cores.

Não há nada mais doce do que a doce visão do mundo.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

VOLTAMOS Á ERA VARGAS, COM UMA DIREITA E UMA ESQUERDA QUE NÃO APONTAM PARA AS SOLUÇÕES QUE O PAÍS PRECISA

Parece que vivemos em plena era Vargas, onde a esquerda e a direita, radicais, sem apresentar propostas efetivas, se digladiavam contra o governo que implementava avanços sociais e econômicos. Hoje, a esquerda representada pelo PT e PC do B, e a direita representada pelo PMDB, PSDB e aliados, não discutem questões centrais, como o pagamento de juros e remessa de lucro.
Os governos trabalhistas de Vargas e João Goulart mexeram nessas questões centrais e fomentaram a industrialização e o desenvolvimento do país, além de propiciarem garantias trabalhistas, previdenciárias e sociais e, por isso, pagaram um preço alto. O primeiro praticou suicídio e o segundo foi destituído do poder à força. 
Falta ao Brasil, hoje, a visão ao mesmo tempo nacionalista e de planejamento de um Brasil social e economicamente mais avançado traçado pelos governos trabalhistas de Vargas e de Jango.
Hoje o Brasil se desindustrializa e empobrece. Há absurdos ocorrendo há anos e ninguém teve coragem de mudar.
Soa como mentira, mas é verdade. E os dados são divulgados pela FIESP em seu site http://www.jurometro.com.br/

Só nesse ano, 2017, até o dia 17 de julho, o Brasil gastou 212 bilhões de reais no pagamento de juros da dívida. É muito dinheiro.  E em 2016 foram pagos R$ 407 bilhões de juros, sem abater o principal da dívida, segundo o site do Nexo Jornal.

O que isso significa? Que o governo tem que arrecadar mais impostos e, ao mesmo tempo, reduzir investimentos em áreas essenciais, como educação e saúde, e cortar gastos com benefícios sociais e com o pagamento de folha de servidores.

Não é por outro motivo que o governo pretende aprovar, a todo custo, a reforma da previdência social. Para ele isso é muito mais fácil, pois não precisa lidar com os todos poderosos donos das instituições financeiras. Basta negociar com o Congresso Nacional. E como se dá essa negociação? Você já sabe bem, e não tem nada de ético nisso.

Para pagar juros que beneficiam as instituições financeiras internacionais e nacionais, além dos rentistas, aqueles que lucram muito com os juros pagos pelos bancos, o governo não quer mudar as regras do pagamento de juros, nem negociar. E, ao contrário, continua beneficiando essas poderosas instituições, até perdoando dívidas, como fez recentemente com o Itaú e o Bradesco.

Um governo sério em qualquer outro país do mundo negociaria com as instituições para rever esses juros exorbitantes, baixando-os a todo custo.

Com esses valores altíssimo de juros, o povo empobrece, as indústrias recrudescem e o Brasil fica economicamente mais frágil a cada dia.

O governo brasileiro, para dar conta de pagar os juros da dívida que ele criou, prefere mexer na carne do brasileiro e na estrutura do próprio país, cortando em educação, saúde, serviço público e benefícios sociais. Ou seja, o país está ficando cada vez mais pobre e endividado, e sem fazer o investimento básico na educação dos seus jovens.

Mas não são só as taxas de juros e os valores exorbitantes que o governo paga diariamente que tornam a 8ª economia do planeta mais pobre a cada dia. A remessa de lucros também colabora no empobrecimento do país. De uma forma ou de outra, seja com o pagamento dessas altas taxas de juros ou com a remessa de lucros ao exterior, o dinheiro não fica no Brasil e não é investido na industrialização e na produção. Daí tem-se menos empregos, uma economia mais frágil, menos investimento em tecnologia, educação e saúde de pior qualidade e nos tornamos, cada dia mais.

E ainda tem gente que defende o capitalismo que o Brasil adotou, que em nada beneficia a produção, o consumo ou as pessoas.

Passou da hora de revermos esse modelo de capitalismo e voltarmos a produzir e a investir na produção e também na formação laboral, educacional e cultural de cada brasileiro. Foi isso o que Vargas fez há quase 90 anos e a direita e a esquerda continuam a radicalizar sem uma proposta efetiva para o Brasil de amanhã.

Daqui a pouco teremos que vender territórios, seja a Amazônia, o sudeste ou até o Brasil inteiro, para pagar os juros da dívida. É isso o que a direita está admitindo nas entrelinhas e o que a esquerda ainda não foi capaz de enxergar.

Isso não é apenas vergonhoso, injusto ou kafkiano. É absurdo e criminoso, pois corrói a economia do país, atinge direitos sociais consagrados pela Constituição Federal e, por culpa ou omissão, conta com a conivência de agentes políticos.


terça-feira, 4 de julho de 2017

A ERA DA DESINFORMAÇÃO. O VAZIO DO USO DA TECNOLOGIA COMO UMA DAS CAUSAS DA VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE.

Ao contrário do que se pensa, cada vez há mais guerras, mais sangue, mais dor e sofrimento.

A TV propagandeia a guerra da Síria, mas tantas outras existem no Oriente Médio, na África e na Ásia. Quantas outras, de menor vulto, não ocorrem nas grandes cidades da América Latina, que sofrem com os roubos, o tráfico, as milícias e o terror imposto por organizações criminosas?

Como no resto do mundo, há aqui os que lucram e há também a maioria que sofre com todo esse terror.

Quem lucra são os fabricantes de armamentos cada vez mais poderosos, sofisticados e considerados imprescindíveis à segurança do cidadão e do País. Os produtores de softwares de segurança inteligente faturam alto nesses tempos em que se julga vital o monitoramento ininterrupto de todos. Também quem lucra são empresários e policiais voltados à prestação de segurança particular. Os corruptos que permitem que armamentos pesados, ilegais, passem pela fronteira também lucram como nunca.

A polícia se arma até os dentes e os bandidos também compram armamentos sofisticados e poderosos. Há muitas armas. Armas demais e segurança de menos.

Há um poderoso lobby das indústrias de armamentos e de softwares de segurança que convence os governos a comprar armamentos e equipamentos de segurança caríssimos.

Por outro lado, a bandidagem também se arma.

E as indústrias ganham vendendo para as polícias e para os bandidos. Lucram sempre!

Quem não lucra é a população que paga impostos e vê cada vez mais uma parte considerável do erário ir para a compra de armamentos, softwares e equipamentos de segurança, além de um pessoal sempre crescente. E a criminalidade não decresce, aumenta.

Ao mesmo tempo em que a segurança cresce a sua participação no erário, a educação e a saúde decrescem em um país já mal servido de serviço público de qualidade.

Há algo de errado nisso tudo.

Com o dinheiro escasso, diminui-se a verba para aplicação na educação, cultura e saúde. A população, sempre acostumada com a política do pão e circo, desde os romanos, procura o lazer através do consumo. Como não pode consumir os produtos caríssimos, ou compra os produtos piratas, falsificados, ou pratica pequenos crimes para adquirir os originais. O resultado disso é o aumento nos furtos e roubos e também na venda de produtos piratas, consumidos hoje até por aqueles que detêm melhores condições financeiras. Muitos dos que não se contentam com tanta futilidade, no vazio espiritual, se afundam na bebida e nas drogas ilícitas. O tráfico cresce, sempre associado ao crime organizado, criando um emaranhado difícil de elucidar, ligando produtos piratas, tráfico de armas, tráfico de drogas, tráfico de seres humanos, incluindo para fins de prostituição, e  jogos ilícitos.

A grande operação montada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, a Lava Jato, se preocupa com a questão da corrupção dos políticos, mas não seria de surpreender se uma investigação mais específica comprovasse a ligação de muitos agentes políticos, sejam deputados, senadores, ministros, inclusive altos integrantes do Judiciário, com o tráfico ilícito de entorpecentes.

Na sociedade de consumo, a necessidade do consumo dos produtos mais variados impõe a necessidade primeira do ter dinheiro. E daí advém essa louca problemática característica principalmente dos países pobres e em desenvolvimento.

A sociedade hipócrita se perde nesse emaranhado de falsas necessidades: armas desnecessárias e bens de consumo desnecessários. E o resultado numa sociedade socialmente tão injusta como a nossa, desprovida de apego pela cultura, não poderia ser diferente: muitos crimes e que alcançam todas as classes sociais, sem exceção.

Obviamente não há solução mágica, pois não há como mudar o ser humano num passe de mágica. O que se pode fazer, e deveria ser adotado como prioridade, é enfatizar a necessidade do ser humano se conhecer profundamente, através dos estudos, da participação em atividades culturais diversificadas.

Vivemos numa sociedade que se apresenta como da sociedade da informação. Mas não. A tecnologia que desenvolvemos transmite informação rápida, mas o faz de forma vaga e superficial, como vem ocorrendo nas redes sociais e na internet como um todo, sem o aprofundamento e questionamento necessários. O ser humano passa a ser, então, um repetidor de frases. E aí há o risco de massificação e engodo. Os fascistas sempre se utilizaram de frases pontuais aparentemente fortes, mas vazias de conteúdo. E a nossa sociedade, com essas frases de efeito, vai se tornando cada vez mais superficial e tendente ao radicalismo.

O que falta, na verdade, é o conhecimento que somente pode ser suprido por uma valorização da educação, da cultura, da participação popular, da discussão e da reflexão. Para isso há a necessidade do tempo vago, o que o consumo desenfreado não nos permite. Nessa sociedade hipócrita, não temos tempo para nós mesmos, para o autoconhecimento e reflexão, mas apenas para a superficialidade de relacionamentos temporários, para informações que nada acrescem e para a mera aparência física.

Poderíamos resumir essa era fruto da alta tecnologia como a de falta de conteúdo, por mais antagônico que possa parecer. Os cientistas que desenvolvem e desenvolveram toda essa tecnologia do conhecimento devem estar se remoendo. Não foi para isso que tanto se dedicaram. Eles visavam o progresso da humanidade. Mas, como sempre, pessoas interessadas no lucro fácil, desvirtuaram o uso e transformaram a própria humanidade em massa de consumo do absolutamente desnecessário, seja de informação vazia, seja de produtos sem sentido.

Se toda a tecnologia fosse melhor empregada, haveria a diminuição das armas e dos crimes, pois o ser humano estaria mais preocupado com o conhecimento, o saber, o descobrir, o sentir, do que o mero ter a que nos reduziram – todos nós - hoje em dia.

Se o desenvolvimento tecnológico, portanto, for melhor empregado, poderemos ter a chance de viver em um mundo melhor. Para isso teríamos que excluir o instagram, o facebook e tantas outras idiotices criadas como passatempo. Se transformarmos a internet em instrumento real de conhecimento, com o saber dos livros e das fontes de humanidades, fonte de divulgação da arte, poderemos ter sucesso e alcançar uma sociedade menos violenta e mais justa.

Não podemos nos deixar enganar pelas aparências


Muitos admiram os Estados Unidos como democracia em razão da mistura racial de seu povo.

Mas não podemos nos enganar. Embora os Estados Unidos sejam um país de imigrantes, que inclusive teve um presidente negro descendente de islâmico, isso não significa que a sua política exterior esteja coadunada com essa visão mundialista e de integração. Pelo contrário.

Os Estados Unidos foram colonizados pelos ingleses e aos poucos começaram a receber imigrantes irlandeses, italianos e de outras nacionalidades. Hoje, Nova York é a cidade mais cosmopolita de todo o mundo. Isso é fato!

No entanto, o posicionamento ideológico do governo dos Estados Unidos, no que tange à política exterior, segue sempre um mesmo viés autoritário e de segregação. Intervêm militarmente nos países menos favorecidos economicamente quando lhes convêm; incentiva a oposição em países que considera chaves, através de treinamento, financiamento ou fornecimento de armas.

Para perceber a postura racista dos Estados Unidos basta perceber aonde eles são mais atuantes.

No plano militar estratégico, estão presentes na Europa, numa aliança (sim, composição amigável) estratégica. Pense bem. A Europa é branca e vizinha do Oriente Médio, África e Ásia, locais de importância para os Estados Unidos.

No plano de intervenção, atuam fortemente no seu quintal, América Latina, mas de maneira impositiva, com viés imperialista (A América Latina é miscigenada).

Na África, Oriente Médio e Ásia, os Estados Unidos são ainda mais arrogantes e muitas vezes iniciam guerras, quando não financiam grupos armados extremistas que praticam terrorismo. A região é rica em Petróleo e Gás. A Ásia é estratégica não apenas pelo petróleo e gás, mas pela proximidade de dois grandes rivais: a China, concorrente econômico, e Rússia, o segundo país mais bem armado de todo o planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Na Ásia há uma diversidade de etnias e de religiões não compreendidas pelo governo estadunidense. Mas a Ásia, hoje, parece ser a prioridade do governo dos Estados Unidos.

Toda a briga com a Coreia do Norte não se dá apenas pelo orgulho estadunidense, mas também e principalmente pela localização estratégica daquele país, ao lado da China e da Rússia. Assim, o armamento da Coreia do Sul e do Japão segue a lógica de cercar a China e a Rússia ao leste. De outro lado estão a o Paquistão, Iraque e Afeganistão, com exércitos estadunidenses cercando ao sudoeste. A Ucrânia, ao Oeste. Os Estados Unidos ainda têm um importante aliado ao sul, a Índia, velha rival da China.

Os Estados Unidos que criaram a Ku Klux Klan, também desenvolveram a teoria da Eugenia, adotada e difundida pelos nazistas. E não dão bom exemplo ao mundo no que toca ao respeito à diversidade, às diferenças de etnias e de religiões.

Mais que imperialistas que impõem o sistema capitalista financista, os Estados Unidos impõem ao mundo diversos estereótipos, absolutamente falsos, mas que estão no inconsciente de muitos, como o de que representam a liberdade, quando na verdade atuam – através de ações de inteligência e interferência e de guerras - impedindo a liberdade dos povos; que os islâmicos são radicais, quando na verdade o radicalismo surge a serviço e financiado com dinheiro dos Estados Unidos; que atuam com eficácia contra o terrorismo internacional, quando o líder do Daesh foi assassinado por forças russas; que defende os Estados de Israel e da Palestina, quando financia, às custas do contribuinte estadunidense, o governo radical de Israel, que quer criar uma cada vez maior área de extensão da Europa branca no Oriente Médio, com grandes somas de dinheiro e de armas sofisticadas.  

Os negros, os árabes, os asiáticos e os mestiços nunca foram prioridade para a política exterior dos Estados Unidos, mais que nunca assemelhada à eugenia tão proclamada nesse país no início do Século XX.

Não é a toa que querem construir um muro cada vez maior entre os Estados Unidos e o latino México. Em relação ao vizinho do norte, o branco Canadá, não há essa intenção.

Não é a toa que mantêm laços militares com os países brancos europeus, Canadá, Austrália e outros.

Mas como força imperial que é, a mudança dos Estados Unidos não virá de fora, do confronto armado, mas de dentro, através de sua população que preza pela miscigenação, que admira a diversidade étnica, religiosa e cultural. Ninguém sabe quando isso acontecerá e se realmente ocorrerá.

O mundo torce para que a miscigenação e multidiversidade cultural existente nos Estados Unidos possam influenciar a política exterior estadunidense, hoje, como sempre, segregacionista e racista. A supremacia branca da Ku Klux Klan persiste, mas na política exterior. Ou estou equivocado? 


segunda-feira, 3 de julho de 2017

TOCANTE É AQUELE QUE TOCA, QUE ALCANÇA E ILUMINA UM ESPAÇO

A dependência é uma doença, daquelas que mata.
Para o tratamento dessa doença é necessário, primeiro, o convencimento.
Se a pessoa, dependente, provavelmente depressiva, não se convence da necessidade do tratamento e continua a se abater com o vício, cabe à família e aos profissionais decidir se deverão internar, ou não.
Sim, como ocorre com um doente, terminal ou não, que é levado ao hospital, muitas vezes a internação hospitalar para o tratamento é a única possibilidade. 
Não acho que a internação compulsória possa ser aplicada sem avaliação e sem uma primeira tentativa de convencimento. Mas se há risco de morte, a família e os profissionais de saúde deverão avaliar.
 
A história abaixo é de tocar e de iluminar nossas mentes, almas e corações.
 
 

Duas décadas de crack e cinco anos na Cracolândia: funcionário público tenta retomar vida e profissão

Em depoimento ao G1, Rodolfo Pereira de Almeida narra sua história como dependente químico, o sofrimento da abstinência e o desejo de se ver livre da droga. 'Eu só não quero mais usar crack, não quero mais, esse é meu sonho'.

Usuário de crack há 20 anos relata sua história na Cracolândia de SP

Usuário de crack há 20 anos relata sua história na Cracolândia de SP

"Meu nome é Rodolfo Pereira de Almeida, tenho 50 anos, completei agora em janeiro. Não teve bolo, não teve festa, mas estou feliz que eu estou vivo ainda, apesar de toda minha dependência".

Usuário de crack há 20 anos, Rodolfo encara atualmente uma nova tentativa de se manter longe da droga. Já soma mais de 60 dias sem uso compulsivo, que teve início em 2012, quando conheceu a Cracolândia, no Centro de São Paulo, e passou a frequentar o chamado "fluxo" – onde chegou a residir, entre idas e vindas, por cinco anos.

"Um negocinho de um grama derrubou um cara de 100 quilos e me jogou no chão. E eu não quero mais isso. Eu quero ter força para enfrentar esse demônio, que é pequeno, só que é vigoroso. Ele te arrebenta", diz Rodolfo.

"Quem nunca catou lixo, um dia vai catar. Se você pensa que você tem controle no começo, lá na frente você vai perder. Se você pensa que o seu dinheiro vai ser suficiente, se você tiver R$ 1, você vai dar um trago; se você tiver R$ 1 mil, você vai gastar os R$ 1 mil. Então não adianta. Você vai perder o controle a qualquer momento da sua vida", garante.

Rodolfo estava na Cracolândia na madrugada do dia 21, quando teve início a ação da Prefeitura e da polícia para combater o uso de drogas da região. A intervenção no local fez os usuários se deslocarem da Rua Helvétia para a Praça Princesa Isabel, onde permaneceram até a noite do dia 23 de junho, data em que migraram para a Alameda Cleveland.

Envolto em seu cobertor, viu o olho arder na cena que compara a uma guerra civil e tomou a decisão de deixar o território. "Foi quando teve a invasão, eu procurei sair de lá. Falei: já vi essa história antes. E aí eu procurei me distanciar do crack".

A motivação, segundo ele, é sempre a mesma: recordações. Durante o uso não há saudade. Passado o efeito, as lembranças aparecem.

"Davam esses flashbacks e eu queria parar. Quero voltar, quero dirigir, pegar a Avenida do Estado e ir pra casa. Pegar minha filha e ir para a praia. Aí eu olhava para mim, todo sujo, com uma manta mais suja do que eu, que às vezes era até emprestada, ou eu catava do lixo."

Trabalhador

Funcionário público, Rodolfo foi casado por 11 anos e tem uma filha de 16. Tinha carro e apartamento no Centro de São Bernardo do Campo. Frequentava um clube do bairro com a família, adorava videogame, cinema e literatura. Devoto de Stanley Kubrick, já leu o livro e assistiu ao filme "Laranja Mecânica" incontáveis vezes.

"Eu era um cara trabalhador, sempre fui muito honesto. Não sei tirar algo de alguém que se eu tirar eu sei que nem durmo à noite. Um bunda mole convicto. Uma pessoa normal, um pai de família. Vivia uma normalidade. (...) O que me derrubou mesmo foi o crack. Eu sempre fui bastante compulsivo com a droga. Com a cocaína, eu tinha certo controle. Eu usava, ia trabalhar, tinha minha vida doméstica normal. Tinha meu videogame, minha televisão, adoro filme."

Primogênito de três meninos, ele nasceu e viveu a primeira infância na Zona Oeste de São Paulo. Seu pai era zelador e sua mãe responsável pelos serviços gerais de um prédio em Perdizes. Quando estava com sete anos, descobriu os extremos da cidade, após o patriarca ser demitido e a família mudar de casa, bairro e região.

"Acabou o contrato, meu pai ficou desesperado que a gente tinha que sair do apartamento. Aí nós fomos para a Zona Leste, no fundão, Jardim Progresso, longe pra caramba. A gente acostumado com aquela vida de playboy, molequinho mimado, cheguei lá a molecada brincando na lama, andando de carrinho de rolimã, brigando, jogando bolinha, coisas que eu não conhecia direito. E eu fui me envolvendo. Sete, oito, nove, dez anos. Mudamos para o Cangaíba, meu pai comprou um bar. Quando eu estava com 14 anos, comecei a experimentar bebida. Aí foi aquela escadinha decrescente".

Vício

Álcool, maconha e cocaína. Reduzia o consumo diário quando se voltava para os estudos. Leitor assíduo, conheceu filosofia e sociologia em uma escola pública de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, cidade em que a família foi residir após a falência do bar.

"Eu tive uma escola ótima, apesar de ser no subúrbio, tive professores muito bons. Sociologia, filosofia, que eu nunca tinha ouvido nem falar de filosofia, que se dava na escola. A gente tinha opção de escolher algumas matérias. E eu escolhi filosofia. Comecei a gostar muito, me afundar nos livros. Deixei o uso por algum tempo."

Aos 25 anos, na ausência da cocaína, aceitou o substrato do que procurava. "A cocaína estava em falta na favela. E eu caí naquela armadilha do destino e comprei crack", relembra.

"E aí a história você já sabe. Rua, desavenças familiares, perda de emprego, perda de caráter algumas vezes. Eu reavi meu caráter há pouco tempo. Depois que eu comecei a entrar nos projetos e me reanimar de novo. Tentar parar de vez, que é muito difícil", diz Rodolfo.

"Tenho meus ataques de abstinência, que são terríveis. Dizem que quando a gente ri, a gente ri com todos. Eu choro sozinho de vez em quando."

À época em que conheceu a Cracolândia, o "fluxo", área que concentra os usuários, ainda era rotativo. "Começava na Rua Guaianases à noite, depois descia para a região da Helvétia. Hoje, ele é fixo ali. Mas teve uma época que era rotativo. À noite, a gente ficava na Guaianases, e de manhã a gente descia. Acompanhado até. Os policiais enxotavam a gente."

Começou frequentando o local como "turista", passando apenas os finais de semana. Em pouco tempo, porém, já tinha feito da rua a morada.

"Quando eu conheci o crack, as coisas começaram a mudar. Eu acho que ele mexeu muito com meu subconsciente. E a minha compulsividade aumentou muito com o uso do crack. Eu não me via feliz usando uma pedra. Às vezes eu pegava um pino de cocaína e usava a noite inteira um pino. Com o crack eram dez, 15, até 20 se tivesse eu usava. Às vezes não estava mais nem dando barato, dando efeito, eu usava pela compulsividade."

Dos tempos na rua, recorda de ter contraído uma bactéria que o deixou paralisado por três dias. Diz ter tido medo de como poderia morrer - não da morte em si - e conta que foi preso por suspeita de tráfico. Na ocasião, passou um mês em uma delegacia, mas teve a sorte de ter vivido poucos episódios de violência.

"Fui para averiguação, fiquei 30 dias. Queriam me colocar como traficante. Eu estava com oito pedras de crack e R$70 em dinheiro. Eu conversava muito bem. Acho que através da minha leitura, que eu lia muito, muito. E eu conhecia um pouquinho de direito também, isso me ajudou. Em uma mudança de plantão, chegou um delegado e pediu para me liberar. Me devolveram meu dinheiro. Foi uma vez só, para nunca mais."

Van Helsing

Após passar por seis internações voluntárias, e ser radicalmente contra a compulsória, hoje ele se mantém longe da droga com tratamento médico nos serviços públicos (Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas) e permanecendo distante fisicamente da Cracolândia.

"Eu procuro fazer a minha cama. Estar nos lugares que não há uso, fugir do fluxo como drácula foge do Van Helsing. Fugir dos lugares. Infelizmente eu tenho que fugir. A droga está em todos os lugares, mas o crack está mais ali no Centro."

Quando tem condições financeiras, paga um pernoite em algum hotel. Nos demais, recorre aos centros de acolhidas ou hotéis do programa de redução de danos, o Braços Abertos, criado pelo ex-prefeito Fernando Haddad, do qual fez parte. Doria prometeu acabar com o projeto da antiga gestão, mas a estrutura, na prática, ainda segue em vigor

 

Estigma mata

Rodolfo também tenta retomar o emprego. Durante um dos períodos em que conseguiu se distanciar da droga, chegou a voltar a trabalhar. No começo de maio, porém, teve uma recaída, voltou para o fluxo, e acabou sendo afastado do cargo. Concursado, ele trabalhava como escrituário em um fórum na capital paulista.

"Sonhar é possível. Eu quero retomar minha vida, trabalhar, ser uma pessoa normal. Vir para o Centro de São Paulo, tomar um café. Poder, no final de semana, ir na Rua Augusta, tomar uma cerveja e ir embora para minha casa. Ficar na internet de bobeira, lendo um livro. Eu só não quero mais usar crack, não quero mais, esse é meu sonho."

Romper com os preconceitos é outro desejo. "O crack é extremamente democrático. Ele nos une de uma forma que ali no fluxo não tem advogado, catador de lixo, são todos iguais. Todos querem a mesma coisa, que é fumar crack. As pessoas, eu gostaria que elas vissem de fora que é um doente", diz o funcionário público.

"É uma doença que a gente procurou, mas não sabia que ia ficar tão doente, como eu fiquei. A gente pensa que a gente é forte, mas a gente é carbono. A gente não tem que discriminar, ou estigmatizar. O estigma é que mata: 'O noia, o noia'".

E encerra com uma metáfora: "Eu tenho uma analogia, eu li um livro que tem uma vespa, não sei se é na África, que ela injeta o filhotinho dela em uma aranha. E a aranha é conhecida pela perfeição pitagórica da teia dela. Ela tece a teia perfeita. Quando essa vespa inocula o filhotinho dela dentro da aranha, ele começa soltar uns esporos e ele mexe com a mente da aranha, que ela não tece mais uma teia perfeita, ela tece um casulo. Ela vai morrer e quando o casulo tiver pronto, aquele bicho vai matar a aranha para ele eclodir. Eu uso isso para o crack. Eu sei que vai me matar. Eu uso toda a minha perfeição que era a minha vida, eu mudei totalmente e comecei a criar a teia da minha morte. Porque eu via que uma hora eu ia morrer. Porque usuário de crack é cadeia e cemitério."

sábado, 1 de julho de 2017

A ERA DOS FRACOS

A história da humanidade é repleta de pessoas que fizeram a diferença nos seus tempos, que mudaram comportamentos, pensamentos e revolucionaram o caminho da história humana.

Foi assim na era dos profetas, na dos filósofos gregos, na de Alexandre o Grande, na de Cristo, na dos filósofos de Córdoba, na de Galileu Galilei, na dos pensadores iluministas, na dos escritores revolucionários e libertários da economia e psicanálise, daqueles que ousaram mudar a mentalidade sobre o trabalho humano, na de Gandhi e do revolucionário Mujica.

De um tempo para cá não temos mais os ditos corajosos, aqueles que enfrentaram os poderosos, aqueles que mudaram comportamentos, aqueles que revolucionaram a humanidade.

O que temos são aqueles que rosnam, mas são incapazes de propor o avanço de algo. Querem a mudança para o passado e que são representados por pensamentos fascistas. Há, em maior número, aqueles que só pensam em si mesmos, que são os nossos líderes mundiais e do nosso país. Corruptos em todos os sentidos.

Vivemos a era dos fracos e dos acomodados.

E é esse marasmo que cria nas pessoas um certo desânimo. Mas se a história nos mostrou que ao longo da existência humana sempre apareceram os revolucionários, aqueles que nos conduziram, nos resta acreditar que aparecerá algum espírito iluminado para nos trilhar rumo a um caminho de felicidade, seja ele escritor, líder mundial, Messias ou um lunático sonhador.

Não é possível que permaneçamos estanques nesse mundo materialista repleto de violência, guerras, desamor, corrupção e individualismo doentio, que parece o reflexo do abismo no qual se aproxima, com enorme velocidade, a própria humanidade

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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