quarta-feira, 30 de setembro de 2015

OS CAMINHOS DE DAMASCO


Enquanto restar um único humano, a humanidade persistirá, mesmo diante da dor e das atrocidades. Os índios sobreviveram. Os negros também. Os ciganos e os judeus idem. Os sírios sobreviverão. Mas para fazer frente a tantas formas de desumanidades, os direitos humanos devem se fazer presentes, de forma célere e firme”.

 

O ATUAL CAMINHO DE DAMASCO

Primeira Parte – A DESUMANIZAÇÃO CAUSADA PELA GUERRA

 

Tenho ascendência síria, dentre outras etnias.

O meu avô, pobre, mas culto, falava inglês, francês, turco e aramaico, além do árabe, e veio para o Brasil fugindo da guerra logo no início do século XX.

Da minha família, a imagem mais marcante que criei desde novo é a de uma criança pequena, de seis anos, perdida em um deserto, logo após todos os seus familiares e habitantes do vilarejo em que moravam terem sido assassinados brutalmente. Essa história é baseada em fatos reais, mais precisamente na minha então pequenina trisavó, socorrida por freiras francesas e levada a um convento, onde cresceu e conheceu o seu futuro marido.

Por isso, para mim, no meu imaginário, as crianças sírias são as mais lindas do mundo, as mulheres de lá são as mais fortes e destemidas e o sírio é um povo simples, mas culto e visivelmente sofrido por milênios de dominações e exploração.

Hoje, a terra de parte dos meus antepassados vivencia a maior catástrofe humanitária mundial dos últimos 25 anos. Dos seus 17 milhões de habitantes, 4 milhões se refugiaram em outros países e 7 milhões e 600 mil pessoas se deslocaram internamente, buscando sobreviver em meio ao caos criado por uma sangrenta guerra civil iniciada em 2011. Dos sírios que ainda habitam o país, 9,8 milhões vivem com insegurança alimentar, com 6,8 milhões delas em situação grave, segundo a ONU. É um número muito alto, onde a economia esfacelada faz rarear o emprego e a renda, acarretando a fome e proliferando as doenças.

A situação demonstra ser ainda mais grave quando se depara com o número de mortos. Já são mais de 220 mil sírios mortos, entre mulheres, crianças, civis, militantes e soldados do governo. Um fato nem sempre abordado é que há muitos órfãos espalhados pelo país.

O que também é alarmante é a notícia de que governo e alguns grupos rebeldes são acusados de torturar, executar e de usar as terríveis armas químicas contra a população.

A guerra síria reúne um emaranhado de grupos e de interesses complexos. No entanto, de forma simplista, o que se destaca na mídia é a ação do Estado Islâmico que, com ações de terror e verdadeira selvageria, impõe o pânico entre os civis.

Esse grupo radical que adora criar polêmica, recentemente recomendou que meninas de apenas 9 anos de idade já se casassem. Além disso, costuma escravizar e estuprar mulheres e crianças de minorias religiosas que não reconhece, como as da comunidade religiosa Yazidis. Também costuma assassinar, seja crucificando, queimando vivo, afogando ou esquartejando aqueles que não se convertem ao islamismo ou que são considerados traidores.

Nesse mundo terrivelmente machista há heroínas que se destacam, como as voluntárias curdas da Unidade de Defesa das Mulheres, ligadas à Unidade de Proteção do Povo, de ideologia marxista, que já causaram grandes derrotas aos militantes do Estado Islâmico, inclusive na cidade de Kobani, na fronteira com a Turquia, como revela a revista Caros Amigos de julho deste ano.

Não bastassem a guerra, as violações constantes praticadas por todos os lados do conflito, os estupros, as escravizações, as perseguições, as torturas, as execuções, a falta de comida e a ruína econômica dela decorrente impõem a fuga massiva de pessoas rumo à sobrevivência. Como se pode perceber, vive-se uma crise humanitária sem precedentes nos últimos anos, com reflexos no mundo inteiro e principalmente nos países daquela região.

Essa é a primeira parte de um triste texto. Nas próximas, você saberá quais medidas humanitárias estão sendo adotadas pelo mundo e pelo nosso país, e o que mais poderia e deveria ser feito.

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

UM GRANDE PAÍS QUE PODERIA SEGUIR OS ENSINAMENTOS DO SEU PEQUENO VIZINHO


O Uruguai é um país muito agradável e que merece ser conhecido. Montevideo,  capital que reúne quase metade da população do país,  é um verdadeiro reduto da tranquilidade.
Os uruguaios são tão tranquilos que costumeiramente esquecem de trancar os portamalas dos seus veiculos e aí caem as coisas mais estranhas. No último dia de estadia presenciei sacos de tacos de golfe sendo espalhados pela avenida. Sem buzinar ou se estressar, os motoristas esperaram o distraído condutor do carro à frente recolher sua bagagem.
Os motoristas são os mais distraídos.  Vi algumas pequenas colisões, típicas da distração. Mas também vi pedestres desatentos, como uma senhorinha que por milagre não bateu a cabeca no portão de uma garagem que se elevava vagarosamente.  Como ela não pode ver o portão colorido? 
As pessoas caminham sossegadas, muitas sem rumo, atrapalhando os poucos apressadinhos. Lá as pessoas  costumam lhe dar atenção, quando fizer alguma pergunta.
Fiz muitas amizades e destaco duas. Uma com um ex líder estudantil que no passado teve que procurar asilo por conta da ditadura. Gentil, ele me deu uma aula sobre política. 
Para ele, a esquerda tem o dever de ser ética.  O contrário seria admitir uma incongruência com os valores que ela deve defender. 
Além do que, para ele a esquerda não deveria ocupar o poder,  mas orientar,  indicar o caminho através  da oposição. E se viesse a ocupar o poder, deveria ser pelo menor tempo possível,  para não se corromper com o "modus operandi" da política vigente. 
Ainda ressaltou que a esquerda deve estar próxima dos anseios da população. 
Foram frases ditas com absoluta sinceridade e sabedoria, com as quais concordo. Parece-me que os uruguaios têm o dom da franqueza e do poder de visão, tão bem,  capitaneado pelo agora ex presidente Pepe Mujica.
Um outro senhor que conheci apresentou se como Pepe. Com 50 anos de idade, enfrenta um câncer,  diabetes e anemia. Tem privações alimentares muito sérias e está proibido de realizar atividades físicas.  Para quem era fisioculturista, isso não deve ser nada fácil. Tornou se amigo e convidou me para visitar Montevideo outras vezes. Mas o melhor foi a indicação de uma boa parrilhada a um preço baixo. Realmente muito boa. Com menos de quarenta reais comi muito bem e ainda tive direito a uma taça de vinho bom e a uma sobremesa. Para quem conhece o Uruguai,  sabe que não é fácil comer bem por esse valor. Foi um achado esse local, assim como esse novo amigo, tao simpático, que fez questão de ressaltar que o povo uruguaio nunca foi consumista e que, de um tempo para cá,  estão sendo mudados os seus hábitos,  o que por consequencia tem elevado o custo de vida.
Por fim, o que me deixou perplexo é que Mujica, ao contrário do que pensava,  não é unanimidade nacional.
Tem muita gente da esquerda mais radical, como um taxista culto que conheci, que diz que ele é considerado por muitos um produto de marketing e um tiete dos estadunidenses.
 
Um país como esse, onde a saúde e a educação,  inclusive universitária,  são gratuitas e de qualidade, com um povo culto e pacífico, nada estressado, e que fala o que pensa, é  onde sonho morar ou ver o meu Brasil se transformar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

ÁRABES, POVO ETERNO

foto: internet
Sou descendente de árabes, mas não só deles. 
Talvez me sinta mais descendente de árabes por carregar um sobrenome dessa origem, e de forte significado.
Tenho orgulho de minha ascendência. Tivemos figuras iluminadíssimas, como profetas, filósofos, navegadores, médicos, astrônomos e escritores que engrandeceram este planeta. 
A humanidade só saiu da escuridão da Idade Média por conta do Renascimento surgido graças aos Califado Árabe de Córdoba, na Espanha, onde grandes pensadores muçulmanos, judeus e cristãos, árabes ou não, traçavam a salvação da humanidade.

Abaixo, um pequeno poema ou texto sobre a grandiosidade dos árabes, povo profundamente desconhecido da maioria.

Já ouvi dizer que árabe é um povo estranho, que não acredita em Deus e tantas outras barbaridades. Chega!

Acreditando ou não em Deus, sendo muçulmanos, cristãos ou ateus, que diferença faz? O que importa não é a essência, o espírito?


Venho de uma etnia que vivia em regiões desérticas e convivia com as adversidades.
Povo forte.

Venho de uma etnia que escrevia poesias, contos e histórias até hoje conhecidos.
Povo sensível e criativo.

Venho de um povo que aperfeiçoou a matemática, a astronomia e a medicina.
Povo culto.

Venho de uma etnia que participou do surgimento de religiões e dos grandes profetas.
Povo religioso.

Venho de uma etnia que divide o pão e a mesa aos estranhos.
Povo cordial.

Venho de uma etnia que criou a escrita e que, sob a Idade da Luz, evitou maiores catástrofes na Idade Média tão escura e sanguinolenta.
Povo sábio.

Venho de uma etnia que hoje é discriminada e taxada de estranha e radical.
Povo sofrido.

Venho e sou dessa etnia dos meus ascendentes. Sou multirracial. Embora não tenha conhecido as terras dos meus antepassados, sonho com elas.

Povo eterno.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

TEMPOS DE INTOLERÂNCIA


Vivemos numa sociedade repleta de intolerância.
Não sei se o contato sempre individualizado com os aplicativos dos smartphones, os programas televisivos que expõem pessoas, como Fazenda e Big Brother Brasil, o pouco acesso a informação com conteúdo, a falta de cultura e leitura (que poderiam ampliar o nosso horizonte), e a excessiva carga de "notícias" de entretenimento, nos tornam mais fechados num mundo cada vez mais cruel e massificador. É um tipo de massificação nunca antes vista, e olha que já passamos pelo rádio, pela televisão e também pelo cinema.
Hoje, as pessoas estão mais individualistas que nunca, não suportam o diferente, seja no tocante à cor, à religião, ao gênero ou opção sexual.
Não tenho dúvida de que se um nazista aparecesse na São Paulo de hoje, estaria certo que o nazismo e o fascismo venceram a segunda guerra mundial. E você me entenderá pelo o que citarei mais abaixo.
Estamos vivendo um grande retrocesso que precisa ter fim, antes de se transformar em uma serpente a contaminar toda a sociedade, cada vez menos progressista e humanista.
Escrevo isso não é a toa.
Recentemente uma pessoa com alto grau de cultura soltou a seguinte pérola: "que não é obrigada a passar ao lado dos moradores de rua e sentir o mau cheiro que exalam". Ora, os mendigos com certeza não exalam o mau cheiro para nos incomodar, mas em decorrência da situação de rua deles. Faltou àquela alma a devida compreensão da situação de tantos exilados nas vias públicas.
As pessoas sempre olham para si como se fossem o umbigo do Universo. Não é por outro motivo que a insensibilidade leva alguns psicopatas a atear fogo em indígenas ou indigentes, a matar homossexuais e travestis ou a assassinar mulheres. Para esses doentes, as vítimas não têm vida, não têm personalidade, não têm direitos e menos direito ainda a nos incomodar, por mais absurdo que isso seja.
Mas uma das piores situações que já vi ocorreu dias atrás, quando estava no centro da cidade de São Paulo, caminhando. Reparei que muitas pessoas olhavam para um certo ponto, sejam aqueles que estavam na calçada, sejam aqueles que atravessavam a rua, sejam os que estavam nos bares ou saindo do carro. Tentei detectar o que chamava a atenção de todo mundo e não tive êxito. Não sabia se era um furto, roubo ou algo assim. Mas logo depois me deparei com uma fala de inconformismo de uma moça que parecia ter saído de um carro: "precisavam fazer isso?". Percebi, então, que era algo que chocava as pessoas e passei a procurar a cena que horrorizava a multidão, e aí me deparei com um casal de homens de mãos dadas. Aquilo chocava a todos de tal modo que parecia que ocorreria um apedrejamento em questão de segundos. Eu também fiquei chocado, não com as mãos dadas daquele casal, mas com a reação de uma massa de pessoas na maior cidade brasileira em pleno Século XXI. Parecia que havia me transportado para a Europa da Idade Média ou para algum país retrógado e opressor.
Calei-me, pois o confronto não seria produtivo, e continuei o meu caminho, deixando o casal e aquela massa de inconformados para trás. Mas não estou conformado até agora com o que vi. Foi algo estarrecedor.
As pessoas não são capazes de enxergar que aquele casal representava apenas duas pessoas demonstrando afeto e carinho, o que é raro e extremamente importante para os dias de hoje, num mundo frio, cruel e individualista. A massa só conseguiu enxergar uma cena de enfrentamento de valores, como se o homossexualismo fosse uma aberração e a opção do inconformado fosse a única correta, como se aquele casal tivesse que demonstrar afeto apenas em casa ou em outro local reservado
Faltou pouco para um apedrejamento fático, já o psicológico ocorreu com os olhares fuzilantes da multidão.
Posso não querer a opção que alguém adotou para si, posso também não achar bonito um beijo de homens ou de mulheres e o jeito de x ou y, mas isso não me autorizará a reagir de forma repulsiva, afinal aquilo não ocorreu comigo, mas com duas pessoas que, de livre vontade, se dispuseram a demonstrar afetividade uma pela outra. Somente psicopatas acham que aquilo diz respeito exatamente a ele. Não é possível.
Vivemos tempos sombrios, de excessos de reações impensadas. Manifestações que não demonstram racionalidade, mas uma massificação nas reações e nos discursos fáceis que contaminam as mentes dos que não percebem a insensatez.
Parece que ser conservador virou moda, se transformou em algo correto.
Parece que a humanidade e a beleza de suas excentricidades e de suas diferenças, não podem ser toleradas.
Sem tolerância, sem respeito, sem compreensão, jamais haverá humanidade. A reação dessa multidão me assustou, pois percebi mais do que nunca que a humanidade corre sério risco, e não digo isso pelas ações injustificadas e bárbaras do Estado Islâmico, mas falo pela reação das pessoas, de massas de pessoas, de uma das maiores metrópoles do planeta.
Aqueles que percebem o risco precisam dar um basta a essas intolerâncias.
Foram essas pequenas manifestações de intolerância que deram "legitimidade" ao nazismo. O risco que a humanidade vive não é pequeno!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Noés e as Arcas do Mediterrâneo

Pequenas Arcas de Noé tentam atravessar o Mediterrâneo rumo ao Continente que seria o reduto do progresso humano, principalmente da liberdade, da felicidade.
Esses barcos velhos, rudimentares, lotados de seres humanos de vários cantos do planeta, costumam naufragar e seus passageiros são, muitas vezes, largados à própria sorte, sem salvamento pelos ditos evoluídos europeus.
Muitos seres humanos e suas famílias tentam salvar suas vidas e morrem sem chegar à Terra Prometida.
As inúmeras pequenas Arcas e os seus destinos nos fazem repensar. Seriam os Europeus Noés do destino de significativa parcela da humanidade?

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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