O texto que vou escrever desagradará os chamados chapeus de alumínio e também os foices de papelão. Me refiro aqui àqueles que adoram os Estados Unidos e não veem o malefício que causa ao mundo e em especial ao Brasil (chapeus de alumínio) e também aos que adoram a atual Rússia, que nada tem da antiga e poderosa União Soviética, embora ela se esforce em demonstrar força e muitas vezes consegue (foices de papelão).
Os Estados Unidos de hoje não são os grandes Estados Unidos dos anos 60, 70 e 80. Hoje, o país se tornou um local de enriquecimento de financistas e de empresários de tecnologia. A população empobreceu e a classe média, sustentáculo dos poderosos Estados Unidos que conhecemos, diminui drasticamente dia a dia. O país não serve mais ao seu povo, mas aos interesses dos bilionários e dos lobbies que comandam tudo por lá. Por isso, também, a proximidade de unha e carne com Israel. Hoje, os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de promover guerras como a do Vietnã, Iraque ou Afeganistão. Não há tanto dinheiro sobrando ao império. Agem por proxies, como a Ucrânia e Israel e quando tomam iniciativas realizam bombardeios pontuais e só, como ocorreu no Irã e na Síria.
Trump, como bom jogador de poker, blefa, e muito. Diz que invadirá a Venezuela, mas se o fizer criará problemas insolúveis, um morticínio de venezuelanos e de militares estadunidenses e possivelmente uma grande crise financeira, inflação, recessão e manifestações em seu país. Nada disso interessa a ele. Assim, embora diga que invadirá a Venezuela por terra, parece tender a continuar a fazer apreensões ou roubos - obviamente ilegais - de navios petrolíferos oriundos do país sul americano e caribenho. O petróleo apreendido serve para compensar os gastos bilionários que ja está tendo com a encenação cinematográfica e também para tentar sufocar ainda mais a economia venezuelana, tentando, com isso, insuflar um golpe de possíveis setores descontentes do âmbito militar contra Maduro. Embora este blogueiro não acredite no racha nas Forças Armadas, considerando-se a coesão hoje existente, os Estados Unidos continuam tentando isso, como os seus serviços de inteligência e da Grã Bretanha fizeram na Síria contra as forças de Assad.
Trump encena, mas atrai outro país também que blefa muito, a Rússia.
A Rússia gosta de dizer que ajuda os outros países mais do que realmente faz. Foi assim na Síria, abandonando o regime de Bashar Assad para o sanguinário herdeiro da Al Qaeda e queridinho dos Estados Unidos, Israel e Grã Bretanha.
A Rússia diz que está ajudando a Venezuela. De fato, a Rússia vendeu armas, aviões e mísseis, mas já faz uma década. Não há notícias de navios ou aviões russos entrando na Venezuela. A Rússia, ao contrário do que muitos acreditam, também blefa, e muito. Tenta criar uma imagem de importância geopolítica maior do que realmente tem.
Nâo digo aqui que a Rússia não tenha importância geopolítica. Tem, mas centrada na Síria, no cáucaso, parte da Ásia central e África. Não dá para dizer que a Rússia detenha influência na América do Sul, embora tenha laços militares e econômicos com Nicarágua, Venezuela e Cuba, mas isso não significa ser geopoliticamente influente na região.
O Irã é uma potência regional do cáucaso, irradiando poderio para o Oriente Médio, mas tem parceria econômica e militar com a Venezuela, país para o qual vendeu muitos drones e possivelmente mísseis, embora isso não seja confirmado nem por Irã nem pela Venezuela. Entre Rússia, Irã e China, talvez o Irã seja o parceiro mais confiável da Venezuela.
De todos esses países, a China é a mais comedida, a que menos fala, a que menos promete e a que menos ameaça.
Porém, a guerra já iniciada pelos Estados Unidos contra a Venezuela (sim, os bloqueios naval e aéreo e roubo de navios petrolíferos e ataques a barcos civis configuram declaração de guerra) representa um ataque direto aos interesses da China na Venezuela e na região da América Latina. Além disso, ao menos um dos petrolíferos sequestrados pelos Estados Unidos se dirigia à China, representando um ataque indireto também a esse país.
Com isso, a China tem todos os motivos para realizar um bloqueio naval a Taiwan ou mandar navios de guerra para a América do Sul, a fim de defender seus investimentos e interesses. Mas ninguém pode afirmar que o fará ou que não fará. A China age sem alardes.
A discreta China, ao menos por ora, não agiu nem prometeu agir. Talvez o faça indiretamente, enviando mísseis modernos, sistemas de comunicação e de geolocalização, e pessoal especializado (seja chinês, seja de terceiros países, para não demonstrar participação direta) para a defesa da Venezuela. A desmoralização militar dos Estados Unidos interessaria à China e também à Rússia e ao Irã.
Enquanto Estados Unidos e Rússia blefam, e muito, Irã diz agir e a China permanece em um silêncio perturbador aos estadunidenses, que sabem do tamanho da China e das possibilidades de suas inúmeras ações.