segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

AINDA ESTOU AQUI BRILHA SOB TODOS OS ASPECTOS.

Ainda estou aqui é uma obra de arte conduzida pelo brasileiríssimo Walter Salles e conta uma história de amor sem a eternidade dos romances e contos de fadas. É realista. É um documentário. 

Eunice, uma mulher forte e sonhadora, é casada com Rubens, um deputado federal do antigo PTB de Vargas cassado pela ditadura militar. Juntos, eles têm 5 filhos e formam uma família unida, amorosa e feliz, até que Rubens é convocado para prestar um depoimento sigiloso, o mesmo ocorrendo com Eunice e uma de suas filhas.

A partir daí advém o sofrimento da família diante dos excessos de agentes do Estado. Ainda que nada lhes seja dito, os filhos de Eunice, então crianças e adolescentes, percebem o ocorrido. 

O filme é da modalidade documentário e retrata o drama da família Paiva durante a ditadura, a partir do período de seu agravamento, a partir de 1970.

Rubens era um deputado nacionalista, ligado ao varguismo e ao nacional desenvolvimentismo. Nunca foi comunista nem atuou ou apoiou a luta armada (não que a resistência ou um posicionamento ideológico, como ser comunista, justificasse tortura e as perseguições praticadas pela ala radical das Forças Armadas). Mesmo assim, Rubens Paiva sofreu os horrores dos excessos da ditadura. E como herói nacional, não se vê ruas, avenidas ou praças com o seu nome.

Os militares não informam sobre o paradeiro de Rubens, uma pessoa brincalhona, feliz e amável. Muitos demonstram discretamente o descontentamento com o rumo adotado pela ala conservadora e extremista das Forças Armadas e a solidariedade a Eunice e família.

Todos os atores foram impecáveis, principalmente o personagem da Eunice, vivido por Fernanda Torres.

É um documentário que dignifica o cinema brasileiro e o eleva a um patamar histórico, com possibilidades de ultrapassar os resultados do consagrado Pagador de Promessas.

Muitos não sabem, mas o Brasil tem destaque internacional e é protagonista respeitado no segmento de documentários. Somos realmente muito bons em contar históricas verídicas.

O filme nos faz repensar sobre a política e as suas interferências no rumo do país. Também nos faz perceber que a dor da tortura e dos assassinatos atinge de forma indelével esposas, maridos, filhos e genitores.

Não houve ditabranda. A ditadura no Brasil foi o que o próprio nome diz, ditadura. O problema foi e é a falta de punição. 

É possível que muito em breve venhamos a saber de agentes do Estado, jornalistas e órgãos de imprensa que receberam dinheiro dos Estados Unidos para tirar do poder nacionalistas que estavam promovendo um "perigoso" desenvolvimento cultural, industrial e social do Brasil. Vivíamos um período glorioso nos esportes, na cultura, na educação, nas indústrias, inclusive cinematográfica.

Porém, sempre tivemos entreguistas e falsos nacionalistas nas forças armadas, no serviço público e nas elites política e empresarial, o que causou e ainda vem causando o atraso no desenvolvimento do nosso país.

Por ter tido a oportunidade de participar de um Conselho Estadual de Ex-Presos políticos, vi de muito perto a dor de muitos torturados e de seus familiares. Não é uma página que possa ou deva ser apagada da história. Muito pelo contrário. Tem que ser registrada e divulgada internamente na administração pública, na mídia e nos bancos escolares, para que nunca mais se repita.

Golpes e ditaduras não são crimes contra um partido ou grupo de pessoas. São crimes contra a democracia, contra o Estado e contra o povo brasileiro. É um crime de lesa pátria. Assim, os processos que apuram e condenam tais práticas deveriam ter prioridade de julgamento. O Estado deveria dar o bom exemplo na apuração e julgamento de tais crimes e ser rigoroso na defesa da Democracia e da cidadania.

Voltando ao filme, Ainda Estou Aqui é imperdível sob todos os aspectos. É uma película brilhante que conta parte da história do Brasil sob os olhares da jovem Eunice. Walter Salles, como sempre, compõe poeticamente a história que comove do início ao fim. Um verdadeiro show.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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