Você deve ter consciência de que o Brasil é uma potência energética, mineral e agroindustrial. O Brasil, sozinho, é capaz de alimentar de 800 milhões a 1,6 bilhão de pessoas. Não é pouca coisa.
Grande parte da nossa produção vai para o nosso maior comprador e parceiro comercial, a China, o mesmo país que está a poucos anos de ocupar a liderança econômica mundial.
Porém, o Brasil está em sério risco e, segundo o que avalio, já está sob ataque indireto. Explico.
A guerra na Ucrânia, ao invés do que os europeus e estadunidenses imaginavam, fez a economia russa crescer, ao mesmo tempo em que demonstrou a capacidade de sua indústria bélica de produzir e repor armamentos. Segundo alguns analistas, a guerra na Ucrânia se aproxima do fim por uma série de fatores, a não ser que algo muito inusitado ocorra. A Ucrânia está com dificuldades de arregimentar tropas e está com falta de aviões, sistemas de defesa aérea e sofre com poucos suprimentos bélicos, falta de reposição e de manutenção, isso mesmo com todo o empenho da OTAN, armamentos doados e vendidos, apoio logístico e de informação, e dinheiro repassado ao país. Hoje, os Estados Unidos, o maior financiador da Ucrânia, ainda não conseguiram aprovar o repasse, propagandeado há meses, de 300 milhões de dólares. Não bastasse isso, os russos, agora, após o atentado à sala de shows em Moscou, optou por atacar a infraestrutura ucraniana, afetando o fornecimento de água e energia. Sem dinheiro para se armar, como a Ucrânia conseguirá refazer sua infraestrutura?
Os efeitos dessa guerra, quer acabe agora ou venha a demorar, já estão visíveis. A Europa está mais dependente da energia fornecida pelos Estados Unidos, e a Alemanha, com dificuldade de produzir em seu território, optou por fabricar parcialmente fora do continente europeu. A Europa sai empobrecida, a Ucrânia arrasada, a OTAN e os Estados Unidos desmoralizados e a Rússia fortalecida. Quem mais sofreu com essa guerra é o povo ucraniano por erro de todos os países envolvidos, a começar pelo seu presidente propagandista.
Ao mesmo tempo, a França perde a licença para explorar minérios na África, a que muitos chamam de expulsão da França, e a guerra na Faixa de Gaza, com o genocídio do povo palestino, deixará marcar eternas na moral dos Estados Unidos e da Alemanha, maiores financiadores de Israel. Israel, o chamado porta-aviões dos Estados Unidos no Oriente Médio, com o seu governo extremista, se isola.
Na Ásia, a China fortalece laços econômicos, embora tenha questões fronteiriças com quase todos os seus vizinhos. E para barrar a China, os Estados Unidos prometem repassar tecnologia de submarino com propulsão nuclear à Austrália.
Diante de todo esse panorama brevemente resumido, que demonstra a derrocada das potências ocidentais, é possível perceber que o continente latino americano (Centro América e América do Sul) será o destino óbvio da atenção geopolítica do governo dos Estados Unidos. A América Latina, Caribe e Guianas, tendo cada país suas especificidades, exportam muito minério, petróleo, gás e produção agropecuária.
E para assustar, a Guiana, que está em uma contenda com a Venezuela sobre parte de seu território rico em petróleo e gás, Essequibo, está em negociação para que os Estados Unidos montem duas ou três pequenas bases militares na região, enquanto o governo Milei, da Argentina, recebeu pessoalmente uma general dos Estados Unidos, com a promessa de repassar área da Patagônia para uma base "científica" dos Estados Unidos.
Obviamente, se fosse base puramente científica, não seria de interesse do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e nem uma general estaria presente em território argentino para isso. Pode ser até uma base pequena, mas que contará com militares, aviões, barcos e armas, que obviamente pode vir a aumentar, de acordo com a "necessidade".
E uma base dessas no Atlântico Sul é um perigo para os interesses do Brasil, que importa e exporta por navios que navegam justamente nessa área. E com o acirramento de ânimos entre Estados Unidos e China, não é difícil imaginar que os Estados Unidos possam vir a cortar a passagem de qualquer navio oriundo da China ou com destino a tal país. Se isso ocorrer, será um caos para a economia do Brasil, com aumento da miséria, diminuição de arrecadação pela União, Estados, DF e Municípios. Seria um golpe frontal aos interesses brasileiros.
Mas essas não seriam as primeiras bases dos Estados Unidos na América Latina. O Jornal Brasil de Fato divulgou que os Estados Unidos operariam 76 bases militares na América Latina e Caribe.
Enquanto tudo isso ocorre, a ABIN brasileira identificou um espião russo em território brasileiro (e não é o primeiro). Agentes da CIA estadunidense, ao contrário, tem ampla circulação no país, como já denunciava uma matéria do jornal "O Globo", de 2013. A espionagem eletrônica realizada pelos Estados Unidos já trouxe muitos problemas ao Brasil e às nossas mais importantes empresas.
Você guardou o ano da matéria do jornal "O Globo"? 2013. Ao lado da espionagem eletrônica realizada pelos Estados Unidos, foi em 2013 que o Brasil sofreu com manifestações tidas como populares, mas incentivadas e agendadas pelas redes sociais. A Lava Jato, operação anti-corrupção que alcançou não apenas políticos e empresários, mas as próprias empresas brasileiras, como a Petrobrás e muitas grandes empreiteiras, muitas das quais foram à falência, teve início em março de 2014.
As ações não foram sigilosas e muitas operações policiais e informações processuais foram divulgadas pela mídia, principalmente pela TV Globo. Quanto mais a TV mostrava as mega operações, mais crescia o sentimento anti-PT e a extrema direita começava a dar as caras.
Em dezembro de 2015 o processo de impeachment de Dilma teve início e ela foi afastada do cargo (por "pedaladas fiscais") em agosto de 2016. Em abril de 2018 Lula foi preso.
A divisão do país já havia sido instaurada e só tenderia a se agravar. O Anti-petismo alia-se a grupos conservadores, neonazistas, neoliberais radicais, sob o falso manto nacionalista, que revela-se entreguista.
No mesmo ano em que Lula foi preso, 2018, Bolsonaro lança-se candidato a presidente, tendo como maior adversário o petista Haddad e elege-se presidente.
Feita essa breve digressão histórica, é possível perceber que o Brasil esteve e ainda continua sob uma guerra não tradicional, também chamada de híbrida, onde se utiliza desinformação e lawfare (onde processos judiciais são utilizados para alcançar objetivos políticos) para desestabilizar um país.
Até hoje continuamos divididos. Não bastasse isso, o presidente do antigo Twitter, em uma atitude totalmente "estranha", foi ríspido e grosseiro com o Ministro Alexandre de Moraes e, ao mesmo tempo, ameaçou descumprir as decisões do Supremo Tribunal Federal. O Twitter, Facebook e Instagram, além do whatsapp, foram amplamente utilizados para arrebanhar grandes grupos de manifestantes no Brasil em 2013 e também no Oriente Médio em 2011, na chamada Primavera Árabe.
A única forma de frear isso é unir a população. Lula tem séria dificuldade, e Bolsonaro, de forma oportunista e inconsequente em relação ao Brasil, incentiva o ódio e a divisão nacional, apoiando personalidades que atacam autoridades brasileiras.