A Palestina histórica foi dividida pela ONU em 1947 para a criação de dois Estados: Palestina, árabe, e Israel, judaica. Israel se antecipou e declarou independência contra a Grã Bretanha. Os palestinos ficaram subjugados, assim, às forças árabes estrangeiras e a Israel, e desde então os palestinos que permaneceram enfrentando todas as dificuldades em sua terra natal, tentam efetivar a criação do Estado da Palestina. Isso é Justiça! O resto significa tudo o que é estranho ao justo, ao legal, ao humano e ao admissível!
Uma única pessoa, Netanyahu, governa Israel próximo de completar 20 anos no poder (1996-1999, 2009-2021 e desde 2022). Entre os israelenses, ele era popular por ser considerado hábil em promover segurança ao seu povo. Porém, pelos acontecimentos de 7 de outubro, pode-se questionar sua eficiência. Mais. Pelos fatos de lá para cá, com a matança de tantos civis palestinos, morte de reféns e de jovens soldados israelenses, pode-se duvidar da eficácia de sua forma de governar. De qualquer modo, o poder que exerce deriva de eleições, ou seja, da vontade do povo israelense. O povo israelense quis Netanyahu.
Na Palestina, porém, a última eleição foi em 2006, que deu a maioria de votos ao Hamas. O Fatah não aceitou a derrota e houve uma guerra civil, levando o Hamas a ocupar o poder de Gaza em 2007 e a Autoridade Palestina, ligada ao Fatah, a permanecer na Cisjordânia. Desde então não houve mais eleições nos territórios palestinos e a isolada Faixa de Gaza esteve sob o controle do Hamas.
Querendo, ou não, os palestinos de Gaza são governados pelo Hamas há 17 anos e é esse partido que cuida da área assistencial, humanitária e até de resistência armada à ocupação israelense. O Hamas, ainda que não fosse o grupo político preferido de muitos, na prática era muito menos pior para os moradores de Gaza que o inimigo israelense, que sempre fez bloqueios aéreos, terrestres e marítimos à região, privando os palestinos de Gaza do mínimo necessário para uma vida ser considerada digna.
Sem indústrias, sem aeroporto, sem exército nacional, sem soberania e sem fronteiras livres, os palestinos de Gaza, que não é país, não têm para onde buscar refúgio e dependem do Hamas para sobreviver. E é assim desde 2007. A única alternativa de peso ao Hamas, na Faixa de Gaza, era a UNRWA, organismo da ONU destinado aos refugiados palestinos, que levava educação e assistência humanitária à região. Porém, Netanyahu e muitos governos ocidentais promoveram um verdadeiro boicote à existência de tal organismo, privando-o de recursos para a promoção de ações humanitárias vitais, ainda mais em um momento tão delicado como o massacre atual em Gaza. Sem a UNRWA o Hamas se faz ainda mais imprescindível aos palestinos sobreviventes.
No genocídio, Israel não está sozinho. Muitos países ocidentais fornecem ajuda a Israel, inclusive militar, em especial os Estados Unidos, o mesmo que deixou de colaborar financeiramente com a UNRWA.
Diante dessa realidade detalhadamente calculada, quando o todo poderoso Netanyahu fala em exterminar o Hamas, quer dizer claramente em extermínio dos palestinos de Gaza, pois diante das atrocidades e da ocupação israelense, o povo palestino de Gaza não tem como sobreviver, hoje, sem a assistência imprescindível do Hamas.
Ademais, embora muitos sequer tenham notado, soa muito estranho uma força ocupante como Israel querer determinar quem governará o povo palestino. Seria o mesmo que o Hamas dissesse, diante do crime de guerra praticado em Gaza, que o Likud não pode mais existir em Israel e que todos os políticos e militantes ligados ao partido de direita israelense devem ser exterminados e que o governo israelense caberá a um determinado grupo político a ele (Hamas) alinhado.
O cenário macabro, desumano e absurdo deixa o governo de extrema direita de Israel diante do xeque-mate que sempre pretendeu lançar para formar a Grande Israel sonhada pelos sionistas radicais.
As colônias israelenses ilegais na Cisjordânia e a fragmentação daquele pequeno território da Autoridade Palestina já era um claro sinal de que a Grande Israel estava se aproximando da fase "final" de implantação (restando somar a ela áreas do Egito, do Líbano, da Jordânia e da Síria). Agora, com a ocupação da Faixa de Gaza e o extermínio gradual dos palestinos daquela área, com a pretensão de colocar o exército como força policial na região, a quase formada Grande Israel está para ser implementada sob os olhares desatentos ou insensíveis do ocidente, às custas de vidas e da existência do povo palestino.
Porém, ainda existem humanos nesse mundo de desumanidades, e muitos no mundo afora não toleram mais tantas mortes de civis, em especial de mulheres e crianças, nem assistir à privação de dignidade do que se pode chamar de os últimos palestinos de Gaza, inclusive Cristãos, os últimos Cristãos da Terra Santa. Diante da atrocidade televisionada, a maior parte dos países tem exigido a entrega dos reféns pelo Hamas, o cessar fogo imediato e a criação do Estado da Palestina, viável economicamente, um contra golpe às pretensões dos radicais sionistas.
A jogada de xadrez se aproxima dos seus movimentos finais. De um lado temos a chance de paz definitiva, tão sonhada pela maioria da humanidade, e de outro o sonho do sionismo radical (que inclui muitos membros de igrejas neopentecostais e até ateus) do genocídio palestino disfarçado de auto defesa, como se o excesso desta não autorizasse a punição pelo crime de guerra e de genocídio que realmente é.
Ademais, a Israel pretendida por Netanyahu, que abrange áreas da Cisjordânia e Gaza, depende justamente do genocídio palestino, seja pela morte ou expulsão deste povo. Este é a legitimação que falta aos sionistas radicais para a ocupação de toda a área da Palestina partilhada.