A economia dos Estados Unidos cresceu cerca de 5% no último trimestre, superando ligeiramente a China.
Os Estados Unidos estão crescendo em ritmo alto, segundo a Forbes, porque "o governo americano está gastando muito e elevando seu déficit, o que acelera o ritmo da atividade econômica". Mas não é apenas o investimento do governo que está movimentando a economia. Muito se deve à venda de armamentos bélicos, onde os Estados Unidos superam seus dois principais concorrentes somados.
A guerra na Ucrânia e na Palestina e Israel provocaram aumento na produção e venda de armamentos. Porém, não se sabe quantas e quais armas foram fornecidas a Israel, já que os Estados Unidos não divulgam a relação de armas cedidas ao país aliado, enquanto detalha todas as que são cedidas para a Ucrânia, segundo apuração do The Intercept.
As guerras sempre promoveram o crescimento da economia e do poder geopolítico dos Estados Unidos, desde o final do século XIX, mas será que essa receita ainda funciona, passados cerca de 150 anos?
A economia dos Estados Unidos não é a mesma do século XX, onde investia pesadamente em pesquisas e novas tecnologias. A China, ao contrário, modernizou suas universidades e centros de pesquisa, provocando um boom econômico que parece ser incessante. Como se vê, as maiores economias do globo estão em ritmos diferentes. A China cresce muito em tecnologia, enquanto os Estados Unidos centram-se nas guerras e venda de armamentos. É obvio que as duas maiores economias do globo não se resumem a isso, pois são gigantes se comparadas às demais, mas traço aqui os maiores destaques delas.
Hoje, as guerras já não geram o apoio de antigamente nem o poder geopolítico de antes. Não estamos mais em um mundo bipolar ou unipolar, onde os países buscavam apoio e aproximação da(s) potência(s) hegemônica(s) existentes, mas multipolar, com Estados Unidos, China, Índia, Europa e Rússia como grandes potências militares e econômicas. E o mundo tem se dividido na busca de aproximações com tais países líderes, salvo evidentemente alguns poucos países que se mantêm submissos à liderança de uma ou outra potência. Assim, enquanto o Brasil busca apoio dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que se aproxima da China, Rússia, Europa e Índia, alguns países da ex´República Soviética se mantêm extremamente aliados à Rússia, como Belarus.
O poder geopolitico dos Estados Unidos decresceu em influência, o que reflete diretamente no seu poder de venda de produtos e de armamentos. Embora os Estados Unidos ainda sejam o maior produtor e vendedor de produtos bélicos, enfrenta forte concorrência dos seus rivais tradicionais e de outros, como a Índia, que têm aumentado a venda de armas pesadas.
Ao que parece, as guerras na Palestina e na Ucrânia não serão capazes de manter o poderio econômico dos Estados Unidos. A economia europeia já não aguenta mais a guerra da Ucrânia, que se aproxima dos dois anos, e a economia de Israel parece já sentir o início do peso da guerra que dizem que durará cerca de 1 ano. Os Estados Unidos exigiram muita ajuda dos europeus para manter a guerra da Ucrânia por quase dois anos, mas Israel suportará por quanto tempo a guerra contra a Palestina?
As guerras recentes dos Estados Unidos sempre envolveram outros países, em especial membros da OTAN, e sempre teve fins estratégicos. A guerra da Ucrânia visa enfraquecer a Rússia. A guerra na Palestina, que se alastra ao sul do Libano e a pontos determinados do Iraque, Síria e Iêmen, visa enfraquecer a influência do Irã. A guerra na Síria e, e certa forma no Líbano, sul do Líbano, ainda visa minar a sobrevivência e existência de países árabes laicos insubmissos aos Estados Unidos.
Enquanto os Estados Unidos estão presentes, direta ou indiretamente, em todos os cenários das guerras existentes, a China mantém-se afastada, se fortalecendo militarmente e aumentando a sua influência geopolítica através do comércio.
As guerras não têm trazido os mesmos resultados aos Estados Unidos. Enquanto o poder de influência dos Estados Unidos cai, se comparado a algumas décadas, o da China cresce vertiginosamente.
As guerras podem retardar em 1 ou 5 anos a ascensão da China ao topo da economia, mas não evitarão que a China se torne muito em breve a maior economia do globo e, a médio prazo, a maior potência militar do planeta.
Os Estados Unidos poderão subsistir no segundo lugar por uma ou duas décadas, mas logo serão ultrapassados por outra potência econômica, tecnológica e militar, a Índia.
Caberia aos Estados Unidos investir em ciência e tecnologia, mas o lobby das indústrias de armamentos é gigantesco nos Estados Unidos. Os Estados Unidos tendem a continuar entre as 5 maiores economias até o final deste século, sobrevivendo pelo poderio de sua indústria de armas. Música e cinema tendem a sofrer ainda maior competição internacional, fazendo desaparecer muito em breve a hegemonia dos Estados Unidos nesses meios de influência e massificação.
E o Brasil? Depende de suas prioridades. Se priorizar educação, investimento em tecnologia e voltar a se reindustrializar, ampliando sua indústria e renovando campos de atuação, poderia estar muito em breve entre as 5 maiores economias do globo. Para isso, a extrema direita demagógica teria que ceder espaço a um nacionalismo verdadeiro, de visão de crescimento do país e de fortalecimento de sua economia e da melhoria das condições de vida dos brasileiros.
O Brasil é um dos países com maior possibilidade de crescimento, mas para isso não pode depender tão somente da agricultura, pecuária e da extração de minérios e de petróleo. Há que investir em educação, ciência, tecnologia e reindustrialização, com crescimento e inovação industrial. A extrema direita e o centrão, corporativistas e desapegados do nacionalismo voltado ao crescimento do país e da melhoria das condições da população, têm sido um grande obstáculo ao crescimento do país.
Nesse rearranjo da economia global, o Brasil poderia aproveitar os seus laços diplomáticos e econômicos, além dos espaços existentes, e crescer muito, muito mesmo.