Atos terroristas são vis, assim como as guerras. Ambos matam inocentes e disseminam o pavor entre as comunidades.
Recentemente houve a divulgação de que um grupo de brasileiros e estrangeiros naturalizados estariam se organizando para praticar atentados contra instituições judaicas aqui no Brasil. Publicações do governo de Israel davam conta de que o Mossad (agência de serviço secreto israelense), em conjunto com agências parceiras de outros países, teria alertado a Polícia Federal brasileira de que um planejamento de atentados em série, que seriam financiados pelo Hezbollah, estavam em curso no país.
O que fez a Polícia Federal? Instaurou um inquérito e está investigando em sigilo, como deveria ter ocorrido desde o início, sem o descabido alarde do governo israelense, que divulgou à mídia e fez publicações no X (antigo twitter).
Apurações desse tipo são sigilosas e dificilmente são noticiadas ao público de pronto. Por isso o comportamento do governo de Israel gera inconformismo e suspeitas.
Considerando que há interesses óbvios do governo de Israel que o Brasil se posicione favoravelmente ao país, inclusive para que não solicite mais o fim dos bombardeios perante os organismos internacionais, toda cautela na apuração de preparação de atos terroristas é pouca.
A mídia, ao tomar conhecimento das publicações do governo de Israel, já divulgou aos quatro cantos as ações que estariam sendo tomadas no Brasil, dando crédito ao Mossad.
O Mossad é, de fato, uma agência de espionagem exitosa, mas não é lá tudo isso como a mídia alardeia aos quatro cantos. Vide os ataques do Hamas em 7 de outubro, organizados há um ano e as agências de inteligência e espionagem israelenses não conseguiram detectar em um espaço tão diminuto como é (ou era) a Faixa de Gaza. Como disse um comentarista da Globo News, parece estranho o piada que o Mossad, que não conseguiu detectar o planejado ataque do Hamas em pleno território israelense, aqui, a milhares de quilômetros de Tel Aviv, conseguiu detectar brasileiros e estrangeiros que tentariam praticar atos terroristas contra judeus e instituições judaicas.
Para piorar a situação, o Embaixador israelense compareceu ao Congresso ao lado de Bolsonaro e, atacando a credibilidade e seriedade do governo federal, deu a entender que haveria gente, aqui, apoiando as ações terroristas no Brasil. Ou seja, deu a entender que políticos brasileiros estariam apoiando atos terroristas.
Tal embaixador deveria ser declarado persona non grata e ser expulso depois de 24 horas. Já Bolsonaro, por participar de um ato contra o Brasil, ao lado de uma autoridade estrangeira, deveria ser submetido a investigação. Não é a primeira vez que Bolsonaro pratica atos anti patrióticos descaradamente e ninguém, nem a imprensa, nem os políticos pediram a sua investigação.
Mas voltemos ao caso específico de possível organização para a prática de terrorismo dentro do Brasil contra pessoas e instituições judaicas. Quem está apurando a possível organização para a prática de terrorismo e tomando todas as medidas para a prevenção é a nossa séria e respeitada Polícia Federal. É a ela que temos que agradecer.
E a Polícia Federal deve investigar, sim, como aliás está fazendo, com todo o cuidado necessário.
O que não se pode ter certeza, antes da apuração, é: 1) de que as pessoas que estão sendo investigadas realmente tinham o propósito de praticar atos terroristas; 2) de que as pessoas que estão sendo investigadas realmente tiveram contatos com agentes reais do Hezbollah; 3) de que o Hezbollah financiaria, de fato, tais operações.
O depoimento de um dos investigados pareceu ser (mal) ensaiado e disse que encontrou uma pessoa do Hezbollah ao visitar Beirute, capital do Líbano, e que essa pessoa disse que queria contratar pessoas para matar e sequestrar judeus no Brasil.
O Hezbollah é uma instituição social, política e militar, com tradição de décadas no Líbano e parece ser lógico deduzir que dificilmente algum de seus integrantes, ou qualquer criminoso imbuído de tal intenção, diria isso a um estranho que teria aparecido como turista em Beirute.
A investigação da Polícia Federal é necessária para, primeiro, assegurar a incolumidade física de judeus e de instituições judaicas no Brasil; segundo, para apurar se há indícios ou provas da intenção de prática de terrorismo por parte dos investigados ou de outras pessoas; terceiro, apurar se, de fato, há participação do Hezbollah no caso; e, por fim, quarto, não se pode descartar que a investigação serve para verificar a procedência das informações e sua origem, a fim de verificar se foi forjado.
Enquanto a Polícia Federal apura, cabe às polícias estaduais e também à Federal prestar a segurança necessária às pessoas e instituições judaicas que poderiam ser possíveis alvos.
Assim, enquanto a investigação está em curso, não é possível afirmar nada, havendo tão somente a notícia da possibilidade de que um grupo tenha se organizado para tal fim.
O fato é que o Brasil tem legislação contra o terrorismo, aprovada ainda no governo Dilma Roussef, e adota medidas sérias de combate ao terrorismo, havendo um setor específico para isso, bem aparelhado e com pessoal preparado, na Polícia Federal brasileira.