Nos últimos dias morreram
muitos israelenses, a maior parte de civis, e também morreram muitos
palestinos, a maior parte, também, de civis. Eles foram assassinados, seja de
um lado ou de outro.
Os militares do grupo
Hamas, a que alguns países ocidentais e Israel chamam de terroristas, entraram
em Israel para ocupar cidades, matar e fazer reféns.
O direitista Netanyahu
disse que devastaria Gaza, e já cercou a faixa com soldados e tanques, além de
ter proibido o fornecimento de gás, eletricidade e alimentos à pequena faixa de
terra superpovoada por refugiados palestinos, formada por jovens, idosos,
crianças e mulheres.
O que o Hamas fez em
Israel é uma barbárie, e realmente deve ser assim denominado. Mas o que Israel
fez ao longo dos tempos contra a população palestina na Cisjordânia e na Faixa
de Gaza, e agora, cessando o fornecimento de gás, água e eletricidade e também
alimentos, destruindo rapidamente dois hospitais, matando crianças e idosos,
também o é.
Mas o ocidente aplica a
essa situação dois pesos e duas medidas. Para os Estados Unidos e muitos países
europeus, Israel pode tudo, desde destruir casas de palestinos, matar civis e,
se necessário, varrer a população palestina daquela pequena faixa de terra.
Está tudo errado. Os
palestinos e os israelenses têm o direito de se defender, mas isso significa se
defender e não invadir outros territórios e matar civis ou matar representantes
políticos legitimamente eleitos por um dado povo.
Israel tem todo o direito
de se defender. Mas defender não é destruir o outro ou um povo determinado.
Isso tem nome, é genocídio.
Alguns países defendem a
barbárie por um dos lados, em uma proporção ainda mais agravada do que aquela
praticada pelo Hamas.
A Faixa de Gaza é um
território, pequeno, paupérrimo e super lotado, não tem soberania e não é país.
Israel é um país com 75
anos, um exército fortemente armado e que possui armamento moderno fornecido
pelos Estados Unidos e uma força aérea avançada, além de receber doações
bilionárias do governo dos Estados Unidos e uma inteligência militar
extremamente bem financiada.
Desde 1947 Israel e Palestina
têm direito de existir e coexistir, como países soberanos, independentes, mas a
história começou mal.
Os israelenses se
anteciparam e fundaram Israel. Os palestinos não tiveram tempo de criar o seu
Estado e muitos foram assassinados por grupos terroristas israelenses, como o
mais famoso deles, o Haganá. Daí surgiram os milhões de refugiados palestinos
que se abrigaram no Líbano, Jordânia, Síria, Chile, Colômbia, Brasil e tantos
outros países.
Alguns países árabes
saíram em defesa dos palestinos e três grandes guerras foram travadas. Em 1967
Israel invadiu e ocupou territórios que seriam palestinos, expandindo a chamada
“Grande Israel”, reduzindo o tamanho da faixa de Gaza e ocupando terras do que
hoje é a Cisjordânia, inclusive recortando a Cisjordânia e impondo em seu
interior áreas para colonos israelenses, normalmente adeptos da extrema
direita.
Israel invade e anexa
territórios, reprime o povo da área ocupada, prende sem existir qualquer
fundamento ou processo judicial, destrói casas de palestinos, destrói plantações,
e os Estados Unidos vedam qualquer sanção a Israel.
Os palestinos, presos em
uma pequena faixa de terra, sem aeroportos ou grandes portos, sem soberania, sem
forças armadas, com grande parte da população desempregada e privada de
alimentação adequada, são proibidos de explorar livremente os recursos de sua
área marítima e estão cercados por militares israelenses.
De outro lado, temos um
país soberano ocidentalizado, tecnologicamente desenvolvido, muito bem armado, com
raves, paradas gays, liberdade para os cidadãos israelenses não árabes (esses
sofrem privações específicas), e que é governado há anos por um partido de
direita que flerta e se alinha com a extrema direita que prega abertamente a
morte dos palestinos e árabes.
Com essa realidade é
impossível alcançar-se a paz. O que o governo extremista de Israel quer
alcançar é a submissão, mas não a paz.
A submissão subjuga,
normalmente através da força. Já a paz envolve questões mais complexas, como o
alcance de uma condição parcial ou totalmente justa e o direito à liberdade e
de existência.
Os palestinos utilizam-se
dos mesmos meios que viram serem empregados desde o final do século XIX, quando
a Palestina ainda era um território sob o mandato turco-otomano, e muitos sionistas
imigravam planejando criar um país, e, aos poucos, inclusive no período de
dominio britânico, foram comprando áreas de palestinos, expulsando-os e
utilizando táticas terroristas, inclusive assassinando populações de pequenas vilas
que se recusavam a sair.
Tempos depois, após o fim
da Segunda Guerra Mundial, a ONU, sucessora da Liga das Nações, deliberou pela
criação de dois Estados na área que era a grande Palestina, um árabe e outro
judeu. Apenas o judeu, Israel, foi criado. A área da Palestina não conseguiu se
transformar em país e hoje é parcialmente ocupada, de forma ilegal, por Israel.
É fato que o que vimos
recentemente sendo praticado pelo Hamas é inaceitável, que pode ser denominado
de barbárie, mas não podemos ver a realidade sob um só prisma. Nessa amplitude
que o olhar crítico exige, percebe-se que há muito tempo Israel não tem dado
bons exemplos.
Os que almejam justiça e a
verdade não defendem a barbárie ou a vingança, mas sim a paz! E a paz exige a
necessária criação de um Estado Palestino soberano, com direito a voto e voz na
ONU.
Se o grupo militar do
Hamas deve ser barrado, a invasão e o cerco de áreas palestinas por Israel
também deve sê-lo, e com urgência.
O apoio dos Estados Unidos
à invasão de áreas palestinas se revela com o veto a qualquer sanção. Mas a
história não é um retrato de uma época. É a somatória de fatos, que nunca são
esquecidos por aqueles que a vivenciam diretamente. Passem 10, 100 ou 1.000
anos, um palestino ou seu descendente reivindicará a sua terra, denunciará a
perseguição e se o jogo de força das grandes potências mudar, Israel terá que
ceder muito mais do que cederia hoje.
A miopia dos Estados
Unidos e Israel, que cresceram com as guerras financiadas e travadas, pode levar
este último a uma realidade não tão confortável em um futuro próximo.