quarta-feira, 16 de agosto de 2023

CRACOLÂNDIA. A DEGRADAÇÃO É DE TODOS NÓS!

O drama da cracolândia afeta diretamente os dependentes de drogas, familiares, moradores da região, comerciantes e pessoas que passam pela área, a pé, de carro ou mediante transporte público.

A questão é, portanto, de Estado, a ser resolvida pelos entes públicos. Porém, nada impede que particulares se associem para criar medidas paliativas, que ajudem a diminuir o drama dos associados, ou que interajam com o Estado. Aliás, isso parece ser importantíssimo.

Os dependentes não necessariamente praticam ou praticaram crimes. Na maior parte das vezes se fragilizam e, já sem a sensação de prazer que a vida lhes proporcionou, e com o abandono que até para nós é plenamente visível, caminham a passos largos para a morte. Sim, o mero uso de algumas drogas provoca  morte.

Se há pessoas que caminham voluntariamente e sem oposição para a morte, através do uso compulsivo das drogas, a omissão da família, da sociedade e do Estado pode estar caracterizada (a responsabilização depende da avaliação de caso a caso). Assim, tanto o Município de São Paulo, quanto o Estado e a União deveriam somar esforços para resolver o problema da drogadição, em especial nas cracolândias.

Há muitas vítimas nas cracolândias, sejam os dependentes, os moradores da região alcançada pelas cracolândias, os comerciantes das áreas envolvidas e também próximas, os que atravessam a região.

A permanência das cracolândias tende a afetar a sociedade como um todo, com o fortalecimento do tráfico nas regiões centrais e não apenas nas periferias e algumas comunidades, com a debilitação da saúde dos usuários e dependentes e de familiares,  a prostituição de parte dos dependentes para a compra da droga, a desvalorização imobiliária na região, a alta incidência de furtos e roubos, muitas vezes promovidos pelos traficantes, a corrupção policial adjacente ao tráfico, o surgimento das milícias, criando o perigo de envolvimento de parcela significativa de agentes públicos armados (polícias civis, militares e guardas civis) no crime organizado, a degradação do comércio e o enfraquecimento da cidadania.

A ação pontual do Município, Estado e União para a solução das cracolândias é necessária e importante.

É óbvio que as ações integradas não resolverão os problemas de todos os usuários de entorpecentes, mas pode diminuir o drama de todos os envolvidos e ainda evitar o surgimento e fortalecimento de organizações criminosas, o que deveria ser prioridade para as pastas de segurança pública.

O tratamento da saúde deve ser a prioridade número 1, com ações efetivas e suficientes de psicólogos, médicos, incluindo psiquiatras, e assistentes sociais, ouvindo todos os usuários que estão na cracolândia paulistana e familiares. Aí verificariam a necessidade de tratamento da drogadição e outras questões de saúde, bem como a possibilidade de fortalecimento dos vínculos familiares com a participação, promoção e incentivo do poder público. Em grande parte das vezes, o resgate dos dependentes se dá através de tratamento de saúde e de participação dos familiares.

É óbvio que aonde há dependentes químicos, haverá droga próxima. Para isso, deve o Estado promover as ações de saúde, como já foi mencionado, inclusive com internação voluntária e até forçada, em casos graves em que a vida da pessoa está por um fio (esse meu entendimento decorrer do princípio da solidariedade e da vida, que vem disposto em primeiro lugar no "caput" do artigo 5º da Constituição Federal, que não admite qualquer omissão familiar, da sociedade e do Poder Público).

Ao mesmo tempo, outras secretarias deveriam promover cursos profissionalizantes, inserção no mercado de trabalho, moradia temporária.

Enquanto isso ocorre, o que demanda tempo, deve haver nessas regiões a ação pontual dos serviços de inteligência da área de segurança pública e corregedorias, a fim de apurar as organizações criminosas existentes e os criminosos envolvidos, incluindo aí alguns agentes públicos que se corrompem, participam de milícias ou abusam de seu poder.

A Municipalidade, de certo, pode e deve promover incentivo tributário aos proprietários de imóveis e comerciantes da região, mas aliado a uma política efetiva de presença dos órgãos e agentes do Município, bem como do Estado e até da União, se o caso, na região.

A presença do Estado afeta o poder do tráfico. Foi assim nas periferias e comunidades e assim também será nas cracolândias.

Em decorrência da presença do Estado, a polícia ostensiva e a inteligência policial devem estar atuantes na área, a fim de propiciar a sensação de segurança aos moradores, comerciantes e transeuntes.

A presença policial é a ação que deve ocorrer juntamente com a política de saúde, a número 1.

A valorização do centro da capital paulista é uma prioridade, a fim de levar aos locais não só a presença efetiva do poder público, mas ativides esportivas e culturais, incentivando o comércio que resiste, incluindo aí bares e restaurantes tradicionalíssimos e que contam parte da história de São Paulo.

Hoje, o tráfico espanta as pessoas da região da cracolândia. Uma ação reversa, de levar o poder público e as pessoas, com segurança pública efetiva, à região me parece ser uma prioridade.

Mas a participação da sociedade, incluindo moradores, entidades privadas e Igrejas, é fundamental.

O que não pode haver é o fechamento de olhos para a degradação não só do centro, incluindo aí o centro histórico da capital, mas das pessoas humanas dependentes de drogas e os concomitantes fortalecimento de organizações criminosas, aumento da corrupção, sensação efetiva de insegurança e de abandono e omissão de todos.

A degradação de pessoas, nosso bem maior, e do centro, nossa história, é a degradação de todos nós.

A ação é para ontem. A vida não pode esperar!

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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