A mídia tem divulgado que, durante o governo Bolsonaro, a ABIN -Agência Brasileira de Inteligência, então vinculada ao GSI - Gabinete de Segurança Institucional, produziu, de março de 2020 a julho de 2021, mais de mil relatórios de inteligência sobre a COVID-19, com projeções de casos e mortes, inclusive apontando a vacinação e o distanciamento social como as únicas medidas eficazes contra o vírus.
Tais relatórios teriam sido mantidos sob sigilo na gestão Bolsonaro e foram divulgados somente agora.
A pandemia teve efeitos perversos no Brasil, causando mais de 704 mil mortes, o que representa mais de 10% de todas as mortes por COVID-19 em todo o mundo. No mundo, foram 6.903.293 mortos pela pandemia. O Brasil teve o segundo maior número de mortos em todo o mundo. Na Índia, país com mais de 1 bilhão e quatrocentos milhões de habitantes, sete vezes a nossa população, morreram 531.915 pessoas.
O número catastrófico só não foi ainda maior porque a vacinação avançou graças à iniciativa do ex-governador de São Paulo, João Dória Jr., de acelerar a fabricação de vacinas pelo Instituto Butantan e à eficiência do nosso Sistema Único de Saúde.
Como este blogueiro já cansou de avisar, morreram mais brasileiros pela COVID-19 que a somatória de todas as guerras travadas no Brasil-Colônia, no Brasil-Império e no Brasil-República.
A inação do então governo federal, os discursos anti-vacina e a demonstração pública de desconsideração pelo uso de máscara e do distanciamento social, contradizem expressa advertência da inteligência brasileira, significando que o governo Bolsonaro sabia dos riscos e menosprezou a vida de brasileiros, em algo que há de ser considerado o que realmente é, um crime contra os brasileiros, um crime contra a República, um crime de lesa-pátria.
Qualquer governo deveria servir ao seu país e ao seu povo, jamais condescendendo com mortes que poderiam ter sido evitadas e, propositalmente não o foram, contrariando a ciência e os próprios relatórios de inteligência, que servem para nortear as ações do governante, como indica expressamente o parágrafo segundo do artigo primeiro da Lei 9883/1999, abaixo transcrito:
§ 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.
Mais expressamente, o artigo 4º da mesma lei ainda dispõe:
Art. 4o À ABIN, além do que lhe prescreve o artigo anterior, compete:
I - planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República.
É evidente que brasileiros morreriam durante a pandemia, que deixou marcas em todos os países. Porém, se cautelas tivessem sido adotadas, como recomendado pela área científica e pelos relatórios de inteligência, o número da tragédia poderia ser muito inferior em nosso país, já historicamente habituado à vacinação em massa e à eficiência silenciosa e discreta do nosso SUS. Além disso, o presidente da República pregar contra a vacina e o isolamento social, não usando máscara de proteção e retirando-a do rosto de criança que carregava, representam ações pontuais contra a saúde pública, dando um péssimo exemplo a brasileiros que, a partir daí, burlaram o isolamento social e o uso de máscaras, o que permitiu ceifar a vida de centenas de milhares de brasileiros.
Todas as guerras somadas não causaram tantas mortes de brasileiros quanto as ações do governo Bolsonaro durante a pandemia. Foi um crime de guerra contra a Nação e os brasileiros. Esta triste marca, sem dúvida, foi a pior de todas as tragédias de Bolsonaro.
Agora, os relatórios de inteligência abrem a possibilidade de que parentes das vítimas fatais da COVID-19 ingressem com ação indenizatória contra a União Federal. Nessa hipótese, a Advocacia Geral da União poderá propor ação regressiva contra os agentes públicos responsáveis que tiveram acesso aos relatórios ou às informações neles constantes, seja o então presidente da República, seja o então Ministro Chefe da Segurança Institucional ou qualquer outra que tenha agido contra evidências científicas ou advertências da inteligência brasileira..
O Brasil, que se silenciou frente aos horrores da escravidão, às degolas em Canudos e a tantos outros crimes praticados contra brasileiros, não deve e não pode se esquecer desse massacre, para que esse erro e desconsideração pela vida dos brasileiros nunca mais se repita durante a existência deste País! O mínimo que cada brasileiro merece é o respeito pela vida!