quarta-feira, 12 de julho de 2023

CRACOLÂNDIA, UM TRISTE LADO DE SÃO PAULO QUE SE EXPÕE AO PÚBLICO, MAS QUE É POSSÍVEL RESOLVER, DESDE QUE O PODER PÚBLICO COMO UM TODO ESTEJA PRESENTE.

Quando se fala em cracolândia, imagina-se que seja um aglomerado de dependentes que vivem em função da droga, mas essa visão simplifica muito as coisas.

A cracolândia, hoje, reúne muitos dependentes, mas não só. Ela também abriga outras pessoas em situação de rua por causas diversas, como abandono, depressão, desemprego e transtornos mentais. Aliás, muitos dos que são dependentes se tornaram viciados por conta de causas muito próprias, que podem coincidir com a depressão, o desemprego, algum transtorno mental, abandono etc. As histórias e as causas de cada um daqueles seres que enxergamos como zumbis são únicas, não se podendo generalizar.

O crack, que causa dependência muito rapidamente, surgiu nos Estados Unidos nos anos 1980 e em São Paulo no início dos anos 1990, mas o termo cracolândia foi cunhado em uma reportagem do jornal "O Estado de São Paulo" de 1995, e desde então os poderes públicos vêm demonstrando a mais absoluta incompetência para tratar de uma questão que resvala na Segurança Pública das pessoas que circulam pela região, mas cuja raiz é essencialmente de ordem social e de saúde e que deve ser tratada como tal.

Alguns governos foram mais sérios na tentativa de resolver o drama que hoje assola e alcança a todos nós! Outros usaram e abusaram da demagogia e dos discursos politiqueiros. Os craqueiros, como chamamos os seres abandonados pela família e pelo poder público, estão cada vez mais visíveis e em um número cada vez maior!

Como é perceptível, não é possível resolver o problema da cracolândia em um passe de mágica ou apenas remanejando as pessoas de um lado para o outro.

Junto com a cracolândia existem aqueles que se prostituem para manter o eventual vício, os traficantes e as organizações criminosas que fornecem as drogas aos dependentes,  a corrupção policial que protege alguns traficantes, a formação de milícia por agentes públicos que cobram para garantir a segurança a alguns comerciantes, dominando pela força, e também, obviamente, a degradação de todos os que lá residem nas ruas e o sério risco de roubo ou até mesmo agressão, em alguns casos, aos que transitam a pé ou em veículo próprio, táxi, uber ou coletivo naquela região, sejam moradores ou trabalhadores. Ao memo tempo, como se percebe, todo o centro vem se degradando, ficando sujo, perigoso, com grande parte do comércio fechado e com poucas pessoas circulando, o que afasta a população das ruas centrais e vitais de sua cidade, provocando o fechamento de comércios, de restaurantes e pontos tradicionais e até mesmo de atividades culturais, muitas das quais localizadas na região central da capital paulista.

Os problemas são vários e a solução exige ações integradas, coordenadas e devidamente calculadas. Para isso exige-se vontade política e presença do poder públlico, e não apenas das forças de segurança.

A formação de cadastro das pessoas em situação de rua da região é uma medida inicial para atender aquele público com assistentes sociais e psicólogos, mas também serve como fonte de informação para a inteligência policial, seja para mapear ou até localizar eventuais pequenos traficantes.

Com o cadastro, o poder público será obrigado a prestar atendimento personalizado a cada uma das pessoas e será o passo inicial para as soluções individuais, que redundará em uma eventual solução de âmbito coletivo. Com atendimentos psicológico e assistencial, será possível propiciar os atendimentos adequados e os devidos encaminhamentos aos depressivos, aos desempregados, aos abandonados pela família. O abrigamento deles na região em que vivem, desde que haja o acompanhamento assistencial, psicológico, médico ou de qualificação profissional, também é importante.

Para poder prestar o atendimento necessário e adequado, considerando o pequeno quadro de servidores com a qualificação necessária dos poderes públicos, seria importante a celebração de parcerias com as mais diversas Igrejas e instituições privadas, integrando a comunidade na solução deste problema.

Quanto aos dependentes, deve ser analisada a situação individual e ser propiciado o tratamento adequado. Particulamente penso que a internação deve ser preferencialmente voluntária, mas não só. Nos casos em que o dependente não consegue cuidar da sua saúde, comprovadamente colocando a sua vida em risco, não pode haver omissão da família, da sociedade nem do Estado. A intervenção e ação para a proteção da vida deve ocorrer por ser uma garantia constitucional e um dever de todos. A ninguém é dado o direito de presenciar um suicídio e permanecer omisso. Penso que o uso desenfreado de drogas por um dependente químico assemelha-se a tentativas reiteradas de suicídio, pois o que elas têm em comum é o caminho para a subtração da própria vida.

Obviamente, a internação não pode servir de mero instrumento para a retirada dos dependentes da rua. Isso seria um desvio de finalidade e crime por parte do administrador. A internação somente poderá ocorrer se for para propiciar eficazmente todos os meios necessários para a desintoxicação e tratamento do dependente. Nisso, as Igrejas, todas elas, deveriam ser chamadas para fazer a sua parte.

As clínicas terapêuticas são uma forma de tratar os dependentes. Porém, deverá haver uma fiscalização muito de perto pelos órgãos de saúde para assegurar o tratamento efetivo aos que necessitem.

Paralelamente, o Poder Judiciário, o Ministério Público, as Polícias Civil e Militar e representantes dos poderes públicos devem atuar em conjunto, seja para garantir a cidadania e a segurança a toda a população que circule nas áreas denominadas cracolândias, prendendo os criminosos, seja para o encaminhamento médico, social, psicológico e profissional adequado para as pessoas em situação de rua que deles necessitar.

O poder público deve estar presente, seja na cracolândia, seja nas periferias, seja nas comunidades. Não basta que o poder público esteja presente nas áreas mais favorecidas. O poder público tem que ocupar a cidade e demonstrar que a cidadania é, efetivamente, para todos, como assegura a Constituição Federal!

Havendo poder público presente, o primeiro e principal passo será dado para a solução do problema. A solução efetiva dependerá do sucesso das ações adotadas e também do interesse e da vontade política.

Por isso é importante que a população cobre solução, tanto sob o aspecto da segurança pública, como dos problemas individuais da população em situação de rua, incluindo-se aí os das cracolândias. Somente com cobrança diuturna e o efetivo exercício da cidadania da população em geral, o poder público passará a agir eficazmente para resolver esse problema que já nos acompanha há três décadas.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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