O Brasil não elegeu um governo de esquerda.
A proposta de Lula é liberal nos costumes, mas conservadora demais no âmbito econômico. É a mesma política que foi adotada por Fernando Henrique, nos governos anteriores do próprio Lula, por Dilma, por Temer e por Bolsonaro. Ela aumenta a riqueza do rico e dificulta a vida do mais pobre.
Um político que apresentava propostas mais "revolucionárias" no âmbito econômico era Ciro Gomes, mas que era desprezado pela grande mídia e pelo sistema como um todo. O resultado foi uma votação inexpressiva para o tamanho do potencial político do candidato.
No âmbito geopolítico, Lula é muito mais hábil e nacionalista que Bolsonaro. É capaz de atrair a simpatia de países, ao mesmo tempo em que firma um posicionamento estratégico nacional. Foi assim no comércio exterior, onda ganhou mercado na América Latina, África e Países Árabes. Com Temer, houve o enfraquecimento dessa robustez, praticamente desaparecida com o governo Bolsonaro.
No entanto, o atual governo dos Estados Unidos vê com bons olhos a vitória do Lula. O motivo não é de paixão pela política externa brasileira, mas de ter conseguido barrar a subida de um populismo ideológico de extrema direita capaz de convulsionar a região e levar a potenciais guerras localizadas (sejam guerras civis ou entre Estados distintos).
Com Lula, a América do Sul possivelmente permanecerá em paz, o que é bom não só para os países da região, mas principalmente para os Estados Unidos, que não teriam que intervir em mais uma região do globo, quando sua economia patina e não há recursos sobrando para tantas ações militares pelas mais variadas regiões.
E é a América Latina a região que mais tem preocupado muitos cientistas políticos, muito mais que Ucrânia e Rússia.
Embora a América do Sul tenha lideranças progressistas, a extrema direita tem se fortalecido na região. Um dos exemplos é o Brasil, onde o neonazismo e teorias da conspiração, anticientíficas e contra a mídia tradicional tem se proliferado de forma alarmante.
A CPAC - Conferência Política de Ação Conservadora, realizada no México, reuniu personalidades do mundo da extrema direita chilena, argentina e brasileira, esta por meio de Eduardo Bolsonaro, ao lado do perigoso Steve Bannon, já condenado nos Estados Unidos,
Esse conservadorismo oportunista se apega a pautas de costumes, como o aborto, para tentar barrar todo o progresso econômico e social dos países da região.
Na verdade, essa extrema direita é formada por um bando de pessoas sem expressão que se apegam a pautas que dão popularidade, como costumes e segurança pública, para eleger grandes bancadas. Normalmente defendem os excluídos do sistema (não, não são os pobres, os miseráveis ou as pessoas em situação de rua), se reunindo aí todo o tipo de pessoas ou empresas que não conseguiram um posicionamento firme no mercado e os que agem de forma ilegal, ou na ilegalidade, seja o banqueiro do jogo do bicho, o agricultor que desmata ilegalmente, o minerador ilegal ou os grandes grupos criminosos, além de grupos empresariais que dependem da sonegação de impostos para continuar no mercado.
Quando assumem o poder, esses conservadores extremistas demonstram a absoluta incompetência para gerirem o dia a dia e a economia do país e garantir o progresso econômico.
O grande centro dessa extrema direita está justamente nos Estados Unidos, tendo como maior representante o ex-presidente e ex-apresentador Donald Trump e um oportunista socialmente irresponsável como Steve Bannon.
São grupos extremistas que pregam uma guerra ideológica, tornando todos aqueles que não defendem seus posicionamentos como inimigos, aos quais dão os mais variados nomes aqui no Brasil: petistas, comunistas. Já os extremistas, por mais que se esqueçam do progresso econômico e social do país, se autointitulam "patriotas".
Há quem diga que o conservadorismo tradicional, típico do partido Republicano da era Ronald Reagan, está retomando forças nos Estados Unidos. Porém, o trumpismo quer expandir o conservadorismo radical, xenófobo, para toda a América Latina, denominando-os de novos políticos e anti-sistemas. Daí esses grupos conservadores se reunirem com frequência na América Latina, sempre sob a batuta de extremistas estadunidenses.
Se a esquerda não se pautar por questões de segurança pública, possivelmente não assuma uma liderança absoluta, seja no Brasil ou na região, dizem estudiosos do tema. Ciro Gomes já alertava para tal questão.
O conservadorismo nos costumes é algo que tem unido muitas forças conservadoras e que vem fortalecendo o extremismo dos discursos. Assim, a esquerda, nesse momento, tem que escolher ou mexer na economia, de forma a liberar os países das garras do sistema financeiro, e permitir a industrialização massiva e o desenvolvimento de tecnologias, diminuindo a injustiça social marcante na região, ou se prender a um discurso importante, mas que é o calcanhar de Aquiles dos partidos de esquerda da região: as pautas de costumes.
O que quero dizer não é largar a pauta de costumes, mas deixá-la a cargo da sociedade civil, para que esta se movimente, sem, obviamente, esquecer-se da preservação de direitos já conquistados legalmente, que devem ser fielmente asseguradas pelas instituições.
Outro fator importante para a esquerda é se aproximar do eleitorado evangélico, tradicionalmente conservador nos costumes e mais suscetível à manipulação pela extrema direita.
Mas a solução mais robusta para barrar a extrema direita, a médio e longo prazo, é uma só: investimento massivo em educação sólida e na ampla difusão da história do país. A extrema direita se utiliza da fragilidade da noção de Nação para, justamente, dividir o eleitorado entre dois grupos antagônicos, nós e os outros, enfraquecendo qualquer sentido de República ou de Nação. Vide o que aconteceu com os Estados Unidos logo após a derrota eleitoral de Trump e o que vem acontecendo no Brasil nos discursos xenófobos e contra nordestinos da extrema direita representada pelo bolsonarismo.
Para a extrema direita atual, Democracia, República e Nação pouco importam. Ela, na verdade, não briga por uma pauta. O discurso sobre costumes serve apenas como angariador de votos. Vide o histórico dos políticos extremistas para perceber que eles não seguem a cartilha da família tradiional e do puritanismo pregado.
A extrema direita mundial, incluindo-se aí a brasileira, visa à demolição do Estado, fragmentando-o em porções de domínio por grupos extremistas. As vitimas pontuais disso são, obviamente, o Estado brasileiro e as classes B, C, D e E. A classe A, por possuir muito patrimônio, tem facilidade de movimentar-se e aderir a um novo sistema de governo ou até mesmo movimentar-se para outro país.
A classe média, amplamente seduzida pelas supostas propostas da extrema direita, está caindo no golpe do discurso conservador e será a maior vítima, perdendo seu "status" e sua razoável condição econômica. Para a extrema direita só há os que detêm a força e os inimigos. A classe média, assim como os pobres, são mera massa de manobra.