Temos uma triste tendência ao autoritarismo, ou talvez seja mera preguiça mental, que se revela na nossa aceitação acrítica a qualquer posicionamento que defenda algo que gostemos ou que ataque algo que nos apavore.
Isso se revela no posicionamento político brasileiro atual. Votamos em A contra Z, porque odiamos z, ou em Z contra A, porque odiamos a, e nos esquecemos de outras possibilidades, poucas por sinal, mas ainda existentes.
Não somos binários, mas agimos como se fossemos e trabalhamos a maior parte do tempo com conceitos antagônicos ou com duas possibilidades, quando há muito mais delas espalhadas pelo Universo.
Penso que na maior parte das vezes o ser humano se limita e que as descobertas científicas somente se revelam porque alguns pensamentos superaram a nossa preguiça mental (decorrente de uma barreira social, talvez) e revelaram-nos outras possibilidades.
Como dito, isso ocorre com a política, mas não só com ela. Muitos acham que se é capitalista ou comunista, e só. Que se é pró Estados Unidos ou contra. Que se acredita em um dado Deus ou é, de certa forma, pagão. E os exemplos não param aí.
8 ou 80. Quem não se lembra daquele ditado? E que traduz muito o pensamento comum humano. Colocamos tudo em caixinhas e não somos capazes de analisar a complexidade. Enquadramos nas definições daquilo que conhecemos e aceitamos.
Você é europeu ou indígena ou preto. E em um país tão mestiço é possível ser muito mais que uma só definição. É possível ser descendente de europeu, indígena e preto ao mesmo tempo.
Os rótulos tendem a simplificar o que se é. Somos muito mais. Ainda que sejamos indígenas ou pretos, temos a Nação raiz de nossos antepassados. Não há só um povo indígena nem só um povo preto. Há muitos povos e Nações assim.
Não se sabe a partir de quando, mas o ser humano foi simplificando as definições e as origens, talvez para facilitar a história ou como meio de manipular para, de alguma forma, se deter o poder.
E, em comparação, vemos o mundo definhando sob a nossa batuta e, ao mesmo tempo, as inúmeras possibilidades de existências e formas no Universo, que mexem com a nossa imaginação.
Aprendemos muito nos bancos das escolas, nos livros e vivenciando comportamentos e relacionamentos. Por isso é importante estudar, ler e viver. Quanto mais se é livre para viver, mais se adquire de vivência e experiência. Por isso, as viagens antigamente eram verdadeiras descobertas. Que o digam Marco Polo e os antigos comerciantes da rota da Seda. Hoje, com a globalização e o fácil acesso à informação, viajar pode ser uma forma de descoberta, se for para conhecer culturas e pessoas, ou mero modismo da era da exposição da imagem.
Escrevi tudo isso para tratar de um livro que se chama "O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade", que traz uma crítica ao eurocentrismo e nos mostra como outras culturas eram tão ou mais avançadas que a dita Europeia ao longo da história. E quando falam em outras culturas, inclui-se aí as ditas "aborígenes" ou "selvagens", onde a democracia, não como conceito, mas como prática, já era empregada nas Américas pré colombiana, por exemplo.
Talvez os Europeus, que trouxeram o que conhecemos por colonialismo e a forma mais recente de imperialismo, além do capitalismo e comunismo e as grandes guerras mundiais, não sejam o "melhor" exemplo maior de superioridade moral.
Quando nos despirmos dessa pretensa superioridade europeia, talvez diminuam-se ou desapareçam preconceitos de raça, cor, sexo e religião, e passemos a ver o ser humano como aquele que foi se amoldando ao mundo em que vivia, superando obstáculos e se desenvolvendo como espécie.
Hoje, quando se fala em explorar a Lua, Marte e Vênus, não se fala em exploração por A ou B, mas pela humanidade, como forma de sobrevivência, já que o Planeta (que não tem nada de plano) Terra está se exaurindo devido ao modus vivendi de menos de duzentos anos, capitalista, coincidência ou não. Obviamente, alguns terão privilégios, e em se tratando de mundo capitalista, os mais ricos terão primazia.
E há um conceito muito particular e pessoal, que necessita de amadurecimento, que consiste em criticar a valorização excessiva do individualismo. E que esse individualismo exacerbado é a raiz de muitos dos males que vimos por aí.
Não há dúvida de que somos seres individualizados, mas que necessitamos de uma coletividade para viver e com a qual devemos nos harmonizar. Penso que cada um carrega sua própria Alma que também evolui ao longo do tempo e da história individual a ponto de, depois de muitas vidas, harmonizar-se e juntar-se a outras. Penso que assim como ocorre com a humanidade, a alma individual também tende a evoluir e, mais leve, integrar-se a outras Almas também nessa condição. E falo sobre isso para exemplificar que a evolução alcança a agregação, e que a individualidade não é algo eterno.
Se pensarmos no Big Bang, que hoje é contestado por muitos, em que tudo era infinitamente condensado e que, com a explosão, se expandiu e continua a se expandir, talvez o conceito de indivíduo faça sentido, pois algo que era uno deu origem à vida como conhecemos, individualizando-a.
O ser humano valoriza tanto o indivíduo que a primeira forma de conjugar o verbo é na primeira pessoa. Obviamente esse é só um exemplo, mas um dos mais fortes, pois demonstra a primazia do indivíduo.
O certo é que o indivíduo existe e foi a base de nossa formação. O que quero dizer é que para compreendermos a existência, o Universo e a própria humanidade, é necessário termos conciência de que não somos os únicos e não somos o centro do Universo e, na nossa insignificância material, intelectual e energética, fazemos parte do todo. Como indivíduos, colaboramos e somos particulares, mas não podemos continuar a ver o mundo da forma como aprendemos, com a falsa superioridade e abstração do outro.
Temos que sentir a dor alheia, a ter empatia, a tentar nos harmonizarmos, a amar.
A história que sempre é recontada, ainda valorizará os agrupamentos, que deram origem às sociedades, para a sobrevivência humana, desde o período em que o ser humano não conquistava e não ditava regras, mas apenas sobrevivia em meio à natureza. Os agrupamentos humanos eram fundamentais para enfrentar-se outros animais e permitir a sobrevivência do indivíduo e da própria espécie humana.
Penso que Jesus, ao ensinar sobre o Amor, nos trouxe, com sua sabedoria e simplicidade, a maior lição para nos harmonizarmos com a humanidade e o Universo, nos ensinando a como mudar a história até então de guerras e horrores.
Ouvimos e, após a sua ida deste Planeta, passamos a pregar as suas palavras, mas não mudamos a forma de ver e vivenciar o mundo. Ainda é possível, e se o fizermos, já inicialmente nos depararemos com descobertas surpreendentes. Ousemos. Ousemos mudar e revolucionarmo-nos como indivíduos e sociedade.
Se passarmos a enxergar de outra forma, de uma forma menos impregnada do individualismo e de valores de superioridade, certamente nossa percepção aumentará e veremos com maior amplitude. Tentemos, pelo menos, enxergar e sentir da forma como o Universo está a exigir.