O presidente russo, Vladimir
Putin, é um dos maiores entendidos de geopolítica da atualidade, e sua ordem de
invadir as áreas que buscam a independência da Ucrânia foi, no mínimo, ousada.
Não defendo os conflitos armados,
nenhum deles, repito. A solução pacífica sempre é a melhor solução para a
população, que mais sofre com as guerras, falta de alimentos, dificuldade de
locomoção e toda a longa série de restrições e dificuldades.
Não é de hoje que o Kremlin está
alerta com as ações dos Estados Unidos e a OTAN. A Rússia permaneceu quieta
quando os Estados Unidos e a OTAN invadiram os aliados da então União
Soviética, Iraque e Líbia. E quando os Estados Unidos posicionaram soldados no
Paquistão e Afeganistão, a Rússia também parecia não entender o que, de fato,
estava acontecendo.
Cientistas geopolíticos
brasileiros já diziam vinte anos atrás que a guerra no Iraque e no Afeganistão não
buscava simplesmente petróleo e gás, como muitos pensadores de esquerda afirmavam,
mas também visava, em paralelo, e de forma imperceptível à maioria, cercar a
Rússia (com o maior arsenal atômico do planeta e a segunda maior força armada
do mundo) e a China (segunda maior potência econômica do globo e terceira maior
força militar do globo). Com o cerco, o abastecimento à China poderia ser
cortado tanto do oeste quanto do leste, onde forças estadunidenses também se
encontravam posicionadas na Coreia do Sul e no Japão. Parece que, agora, a
Segunda maior potência militar do planeta e a Segunda maior economia do globo
entenderam o ardil do movimento de peças impostos pelos Estados Unidos.
A Ucrânia é um país chave para a
Rússia no tocante à sua segurança. É ela que a separa da Polônia e de tantos
outros membros da organização militar chamada de NATO na Europa e de OTAN no Brasil. A participação da Ucrânia da
OTAN coloca em risco a segurança estratégica da Rússia. Militares russos
afirmam que se forem posicionados mísseis da OTAN na Ucrânia, a Rússia inteira
poderia ser dizimada em questão de minutos.
O expansionismo da OTAN nunca foi
aceito pela União Soviética nem pela Rússia. Embora a OTAN fizesse sentido à
época da guerra fria, entre Estados Unidos, capitalista, e a União Soviética,
comunista, que conviviam com a possibilidade de um conflito militar e atômico, a
existência de tal organismo belicista, hoje, põe em risco a segurança das
Nações, principalmente daquelas próximas às Nações integrantes do organismo. O
ataque aos Balcãs evidencia isso, mas o conflito com Nações um pouco mais
distantes, como o Iraque e a Líbia, e até em certo momento em 2012, na Síria,
apontam que a OTAN serve, na verdade, à defesa dos interesses geopolíticos e
econômicos dos Estados Unidos, e não necessariamente ao dos demais membros.
A China, ao mesmo tempo em que se
opõe a qualquer conflito porque isso afeta seriamente a sua poderosa economia,
também defende a autonomia das Nações, mas, por outro lado, reconhece que a
integração da Ucrânia à OTAN colocaria em risco a segurança da Rússia.
A solução, como já foi mencionado em outro
artigo aqui no Blog, é a extinção da anacrônica e belicista OTAN. A Europa tem
direito a uma Força Armada unificada, se assim bem entender, para a defesa da
integridade de seu território, mas a utilização da OTAN pelos Estados Unidos e
Inglaterra como força de apoio aos seus interesses próprios, desmoraliza o
organismo, põe em risco a liberdade das Nações e desvirtua o jogo geopolítico
existente.
Agora, com a invasão da Ucrânia
pela Rússia, a OTAN reagirá em bloco? Alguns países europeus gostariam disso, esperando
mandar homens e armas para o leste europeu, mas a Alemanha, França e até mesmo
os Estados Unidos não querem agir diretamente no conflito militar. Segundo o
que é dito por autoridades do Executivo e diplomatas, tais países preferem a
aplicação de sérias sanções econômicas à Rússia. Eles sabem que um conflito
dessa magnitude duraria muito tempo e causaria um caos econômico em boa parte
do globo, principalmente em suas economias.
Em questão de política e
geopolítica nunca sabemos exatamente o que nos espera. Esse conflito na Ucrânia
pode ser curto e durar pouquíssimos dias ou semanas, mas a participação inesperada
de outros países pode alargar a área de conflito, a duração da guerra e da própria
crise econômica por ela causada.
O bom senso deve imperar e é o
que se espera do bloco de Nações independentes, como China, Índia, México,
África do Sul e outras Nações, a fim de ditarem um rumo pacífico a esse impasse
que atinge agora o patamar bélico, mas ainda localizado.