Não sou economista, mas escrevo como jornalista que, além de ler matérias de diversos veículos sobre a economia, o covid-19 e a crise econômica, ainda repara no dia a dia das pessoas.
É fato que não é de hoje que, com
o capitalismo financeiro ditando os rumos econômicos de grandes economias,
muitos críticos aumentaram o tom contra o capitalismo.
Ao contrário do capitalismo
industrial, o dito financismo não traz consigo o emprego para o cidadão e o
tributo do consumo para o governo e, para agravar a situação de muitas
economias, ainda aumenta a concentração de renda, tornando o monstro do
capitalismo ainda mais perigoso.
Não é por outro motivo que o
próprio fascismo italiano criticava o capitalismo financeiro e propunha um
Estado forte.
Porém, no embate entre
capitalismo regido por ditaduras oportunistas e democracia ocidental e o comunismo,
inicialmente comandado pela ditadura do proletariado, o primeiro sagrou-se
vencedor do primeiro round.
Nos dias atuais, o covid-19
apresentou algumas modificações que implicaram não apenas na mudança nas
relações de trabalho, mas na forma das pessoas agirem em relação ao emprego.
Com o distanciamento social e a adoção do “home office”, muitos trabalhos
intelectuais (e não braçais), passaram a ser feitos à distância, diretamente da
casa do prestador de serviços, o que aproximou o trabalhador de sua família,
fazendo-o refletir sobre a própria relação tradicional de prestação de
serviços.
Mas não só. O covid-19 trouxe
consigo, juntamente com o aquecimento global, o desmatamento, a seca, a
priorização do grande agronegócio (soja) em detrimento do cultivo de alimentos
e a queda na produção em geral, um problema que talvez o capitalismo não
consiga resolver rapidamente: a crise no abastecimento industrial e alimentar, o
que elevou o preço dos produtos e alimentos no mundo inteiro (no Brasil mais
ainda, por conta da crise, do preço do dólar e da inflação).
O covid-19 matou muita gente,
muito por culpa da falta de ação imediata e efetiva de muitos governos,
incluindo o brasileiro, mas a pandemia afetou também a economia, e não apenas
superficialmente, mas estruturalmente, deixando-a prestes a ruir.
Ao lado de tudo isso, vemos no
Brasil, em especial, o aumento da fome e do desemprego, com a multiplicação dos
moradores de rua nos centros das grandes cidades brasileiras.
E com tudo isso, o governo ainda
adota uma política neoliberal desastrosa que provoca, ao lado de todo o caos
social, um baixo crescimento de nossa economia.
A crise no capitalismo é visível,
mas a crise no capitalismo brasileiro é assustadora.
Ao mesmo tempo, o governo federal
adota uma política reacionária e centralizadora e uma economia mal planejada,
onde o capital tem plena voz ativa, fazendo agravar a crise no Estado e na própria
administração pública, ao lado de um caos social crescente.
O covid-19 pode deixar de ser
pandemia e virar uma doença como outra qualquer, mas os estragos já foram
provocados. Obviamente o covid-19 não agiu sozinho. Muitos governos
absolutamente inconsequentes e incompetentes agravaram a situação econômica
local e até mundial.
O fato é que, com tantos
estragos, dificilmente o capitalismo sobreviverá se não se modificar
radicalmente, em especial no Brasil.
Com a crise na administração
pública e na produção, o caos social e o crescimento das milícias, estamos
caminhando para um capitalismo ao estilo feudal, onde grupos serão mais fortes
que o próprio Estado e a concentração do capital e das forças de produção se
dará na figura daquele que controlar exércitos particulares mais poderosos.
Obviamente estou me referindo, aqui, ao Brasil.
É certo que a massificação pode
manipular as pessoas até um certo ponto, mas em uma sociedade acostumada a
valorizar aspectos individuais, esse sistema capitalista monstruoso que está
sendo configurado colidirá com uma sociedade cada vez menos tolerante com governos
opressores, ditaduras e visões unilaterais.
A crise social e do capitalismo
no Brasil poderá (quase deverá) provocar a reação das pessoas a ponto dessas
exigirem um Estado mais presente no dia a dia das pessoas e na própria
economia, ditando regras e promovendo, assim, o capitalismo indutor do
crescimento econômico nacional e responsável pelo bem estar da população,
regrando-se de forma consistente o rentismo, algo que desagrada o capitalismo
financeiro.
Com esse governo e o covid-19,
nada será como antes, nem o capitalismo brasileiro!