O ser humano de alma que pode ser
iluminada e generosa, capaz de se doar a um desconhecido, recai muitas vezes a
uma mediocridade que envergonha qualquer ser vivente, e isso normalmente ocorre
quando se trata de tentar ser superior a outros, seja na luta pelo poder,
religioso, econômico ou outro, seja pela sensação de superioridade, religiosa
ou de outro cunho.
Nesses momentos vis, o ser humano
exala o seu pior e expõe ao mundo uma maldade inimaginável, muitas vezes
revestida do que chama ser de cunho religioso, condenando homossexuais, travestis,
drogaditos, mulheres abusadas sexualmente, pessoas de outra fé, negros e tantos
outros numa supremacia imaginada e inexistente.
Não há ser humano superior, cor superior,
religião superior, identidade sexual superior. Somos usuários de um corpo que
nos é concedido e com ele nos desenvolvemos com o passar dos tempos, e que
temos que devolver, queiramos ou não, chegado um tempo. Não mandamos no nosso
destino e temos que trilhar por um caminho aparentemente desconhecido. Quando
doentes, temos que nos socorrer a um profissional de saúde, sem escolher a
religião, identidade sexual ou outra característica do socorrista. Tememos
perder quem amamos e sofremos muitas vezes antecipadamente. Na verdade, não
tempo propriedade ou efetivo controle de nada. Nem do nosso corpo. Mas,
pequenos, nos julgamos no direito de condenar outros por características
diferentes, como se isso nos tornasse melhores. Não. Isso não nos torna
melhores. Na verdade, revela o quanto somos piores e o quanto precisamos
reviver para ter a sensibilidade de compreender o outro e suas dores, além das
nossas próprias. E essa sensação de se ter o direito de julgar se propaga na
humanidade, contagiando mentes inseguras que se tornam cruéis.
Temos nossa energia e ela nos
acompanhará pela eternidade. Todo o resto é passageiro e passa rapidamente,
como uma ventania.
No caminho da vida, na vasta
escada que nos eleva ou nos aprisiona, nos deparamos com uma vasta diversidade
de pensamentos, comportamentos e atitudes, e suas energias, como o Universo nos
evidencia e ensina. O ser humano pode aprender a lidar com as energias tão
variadas e vastas ou se prender a conceituar o que é aceitável, ou não,
consoante, seus traumas, medos e valores que o aprisionam em pensamentos
confusos e falsas percepções e continuarão a aprisiona-lo mesmo depois do
desapego da carne.
Não existimos para julgar, embora
venhamos a sê-lo. Não fomos feitos para discriminar outrem que, como nós,
necessita de aceitação. Quanto mais aceitarmos de coração, mais estaremos
integrados ao Universo e ascenderemos. Quanto mais nos julgarmos elevados por
critérios próprios, mais permaneceremos presos no degrau cada vez menor,
afastando muitos que poderiam nos aceitar e auxiliar.
O mundo existe para aprendermos a
viver sem julgamentos. Apenas podemos repreender ações egoísticas que
prejudiquem alguém ou um grupo, como forma de amor pelo todo.
Em tempos em que o ser humano
valoriza tanto a aparência, o ter e o que julga ser poder, o aprendizado e o
desenvolvimento da espiritualidade torna-se mais difícil e cada vez mais
necessário.