Me formei e fiquei um ano sem
conseguir emprego, devido ao plano Collor que arrasou a economia do país
(1990).
O meu primeiro emprego como
advogado eu consegui com o fim da União Soviética (1991).
Todas essas foram datas
emblemáticas para mim, mas nunca vivi período tão difícil como agora. Preços
diariamente crescentes dos alimentos, gás, luz, combustíveis, aluguel, roupa;
retorno da inflação; desemprego; crise econômica maquiada; grave
desindustrialização (agravada com a saída da Ford e da Sony); dependência do
agronegócio; crises ambientais; crise no SUS; mais de 255 mil brasileiros
mortos; guerra declarada contra o serviço público.
Logo que Bolsonaro assumiu a Presidência da República tive uma visão que me assustou, não só porque nunca havia tido uma percepção semelhante, mas também pelo o que vi. Ele e os seus filhos estavam sendo assassinados em nome do Estado, naquilo que se chama de pena de morte estatal. Nunca havia compreendido essa visão e achava que se tratava de devaneio. Contei-o a apenas duas pessoas, e hoje, como se percebe, se torna público.
Pela Constituição Federal, a pena de morte somente é cabível se houver traição em guerra declarada (artigo 5º, inciso XLVII, "a", da C.F.) e receava que o Brasil entrasse em uma guerra com a Venezuela, até que chegou a covid-19 em terras brasileiras, uma guerra atípica, mas declarada desde o início.
Não pretendo e não desejo ver ninguém assassinado, ainda mais pelo Estado, mas não podia deixar de citar a espécie de visão que tive logo nas primeiras horas do governo Bolsonaro. Queria entender o que aquilo simbolizava e tinha medo por conta de toda a carga de energia que aquilo continha.
O fato é que o país talvez não viva um
desgoverno, mas um governo com um objetivo: o de destruir as bases do país e
retorná-lo à era do Brasil-colônia, agora sob a batuta dos Estados Unidos.
Estamos perdendo posições
importantes, tanto na economia quanto na saúde. Caímos da 6ª maior potência
econômica para 12ª. O SUS, um programa de saúde invejado internacionalmente,
está prestes a entrar em colapso por inação proposital do governo federal.
A nossa cultura, símbolo maior de
nossa brasilidade e símbolo de nossas etnias em uma só nação, está relegada ao
último patamar, com desinvestimento e desestruturação proposital.
A hierarquia de nossas Forças
Armadas, base da defesa de nossa independência, está ruindo face às medidas
adotadas pelo governo federal, como pretensão de criação do generalato nas
polícias militares, no armamento desenfreado de pessoas e grupos e na criação
de desavenças internas nas corporações militares.
Nunca vi um Brasil tão sem
esperança e fé. Nunca vi tantas mortandades. Morrem mais brasileiros do que se
viu em todas as guerras somadas das quais os Brasis colônia, império e
república participaram. Em um ano morreram mais brasileiros na guerra contra a
covid-19 do que em todas as guerras de nossa história nesses 521 anos.
Não vivemos um desgoverno, mas um
governo entreguista e que entrega não apenas nossa economia, com a
desindustrialização descarada, carestia, inflação e desemprego, mas a nossa
liberdade, com o que temos de mais preciso, como a nossa cultura e a nossa
ciência e o nosso povo.
Militares nacionalistas que
existem aos milhares se silenciam face à autoridade de um comando que trai a
Pátria. O Brasil está sendo traído, calando-se a ciência e a cultura, e o povo
brasileiro está sendo entregue à morte aos milhares apenas pelo ideal de poder e
de conchavos de interesse de um único homem e de sua família.
Até quando o Brasil suportará
tamanha traição à Pátria? Que se manifestem os grandes e corajosos brasileiros
que ainda existem e resistem aos milhões.
A ética nunca suportou a falta de
decoro do pretenso líder e os pequenos deslizes éticos que sempre praticou. A honradez
nunca pode admitir a falta de educação do pretenso líder. A fraternidade,
símbolo maior da cristandade e de religiosidade, tenha ela a denominação que
queira ter, não é capaz de calar-se perante as centenas de milhares de mortos
em razão da inação na compra de vacinas e insumos, na responsabilidade pela
indicação de medicamentos sem efeitos contra a covid-19 e no descaso em
promover aglomerações e o não uso de máscaras protetoras. O próprio incentivo à compra de diversas armas e projéteis simboliza ação contra o princípio básico de amar ao próximo esculpido em qualquer religião ou filosofia.
Chega! Chega de mortos! Chega de assistir à ruína do país calado e de braços cruzados! Chega de ver um grupo de traidores arruinando o país e entregando-o sem resistência. Chega de traição à pátria! O Brasil não pode mais suportar silente a ruína que lhe vem sendo provocada.