segunda-feira, 15 de março de 2021

A JOGADA EQUIVOCADA DE ISRAEL


Nas relações internacionais há o que se chama de interesses geopolíticos. O problema está quando os interesses geopolíticos não olham o depois de amanhã, mas simplesmente o amanhã, esquecendo-se que assim como o hoje muda o futuro para o amanhã, o amanhã faz o mesmo com o dia que lhe segue.

Ninguém discute aqui a capacidade bélica e o treinamento dos militares israelenses. É uma potência militar que compete com grandes países e que esconde impunemente o fabrico constante de armas atômicas. 

Israel se transformou em um país voltado à guerra, seja nos pensamentos dos eleitores da extrema direita, nos discursos, nas fronteiras, no ar ou no PIB.

Mas um país tão belicista comete um grave erro ao minar a paz na vizinha Síria.

A Síria sofre com uma guerra civil há 10 anos e já produziu meio milhão de mortos e 6,5 milhões de refugiados. A fome e o desespero campeiam aquilo que já foi um lindo e rico país.

Sem reconstrução, os prédios destruídos dominam os cenários das cidades por toda a Síria, com exceção à capital Damasco e cidades do Mediterrâneo.

Com a economia destruída e o país empobrecido, os sírios ainda respiram e conseguem lutar com o que têm às mãos contra os milicianos financiados pela Turquia e pelos Estados Unidos, os turcos, os estadunidenses, os extremistas do Estado Islâmico que ressurgem mais fortes e os israelenses que bombardeiam quase que diariamente postos militares sírios.

A Síria ainda existe por conta do apoio russo, libanês e iraniano. Sem esses apoios, a Síria já teria se dividido em diversos pequenos Estados radicais, como sempre desejaram algumas potências do Golfo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, que financiaram o início daquilo a que se chamou de primavera árabe síria.

A Europa, salvo a França e a Inglaterra, assiste silenciosamente o que ocorre na Síria. França e Inglaterra agiram e continuam a agir no território sírio, mas de forma mais discreta, agora, e sempre de olho no que restará para que as suas empresas, ao lado das estadunidenses, possam vir a reconstruir na Síria e com isso faturar alto, gerando empregos e aumentando o PIB das já ricas economias europeias.

Os Estados Unidos continuam na Síria para barrar as pretensões russas e iranianas e evitar que esses países se fortaleçam com a vitória final do governo sírio, além de, evidentemente, mirar o petróleo sírio e a reconstrução daquele país. Ao mesmo tempo, continuam a redesenhar o mapa do Oriente Médio, planejando a criação de um Curdistão que vá do Iraque à Turquia, passando pela Síria, esquecendo-se da rivalidade existente entre os diversos grupos curdos dominantes em cada país.

Israel ataca a Síria para afastar os iranianos de suas fronteiras e, mais que isso, para destruir o que resta de um Estado vizinho laico. Um Estado laico que permita a convivência de diversas religiões, sem o comando de uma delas, vai contra o propósito de um Estado não laico, como é Israel. Assim, Síria e Líbano são considerados inimigos, não só pela ligação desses países com o Irã, mas também pela laicidade que é capaz de angariar a simpatia e apoio da comunidade cristã, em especial católica e ortodoxa mundo afora.

Israel agiu da mesma forma na já fragmentada Palestina, minando a laica Autoridade Palestina, que reunia ateus, islâmicos, católicos, ortodoxos e protestantes, e incentivando, através de ações de sua inteligência, os anos iniciais do islâmico Hamas, ligado à irmandade muçulmana financiada pela Turquia e países do Golfo.

Veja-se que os novos aliados de Israel são Monarquias islâmicas, como o Emirados Árabes Unidos, Bahrein e, de forma discretíssima, a Arábia Saudita. A Turquia, que faz um discurso interno diametralmente oposto às ações externas, está próximo a Israel há muito tempo, apoiando partidos islâmicos contra os laicos.

O arabismo, fundamentalmente laico, como o foi um dia o Egito, a Líbia, o Iraque, a Síria e o Líbano não interessam às potências regionais, como Israel, Turquia e Arábia Saudita. E os diversos e múltiplos interesses estão presentes na devastada Síria.

E Israel erra em seus objetivos porque fomentar a queda de Assad permitirá a criação de vários Estados, sendo a maioria deles radicais e contrários à multiplicidade étnica e religiosa existente na região. E Estados radicais, não laicos e sua população tornada extremista, não lutam por ideais, mas por ideias de exclusão, se assemelhando à tendência de eclosão, pelo mundo afora, de Nações governadas pela extrema direita. 

A bomba relógio que Israel, ao lado da Turquia, está implantando na Síria, poderá, a médio e longo prazo, corroer o próprio Estado israelense com ataques a qualquer hora, desnecessitando de um Estado central ou de um governo. Israel pode estar próximo de cair em uma grande ratoeira e reviver diuturnamente ataques assemelhados aos terroristas de tempos atrás.

E Israel jamais conseguirá afastar a proximidade do Irã com o Líbano, porque aquele assiste financeiramente o empobrecido país árabe e tem como retaguarda o Mediterrâneo Sírio, controlado a mão de ferro pelos russos. Ou seja, ainda que não consigam levar mantimentos e armas para o Líbano por terra, passando pelo Iraque e pelo o que aquilo que hoje é a Síria, os iranianos poderão fazê-lo pelo ar ou pelo mar.

Um acordo de paz que envolva Israel, Palestina, Síria, Líbano, Iraque e Irã é inevitável à pacificação da região mas é de interesse de quem?

A Turquia pensa na importância eterna do Império Turco Otomano. Israel pensa nas fronteiras da grande Israel. Os Estados Unidos e a Europa pensam em beneficiar suas empresas de engenharia e de armamentos. Os países de Monarquia Islâmica do Golfo pensam em continuar a reinar sem o perigo revolucionário do laicismo de repúblicas vizinhas.

A bomba relógio não para de contar os segundos para a sua explosão!

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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