É impossível adivinharmos o que acontecerá com o Brasil em 2022 e 2023. O que podemos fazer é traçar um possível rumo, face à realidade hoje constatada.
Afinal, após o resultado das
eleições Municipais, o que é possível dizer em relação aos partidos políticos?
O mais óbvio de se constatar é
que o Brasil deu uma forte guinada ao centro e à centro direita. Não que o
eleitor brasileiro seja liberal e progressista, não. O eleitorado brasileiro é,
em sua maioria, conservador, mas nessas eleições deixou o radicalismo de lado e
preferiu um administrador mais palatável.
Não irei adentrar aqui na análise
do motivo de grande parte do eleitorado, principalmente do interior dos
Estados, ser conservador. Porém, nas
grandes metrópoles ainda há um eleitorado mais crítico e que quer
transformações sociais de peso e por isso os partidos de esquerda e de centro
esquerda tiveram algum sucesso.
O PSDB surgiu como dissidência do
então MDB, que hoje voltou a usar o mesmo nome, e está cada vez mais
assemelhado com o seu irmão de sangue. O PSDB perdeu muitas prefeituras e ganhou
São Paulo, a cidade política e economicamente mais importante do país, mas está
se tornando cada vez mais um partido de administração regional, seja municipal
ou estadual, como sempre foi o MDB. Nomes de peso e que tiveram grande papel na
política nacional, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso, hoje estão
afastados das diretrizes nacionais do partido, que de centro esquerda acabou
tornando-se de centro direita. A projeção de um nome forte do partido, João
Dória, não dá ao partido a capacidade de, sozinho, fazer o próximo presidente
da República. Grandes alianças serão necessárias, como sempre o fizeram os
também partidos de centro e centro direita MDB e DEM. A candidatura de Alckmin
e o fiasco nas eleições de 2018 demonstram a incapacidade do PSDB de colocar um
nome verdadeiramente competitivo à presidência sem que se una a outros nomes também
de destaque em outras siglas partidárias. Não basta mais colocar alguém que
simplesmente agrade o mercado. Há que agradar o eleitor. O PSDB certamente
buscará nomes de peso no DEM e MDB, partidos que hoje estão em destaque no
país.
O DEM é um partido forte em todo
o país. Antigo aliado do PSDB, talvez pretenda alçar voos solitários ou com a
centro esquerda, como o já foi o antigo PSDB de FHC e Serra. O DEM e o PSDB,
hoje, por estarem situados no mesmo espectro político, buscam o mesmo
eleitorado e não agregam força um ao outro.
O DEM pode buscar uma aliança com
um partido mais ao centro ou centro esquerda, como o PDT de Ciro Gomes, que saiu
fortalecido das eleições em razão das alianças feitas com o PSB, em Recife, e o
próprio DEM, em Salvador.
O PDT, por seu lado, talvez una definitivamente
forças com o PC do B e o PSB, buscando fortalecer a centro esquerda.
Assim, uma aliança do DEM com
essa centro esquerda fortalecida pode se tornar imbatível, mas aí dependerá da
capacidade dos partidos de centro esquerda se unirem e pacificarem o discurso e
a própria candidatura à presidência da República.
O nome forte do PC do B, hoje, é
o governador do Maranhão, Flávio Dino, que se mostra simpático a Ciro Gomes. E
o grande nome do PSB e uma fortíssima promessa da centro esquerda para próxima década é João Campos, recém eleito
prefeito de Recife pelo PSB, sigla do seu avô Miguel Arraes e de seu pai
Eduardo Campos. O PDT, que sai fortalecido, não tem grandes quadros
partidários, limitando-se a um nome de projeção nacional, Ciro Gomes.
Parte da centro esquerda, assim,
sai fortalecida, o que não acontece com o PT, que ainda tem um eleitorado
considerável, como se viu, mas que precisa se reinventar ou fazer alianças
melhor desenhadas. O PT, embora ainda tenha uma grande bancada na câmara dos
deputados, está começando a deixar de ser a grande sigla da centro esquerda.
Um pouco mais à esquerda está o
PSOL, um partido com grandes nomes e com uma pequena bancada, mas crescente.
Boulos se mostrou nacionalmente em 2018 e cresceu muito em São Paulo,
tornando-o um nome de peso para as próximas eleições, seja como candidato a
governador, presidente, senador ou até deputado federal. O PSOL, diferentemente
do seu partido irmão PT, do qual se originou, nunca quis fazer alianças a
qualquer preço e por isso demorou a se mostrar um partido forte nacionalmente.
A sigla PSOL pode atrair muitos
nomes de peso da centro esquerda, seja da Rede, PC do B ou PT, e crescer muito, mesmo sem grandes alianças.
O MDB continuará um partido de
alianças regionais e nacionais, mas sem grande possibilidade de eleger o próximo
presidente da República, mas talvez o vice, dependendo da aliança.
Hoje, buscando ampliar a base do
eleitorado, partidos de centro ou centro direita tendem a se unir a partidos de
centro esquerda. E o mesmo, de forma inversa, se aplica aos partidos de
esquerda ou centro esquerda, que devem buscar alianças junto ao centro ou
centro direita.
A extrema direita, por todo o
histórico desses dois anos de governo Bolsonaro, terá dificuldades em fazer grandes
alianças, ainda que com partidos do velho centrão, sempre dispostos a vender
oportunidades.
Somente se houver um verdadeiro
boom econômico é que Bolsonaro conseguirá se reeleger. Caso a economia melhore,
mas sem grandes avanços, ou continue em ruínas, o fim do governo parece estar
consolidado.
Uma candidatura de Moro, de
direita, dificilmente decolará se não se aliar a um partido de centro ou centro
esquerda, o que parece ser improvável.
Tentamos desenhar um panorama do
presente e do que se desenha em um futuro próximo. Embora seja possível apontar
candidatos às próximas eleições, como os declaradamente presidenciáveis Ciro
Gomes, Moro e o próprio Bolsonaro, o difícil é indicar, agora, aqueles que
terão grande potencial para chegar à Presidência ou, ao menos, ao segundo turno.
A disputa será grande, muito maior do que em 2018, quando as siglas de direita
e de extrema direita saíam na frente.