CASCAS A SEREM ROMPIDAS

Quando o aniversário se avizinha, não se pode apenas pensar na idade, sob pena de incidir em uma crise depressiva aguda, e talvez eterna. Quando o aniversário está próximo, podemos pensar naquilo que nos tornamos e fizemos, bem como naquilo que nos resta a fazer. E é isso o que me deixa feliz. Aniversário não pode servir apenas para revelar a idade biológica. Deve ser uma data especial e comemorada como tal, sim, mas a revelar a beleza da alma, o que independe dos anos já completados, e que não necessariamente está simbolizado pelo sorriso fácil e momentâneo das fotos do facebook, orkut, google+, instagram ou outros álbuns tecnológicos que revelam a nossa existência. Esse ano completo mais um ano de autoconhecimento e de enriquecimento espiritual. Vi de perto árduas conquistas de pessoas queridas e, muitas vezes, participei delas, como se fossem minhas próprias, o que de fato sinto que são. Sinto que sou uma parte daqueles que amo. A vida há de ser vivida, de preferência sem medo e sem imposições alheias. A vida deveria ser feita de conhecimento, de vontade e de amor. Daí certamente decorreriam os caminhos da felicidade e das autorrealizações. Nesses últimos 365 dias, fui capaz de perceber que o horizonte se abre àqueles que querem enxergar com profundidade e não se acostumam ou se acomodam à automutilação moral imposta facilmente pelo julgamento insensato de pessoas sem qualquer conteúdo, mas repletas de frágeis e belos revestimentos temporários, e só. Hipócrita é o que mais há em qualquer lugar e setor. Normalmente, os mais simples, os mais pobres, os que pensam que sabem menos e aqueles que menos têm são os menos hipócritas e mais sinceros. Não sei exatamente o motivo dessa correlação, mas ela é real. Olhe ao redor e repare. É de fácil constatação. Nesses meus poucos anos de vida fui capaz de respirar, sentir, chorar, sofrer, quase morrer, sorrir profundamente e me sentir necessário não só a mim, mas a muitas pessoas que gosto muito, na verdade amo. E isso é o que denomino de conquistas. Conquistas da alma, verdadeiramente eternas e sábias. O resto é passageiro e superficial, capaz apenas de completar vazios de almas que pouco inflam e pouco vivenciam. Nesses meus dias de vida, que redundaram em anos e décadas de existência, posso dizer que fui capaz de compreender um pouco do significado da vida, mas quero saber mais, sentir mais, viver mais. Quero me sentir importante para aqueles que amo, que escolhi ou para quem a vida, de forma misteriosa, me uniu. Nesse ato de comemoração, sorrio para a vida, com vontade de abraçar a todos os amigos e dizer que o meu sorriso não precisa estar estampado no rosto, mas nesse meu coração que tanto aprende a cada instante e na alma que se alarga a cada aprendizado. Parabéns, vida! É a você que dedico os meus dias vivenciados e aqueles que me restarão viver para aprender e crescer em todos os sentidos. E sinto que vivo apenas sendo. E pelo visto, não deixarei de ser, ainda que venha a não estar ou simplesmente aparente não estar. Ah, convenhamos. Apenas estar ou aparentar estar é para as almas que ainda não cresceram, para aquelas que não conseguiram sair da casca do ovo ou que não desembrulharam a misteriosa embalagem de presente que a vida nos deu logo no nascimento. Não sei exatamente o que me levou a escrever tanto em um dia em que precisaria mais sentir do que qualquer outra coisa. Talvez queira dizer a todos o que mais me comoveu descobrir, justamente o sentido da vida, que não é o sorriso mais extenso, mas certamente é o mais gostoso e verdadeiro, que se caracteriza pelas pequenas descobertas, aquelas que nos fazem perceber que os julgamentos fáceis, as conclusões precipitadas, bem como os abraços superficiais e não intensos só nos levam a fragilizar a alma, e não a viver. Viver é ser capaz de descobrir e se descobrir ou se redescobrir. O resto é fazer a vida passar dentro da casca do ovo não rompida. E aniversário é justamente isso, saber que a casca do ovo da vida está aí para ser rompida.