Há muito que a Síria não é um país livre.
A Síria é um território relativamente grande para os padrões do Oriente Médio, com saída para o mar mediterrâneo, onde guarda a única base estrangeira da Rússia, com desertos, montanhas com neves e um povo receptivo e amistoso.
Ultimamente o povo amistoso deu lugar à beligerância. Muitos dizem que é por liberdade, algo que é cerceado daquele povo há mais de mil anos.´
A Síria já foi berço do importante império assírio, do califado muçulmano e do império bizantino. Já foi ocupado por diversos impérios, e até a primeira guerra mundial foi ocupado pelos turcos otomanos. Após, foi ocupado pelos ingleses e somente conseguiu sua libertação na década de 40 do século passado, ou seja, há 70 anos. E em boa parte desse período viveu sob a ditadura da família Assad.
De início, essa ditadura visou implantar um regime socialista no país, mas descambou para o totalitarismo.
Se por um lado as diversas religiões, hoje, têm um certo espaço garantido de existência no país sírio, por outro é certo que os sunitas, que representam a maioria dos muçulmanos no país, têm sido constantemente segregados dos cargos importantes. E são justamente os sunitas que rebelam-se contra o governo Assad.
Um país multicultural, onde preserva a língua aramaica em umas pequenas vilas, está em ruínas. Milhares de sírios foram mortos, mas o pior ainda está por vir. Há sérios riscos à liberdade religiosa se algum grupo extremista tomar o poder. Não se pode esquecer que muitos dos atentados terroristas que vêm sendo praticados no país têm o mesmo delineamento dos atentados da tão falada al qaeda.
Se o governo sírio ruir não haverá certeza de democracia, e também haverá riscos para a liberdade religiosa. Seria trocar uma ditadura por outra. O que deve haver é a garantia da democracia, mas para isso deve haver negociações.
Os Estados Unidos e alguns países europeus, além da Arábia Saudita têm fornecido dinheiro aos rebeldes, fomentando a guerra civil que mata inocentes. Por outro lado, sabedores da questão estratégica e geopolítica, Rússia e China vêm bloqueando sanções mais fortes à Síria. Há informações de que agentes da inteligência britânica estão em solo sírio colaborando com os rebeldes.
A Síria, que é uma potência em gás, atrai os interesses dos países imperialistas que sofrem com a crise econômica. A intervenção militar naquele país seria um erro grave, seja por causar a morte de civis, seja por não garantir a democracia, seja porque atenderia apenas aos interesses do grande capital internacional sedento por reconstruir um país e ganhar dinheiro com a exploração do seu gás.
Mais, Israel poderia se colocar em uma situação mais delicada, com governos ainda mais hostis por quase todos os lados. Se por um lado a queda de Assad enfraqueceria o poder regional do Irã, inclusive estratégico, além do econômico, o que poderia propiciar um ataque àquele país antes de agosto, quando teria início às atividades produtoras (e não apenas de pesquisa) de sua primeira usina nuclear, por outro lado a queda de Assad propiciaria a subida dos extremistas, mais hostis a qualquer negociação com o país sionista.
A questão síria é delicada e séria e é por isso que China e Rússia, quase que totalmente cercados por países tomados por exércitos dos Estados Unidos ou da OTAN, se opõem à intervenção daquele país que está à beira da Europa e que ocupa uma posição estratégica "privilegiada". Caso a Síria seja invadida pela OTAN ou pelos Estados Unidos, há a chance de haver uma guerra não apenas regional, mas mundial, envolvendo Irã, Israel, Rússia, China, Líbano, Estados Unidos e a própria Arábia Saudita, que parece estar financiando os rebeldes sírios e têm interesses claros na queda de todos os governos que lhe são hostis, em especial o Irã, especial aliado sírio.
O povo sírio merece respeito e democracia, mas sem que por detrás estejam tão somente interesses de países autoritários como a Arábia Saudita ou imperialistas, como Estados Unidos, Israel e a própria organização militar OTAN (órgão com viés imperialista).
O que deve haver é punição aos excessos praticados pelos dois lados, desmilitarização da oposição e pressão sobre o governo Assad para a realização de eleições totalmente livres com urgência. O resto com certeza esconde intenções escusas. Por isso questione os noticiários.
Uma saída também seria uma Constituição elaborada pela situação e oposição, como base jurídica de um Estado legal e que viria a tornar-se democrático.
Muitos que lutam pensando em liberdade acabam favorecendo os interesses escusos dos imperialistas.
Não se esqueça de que o maior aliado do cidadão é a sua capacidade de questionar e decodificar as informações trazidas como absolutamente verdadeiras, que escondem falsidades capazes de arruinar não só um país, mas famílias, dizimando pessoas às dezenas de milhares.
Que Deus proteja a Síria e o mundo de todos os que não querem a paz, o equilíbrio, a verdade, a justiça, a liberdade e a democracia!