No mundo real parece existir apenas a propensão às limitações do ser humano, da sua capacidade criativa e de suas potencialidades artísticas e científicas. É o mundo do marasmo, do não exacerbado ao infinito e da irracionalidade do império dos modismos.
"Proíba-se o véu islâmico. Proíba-se o quipá. Proíba-se o crucifixo. Proíbam-se as Igrejas. Proíba-se o casamento entre homossexuais. Proíba-se o divórcio. Proíbam-se as bandeiras de países estrangeiros. Proíba-se a torcida pelo futebol argentino no Brasil. Proíba-se o futebol aos finais de semana. Proíba-se o álcool. Proíbam-se o churrasco, o chocolate e o pastel. Proíba-se o sexo. Proíba-se o coito anal. Proíba-se tudo ou quase tudo, permitindo-se poucas, pouquíssimas, coisas".
"Autorize-se o nascimento, mas em hospitais particulares. Proíba-se nascer com cores ou semblantes diferentes e proíba-se nascer com deficiências".
O lema absurdo das proibições nunca deixou de existir na raça humana, mas fortalece-se nesse mundo de extrema direita.
Que eu saiba, o mundo surgiu de uma explosão sem autorização alguma. E não foi explosão de atentado terrorista. Foi explosão da vida, segundo os cientistas, que não contou com a autorização de Deus (segundo os cientistas) ou do primeiro habitante do pré-universo (ou o casal Adão e Eva, para os religiosos). Depois, tudo lhe foi permitido e surgiu a vida e daí os seres diversificados de todos os tamanhos e cores. Tudo era permitido. A lei era das possibilidades. Isso até o advento do homem, que se sentiu Deus e gradualmente passou a modificar a lei natural das coisas, criando o conceito de perfeito, o “não” e também “as proibições”. Proibia-se o ser diferente, o ser de outra tribo, o ser de outra raça, o ser de outra religião, o ser de outro grupo social, o ser que continuava diferente. E mesmo com todos os avanços científicos, tecnológicos e de comunicações, ainda hoje proíbe-se o outro, o desconhecido e o diferente.
A única permissão é da morte, isso enquanto as seguradoras, patrões e outros interessados não resolverem proibi-la. A morte causada pelo próprio ser vivente que não quer mais viver no mundo das proibições já é vedada pelas religiões e vigiada pelos governos.
Podíamos pensar diferentemente, com um sim à vida e às diferenças e com um forte não a tudo que vede a intensidade do viver... Mas o ser humano não está aqui para permitir, afinal as proibições dão sentido à vida daqueles seres superficiais que não têm intensidade a ser vivenciada.