Parte do valioso texto escrito pelo jornalista belga Michael Collon, sobre as causas reais da ofensiva imperialista contra a Líbia.
Que fazer?
Os EUA batizaram a guerra contra a Líbia como "Aurora da Odisseia". Ora bem, seus nomes codificados contêm sempre uma mensagem dirigida a nosso inconsciente. A Odisseia, o grande clássico da literatura grega, relata a viagem durante vinte anos empreendida por Ulisses através do universo. Com meias palavras, está-se-nos dizendo que a Líbia hoje é o primeiro ato de uma longa viagem dos EUA para (re)conquistar a África.
Tentam assim parar seu declínio. Mas, afinal, será em vão. Os EUA perderão inevitavelmente seu trono. Porque este declínio não é devido à casualidade ou a circunstâncias particulares, é devido a seu mesmo modo de funcionamento. Em 1865, o célebre teórico do capitalismo, Adam Smith, apoiou o presidente dos EUA, Abram Lincoln, na abolição da escravatura: "A economia de qualquer país que pratique a escravatura está iniciando uma descida para o inferno que será muito duro no dia que outras nações acordarem".
De fato os EUA tem substituído uma escravatura por outra. No século XX levantou sua prosperidade sobre a dominação e o saque de países inteiros, viveu como parasita e pelo mesmo debilitou suas capacidades econômicas internas. A humanidade tem grande interesse em que esse sistema acabe de vez. A mesma população dos EUA tem interesse em isso. Para que se deixe de fechar fábricas, de destruir emprego e de confiscar suas casas para pagar bonos de banqueiros e despesas de guerra. A população européia tem também interesse em uma economia não ao serviço das multinacionais e suas guerras, mas ao serviço da gente.
Estamos pois em uma encruzilhada. Que "alvorada" queremos eleger? A anunciada pelos EUA que nos levará durante vinte ou trinta anos por guerras incessantes em todos os continentes? Ou então uma "alvoarada" verdadeira, outro sistema de relacionamentos internacionais em que ninguém imponha a ninguém seus interesses pela força e onde a cada povo possa eleger livremente seu caminho?
Como em cada guerra dos últimos vinte anos, uma grande confusão reina na esquerda européia. Os discursos pseudo-humanitários difundidos pelos meios cigam, porque nos esquecemo de escutar a outra versão, de estudar as guerras precedentes, de contrastar a informação.