Parte do texto divulgativo de Michael Collon sobre a guerra imperialista contra a Líbia, as suas causas e as pistas para atuar no campo anti-imperialista.
O grande crime de Kadafi
Voltemos à Líbia. No enquadramento da batalha por controlar o continente negro, África do Norte é um objetivo maior. Ao despregar uma dezena de bases militares na Tunísia, Marrocos e Argélia, bem como em outras nações africanas, Washington abriria a via para estabelecer uma rede completa de bases militares que cobriria todo o continente.
Mas o projeto Africom deparou-se com uma séria resistência dos países africanos. De maneira altamente simbólica, nenhum aceitou acolher em seu território a sede central do Africom. E Washington teve que manter sua sede em Stuttgart, Alemanha, o que era muito humilhante. Nesta perspetiva, a guerra para derrocar Kadafi no fundo é uma advertência muito clara aos chefes de Estado africanos que tiverem a tentação de seguir uma via demasiado independente.
Este é o grande crime de Kadafi: A Líbia não aceitava nenhuma ligação com o Africom ou com a OTAN. No passado, os EUA possuíam uma importante base militar na Líbia. Mas Kadafi fechou-a em 1969. É evidente, a guerra atual tem sobretudo como objetivo recuperar a Líbia. Seria uma avançada estratégica que lhe permitiria intervir militarmente no Egito se este escapasse do controle de EUA.
Quais os próximos objetivos na África?
A pergunta seguinte será pois: após Líbia, vai ser a vez de quem? Que países africanos poderiam ser atacados pelos EUA? É muito simples. Sabendo que a Iugoslávia era também atacada porque se recusava a entrar na OTAN, basta olharmos a lista de países que não aceitaram se integrar no Africom, sob o comando militar dos EUA. São cinco: Líbia, Sudão, Costa do Marfim, Zimbabué, Eritréia. Estes são os próximos objetivos.
O Sudão está dividido e sob a pressão de sanções internacionais. O Zimbabué está também submetido a sanções. A Costa do Marfim viu-se imersa em uma guerra civil fomentada por Ocidente. A Eritréia, obrigada a uma guerra contra a Etiópia, agente dos EUA na região, atualmente também está sob sanções.
Todos estes países foram ou vão ser objetivo de campanhas de propaganda e desinformação. Sejam dirigidos ou não por dirigentes virtuosos e democráticos, isso não tem nada que ver. A Eritréia está tentando uma experiência de desenvolvimento econômico e social autônomo e recusa as "ajudas" que lhe possam vir impostas pelo Banco Mundial e o FMI controlados por Washington. Este pequeno país está a obter os primeiros sucessos de seu desenvolvimento, mas continua sob a ameaça internacional. Outros países, se "se portarem mal", estão também na mira dos EUA. Argélia concretamente. De fato não é bom seguir a própria via...
E para os que ainda acham que tudo isto não é mais que uma "teoria do complô", que os EUA não tem programado tanta guerra, que improvisa reagindo segundo o que acontecer, lembremos o que declarava em 2007 o ex general Wesley Clarck (comandante supremo das forças da OTAN na Europa entre 1997 e 2001, que dirigiu os bombardeios sobre a Iugoslávia): "Em 2001, no Pentágono, um general disse-me: vamos tomar sete países em cinco anos, começando pelo Iraque, seguindo na Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão, para terminar com o Irã?[12]. Dos sonhos à realidade há uma margem, mas os planos estão aí. Só que atrasados.