Diário Liberdade - Michael Collon
Parte do valioso texto escrito pelo jornalista belga Michael Collon, sobre as causas reais da ofensiva imperialista contra a Líbia.
Objetivo nº 3: Obstaculizar a libertação do mundo árabe
Quem domina hoje sobre o conjunto do mundo árabe, sua economia, seus recursos e seu petróleo? Não os povos árabes, já se sabe. Mas também não os ditadores do local. Sim, eles ocupam a cena, mas os verdadeiros amos estão por trás da cena.
São as multinacionais dos EUA e européias que decidem o que há que produzir ou não nestes países, que salários há que pagar, para quem renderão os lucros do petróleo e que dirigentes se imporão. São as multinacionais as que enriquecem seus acionistas à custa das populações árabes.
Impor tiranos ao conjunto do mundo árabe tem consequências muito graves: o petróleo, mas também os outros recursos naturais que servem somente ao lucro das multinacionais, não a diversificar a economia local ou a criar empregos. Além disso, as multinacionais marcam baixos salários para o turismo, as pequenas indústrias e os serviços subempreitados.
De repente as economias fazem-se dependentes, desequilibradas e já não respondem às necessidades dos povos. Nos anos que vêm, vai se agravar o desemprego porque 35% dos árabes tem menos de 15 anos. Os ditadores são empregados das multinacionais, são os encarregados de assegurar-lhes os lucros e quebrar a contestação. Os ditadores têm como papel impedir a justiça social.
Trezentos milhões de árabes distribuídos em vinte países, mas considerando-se justamente uma só nação, encontram-se pois ante uma eleição decisiva: aceitar a manutenção deste colonialismo ou fazerem-se independentes tomando um novo rumo? Todo mundo ao redor está em plena transformação: A China, o Brasil e outros países se emancipam politicamente, o que lhes permite progredir economicamente. O mundo árabe vai ficar atrás? Seguirá sendo uma dependência dos EUA e da Europa, uma arma que estes utilizam contra as outras nações na grande batalha econômica e política internacional? Ou então, chegará finalmente para eles a hora da libertação?
Esta ideia aterroriza os estrategas de Washington. Se perderem o controle do mundo árabe e do seu petróleo, acabou-se o domino do planeta para eles. Porque os EUA, uma potência em declínio econômico e político, é a cada vez mais contestado: pela Alemanha, pela Rússia, pela América Latina e pela China. Aliás, numerosos países do Sul aspiram a estabelecer relações Sul - Sul, mais vantajosas do que a dependência dos EUA.
A cada vez custa-lhe mais manter-se como a maior potência mundial, capaz de rapiñar a nações inteiras e de levar a guerra por todos os sítios a onde decida a levar. Repitamo-lo : se amanhã o mundo árabe une-se e liberta-se, se EUA perde a arma do petróleo, não será mais que uma potência de segunda ordem em um mundo multipolar. Mas isso será também um grande progresso para a humanidade : os relacionamentos internacionais tomarão um novo rumo e os povos do Sul poderão por fim decidir seu próprio destino e terminar com a pobreza.