terça-feira, 26 de abril de 2011

ENTRE A GRADE E O BUEIRO - PARTE III

Diário Liberdade - Michael Collon
Parte do texto divulgativo de Michael Collon sobre a guerra imperialista contra a Líbia, as suas causas e as pistas para atuar no campo anti-imperialista.
 
A Líbia é igual que a Tunísia ou o Egipto?

Na sua excelente entrevista publicada faz em uns dias por Investi'Action, Mohamed Hassan, colocava a verdadeira questão: "Líbia: revolta popular, guerra civil ou agressão militar?" À luz de recentes investigações é possível responder: as três coisas. Uma revolta espontânea rapidamente recuperada e transformada em guerra civil (que já estava preparada), tudo servindo de pretexto para uma agressão militar. A qual, também, estava preparada. Nada em política cai do céu. Explico-me?

Na Tunísia e no Egipto a revolta popular cresceu progressivamente em umas semanas, organizando-se pouco a pouco e unificando-se em reivindicações claras, o que permitiu derrotar os tiranos. Mas quando analisamos a sucessão ultrarrápida dos acontecimentos em Benghazi, um fica intrigado. A 15 de fevereiro houve manifestações de parentes de presos políticos da revolta de 2006. Manifestação duramente reprimida como foi sempre na Líbia e nos demais países árabes. Dois dias escassos mais tarde, outra manifestação, desta vez os manifestantes saem armados e passam diretamente a uma escalada contra o regime de Kadafi. Em dois dias, incrivelmente, uma revolta popular se converte em guerra civil. Totalmente espontânea?

Para saber isso, há que examinar o que se oculta abaixo do impreciso vocábulo "oposição libia". Em minha opinião, quatro componentes com interesses muito diferentes : 1º Uma oposição democrática. 2º Dirigentes de Kadafi "regressados" do oeste. 3º Clãs libios descontentamentos da partilha das riquezas. 4º Combatentes de tendência islamista.

Quem compõe esta "oposição libia"?

Em toda esta rede é importante sabermos de que estamos a falar. E sobretudo, que fação é a aceite pelas grandes potências...

1º Oposição democrática. É legítimo ter reivindicações ante o regime de Kadafi, tão ditatorial e corrupto como os outros regimes árabes. Um povo tem o direito de querer substituir um regime autoritário por um sistema mais democrático. No entanto, estas reivindicações estão até hoje pouco organizadas e sem programa concreto. Temos também, no estrangeiro, movimentos revolucionários líbios, igualmente dispersos, mas todos opostos à ingerência estrangeira. Por diversas razões que expomos mais adiante, não são estes elementos democráticos os que têm muito que dizer hoje abaixo a bandeira dos EUA nem da da França.

2º Dignatários "regressados". Em Bengazhi, um "governo provisório" foi instaurado e está dirigido por Mustafá Abud Jalil. Este homem era, até 21 de fevereiro, ministro da Justiça de Kadafi. Dois meses dantes, a Amnistia tinha-o posto na lista dos mais horríveis responsáveis por violações de direitos humanos do norte da África. É este indivíduo o que, segundo as autoridades búlgaras, organizava as torturas de enfermeiras búlgaras e do médico palestinos detentos durante longo tempo pelo regime. Outro "homem forte" desta oposição é o general Abdul Faah Yunis, ex ministro do Interior de Kadafi e dantes chefe da polícia política. Compreende-se que Massimo Introvigne, representante da OSCE (Organização para a segurança e a cooperação na Europa) para a luta contra o racismo, a xenofobia e a discriminação, estime que estas personagens "não são os 'sinceros democratas' dos discursos de Obama, mas dos piores instrumentos do regime de Kadafi, que aspiram a jogar ao coronel para tomar o seu sítio"

3º Clãs descontentamentos. Como sublinhava Mohamed Hassan, a estrutura da Líbia continua sendo tribal. Durante o período colonial, baixo o regime do rei Idriss, os clãs do Leste dominavam e aproveitavam-se das riquezas petrolíferas. Após a revolução de 1969, Kadafi apoiou-se nas tribos do oeste e o Leste viu-se desfavorecido. É lamentável; um poder democrático e justo deve velar por eliminar as discriminações entre as regiões. Pode-se perguntar se as antigas potências coloniais não incitaram as tribos rebeldes para rebentar a unidade do país. Não seria a primeira vez. Hoje, França e os EUA apostam nos clãs do Leste para tomar o controlo do país. Dividir para reinar, um velho dito clássico do colonialismo.

4° Elementos do Al-Qaeda. Cabos difundidos por Wikileaks advertem que o Leste da Líbia era, proporcionalmente, o primeiro exportador no mundo de "combatentes mártires" no Iraque. Relatórios do Pentágono descrevem um cenário "alarmante" sobre os rebeldes líbios de Bengazhi e Derna. Derna, uma cidade de escassos 80.000 habitantes, seria a fonte principal de yihaidistas no Iraque. Da mesma forma, Vincent Cannistrar, antigo chefe da CIA na Líbia, assinala entre os rebeldes muitos "extremistas islâmicos capazes de criar problemas" e que "as possibilidades [são] muito altas de que os indivíduos mais perigosos possam ter uma influência no caso de Kadafi cair".

Evidentemente tudo isto se escrevia quando Kadafi era ainda um "amigo". Mas isto mostra a ausência total de princípios no chefe dos EUA e dos seus aliados. Quando Kadafi reprimiu a revolta islamista de Bengazhi em 2006, fez isso com as armas e o apoio de Ocidente. Uma vez, estamos contra o combatentes tipo Ben Laden, outra vez, utilizamo-los. Vamos lá ver como.

Entre estas diversas "oposições" qual prevalecerá? Pode ser este também um objetivo da intervenção militar de Washington, Paris e Londres: tentar que "os bons" ganhem? Os bons do ponto de vista deles, é claro. Mais tarde, vai utilizar-se a "ameaça islâmica" como pretexto para se instalar de forma permanente. Em qualquer caso uma coisa é segura: o cenário libio é diferente dos cenários tunesino ou egípcio. Ali era "um povo unido contra um tirano". Aqui estamos em uma guerra civil, com um Kadafi que conta com o apoio de uma parte da população. E nesta guerra civil o papel que jogaram os serviços secretos americanos e franceses já não é tão secreto...

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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