Parte do texto divulgativo de Michael Collon sobre a guerra imperialista contra a Líbia, as suas causas e as pistas para atuar no campo anti-imperialista.
Quem se nega a negociar?
Desde o momento em que colocarem uma dúvida sobre a oportunidade desta guerra contra a Líbia, imediatamente serão culpabilizados: "então recusam-se a salvar os líbios do massacre? Assunto mal proposto. Suponhamos que todo o que se nos tem contado fosse verdade. Em primeiro lugar, pode-se parar um massacre com outro massacre? Já sabemos que os nossos exércitos ao bombardearem vão matar muitos civis inocentes. Inclusive se, como a cada guerra, os generais nos prometem que vai ser "limpa"; já estamos habituados a essa propaganda.
Em segundo local, há um meio bem mais singelo e eficaz de salvar vidas rapidamente. Todos os países da América latina propuseram enviar imediatamente uma mediação presidida por Lula. A Liga Árabe e a União africana apoiavam esta gestão e Kadafi tinha-a aceitado (propondo ele também que se enviassem observadores internacionais para verificar o cessar-fogo). Mas os insurgentes líbios e os ocidentais recusaram esta mediação. Por quê? "Porque Kadafi não é de fiar", dizem. É possível. E os insurgentes e os seus protetores ocidentais são sempre de fiar? A propósito dos EUA, convém recordar como se comportaram em todas as guerras anteriores a cada vez que um cessar-fogo era possível. Em 1991, quando Bush pai atacou o Iraque porque este invadia o Kuwait, Saddam Hussein propôs se retirar e que Israel se retirasse também dos territórios ilegalmente ocupados na Palestiniana. Mas os EUA e os países europeus recusaram seis propostas de negociação.7
Em 1999, quando Clinton bombardeou a Jugoslávia, Milosevic aceitava as condições impostas em Rambouillet, mas os EUA e a OTAN acrescentaram uma, intencionadamente inaceitável: a ocupação total da Sérvia.8
Em 2001, quando Bush filho atacou o Afeganistão, os talibã propunham a entrega de Bin Laden a um tribunal internacional se se traziam provas do seu envolvimento, mas Bush rejeitou a negociação.
Em 2003, quando Bush filho atacou o Iraque a pretexto das armas de destruição em massa, Saddam Hussein propôs o envio de inspetores, mas Bush o recusou porque ele sabia que os inspetores não iam encontrar nada. Isto está confirmado com a divulgação de um memorándum de uma reunião entre o governo britânico e os dirigentes dos serviços secretos britânicos em julho de 2002: "os dirigentes britânicos esperavam que o ultimato fosse redigido em termos inaceitáveis de modo que Saddam Hussein o recusasse diretamente. Mas não estavam seguros de que isso funcionasse. Então tinham um plano B: que os aviões que patrulhavam a "zona de exclusão aérea" lançassem muitíssimas mais bombas à espera de uma reação que desse a desculpa para uma ampla campanha de bombardeios?9 Então, antes de afirmar que "nós" dizemos sempre a verdade e que "eles" sempre mentem, asssim como que "nós" procuramos sempre uma solução pacífica e "eles" não querem se comprometer, teria que ser mais prudentes... Cedo ou tarde, a gente saberá o que se passou quando as negociações entre estruturas, e constatará uma vez mais que foi manipulada. Mas será muito tarde e os mortos já não os ressuscitaremos.