O milenar, exótico e esotérico Egito vive uma convulsão política. O povo não quer o presidente ditador, mas este insiste em permanecer na presidência de um dos mais importantes países árabes sob o aspecto geopolítico internacional. Diz que entregará a presidência a um candidato que se elegerá pelo voto popular em setembro, garantindo que o seu nome não comporá a cédula. Será? E será que o povo suportará uma ditadura que dura mais de 30 anos pelo prazo que supera os 7 meses?
O Egito é capaz de dialogar com palestinos e israelenses. Para o governo estadunidense isso é importante, mas não só. O Canal de Suez, o gás e o forte poderio bélico e a importância do país para o mundo árabe como um todo são fatores de peso na importância, que se reflete na ajuda financeira e militar, que o governo dos Estados Unidos dão ao Egito.
O que acontece atualmente no Egito terá repercussões em muitos países árabes, isso é fato, e já está acontecendo no Iemen e na Jordânia. A questão é saber se chegará ao muçulmano e não-árabe Irã. Dizem que o ocorrido no Egito e na Tunísia favorece a posição estratégica do Irã, bem como enfraquece a pressão internacional contra o seu programa nuclear. Isso só o tempo dirá. Não afirmaria isso com certeza. Não se pode dizer que o Irã ganhará com isso, ao menos não neste momento. A questão é complexa e envolve interesses muito fortes, seja de reis ou presidentes árabes, seja do governo estadunidense ou de Israel. E o próprio Irã deve estar preocupado com as suas ruas e praças, que até recentemente acolheram manifestações vultosas.
O fato é que as pequenas grandes revoluções no mundo árabe terão repercussão em várias ditaduras. Mas ela alcançará a Arábia Saudita, uma das maiores aliadas dos interesses estadunidenses na região? Caso alcance o reino saudita, aí sim se poderá dizer que o Irã sairá vitorioso geopoliticamente.
Mas a quem interessa esse movimento popular pela democratização no mundo árabe? Aos Estados Unidos, a Israel, ao Irã, à China, à Rússia? A quem? Me parece que a luta pela democracia no Oriente Médio não agrada as grandes potências e àquelas de relevância regional. A todas elas é mais fácil controlar um ditador do que uma massa que pensa por si e cujo grito repercute além das fronteiras. A questão religiosa foi um bom pano de fundo para a ajuda às ditaduras, mas a realidade era, como sempre foi e continua a ocorrer, o interesses econômico.
A Israel também não parece interessar um regime democrático no Egito, um país árabe e majoritariamente muçulmano, cujo povo compartilha dos interesses do povo palestino de Gaza e da Cisjordânia pela independência. Ao governo israelense, parece ser claro que um ditador seria mais fácil de controlar, em prol de seus interesses. Talvez seja por isso que Israel assiste silenciosamente ao que ocorre no mundo árabe: fortalecimento do hezbollah no Líbano, redemocratização na Tunísia, possível derrubada de Mubarak no Egito, manifestações de desagrado em Marrocos, Sudão e Jordânia. Os Estados Unidos devem estar muito preocupados com a estabilidade do regime na Arábia Saudita, um país fechado e com uma teocracia que viola mais intensamente os direitos humanos que o Irã, em todos os aspectos, incluindo-se aí os direitos das mulheres. A queda do reino saudita afetará diretamente e de forma mais profunda os interesses americanos.
Pode parecer estranho, mas perto dos países acima mencionados, salvo o Líbano, o Irã é um exemplo de democracia.
Quanto aos ditos radicais islâmicos da Irmandade Muçulmana, parece que a eles não interessa um estado teocrático no Egito. Não neste momento. A Irmandade Muçulmana, hoje, financia obras sociais e é inimiga das ações praticadas pela dita Al Qaeda. Ela pretende ter relevância política, mas não contrapor-se às forças armadas de seu país.
Os representantes dos Estados Unidos, Israel e da Arábia Saudita devem estar realizando encontros com grande frequência, cercados de ansiedade, o que também deve ocorrer com o Irã. A situação, agora, já que não se consegue delimitar os alcances possíveis, não lhes é nada favorável.
O mundo árabe rompe uma nova barreira, após cerca de 60 anos de libertação do colonialismo. O muro que cai representa o fortalecimento da sociedade civil e da democratização. Nisso, a internet e as redes sociais tiveram um grande papel e a Aljazeera também.
Que o mundo árabe represente os interesses do seu povo e que possamos dialogar, seja pelas redes sociais, pelo mundo fantástico da internet ou pessoalmente, sem intérpretes, mas com o mesmo olhar de esperança de que os interesses de cada um de nós seja respeitado. E esse olhar é universal. Não exige tradução.