Muito se fala que o Ocidente é o berço das liberdades. Pode ter sido o berço, mas não é o abrigo, com certeza. Retrocedendo no tempo, verifica-se que a Grécia antiga, berço da democracia, era formada por territórios que hoje incluem o Oriente, como a Palestina, o Egito, a Síria e a Turquia. Os nascidos nessas terras, mesmo longe da Grécia definida nos mapas modernos, eram considerados gregos. Tornaram-se filósofos famosos, mas não eram propriamente gregos. São vários os filósofos orientais que deram origem à cultura e filosofia ocidentais. Dentre eles está Tales de Mileto, filósofo grego nascido na Turquia, por exemplo. Hum... Parece que as raízes da cultura ocidental têm muito da cultura oriental. Isso sem adentrarmos nas influências sofridas durante o período da Idade Média.
A verdade é que hoje o Ocidente se autodenomina como local sagrado das liberdades individuais. Em parte é verdade, mas só em parte.
É no Ocidente que reinam as grandes hipocrisias e os maiores hipócritas da humanidade, que falam uma coisa, utilizando um discurso aparentemente sereno e bonito. Porém, por debaixo dos panos esses grandes contadores de estórias fazem coisas diametralmente diversas.
São vários os exemplos dessa hipocrisia. A velha política do pão e circo, adotada pelos ocidentais romanos, bem demonstra a hipocrisia adotada em benefício de um pequeno grupo que pretendia manter-se no poder e gozar de seus privilégios, às custas da ilusão da breve alegria do povo. A escolha ofertada por Pilatos ao povo judeu, para que escolhesse quem deveria ficar livre, se um bandido comum ou Jesus Cristo. Hitler e o seu discurso que aparentemente visava proteger o povo alemão, mas que escondia um propósito imperialista da pior espécie. E quem não se lembra de Bush Jr. defendendo a invasão do Iraque em razão das armas de destruição em massa? Até hoje não foi encontrada uma única arma de destruição em massa no território iraquiano, que não o próprio Bush Jr. e a sua equipe política.
São discursos como esses, mentirosos, que escondem a verdadeira intenção de um governante ou de um país em benefício não de todos, mas de um grupo, um seleto bando de indivíduos que se utilizam dos mais sórdidos meios para manterem os privilégios.
Hoje, muitos ainda acreditam no ideal americano de paz, direitos humanos, igualdade e liberdade individual, pois é lá que está a maior democracia do mundo.
Não. Não creio que seja verdade. Quem manda nos Estados Unidos não é o povo americano, mas um grupo, um seleto grupo que fabrica armas e que explora petróleo, detentor de um forte lobby na câmara e senado estadunidenses. Obama, que até a eleição era considerado um pacifista, se comparado a George Bush, recebeu pressão para colocar Hillary Clinton, ligada a lobbies da indústria de armamentos, num posto chave de geo-política: o de secretária de Estado, uma espécide de primeira-ministra, que lida com assuntos externos da política estadunidense.
Para quem não sabe, os Estados Unidos tornaram-se potência vendendo armas durante a primeira grande guerra mundial. Continuaram a vender na segunda guerra, mas tiveram que posicionar-se, mesmo não querendo, de início, pressionados pela Grã-Bretanha e pelo ataque japonês a Pearl Harbor, no Havaí.
Mesmo adotando uma posição externa conservadora, Obama, negro, descendente de muçulmanos e maçom, sofre oposição ferrenha dos ultra-conservadores do partido republicano, em especial dos loucos que integram o "Tea Party". Esse grupo de fundamentalistas religiosos que odeia os muçulmanos e latinos, defende a invasão imediata do Irã e da Venezuela, e uma intervenção direta no Brasil. Por enquanto, a esquerda do Partido Democrata, representada principalmente pelo ex-presidente Jimmy Carter, tem conseguido segurar a ânsia beligerante que domina a mídia e parcelas significativas dos parlamentares e do manipulado público norte-americano.
Porém, muitos não acreditam no que escrevi acima, que é repetido diuturnamente pela mídia independente no mundo afora. Parte da massa dominada pela comunicação que faz lavagem cerebral acredita no heroísmo ingênuo do governo norte-americano. Que os Estados Unidos são poderosos como os super-heróis ninguém tem dúvida. São hoje o maior império da história da humanidade, com forças militares espalhadas por todos os recantos do nosso planeta e que podem agir em questão de minutos após acionadas, inclusive. A questão que se coloca, porém, é a respeito das verdadeiras intenções escondidas por detrás de uma fala preparada e estudada.
Nunca houve tantos agentes de inteligência como há hoje em dia. Os Estados Unidos lideram pela força e também pelo o que se chama de inteligência, através da ação humana e da tecnologia.
Bem, nem todas as ações de inteligência estadunidenses são realmente inteligentes, convenhamos. Vide a ação totalmente falha, previamente à invasão do Iraque, a falta de prevenção ao atentado de 11 de setembro e também os recentes comunicados desnecessários de altas autoridades estadunidenses reveladas pelo jornalista diretor do Wikileaks, uma organização sem fins lucrativos que visa divulgar documentos que apontem para interesses obscuros nas relações políticas no plano internacional.
Os Estados Unidos foram colocados a nú perante a opinião pública internacional com a divulgação de documentos pelo Wikileaks, publicadas pelos principais jornais de todo o mundo. Foram divulgadas informações sensíveis, que inclusive afetam seus interesses no mundo afora. A reação não podia ser mais autoritária e desmedida que a perseguição ao site, o bloqueio de contas do wikileaks, as ações tramadas por governos ocidentais, subalternos, diga-se de passagem, para a retirada do site do ar e a acusação - que tem tudo de estapafúrdia - contra Julian Assange, o australiano e jornalista que se tornou famoso no mundo afora, que resultou na sua prisão na Inglaterra.
Querem calar a liberdade de expressão. Querem calar a liberdade de imprensa. Querem calar o direito dos povos, e de todos os povos, a saberem o que se passa no mundo em que vivem, sob o falso argumento de que se trata de documentos obtidos ilegalmente. Não. Eles foram passados por fontes jornalísticas. A pressão dos americanos e de alguns aliados é enorme para que haja a delação daqueles que denomina de "anti-heróis" ou "espiões".
A verdade é que o mundo hoje tem consciência e certeza, a absoluta certeza, de que não há ingenuidade nas ações dos governos que comandam as potências bélicas. Hoje, tornou-se sabido às claras que há interesses escusos e que direitos de povos e até de autoridades internacionais, como dos dirigentes da ONU à não violação à sua comunicação, são violados. E não são violados por agentes ditatoriais. São violados por agentes que atendem ordens de líderes de países considerados democráticos.
Esse é o mundo em que vivemos. Um mundo hipócrita, com líderes hipócritas, que falam que um sonho é possível, mas que permitem que suas assessoras diretas façam reinar o pesadelo. Haja hipocrisia. Mas foi assim desde o início da humanidade. E os Estados Unidos são apenas mais uma potência imperialista que utiliza-se das mesmas forças, de inteligência e das armas, além do grande poder bombástico e manipulador do cinema e de suas agências noticiosas, para manter-se uma potência econômica que aos poucos se esvai.
O que o Wikileaks revelou não é novidade a todos, mas é importante. A liberdade da internet, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, quando não interessa aos poderosos, pode ser restringida pelos motivos mais estapafúrdios. A mídia cala-se. Os líderes políticos calam-se. O mundo cala-se. Agora, eu me pergunto por qual motivo se calam?