São Paulo - O líder cubano Fidel Castro admitiu que se cometeu uma grande injustiça contra os homossexuais no país. Na segunda e última parte da entrevista ao diário mexicano La Jornada, o ex-presidente assumiu o tom da autocrítica frente a duras observações da repórter Carmen Lira Saade.
Fidel apontou que, embora não tenha preconceitos pessoais, não deu a devida atenção ao tema ao longo das cinco décadas de governo. Ele afirmou que esteve muito atento a resistir às tentativas dos Estados Unidos de derrubar o regime e não soube explicar exatamente como o preconceito foi se instalando dentro do Estado, embora tenha apontado a raiz cultural de uma nação em que se valorizava a condição do homem.
Durante muitos anos a homossexualidade foi punida com a prisão em Cuba. Atualmente, Mariela Castro, filha de Fidel, comanda uma instituição que tenta promover os direitos dos homossexuais e reverter o desgaste gerado no exterior pela questão.
Reproduz-se a seguir uma parte da entrevista publicada no La Jornada com o líder.
- Quem foi, portanto, o responsável, direto ou indireto, de que não se desse um basta ao que estava ocorrendo na sociedade cubana? O Partido? Porque o Partido Comunista de Cuba não explicita em seus estatutos a proibição a discriminar por orientação sexual.
- Não. Se alguém é responsável, sou eu... É certo que nesses momentos eu não podia me ocupar desse assunto. Encontrava-me imerso, principalmente, da Crise de Outubro, da guerra, das questões políticas.
- Mas isso se converteu em um sério e grave problema político, comandante.
- Compreendo, compreendo. Nós não soubemos valorizar... sabotagens sistemáticas, ataques armados ocorriam todo o tempo: tínhamos tantos e tão terríveis problemas, problemas de vida ou morte, sabe? Não prestamos suficiente atenção.
- Depois de tudo aquilo tornou-se muito difícil fazer a defesa da Revolução no exterior... A imagem havia se deteriorado para sempre em alguns setores, sobretudo da Europa.
- Compreendo, compreendo. Era justo.
- A perseguição a homossexuais podia se dar, com maior ou menor protesto, em qualquer parte. Não na Cuba revolucionária.
- Compreendo. É como quando o santo peca, né? Não é o mesmo que peque o pecador, não?