Não é de hoje que os Estados Unidos possuem bases militares na América do Sul. Já as tiveram a menos de um ou dois anos no Paraguai e também no Equador. Os estadunidenses ainda possuem bases em Porto Rico, Honduras e no Panamá, dentre outros países. Até na ilha de Cuba eles possuem quartéis, portos e aeroportos, na famosa baia de Guantanamo.
Tempos atrás, à época da Segunda Guerra Mundial, os americanos detinham o controle das bases de Fernando de Noronha e de Natal, bem no interior do nosso país, Brasil. Mais recentemente, há menos de uma década, o então presidente Fernando Henrique Cardoso havia autorizado o uso exclusivo e privativo da base aerospacial em Natal pelos militares americanos. Cientistas brasileiros ainda asseguram que há ONGs instaladas na Amazônia brasileira que empregam militares americanos como "cientistas e estudiosos", em um claro sinal de espionagem.
É, os americanos mais ao norte não estão para brincadeira.
Mas não são só os Estados Unidos que estão próximos demais de nós latino-americanos. A Grã-Bretanha tem base nas Malvinas e a França no território que ainda possui em pleno Século XXI, a Guiana Francesa, vizinha do Amapá.
Muito embora a Venezuela tenha laços comerciais e estratégicos estreitos com o Irã, este país não teria condições de suprir uma base militar tão longe de seu território. Preocupa-se mais em garantir a segurança própria contra eventuais ataques estadunidenses, israelenses e da Alqaeda do que se expandir para além do seu continente.
Mas a concessão do uso de bases colombianas aos militares estadunidenses enseja alguns pontos polêmicos.
Ficará a Venezuela acuada? Parece que não. Acordos nucleares com a China, Rússia e Irã podem estar próximos. A concessão de direito de uso de bases militares em seu território podem ser concedidos, pasmém, à China ou à Rússia. Esta última porque possui interesse em demonstrar aos Estados Unidos que pode atrapalhar os interesses deste em seu próprio quintal, caso não pare de ajudar a Geórgia e outros países com quem mantém impasses.
Mas o mais provável é que a China estabeleça uma base militar na América do Sul, primeiro para assegurar o fornecimento de matéria prima e de fontes energéticas para a sua indústria e economia sempre crescentes, além de ampliar a sua influência no grande mercado consumidor que é a América do Sul. Depois, porque a China quer marcar presença militar e geopolítica em todos os continentes, demonstrando que não é apenas uma economia emergente, mas é o país que sucederá os Estados Unidos econômica e militarmente. Pura demonstração de força. É o momento propício para tal consecução, pois pode ser que mais para a frente nenhum país ceda uma base tão facilmente, assim.
E com tudo isso, como fica o Brasil? Talvez sejamos o maior perdedor. Tínhamos intenção de construir indústrias bélicas de peso, exportar material de guerra e nos tornarmos o líder ecônomico, político e militar da região. Com isso, os países vizinhos irão comprar armamentos de países de peso, como França, Alemanha, China, Rússia e não do Brasil. Podemos ser o líder econômico, mas conseguir a liderança militar será difícil.
Além do mais, a Colômbia possui o exército mais bem treinado e os equipamentos mais modernos e ainda tem um aliado de peso, os Estados Unidos. O Brasil tem uma fronteira marítima e uma fronteira continental enormes, e poucos militares para guarnecê-las. Os nossos equipamentos bélicos encontram-se ultrapassados e ainda temos militares mal remunerados para proteger nossas riquezas energéticas (pré-sal e minérios importantes), as nossas fontes e bacias de água, a Amazônia e disponibilidade para combater a biopirataria e o tráfico de entorpecentes. A sorte do Brasil, e isso é importante numa eventual guerra, é que possui laços de amizade com todas as nações do globo, as quais podem socorrê-lo se não tiver condições de contra-atacar eficaz e rapidamente numa eventual invasão por tropas estrangeiras.
Com tudo isso só tenho uma certeza: os Estados Unidos e a Colômbia criaram uma situação perigosa para a estabilidade política na região. É possível que outras potências estrangeiras venham para cá; haja uma corrida armamentista na região, com a compra de equipamentos não americanos e brasileiros; é crível que países da região façam acordos de desenvolvimento de energia nuclear com potências asiáticas; e também não é de se duvidar que se dê início a uma onda de ataques terroristas na região fronteiriça à Colômbia por agentes vindos de outros continentes. Tudo isso é um problema sem fim para todos os países da região e não é a toa que a Unasul está preocupada.
Ainda dá tempo de Barack Obama evitar esse desastre geopolítico. Que os países da América do Sul e da Europa consigam reverter essa decisão, no mínimo, estúpida de criar várias bases militares na Colômbia, bem ao lado do Brasil, do Equador e da Venezuela, que favorece, acima de tudo, o discurso anti-estadunidense na região. Se o Obama queria ser o garoto-propaganda da política da boa vizinhança, parece que dessa vez fracassou. Os sentimentos anti-imperialistas voltaram a aflorar em grande parte dos latinos-americanos.