Deu em diversos jornais que 80% dos drogaditos da região da Cracolândia recusam atendimento para largar as drogas. É um número assustador, enorme, que prefere ficar com as drogas do que voltar à realidade que viviam antes do vício.
Antes de qualquer questionamento, parece que uma pergunta é crucial: o que pode levá-los a preferir algo que os levará à morte do que viver? Primeiramente, é bom ter em mente que talvez a vida real deles beire a própria morte. Muitos moravam na periferia ou em favelas onde o uso de drogas é frequente ou então residiam em zona comandada por traficantes. Quando não, deparavam-se com miséria, problemas familiares muito sérios ou problemas psiquiátricos nunca tratados. Para eles, a realidade é tão cruel que viver em um mundo letárgico seria menos dolorido. Julgo ser isso um tipo de depressão, de desvalor à vida, de ausência da capacidade crítica do que se vive.
Muito embora a lei trate a questão como de saúde pública, o que efetivamente é, não se pode esquecer que a drogadição também entrelaça-se com uma séria questão social, que vem sendo relegada por todos os governos republicanos.
O tratamento de drogadição é necessário, não se tem dúvidas. O acompanhamento psicoterápico continuado ao drogadito e à família também parece ser imprescindível. O tratamento psiquiátrico, para os que apresentam problemas mentais, também. Porém, muitos dependentes carecem de outro tipo de tratamento, o social. É necessário que assistentes sociais estejam no local de moradia e em contato com a família, mas não é só. Também é importante e essencial que o Estado intervenha com políticas públicas efetivas, a ponto de romper de uma vez com a causa de tantos jovens buscarem as drogas como refúgio às injustiças que veem. É preciso criar mais escolas e inserir a comunidade do drogadito em tratamento naquilo que se denomina de cidadania.
Se a questão da drogadição é notadamente de saúde pública, o que não se questiona, é também de saúde social. A degradação da sociedade e da cidadania é capaz de levar muitos jovens à busca das drogas ilegais.
Para tratar dos drogaditos é preciso coerência e investir em saúde pública, sim, mas também em política social, resgatando a cidadania da comunidade daquele que está em tratamento.
Não resolver o problema social em que se insere boa parte dos drogaditos é o mesmo que não tratar, é empurrar o problema com a barriga, em um claro sinal de ineficiência e de desvalor da vida humana.