Poucas pessoas têm coragem de falar sobre preconceito, principalmente quando se refere à questão sexual. Há um falso moralismo disseminado nas sociedades humanas que contamina os olhos e cega a possibilidade de visualizar a realidade com leveza e sensibilidade.
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Alguns países europeus estão séculos à frente de nós colonizados no que se refere à respeitabilidade das realidades e das escolhas. Não, não uso o termo tupiniquim para nos inferiorizar. Prefiro usar "colonizados". Para mim é questão de orgulho ser descendente de índio. E o engraçado é que ninguém fala que é preconceito alguém dizer "programa de índio", "coisa de tupiniquim", "país tupiniquim"... Somos um povo que não nos aceitamos e não nos conhecemos. Mas vamos ao tema, pois vamos abordar outro tipo de preconceito.
Ser homossexual, bissexual, pansexual, transexual, travesti é algo que para alguns afronta a moral. É, e esses alguns são muitos. Há muitas religiões impiedosas com essas questões. E quem tem uma opção tem medo de falar dos outros com medo de ser considerado diferente e daí ser discriminado. É uma bola de neve de irracionalidade que leva um, dois, um monte de gente, para o abismo da escuridão do medo do diferente e do desconhecimento.
Há seres humanos homossexuais, bissexuais e transexuais desde os primórdios. Vide a Grécia e a Roma antigas. Há transexuais e travestis há séculos. O ser humano tem vontade e desejos desde que se deu conta de que é um ser vivo. Porém, sempre há gente que acha que o melhor é isso ou aquilo. Impõe-se dogmas a algo que não necessita de fórmulas. Lembre-se que a religião surgiu muito tempo depois do homem praticar o primeiro ato sexual, seja hetero, seja homo, seja pansexual.
O médico Dráuzio Varella recentemente escreveu um artigo para o jornal Folha de S. Paulo, onde expressa que o pior preconceito existente é aquele voltado contra os travestis. E de fato é. Em um texto único, direto e sensato, ele expõe os dramas dessa minoria que vive isolada. Hum. Você já viu um travesti trabalhando em uma multinacional? Um travesti gerente de banco? Um travesti advogado? Um travesti jornalista? Há muitos travestis vendedores, esteticistas e que ocupam outros empregos com salários menores, mas dificilmente você verá um travesti em cargo pomposo. E não se confunda travesti (aquele que nasceu homem que se veste de mulher ou aquela que nasceu mulher e que se veste de homem com o transexual. O transexual nasceu com um sexo, mas sente-se como se fosse do sexo oposto. Enquanto o travesti tem prazer com o seu órgão genital, o transexual não e sente vergonha de carregar o sexo oposto).
Assim como uma mulher tem o direito de usar uma saia curtíssima e um homem usar uma camiseta regata mostrando os músculos nas ruas, o travesti tem direito de andar pela cidade. Os travestis constituem uma minoria esquecida. Enquanto há grupos fortes que defendem os homossexuais e os negros, os travestis e transexuais são esquecidos e sofrem preconceitos ao serem atendidos nos órgãos públicos, seja delegacia, hospital...
Há muito que se conquistar. O porquê de escrever sobre esse tema? Curiosamente, Dráuzio Varella tratou da questão no jornalão Folha de S. Paulo na mesma semana em que a pequena mídia divulgou "Vida de Travesti" (artigo de Urariano Mota). Não é uma vida fácil e sequer há condições de se viver a vida com dignidade e a paz necessárias.
Leia a respeito antes de fazer um comentário e veja o quanto há que se aprender sobre o ser humano. Aliás, também somos isso que chamamos de ser humano, não é?