Quando chegava fevereiro, participavam nossos sírios e libaneses da feitura dos limões-de-cheiro, utilizados no Entrudo, e, desse modo, faturavam alguns tostões. Da mesma forma que acontecia na Europa, os folguedos que antecediam à Quaresma no Brasil não tinham uma só moldura. Havia dois tipos de Entrudo: o familiar e o popular. Aquele, comemorado no interior das residências; este, uma verdadeira balbúrdia de rua, batalha de águas, perfumes e de outros líquidos menos aromáticos.
Os estrangeiros, imigrantes de modo geral, eram os principais alvos das brincadeiras e viam-se enfarinhados e molhados, sendo vítimas de chacota da população local.“O tal brinquedo de EntrudoQue lhe chamam Carnaval,É uma ideia infernal;Confundem-se hierarquiasÉ tudo igual em três dias.
O Mágico, 29/02/1862Com a reforma urbanística empreendida pelo prefeito Pereira Passos, o Rio ganha uma nova fisionomia na virada do século XX e as festividades momescas populares deslocam-se para a Praça XI, a Cidade Nova. Afinal, a Rio Branco é palco dos corsos, coisa de grã-finos.
Na segunda década do século passado, surgem as escolas de samba, termo cunhado por Ismael Silva, bamba do Estácio, bairro onde havia a Escola Normal, de formação de professores.
Na Praça XI, viviam muitos imigrantes, entre eles árabes, que, devido à sua principal atividade econômica, o comércio, estabeleceram sólidos vínculos com a população local. Era na Praça XI que também estava fincado o zungu da Tia Ciata, famosa festeira baiana, reverenciada por Mário de Andrade em Macunaíma.
Pelo visto, a cumplicidade do imigrante árabe com o carnaval carioca varou os séculos XIX e XX.
A partir dos Anos Dourados até a década de 80, os bailes oficiais de carnaval do Rio de Janeiro eram realizados nos clubes Monte Líbano e Sírio-Libanês. Lá, pontificavam os exuberantes concursos de fantasias, acompanhados pela TV por todo Brasil, nos quais Clóvis Bornai e Evandro de Castro Lima eram hors-concours. Na mesma época, reinava Abrahão Haddad, eterno Rei Momo do Rio, monarca absoluto, majestade de todo o ano, pois promovia serestas encantadoras numa idílica rua da Tijuca.
E a aliança carnaval-imigrante árabe não para por aí. Sabem os leitores que o compositor que mais venceu concursos de samba-enredo foi Hélio Turco da Mangueira? E, falando em Mangueira, não podemos deixar de falar na legendária Portela, detentora de 21 títulos. A campeoníssima de Oswaldo Cruz tinha nos bons tempos um ritmo singular e quem nos contou foi o iluminado Paulinho da Viola, um dos ícones da Música Popular Brasileira:
“Nunca mais ouvi aquilo na vida. O som, tudo diferente. Fechado, quase maçônico. Na batucada havia cavaquinho, palmas, vários pandeirinhos. O pai do Jamil fazia os pandeirinhos, os famosos adufes sem platinelas”. (in A Velha-Guarda da Portela, João Baptista M. Vargens e Carlos Monte).
Um outro Jamil, o Cheiroso, presidiu, por muito tempo, a Império Serrano, vizinha da Portela, e, sob seu comando, os imperianos conquistaram inúmeros carnavais.
Por fim, a Beija-Flor de Nilópolis, localizada na Baixada Fluminense, destaca-se nas últimas décadas e sua diretoria é formada por membros da colônia libanesa.
E as marchinhas carnavalescas? Nássara, David Nasser... Quanta gente...
Vamos parar por aqui. Está chegando a hora... Vou entrar nesse bloco...Allah- lá – ô, ô, ô,ô, ô, ô, ô, Mas que calor, ô, ô, ô , ô, ô, ôAtravessamos o deserto do SaaraO sol estava quente e queimou a nossa cara
Allah – lá – ô, ô, ô, ô, ô, ô,ôViemos do EgitoE muitas vezesNós tivemos de rezarAllah, Allah, Allah, meu bom Allah
Mande água pra IaiáMande água pra IoiôAllah, meu bom Allah.