domingo, 22 de fevereiro de 2009

O imigrante árabe e o carnaval do Rio de Janeiro

O texto abaixo foi publicado originalmente no ICARABE
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Por João Baptista M. Vargens
(professor da Uerj - Universidade Estadual do Rio de Janeiro)


Quando os primeiros imigrantes árabes aportaram no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, compartilharam do “glamour” parisiense nos trópicos. Passeavam pela Ouvidor e viam a gola godet afagando suavemente o pescoço das moçoilas, que trajavam, invariavelmente, saias com plissé. Os lábios plenos eram delineados por bâton e as maçãs do rosto acetinadas com rouge.


Quando chegava fevereiro, participavam nossos sírios e libaneses da feitura dos limões-de-cheiro, utilizados no Entrudo, e, desse modo, faturavam alguns tostões. Da mesma forma que acontecia na Europa, os folguedos que antecediam à Quaresma no Brasil não tinham uma só moldura. Havia dois tipos de Entrudo: o familiar e o popular. Aquele, comemorado no interior das residências; este, uma verdadeira balbúrdia de rua, batalha de águas, perfumes e de outros líquidos menos aromáticos.

Os estrangeiros, imigrantes de modo geral, eram os principais alvos das brincadeiras e viam-se enfarinhados e molhados, sendo vítimas de chacota da população local.“O tal brinquedo de EntrudoQue lhe chamam Carnaval,É uma ideia infernal;Confundem-se hierarquiasÉ tudo igual em três dias.

O Mágico, 29/02/1862Com a reforma urbanística empreendida pelo prefeito Pereira Passos, o Rio ganha uma nova fisionomia na virada do século XX e as festividades momescas populares deslocam-se para a Praça XI, a Cidade Nova. Afinal, a Rio Branco é palco dos corsos, coisa de grã-finos.

Na segunda década do século passado, surgem as escolas de samba, termo cunhado por Ismael Silva, bamba do Estácio, bairro onde havia a Escola Normal, de formação de professores.
Na Praça XI, viviam muitos imigrantes, entre eles árabes, que, devido à sua principal atividade econômica, o comércio, estabeleceram sólidos vínculos com a população local. Era na Praça XI que também estava fincado o zungu da Tia Ciata, famosa festeira baiana, reverenciada por Mário de Andrade em Macunaíma.

Pelo visto, a cumplicidade do imigrante árabe com o carnaval carioca varou os séculos XIX e XX.

A partir dos Anos Dourados até a década de 80, os bailes oficiais de carnaval do Rio de Janeiro eram realizados nos clubes Monte Líbano e Sírio-Libanês. Lá, pontificavam os exuberantes concursos de fantasias, acompanhados pela TV por todo Brasil, nos quais Clóvis Bornai e Evandro de Castro Lima eram hors-concours. Na mesma época, reinava Abrahão Haddad, eterno Rei Momo do Rio, monarca absoluto, majestade de todo o ano, pois promovia serestas encantadoras numa idílica rua da Tijuca.

E a aliança carnaval-imigrante árabe não para por aí. Sabem os leitores que o compositor que mais venceu concursos de samba-enredo foi Hélio Turco da Mangueira? E, falando em Mangueira, não podemos deixar de falar na legendária Portela, detentora de 21 títulos. A campeoníssima de Oswaldo Cruz tinha nos bons tempos um ritmo singular e quem nos contou foi o iluminado Paulinho da Viola, um dos ícones da Música Popular Brasileira:

“Nunca mais ouvi aquilo na vida. O som, tudo diferente. Fechado, quase maçônico. Na batucada havia cavaquinho, palmas, vários pandeirinhos. O pai do Jamil fazia os pandeirinhos, os famosos adufes sem platinelas”. (in A Velha-Guarda da Portela, João Baptista M. Vargens e Carlos Monte).


Um outro Jamil, o Cheiroso, presidiu, por muito tempo, a Império Serrano, vizinha da Portela, e, sob seu comando, os imperianos conquistaram inúmeros carnavais.


Por fim, a Beija-Flor de Nilópolis, localizada na Baixada Fluminense, destaca-se nas últimas décadas e sua diretoria é formada por membros da colônia libanesa.

E as marchinhas carnavalescas? Nássara, David Nasser... Quanta gente...

Vamos parar por aqui. Está chegando a hora... Vou entrar nesse bloco...Allah- lá – ô, ô, ô,ô, ô, ô, ô, Mas que calor, ô, ô, ô , ô, ô, ôAtravessamos o deserto do SaaraO sol estava quente e queimou a nossa cara
Allah – lá – ô, ô, ô, ô, ô, ô,ôViemos do EgitoE muitas vezesNós tivemos de rezarAllah, Allah, Allah, meu bom Allah
Mande água pra IaiáMande água pra IoiôAllah, meu bom Allah.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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