Muitos pesquisadores foram atrás de provas para verificar a morte do ex-presidente deposto pelo golpe militar de 1964 e, hoje, há mais dúvidas e inquietações que conclusões absolutas. Relatório do Senado aponta que não há como provar que houve assassinato, mas isso não afasta a hipótese do mesmo ter ocorrido. Motivos não faltavam aos opositores de um Brasil mais justo, progressista e com produção cultural independente, de tentar matar o herdeiro da imensa popularidade de Getúlio Vargas.
Há boatos de todos os tipos, como o que havia intenção manifesta dos militares de matar Juscelino, Jango e Carlos Lacerda. Os três morreram em datas próximas, com variação de cerca de 1 ano. Brizola também seria alvo. Não morreu, mas lhe foi cassado o direito de refundar o antigo PTB. Restou-lhe outra sigla, o PDT, de conotação socialista. Houve tentativa de golpe orquestrada pela ditadura e pela TV Globo e o cunhado de Jango quase não conseguiu tomar posse como governador eleito do Rio de Janeiro, em 1982. Difamações e boatos corriam soltos contra o democrata Brizola, hoje totalmente desmentidos.
O presidente João Goulart, que foi ousado em aumentar o valor do salário mínimo em 100% à época em que era ministro do trabalho do presidente Getúlio Vargas, que pretendeu inaugurar e praticar a reforma agrária em um país repleto de latifúndios, que restringiu a remessa do lucro das grandes empresas multinacionais, que fomentou a cultura e a inserção do país como membro das nações não-alinhadas às pretensões imperialistas dos Estados Unidos e da então União Soviética, que presidia o país no auge cultural do país, com a bossa nova, o cinema novo, uma grande produção literária, com a maravilha de uma televisão com padrão de qualidade como a Excelsior e a fantástica e merecida premiação do filme “O Pagador de Promessas”, era perseguido pelos interesses estadunidenses, pelos militares treinados na escola americana e por políticos e organizações civis de orientação direitista.
Recentemente, uma pesquisadora inglesa apresentou provas de que a CIA investia dinheiro em fundações para que estas incentivassem intelectuais a divulgarem o “modus vivendi” americanos. Intelectuais de peso, pelo mundo afora, foram cooptados por meio de patrocínios de todas as espécies.
A independência cultural brasileira, de certo, era um problema.
Segundo a CIA, o Brasil, pela sua dimensão territorial, deveria exercer um papel de controle político e ideológico dos outros países latino-americanos. E sofreu o primeiro golpe militar e de direita na região. O Brasil investiu em material bélico, em sua maior parte oriundo dos Estados Unidos.
Antes do golpe, agentes da CIA espalharam-se pelo nordeste, para barrar uma contra-insurgência.
A CIA fomentou o golpe, através da mídia, incentivo a organizações não-governamentais e com apoio expresso aos militares direitistas. Uma frota americana estava à beira da costa brasileira no dia do golpe, antecipado por um general mineiro.
Segundo familiares e um ex-agente do serviço secreto uruguaio, entrevistado pelo jornal Folha de S. Paulo, houve ordem expressa do delegado Paranhos Fleury de assassinar João Goulart. Segundo o agente, ele morreu por envenenamento.
Outras estranhezas: o motorista que conduzia o ex-presidente Juscelino, na Dutra, no dia do “acidente” fatal, teve o caixão lacrado e não pode haver confrontação para saber se houve a sua morte e, se realmente ocorreu, qual teria sido a causa. Há versões não confirmadas de que ele está vivo e envolveu-se em outras mortes de políticos importantes. Seria ele um ex-agente ou colaborador da ditadura brasileira? Isso, de certo, precisa e merece ser investigado. São boatos, sim, mas que, de certo, geram dúvidas, pois os fatos estão inexplicados.
João Goulart já não vive mais e não há mais herdeiro político do Getulismo. Houve uma campanha massiva para desprestigiar o ex-presidente que, de certo, cometeu excessos e erros, mas foi o mais devotado ao progresso do Brasil e da inserção dos brasileiros na dignidade de seres humanos, ainda que não expressasse esses termos em seus discursos. Hoje, a esquerda brasileira segue passos imprecisos e menos autênticos e independentes. Getúlio evitou, em 1954, uma tomada de poder pelos interesses estadunidenses. Em 1964 o Brasil se ajoelha ao imperialismo estadunidense e o getulismo tem fim.
Ainda procuramos nossa independência em todos os aspectos. Primeiramente, devemos resgatar a nossa história e a dos nossos líderes. Os governos eleitos democraticamente deveriam fomentar isso em prol da cidadania e do reposicionamento estratégico do nosso país.